Talvez pela tradição da culpa, disseminada pela
religião, a gente se deixe levar por esta doença que tem muito a ver com a
autocomiseração... é mais fácil sentir pena do mundo e de nós
mesmos; é mais fácil padecer da modéstia
do que simplesmente aceitar as coisas como elas são e não fazer drama.
O filme “Intocáveis” é um sucesso de público talvez
por isso mesmo: Drizz, o personagem principal, está confortável com seu lugar
no mundo mesmo que este lugar não seja nada fácil, e não se sente diferente do
patrão, um ricaço tetraplégico que sofre de tristeza muito mais por ser tratado
como uma entidade do que por conta de sua cadeira de rodas. Drizz não se sente em melhor
condição por ter a medula intacta, nem em pior por ser negro e pobre numa
Europa que está longe de simpatizar com os imigrantes africanos. E Philippe, por sua vez, não se sente vítima das circuntâncias nem privilegiado pela condição social: está em busca de uma igualdade da qual jamais desfrutou, e que tornou-se ainda mais difícil em função de um acidente.
A história dos dois, real que virou filme, trata da
mais fina relação entre seres humanos: aquela em que ambos são iguais apesar de
todas as diferenças que a vida pode nos impor, das financeiras às culturais,
passando pelas físicas. E nos mostra o quanto o homem pode ser grandioso quando
não se deixa levar pelo peso da distinção e das ideias pré-concebidas sobre si
mesmo e sobre os outros. É então, a partir deste encontro mágico de almas, que acontece a maravilha da existência: um ser humano abre o outro para a vida, numa estrada de mão dupla em que ambos seguem sempre adiante.
Há muito de liberdade em ser despudorado: é que realmente é impossível ser alegre com pudor.
Tudo na vida depende do despacho. Precisamos despachar o acanhamento e nos despachar, lançar, jogar, saltar no vazio,... Para encontrarmos a nossa própria e intransferível realidade. Difícil né? A gente se sente mais seguro seguindo as normas, as diretrizes, os mandos, exatamente daqueles que de uma forma ou de outra, encontraram, senão um despacho, algo parecido.
ResponderExcluirDificílimo, mas vale a pena tentar.
ExcluirEu não tenho coragem de dançar na frente de um tetraplégico,certamente vou achar que agindo dessa forma,vou deixá-lo ainda mais deprimido...
ResponderExcluirMonica.
Tá vendo, Monica? O filme trata exatamente disso. Se puder, assista! bjos
ExcluirMonica, dança pra mim eu deixo rsss
Excluir;)
Fernanda, lendo seu Blog, viajei , em associação livre, com um texto que escrevi, em 12 de dezembro de 1988, há quase vinte e quatro anos, portanto, no intervalo de atendimento de clientes. Nessa época, meu consultório era na Uruguaina, 39, no prédio, onde fica a Farmácia Homeopática Átomo. Lá, fiquei, por doze anos.
ResponderExcluirProcurei pelo texto, encontrando-o numa pasta, junto a outros, todos manuscritos
O TEXTO; CULPA
VOCÊ SE CULPA PELO INCURSO
VOCÊ SE CULPA PELO NÃO DITO
VOCÊ SE CULPA PELO EXPLÍCITO
VOCÊ SE CULPA PELO PERIGO.
VOCÊ SE CULPA PELO INÚTIL
VOCÊ SE CULPA PELO PRINCÍPIO
VOCÊ SE CULPA PELO INÉDITO
VOCÊ SE CULPA PELO VIVIDO
VOCÊ SE CULPA PELA TRAGÉDIA
VOCÊ SE CULPA PELO SORRISO
VOCÊ SE CULPA PELA ESFINGE
VOCÊ SE CULPA PELO PALHAÇO
VOCÊ SE CULPA PELO NÃO FEITO
VOCÊ SE CULPA PELO DESFEITO
VOCÊ SE CULPA PELO DESEJO
VOCÊ SE CULPA PELO DEFEITO
VOCÊ SE CULPA PELO NÃO QUERER
VOCÊ SE CULPA PELO DESATINO
VOCÊ SE CULPA PELO DESTINO
VOCÊ SE CULPA PELO NÃO MORRER
VOCÊ SE CULPA PELO VIVER.
SOBRE O TEMA, OS LIVROS; ANGUSTIA, CULPA E LIBERTAÇÃO, DO EXISTENCIALISTA, MEDARD BOSS E A CORAGEM DE SER, DO TAMBÉM EXISTENCIALISTA,PAUL TILLICH, SÃO ÓTIMAS LEITURA.
ABRAÇO E BOM DOMINGO.
ANTONIO CARLOS
Antônio Carlos, acho que a culpa é um veneno horroroso. Obrigada pela indicação dos livros e por dividir um texto seu com o blog. Abraços!
ExcluirFernanda,
ResponderExcluirMuito bacana a sua visao psicologica sobre o filme.
