Ok, ok, dinheiro é bom e todo mundo gosta, facilita a vida que é uma maravilha, e proporciona coisas deliciosas... não pense que vou começar com aquele papo de que “dinheiro não traz felicidade”... porque não traz mesmo, mas que é melhor ser triste com conforto e com a barriguinha cheia é, não é não?
Meu psicanalista vive me dizendo que a gente deveria aprender a não fazer juízo de valor, e esta, aliás, tem sido uma das minhas ambições... mas acho que o Eike vai chegar lá antes de mim: ele certamente está 30 bilhões de anos-luz à minha frente nesta corrida do ouro, que é a conquista das ambições.
A imprensa avisa que o Brasil está crescendo, o que é ótimo, e que os milionários proliferam, assim como uma “nova” classe média que adora gastar dinheiro e mostrar que tem bala na agulha. Eu acredito: este programa “Mulheres Ricas”, na Bandeirantes, é um sintoma cafonérrimo desta mentalidade, assim como a revista Caras e o Facebook: todo mundo quer mostrar que “pode”!
Esta ambição de “ser alguém” uniformiza as cabeças-pensantes e deixa todos com a mesma cara... todo mundo quer dinheiro, todo mundo quer ser igual e gozar a vida ao máximo... enquanto isso, a besta-fera que habita a alma humana, e se esconde atrás de uma civilidade de mentirinha, engorda cada vez mais, alimentada pela vaidade. Até o dia em que devora o que houver sobrado da pessoa original, que um dia existiu.
Mas não pense que não quero a minha parte, neste Brasil que está crescendo: eu também quero, afinal não fiz voto de pobreza. Só que aprendi, faz tempo, que pra ter paz de espírito há que se ter um limite pra tudo nesta vida, inclusive para os melhores prazeres... ou a felicidade perde seu valor.
O mal está na deturpação da palavra “ambição”, que ganhou tom pejorativo justamente porque a imaginação popular em geral a relaciona, principalmente, à conquista de bens materiais, o que é um equívoco.
Minha mãe, mansa como um cordeiro e sábia como uma raposa, costumava contar aquela história do “ofereça a outra face”, para ilustrar seus ensinamentos a respeito da não-violência. Taí uma ambição que era demais pra mim, que não nasci pra Gandhi e, de quebra, saí igualzinha ao meu pai. Mas veja que o mundo seria mesmo um lugar muito melhor pra gente viver se a grande ambição do homem fosse tornar-se pacífico e verdadeiramente generoso, em vez de rico e reverenciado.
O segredo que demorei pra entender, a respeito de oferecer a outra face, é que não alimentar a guerra já é, por si só, um gesto de paz... e uma ambição pela qual vale lutar, tanto quanto vencer e enjaular o bicho da vaidade... antes que ele acabe com a gente.
Por falar em Gandhi, olha ele aí, no dia do casamento
Esse programa Mulheres Ricas mostra a que ponto o ser humano pode descer.
ResponderExcluirMilinários, bilionários...isso sim deveria ser proibido.
ResponderExcluirDrum
Você tocou, de novo, ainda bem, em tema prá lá de essencial, pois tenho o LIMITE , tanto quanto a salvadora ACEITAÇÃO e, não menOS, a DIGNIDADE. como bússulas orientadoras para os inevitáveis maremotos existenciais. Já tendo falado disto, preferi, então, queriDannemann, abrir/compartilhar meu "porta-palavras-jóias" _ recolhendo-me à minha insignificância_ e exibir uma das pérolas da admirável Márcia Tiburi.
ResponderExcluirLimite para tudo
Os filósofos antigos usavam o termo “peras” para expressar os limites. Tanto nos pré-socráticos, quanto em Platão e Aristóteles, este conceito tinha uma função metafísica, ou seja, servia para explicar como as coisas existiam, porque elas eram o que eram e não diferentes. Por exemplo, Aristóteles dizia que qualquer coisa não existe para além do limite. Tudo o que existe precisava de um limite para existir. Para saber o que algo é e onde está se usa a noção do limite. Limite é sinônimo de forma. Afinal não podemos saber o que é uma casa se não reconhecemos seus limites concretos, arquiteturais, que são, afinal, formais. Até a beleza era entendida como uma espécie de limite. Se pensarmos bem, toda a nossa forma de ver o mundo, de pensar, de entender as coisas, depende deste conceito.
