Voltei. E isso me faz lembrar daquela música linda do "meu amigo" Roberto Carlos...
Tudo está igual como era antes
Quase nada se modificou
Acho que só eu mesmo mudei
E voltei...
O caso é o seguinte: à minha aventuresca volta ao Brasil, só faltou mesmo foi o meu cachorro me sorrir latindo. A "novela de Janete Clair" começou logo na quinta-feira à tarde, quando tivemos que descobrir, de táxi, o novo endereço dos escritórios da Aerolíneas Argentinas, porque o que está no site ainda é o antigo. E o taxímetro rodando...
Explico: mineira escaldada, senti cheiro de problemas no ar quando, uma semana antes, meu amigo Marcelo Migliaccio, do blog Rio Acima, teve seu voo cancelado duas vezes pela Aerolíneas em um mesmo dia. E, ao embarcar, finalmente, depois de horas de aeroporto, quase teve que sair do avião por falta de lugar.
Na sexta bem cedinho, com o voo já confirmado, minha cara-metade e eu corremos de um lado para o outro em Buenos Aires, à cata de uma guloseima aqui e outra acolá... somos bons de garfo e tínhamos muito do que nos despedir naquela manhã chuvosa.
Ao chegar ao aeroporto, às 14h, para um voo às 17h, começou a lenga-lenga da Aerolíneas Argentinas: na fila, passageiros do voo das seis da manhã mantinham o otimismo de que sim, algum funcionário apareceria para fazer o check-in. E dá-lhe pizza, samba, fotografia... o brasileiro não perde o bom-humor nem quando é destratado.
Olha, a história é longa e eu a resumo assim: fiquei amiga da dona Lourdes, uma senhora pra lá dos 70 anos e verdadeiro doce de Pernambuco. Conversei com pencas de argentinos que esperavam "su vuelo" para Montevidéo, Rio, Córdoba e sei lá mais onde... quando vi que a coisa ia demorar, tratei logo de me sentar ali mesmo, e relaxar. Fazer o quê?
Enquanto isso, meu marido, que também é ótimo repórter nas horas vagas, foi apurar os fatos: a primeira versão para o acúmulo de milhares de passageiros (dos mais de 60 voos cancelados pela Aerolíneas) foi a chuva forte. Mas como as outras companhias aéreas continuavam operando, veio a segunda versão: logo cedo, um passageiro teria dado uma bifa em um dos funcionários (justamente por causa de atrasos e cancelamentos) e, com isso, e sindicato teria retirado todo o corpo da Aerolíneas do aeroporto.
Durante o dia inteiro, imaginei o pior: aquilo era uma greve...
Embora o número de passageiros só aumentasse no pequeno Aeroparque, NINGUÉM apareceu para uma explicação. Os voos eram cancelados seguidamente e o aviso, baixíssimo e incomopreensível, pelas caixas de som, dizia que os prejudicados procurassem um escritório da empresa para tentar remarcar seu voo. Diante daquele horror, meu marido questionava:
-- Como será que as empresas europeias lidaram com a crise do vulcão islandês, ano passado? Será que também deixaram os passageiros ao léu, sem informação nenhuma, sem consideração ou um mínimo de respeito ao consumidor?
Às 21h30, finalmente, rolou o rebuliço: um funcionário, com megafone na mão, deu as caras à multidão e admitiu... nenhum avião tiraria suas rodinhas do chão. E veio a terceira versão: era greve mesmo.
Como não sou boba, tratei logo de correr à Gol e comprar dois bilhetes (que saíram mais caro que ida e volta pela Aerolíneas) para um voo na manhã seguinte. Muita gente teve a mesma ideia e imagino que a Gol faturou alto nesta noite.
De volta ao hotel, tivemos que implorar ao recepcionista que nos alugasse um quarto: o hotel estava lotado justamente por causa da greve da Aerolíneas... que, aliás, no dia seguinte, não mereceu nem mesmo um espaço em pé de página do Clarín, onde reinava absoluta, na capa, a vitória da seleção argentina sobre o Chile.
E então, como nada é por acaso, aconteceu o grande lance imprevisível de toda esta epopéia: enquanto meu marido negociava um quarto que nem mesmo havia sido arrumado pelas camareiras, resolvi atravessar o restaurante para ir ao banheiro. Foi quando a vi... tão simples, na última mesa, tomando uma sopa.
Passei por ela e, na volta, guardei a vergonha na bolsa e parei em sua mesa.
-- Marina, me desculpa, mas não resisti e vim aqui falar com você...
A ex-ministra conversou comigo por uns minutos, enquanto deu autógrafos a duas ou três meninas brasileiras que apareceram ali.
Senti que não tinha mais nem um pingo do cansaço daquele dia inteiro e saí com meu marido para "matar" uma pizza, mas acabamos num restaurante mexicano. Então, ao pensar em Marina Silva, concluí que, realmente, muitas vezes a vida nos diz "não" aqui... porque nos reserva um presente bem ali adiante.
Meu cinegrafista de plantão registrou a bagunça no Aeroparque. Clique para ver!