Vi o filme, mas meu foco foi na relacao entre os dois personagens de mundos totalmente diferentes e sobre a amizade que se foi formando entre os dois e a troca de conhecimentos entre eles, assim como voce mesma escreve "mao dupla". Foi este filme que eu comentei sobre a "arte moderna" ... lembra (nao sei se voce reparou), tanto e que o personagem pobre comeca a pintar telas e como o personagem rico conhece varias pessoas influente, vende um quadro dele (do qual eu achei barbara a sua feicao quando o vende).
Quanto a parte em que o personagem danca, eu tambem vi com outro olhos, nao o da culpa, mas sim ele tentando mostrar outros tipos de musica sem ser (classica e opera), tanto assim que o ambiente muda , fica leve, e todos comecam a dancar ....
A mensagem do filme para mim, e que nada e impossivel.
Felicidades,
Beijos
Gilda Bose
Gilda, isso é que é bom na arte: cada um vê uma coisa diferente. Bjos
Excluir(Quase) sempre adorro o cinema francês y otras cositas más dos gauleses, queriDannemann, e não só a magnífica Paris," bien sûr"!
ResponderExcluirSeu post está "mais que perfeito do subjuntivo"."ADORREI".
Ao contrário dos filmes americanos que são hábitualmente doces e romanceados, ou violentos em demasia...a história aqui é despida de sentimentalismo. No sub-texto, percebem-se as sutilezas, a crítica social econômica, a diferença de classes, os problemas dos emigrantes, enfim, o toque de reflexão tipicamente francês.
Conforme caminhamos nessa história vemos sofrimentos, de ambas as partes. Um busca respostas, o outro busca saídas para as dificuldades que enfrenta. A relação não é de dor nem culpa (meio que um clichê em filmes do gênero); é tão somente de gratidão pela amizade. Quando um entra no universo do outro, mesmo que "superficialmente", o entendimento fica mais fácil para os dois seguirem seus próprios caminhos. Nessa amizade o valor é revertido em preenchimento de lacunas um do outro.
Vale muiiiiito ver e considero, até, imperdível. É um exemplo típico da tese desenvolvida no Projeto Genoma, no Centro de Estudos do Genoma Humano - USP:
DESAUTORIZANDO O SOFRIMENTO PADRONIZADO.
Nesse trabalho, dirigido por Jorge Forbes e Mayana Zatz, pacientes portadores de distrofia muscular e familiares são atendidos por tratamento psicanalítico com o objetivo de retirar o vício do RC - resignação por parte do doente e compaixão por parte dos familiares - que congelam o paciente numa posição sem saída. Com o tratamento espera-se que uma nova forma de lidar com esse encontro para que o real seja reinventado. E os resultados obtidos tem sido excelentes, na medida do possível e no possível da medida.
Portanto, a importância do filme reside no fato de ser baseado em história real, e, também, de termos no Brasil, tratamento similar... além da fotografia, do trabalho magistral dos atores, trilha sonora e tudo mais. Diversão com requinte e respeito às inteligências menos alienadas ou sucumbidas à mercantilista americanização, de viés alienante, "colonizador" e uniformizador,quase sempre.
Santé e axé!
Marcos Lùcio
EstiMarcos... para mim, o cinema francês não tem meio-termo: ou eu amo, ou eu detesto! bjos
ExcluirJá tivemos coragem, sim, meu amigo e eu, até mesmo incentividados por ela...uma cadeirante simpaticíssima que dança sentada e utiliza a cadeira para rodopios, inclusive...em dois shows e ocasiões distintos ...e ela também como assistente.
ResponderExcluirEmbora considere o comentário da minha blogueira number one melhor e mais consistente, reproduzo outro, da psicanalista Eleonora Rosset, que pode despertar ainda mais interesse ou vontade em outras pessoas, também:
"A história que inspirou o filme é real . No final, aparecem os dois verdadeiros protagonistas. Prestem atenção. Mas, logo, o que nos cativa é o humor com que essa história, de uma dupla surpreendente, é contada.
Um acidente trágico de “parapente” levou Phillippe (o excelente François Cluzet) a uma cadeira de rodas. O tetraplégico milionário, que mora em um “hôtel particulier”, uma mansão luxuosa, precisa que façam tudo por ele, 24 horas por dia. Ele é inteligente, culto, bem educado.
Mas o que é a vida sem um algo a mais que a torne interessante?
É aí que entra Driss, um jovem negro da periferia de Paris, ex-presidiário, desempregado, que tem alegria de viver de sobra.
Se Phillippe não tem como se movimentar e já perdeu as esperanças de algo que o faça vibrar nessa vida, Driss enfrenta dificuldades para sobreviver mas, apesar disso, não perdeu seu jeito bem humorado de ser. Ele entra na vida do outro como uma rajada de forças novas que Phillippe vai saber apreciar.