Em termos éticos, aparentemente menos abstratos para a nossa mentalidade atual, os antigos entendiam o limite como auto-domínio, capacidade de controlar as próprias paixões (mais tarde chamadas de pecados), de viver no meio-termo. Limite era tudo que tanto impedia como possibilitaria movimentos. Qualquer ação dependea de limites no espaço e no tempo. Mas também dos limites externos ou internos de que agia.
Respeito ilimitado
Todo limite é uma experiência que se formula na relação com o outro. Entre mim e o outro há sempre um espaço imponderável. Neste vazio entre “eu e tu” a melhor coisa a ser colocada é o respeito. Se o limite é a experiência que permite saber até onde se pode chegar e, com sorte, a protetora dor de saber aonde não se deve ir, o respeito é a única de todas as experiência que não pode ter limite. Por que respeito é o modo de olhar para o outro como algo positivo, ver nele sua potência de ser, como alguém que, mesmo me sendo próximo, carrega em si algo que não pode dizer sobre si mesmo para mim, e, por isso mesmo, sempre será intocável.
Nenhum respeito
A total ausência de respeito pelo outro é o que caracteriza a figura do perverso. O perverso é aquele que, por algum motivo que apenas pode ser ponderado caso a caso, rompeu com o limite. Ele vive da crença de que é capaz de submeter o outro. No entanto, mesmo quando destrói o outro, não deixa de enganar a si mesmo. Ele vive da crença de que tomou posse de sua vítima, mas é apenas uma crença e, como tal, não se sustenta na negação de quem não crê. A crença é sustentável apenas enquanto a vítima sustenta a posição do perverso. Em momento algum, no entanto, ele atingirá o âmago da outra pessoa. O perverso é um eterno logrado. Um frustrado que ilude o outro pelo medo. Quem se deixa levar é também iludido. E frustrado porque é impossível atingir o fundo irreconhecível de cada pessoa. Aquilo que justifica que somos seres humanos e que podemos sempre chamar de dignidade. Só esta convicção pode aniquilar um olhar e uma atitude perversas. Limite é, no fundo, o lugar intangível de cada um.
Energias benfazejas e poderoso abraço
Marcos `Lúcio
"Mulheres Ricas,"esse programa é mais um para engrossar a lista de porcaria na nossa TV aberta...
ResponderExcluirMonica.
Mauro Pires de Amorim.
ResponderExcluirTodos nós sabemos da importância do dinheiro, no entanto, depende do que se faça para consegui-lo. É nesse momento, que fatores como a consciência e o caráter fazem a diferença.
Por falar em Gandhi, lembrei-me de uma frase dele, que dizia o seguinte. "O que mais me impressina nos fracos é que eles precisam humilhar os outros para sentirem-se fortes."
Nem todos os que são humilhados ou sentem-se humilhados são injustamente expostos. Tudo depende da consciência e do caráter de cada um. Mas que realmente, existem no mundo pessoas, que para arvorarem-se hedonisticamente em fortalezas, necessitam exibirem-se humilhando os que os cercam. Ah, isso existe!
Felicidades e boas energias.
Adorei suas observações!
ResponderExcluirE é por aí mesmo, as pessoas esqueceram as verdadeiras riquezas da vida. Aquelas que não se pode comprar com dinheiro como: o amor, o respeito ao próximo, a paz de espírito, e por aí vai...
E sobre esse programa "mulheres ricas" posso dizer que nunca tratei o fato de alguém ter muito dinheiro como um possível prejuízo a virtude, afinal quem não gostaria de usufruir dos benefícios de uma vida abastada? Porém considero uma ofensa a nós brasileiros, boa parte de classe média a baixa, um programa que faz da nossa realidade algo miserável.
Parabéns pelo Blog Fernanda!
Isadora, obrigada! Gostei muito dos seus comentários: o que você contou sobre o papo da Debora Secco com uma moça muçulmana, no "Barbie, cai na real", é ótimo. Muitas ocidentais não perceberam ainda o quanto de opressão existe no que elas pensam ser "liberdade". Um abraço e volte sempre!
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