segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Você não é ninguém se seu celular não varre a casa nem toca piano


Quantas vezes alguém deu sua risadinha quando saquei meu celular! É que não estou entre os apaixonados por tecnologia e me contento com um modelo “normal”, daqueles que servem pra fazer ligações. Poder mandar torpedos e ter uma máquina fotográfica acoplada já é um luxo que considero pra lá de tecnológico!

Os novos modelos povoam o imaginário popular com uma força que nem concurso de miss, em seus áureos tempos, era capaz: onde já se viu competição com tanto fervor? Pode anotar: a Psicologia, em breve, vai estudar este assunto. Por que será que as pessoas se sentem mais poderosas com um aparelho moderno nas mãos?

Embora não seja louca por gadgets, penso logo na minha coleção de bolsas e dou o braço a torcer que paixão é mesmo coisa séria. Mas veja que, por ano, o mundo engole 50 milhões de toneladas de lixo eletrônico! E olha que, pra defender o planeta, declararam guerra contra as sacolas plásticas!

Enquanto o mundo inteiro quer ver e ser visto com seus gadgets de última geração, a indústria que bate recordes de faturamento se apóia no trabalho quase escravo, segundo o NY Times, que denuncia: há fábricas onde os funcionários ficam disponíveis 24 horas por dia e nem chegam a ir pra casa; dormem em alojamentos. E o salário ó... dezessete dólares por dia.

 Mas quem não sabe que o milagre da globalização caminha sobre as pedras da terceirização à base de mão de obra barata?

O trabalho escravo existe no mundo quase que inteiro, e isso não é novidade pra ninguém. Mas o consumismo fora de controle o alimenta: o NOSSO consumismo. É preciso pensar, antes de trocar o celular uma vez por ano, que esta vaidade é a mola que faz girar a engrenagem da escravidão de gente miserável e desesperada, gente sem direitos e explorada em troca de um prato de comida.

O que podemos dizer em defesa desta fome de novidades?

E o que dizer do homem que trabalha oito horas por dia quebrando pedra e carregando sacos de entulho sobre sua coluna torta, ou fechado em um cubículo sem ventilação neste calor de Rio de Janeiro... para ganhar RS$ 622,00 no fim do mês? E não é que até ele foi mordido pela mosca azul do celular? Tem um BlackBerry!

Estamos passando por um momento de crise profunda, que nada tem a ver com economia. É a crise dos valores, dos pesos e das medidas. Foi-se o tempo em que a busca era pelo Santo Graal... a relíquia sagrada agora é o iPad.

                  Você gosta de celular moderno? O moço da foto também!



13 comentários:

  1. É mesmo um paradoxo, tão alta teconolgia ser fabricada por seres humanos quase escravizados. E ainda dizem que o comunismo está morto. É só esperar...

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  2. Mauro Pires de Amorim.
    O hedonismo é um grande mal. É alimentado pelo nível de consciência e caráter, ou melhor dizendo, pela falta de certeza desses. O consumismo, é apenas uma das faces do hedonismo, movido pela necessidade que certas pessoas tem de serem notadas.
    Se o ser humano e seres vivos existem para amar, serem felizes, enquanto que os bens materiais para serem cuidados, otimizados, mensurados. Porquê o padrão propagandeado em nossas culturas e sociedades, preconiza que amemos os bens materiais e usemos as pessoas e seres vivos, segundo nossos interesses e desejos? Tudo é questão de caráter e consciência.
    Felicidades e boas energias.

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  3. Fernanda,

    Nao tem jeito, realmente e a troca de valores ......
    consumo, consumo, consumo, ....e um quer ter o celular ou Ipad mais moderno que o outro ...... ridiculo, nao.

    Felicidades,

    Gilda Bose

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  4. Mais uma vez, e , como de hábito, sou "rês desgarrada
    desta mutidão boiada caminhando a esmo" rsrs...queriDannemann, e , graças a Deus, uma feliz ninguendade, com base no título do seu irretocável post.
    Na verdade, celular nunca possuí e almejo jamais dele precisar . Dentre outras idiossincrasias ou especificidades ...nem tv assisto, oba!
    Sou adicto da máxima de que menos é mais. Aliás, melhor, não resta dúvida, nem sempre é mais.