“Intocáveis” é a história desse encontro, onde dois universos tão diferentes se harmonizam, criando um terreno fértil para uma forte amizade.
Haverá uma troca que beneficiará os dois amigos.
Driss vai ser não só as pernas e braços de Phillippe mas também sua curiosidade e coragem. E Phillippe vai ampliar os horizontes de Driss, apresentando a ele um mundo que ele não conhecia. Será seus olhos e ouvidos abertos para o novo. Mas tudo isso sempre com humor. E nem sempre politicamente correto. Ainda bem.
O roteiro tem o bom gosto de não fazer julgamentos nem ser moralista.
Mas “Intocáveis” não seria um filme tão bom e simpático, se não contasse com Omar Sy e François Cluzet como a dupla de amigos.
Não foi à toa que o jovem senegalês de 34 anos levou o César de melhor ator francês, concorrendo com ninguém menos que Jean Dujardin, o ganhador do Oscar americano. Alto, bonito, com um corpo expressivo e ágil, ele sabe fazer rir e comove com a mesma intensidade.
François Cluzet que consegue a façanha de contracenar com essa explosão de forças da natureza que é Omar Sy, apenas com a expressão de seu rosto, foi a escolha acertada para ser o outro da dupla.
Eu torço para que o cinema francês de qualidade conquiste cada vez mais o espectador brasileiro, viciado em “blockbusters” americanos alienantes.
Faça como eu e mais de 40 milhões ao redor do mundo e vá se encantar com “Intocáveis”
Abraço afetuoso
Danilo
Danilo, é por estas e outras que nós dois somos do mesmo clube. Aliás, boa viagem... bjos!
ExcluirObrigado pelos votos de boa viagem , e com a ajuda de Deus será...amém que sim!!!
ExcluirCorrija, por gentileza, a digitação: incentivados e....como fazemos parte do mesmo C.P.F.A.S., sugiro, após minha chegada, marcar com o Presidente uma reunião para atualizarmos as últimas da cidade luz, uma vez que você, nossa mui estimadíssima Vice-Presidenta, pretende , segundo fontes fidedignas, e da mais ilibada reputação risos..."parisear" de novo, d"accord???
Beijos e afetos do Danilo.
Está topado, Danilo, porque já está é passando da hora! Sim, meu querido, se Deus quiser jamais deixarei de parisear sempre que possível... beijos!
ExcluirMauro Pires de Amorim
ResponderExcluirUé, engraçado, enviei meu comentário, mas, no entanto, entretanto, porem, não foi publicado.
Well well, sometimes, shit happens (laughs).
Logo quando comentei acerca dos(as) que adoram arvorarem-se donos(as) da verdade e razão, sempre e claro, preferencialmente acerca da vida alheia, mas que, ululantemente, acabam perdendo a noção de limite e deixando sua índole e personalidade tirânica, autocrata aflorar.
Enfim, só posso ser responsável por meus atos e pensamentos. Quanto aos(as) outros(as), cada um(a) que faça o mesmo. E justamente por isso, digo que, destruir não é bom. Construir é melhor! Sempre respeitando os limites de cada um(a), para ter os seus respeitados. Pura questão de reciprocidade, sincronia.
Mas quando se trata da vida alheia, os(as) arvoradinhos(as) em superiores, iluminados(as), magnânimos(as), magníficos(as), estão c... e andando para a vida alheia. o que eles(as) os(as) alimenta mesmo é o reconhecimento hedonista de sua falsa e delirante grandeza, visando com isso, alimentar seu doentio ego megalomaníaco!
Então eu digo para esses "izpertus(as)". Se sabem destruir, coisa que qualquer imbecil, idiota faz e que, para tanto, não precisa de diploma ou qualificação alguma, bastando o apoio da patota dos(as) babaquaras. Então, que reconstruam no mesmo decurso de tempo!
Pura e simples questão de reciprocidade, pois se usam tão bem e rapidamente a energia da destruição, por quê não o inverso?
Pois afinal, será que existe instituição de aprendizado que minintre curso de babaquara, com direito à certificado de conclusão, diploma e carteirinha institucional de associado?
É capaz, no mundo dos(as) foquitos(as) do Planeta Bobolhando!
Mas enfim, o bullying é embasado por esse tipo energia. O simples prazer recalcado, nascido do medo ou inveja (ciúme).
Mahatma Gandhi, certa vez comentou: o que mais me impressiona nos(as) fracos(as), é a necessidade de humilhar os(as) outros(as), só para parecerem fortes.
Felicidades e boas energias.
Mauro, seu comentário veio, mas está no post do Bullying. Abraços!
ExcluirMauro Pires de Amorim.
ExcluirPeço perdão por essa minha gafe.
Mais uma vez, sinceros desejos de felicidades e boas energias.
Gafe nenhuma, Mauro! Seus comentários são sempre muito bem-vindos, você sabe!
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