    Quanto à diagnosticável doença do consumo compulsivo, inclusive pelas "novidades", a psicanálise sabe muito bem que se trata de um evidente atalho para "sanar" carências . Quanto mais moderno, mais garantia, mais tecnologia, e mais potencialidade, mais fracassa a promessa de uma vida melhor, pois é o "novo" que mais rapidamente envelhece.
    Percebe-se, portanto, a marca do ter, para fazer frente ao NÃO SER, com o qual o ser humano se vê confrontado.

    A significação da vida colocada nos objetos, a desvalorização do passado e do futuro, buscando-se viver intensamente o presente, a privação da vivência da angústia, das perdas e do luto, fazem com que o indivíduo busque saídas irrefletidas e imediatas, para exclusão de sentimentos que se apresentem como obstáculos na conquista da "felicidade ideal".

    Ao invés de conquistar esta felicidade, o indivíduo contemporâneo, que se identifica com o modelo da sociedade atual, de forma irrefletida, pode se deparar com um esvaziamento interior, com uma sensação de perda do sentido vital.
    Quem precisa de tanta tecnologia ?

    Nos tempos dos nossos pais não existiam gadgets, MSN, Facebook, vlogs, entre outros. E todos viviam , correto? Como em tão pouco tempo tudo mudou e os produtos tecnológicos viraram mais do que necessidades em nossas vidas?

    De acordo com o psicólogo especialista em comportamento, Flávio Mesquita, existe uma demanda muito grande do contexto social para que o indivíduo esteja alerta e sabedor de tudo que acontece a sua volta. Essa possibilidade de ter acesso a tudo é muito sedutora e daí o indivíduo desenvolve um padrão de comportamento que o cerca de vários gadgets que deem conta de dar a ele as informações disponíveis. Acredito que esse poder de sedução está ligado a uma sensação ilusória de potência, de uma quase ‘onisciência’. .

    Para não ficar tão dependente da tecnologia, as pessoas devem fazer investimentos pessoais:“Estudar, trabalhar,ler, ouvir boa música, ir ao cinema, teatro, dançar, fazer caminhadas,juntar grupos de amigos, enfim, uma infinidades de coisas que as façam feliz .

    Isto significa fazer uso adequado das relações e, assim, estar distante de qualquer dependência.
    Um exemplo prático: a possibilidade de alguém que não tenha um projeto próprio, não tenha boas relações familiares e por aí vai. A tendência é que quando ela começar a se relacionar com alguém, o faça de forma patológica. Então é o perfil da pessoa, potencializado pelos estímulos do ambiente.

    E o que dizer da falta de educação, também com estas traquitanas todas?Pessoas civilazadas criam hábitos de se resguardar do excesso de uso desses aparelhos em momentos inapropriados, que é algo que está ficando cada vez mais difícil. Quer um exemplo? Sabemos da irrefutabilidade da importância de se ter bons hábitos alimentares. Mas não é suficiente ‘comer’ bem no que diz respeito ao alimento em si, enquanto se fica pendurado ao telefone celular falando sobre assuntos ‘que não podem esperar uma hora para serem tratados’ ou, o que é ainda pior, atrapalhando as pessoas ao seu redor usando o viva-voz com aquele ‘beep beep’ irritante!. E os os "novos bárbaros" fazendo mal uso das suas "armas” , como atender celular em plena sessão de cinema, show ou teatro. Qual o o tamanho desta estupidez ou desta invasão desrespeitosa da privacidade alheia?

    Quem sabe (poucos) utilizar a sua vida real junto à virtual de maneira saudável, tem parte da chave-mestra para se ter melhor qualidade de vida.
    Abração
    Marcos Lúcio

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  5. Fernanda, R$622,00,com essa quantia um trabalhador pai de família pagar,aluguel,escola,saúde e alimentação. Vamos combinar que isso é um verdadeiro milagre! E olha que só falei o básico... bjs.

    Monica.

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  6. Mauro e EstiMarcos... "Falou e disse" para ambos!!! Gilda, manda seu e-mail pra eu te mandar a receita do macarrão! Monica, com 622,00 só sendo milagreiro mesmo. Abraços!

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  7. Mesmo sem tempo, não resisti a dar um pitaco...pois as compras que funcionam como uma espécie de droga leve, ou a compulsão consumista, merecem uma lente de aumento, não é mesmo?!, prezaDannemann... e melhor blogueira que conheço.

    O psicoterapeuta Cesare Guerreschi, da Sociedade Italiana de Internvenção nas Patologias Compulsivas, acrescenta que a compra compulsiva pode ser uma estratégia para atenuar um estado depressivo subjacente. Tristeza, solidão, frustração ou raiva, incrementam a tendência a consumir. Esta compulsão pelo ter (porque o ser está em desalinho), sinaliza a presença de desconfortos existenciais que envolvem dificuldades de relacionamento, no âmbito geral.

    Em momentos de ansiedade, quando se sentem frágeis ou mal-adaptadas, as pessoas podem tentar suprir carências afetivas (inclusive, ou principalmente, as mal casadas...a maioria, psicanalistas afirmam. Seu casamento é uma rara e feliz exceção, benza Deus!), substituindo-as pela aquisição de objetos...que não as rejeitam, as "entendem" , não as decepcionem ou não discutem a relação rsrs...

    Estatísticas comprovam que pessoas menos interessadas pelo consumo são aquelas que fundamentam a própria identidade em outros valores, como os ambientalistas, os pensadores, pesquisadores, teólogos, enfim, as pessoas com mais maturidade, auto-conhecimento, e com sede de conhecimento ou com mais necessidade de exercício das faculdades intelectivas (aqueles poucos contra a corrente neoliberal majoritária de alienação e infantilização da humanidade).

    Quanto mais satisfatoriamente você se relaciona com as coisas e pessoas, menos necessidade haverá de consumo, "por supuesto". Diga-me o tamanho do seu vazio existencial que direi a quantas anda sua voracidade consumista.
    Abaço afetuoso
    Danilo

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  8. Danilo, acho que seu pitaco procede. Abraços e apareça sempre!

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  9. Duilio

    Não sei se entendi aonde você quis chegar. Que há um exagero consumista ninguém tem dúvida, daí comparar a utilidade de um celular de última geração a futilidade de uma bolsa Louis Vuitton há uma grande distância, talvez o exemplo é que não tenha sido feliz. Também não entendi o que o consumismo tem haver com trabalho escravo em alguns países, trabalho escravo tem haver com ganância e imoralidade...

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  10. Duilio... não comparei a "utilidade" de alhos com bugalhos. Mas o mesmo consumismo que faz uma pessoa pagar milhares de reais por uma bolsa Luis Vuitton é o que a faz desejar celulares de última geração, recém-saídos da linha de montagem; muita gente compra aparelhos que são verdadeiros computadores, e nem sabe usar: só quer mostrar que tem. É como a madame que não sabe botar o carro na vaga mas pilota aqueles carrões enormes, sentindo-se a Sandra Bulock no filme que lhe deu o Oscar. O princípio, portanto, é o mesmo, ou seja, o desejo insaciável de, através das compras e da criação de uma "auto-imagem", tapar algum buraco (fundíssimo) existencial. Sim, trabalho escravo tem a ver com ganância e imoralidade, mas também é alimentado pelo consumismo voraz e por uma inversão (e perversão) de valores. Cabe ao consumidor tornar-se mais consciente sobre suas necessidades e também sobre como trabalham as empresas, de modo que deixe de girar esta roda do infortúnio.

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  11. Hein! A guerra do Migliacio é para te provocar. Ele quer o melhor de você e está conseguindo e eu não aguento sem te contar que já percebi isto.

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  12. Alfredo, eu adoro o Migliaccio, mas às vezes ele é um tremendo mala!

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  13. Eu já sou completamente diferente de você. Eu vivo para a tecnologia. Acho que é pelo fato deu ser da famosa geração y. Mas eu li uma reportagem uma vez que dizia que apesar dessa geração ser considerada egoísta e individualista, também é a geração mais preocupada com causas sociais e ambientais. Mas pelo que li na sua notícia, parece o contrário. O fato de sermos dessa geração, de querermos sempre mais, de prezarmos muito o consumismo, faz com que outras pessoas vivam cada vez mais na escravidão. E pelo andar das coisas, não parece que essa situação irá mudar tal cedo.

    *E adorei a forma como escreveu essa matéria. Nunca tinha lido nada assim antes. Que mostrasse o outro lado da tecnologia, aquele que vai além do designer e dos aplicativo, mostrando que pessoas vivem em condições de escravos para que eu e outros milhares tenhamos o celular mais moderno que existe. Tenho que admitir que diversos valores parecem ter sido perdidos, pois como você disse, a relíquia sagrada agora é o IPad.

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