-- O Metrô do Rio é uma piada!
Olho para ela: é uma senhora elegante e que aparenta estar
em seus 70 anos. Sorrio e ela continua:
-- Isso é que dá votar em Cabral, em Paes... eu é
que não voto neles!
-- Nem eu.
-- Sabe, quando tem jogo do Flamengo, torço para que
perca. Copa do mundo? Mesma coisa. Torci
tanto pela Holanda! Enquanto o povo se inebria com futebol e carnaval, a politicada
faz e acontece. Lula?! Um nazista! Enquanto o PT estiver no poder, torço contra
o Brasil. Fazer o quê? Sou pela democracia!
O trem chegou, e apesar da multidão digna de comício político ou de carnaval, conseguimos nos sentar lado a
lado.
-- Já tenho 80 anos! – (ela
já esperava minha reação)
-- Nooooossa, mas a senhora parece ter dez anos a menos!
Como conseguiu chegar aí assim tão serelepe e tão bonita?
A modéstia entrou no vagão.
-- Não fiz nada, minha filha, nadinha mesmo. Mas
sempre tive autoestima e ainda na infância aprendi que eu era o máximo! Acho
que isto fez toda a diferença. E também não fumei, bebia só um vinhozinho
francês socialmente... sempre gostei de ler meus livros em inglês... tive um
casamento que não foi grande coisa e me separei... dei umas namoradas... viajei
muito! Não estou me gabando, mas conheço os cinco continentes!
Tocou minha mão e deu uma gargalhada leve:
-- Não quero parecer vaidosa, sabe, mas tive um
óóóóótimo emprego! Sempre morei no Leblon. Atualmente estudo alemão! Olha o
meu caderno: tô indo pra aula agora mesmo! É um grupinho bem democrático, sabe,
tem de tudo: branco, preto, rico, pobre, zona sul e zona norte... coisa misturada.
Mas eu não ligo, acho até charmoso e moderno a gente se misturar com o povo, né? O curso
é de graça, aí tem de tudo mesmo.
-- Cuidou da cabeça? Dos sentimentos?
Raiva é uma coisa que a senhora nem deve conhecer, né, porque faz mal e envelhece...
Ela não parava de sorrir.
-- Sou muito rancorosa! Não esqueço não! Mas andei
fazendo umas iogas... a leitura é que me ajudou muito. E ler em inglês, que
domino como minha segunda língua... ai, meu Deus... olha eu aí me gabando de novo! Mas o que eu
posso fazer, falo mesmo o inglês muitíssimo bem...
-- A senhora deve ter muitos amigos, não é? Os
amigos são importantíssimos para a saúde do corpo e da alma.
-- Sim, é claro... foi até através de um amigo que fui
parar neste curso de alemão! Ele é meio gay, sabe, mas eu não ligo. Respeito.
Ele pode ser o que quiser, não é mesmo? O que é que a gente pode fazer, né? As
pessoas escolhem... a vida é delas! A gente vive a nossa vida e deixa pra lá...
problema dele, nunca me meti...
-- Sei...
-- Mas ele fala inglês também muito bem, é outro que
viajou bastante, é um homem fino e educado... costumávamos bater altos papos sobre arte, assunto que conheço e domino...
Parou de repente e deu um suspiro, para arrematar com uma frase em seu idioma preferido:
-- I am blowing
my own trumpet...
Traduziu imediatamente:
-- Estou me gabando...
Chegou minha estação e me despedi dela, que ainda
disse:
-- Você é muito simpática!
Dei tchauzinho de longe e saí dali pensando no quanto pode ser perigosa a
vida: a gente é capaz de chegar aos 80 anos sendo mesmo o máximo... mas o “máximo” de quê?
Em pouco tempo esta senhora bruxa (adorei , também, queriDannemann, a sutileza do espelho meu...existe...) deu provas concretas de que preconceito sempre é nocivo, traz infelicidade, doença e "move "a humanidade, muitas vezes, até para a guerra, ainda que em nome de Deus.
ResponderExcluirQualquer tipo de preconceito _no caso lamentável dela, contra negros e homossexuais: os preferidos do povo_é sinal claro de que ainda não existe o conceito, ou o conhecimento da questão, portanto, isto é sinal de ignorância explícita.
Não existe na ciência, na antropologia, na sociologia, na psicnálise, enfim, no meio acadêmico, nenhum suporte ou subsídio mínimo para se supor, delirantemente, que ser branco e hétero _como ela vive se gabando , inconscientemente_, demonstra qualquer tipo de superioridade .Só é mais conveniente, digamos assim, por causar menos problemas, afinal , o padrão desejado é o heteronormativo e de cor branca, sempre e de preferência.
Ninguém escolhe ser negro ou homossexual. Isto é tão natural quanto não poder escolher ser branco e hétero... constata-se, nem mais,nem menos.
Somente os "estúpidos" ou problemáticos , ou psicopatas, pensam em "superioridades".
.
A ela_velhinha tontona e modernosa_ que se refere à homossexualidade como “opção” – como se a orientação sexual fosse definida por livre arbítrio- permito-me sugerir que tente modificar a sua “opção” sexual para ver se consegue e como se sente. Mesmo que seja por um dia e por compaixão, dever, entendo eu, de todo cristão.
A nossa característica ou natureza sexual, qualquer que seja ela, não nos faz superiores ou inferiores. Assim como nossa cor.Por isso, não se arrogue ares de superioridade. Não embale o seu preconceito para presente. É mais honesto assumi-lo que imputá-lo, erroneamente, à mera questão de escolha, como se sexualidade ou cor de pele, fosse roupa ou carro que se troca ao bel prazer.
Ainda perguntaria a ela: porque a senhora também não escoheu ser lésbica, pois se nisto acredita, significa que poderia transar com mullher também, bastando querer e nada mais. Para a ciência ou para os sexólogos e para os lúcidos ou de autoconhecimento, é lógico : só os que possuem uma natureza bissexual podem escolher se o elo (erótico) será com ele ou com ela.
Lamentável esse estúpido ar de superioridade depender da humilhação, da submissão, do ultraje, da dissimulação, às vezes até do insulto para com os considerados_ injusta e perversamente_ inferiores ou minoria.
O sapientíssimo Mahatma Gandhi vaticinou: "O que mais me impressiona nos fracos é a necessidade que tem de humilhar os outros só para parecerem fortes". Acrescento: o mesmo se dá com os preconceituosos, que utilizam deste caminho torto e sem fundamentação, para se sentirem algo ou alguém (da pior espécie, e perigosos, diga-se "en passant").
Santé e axé!!!
Marcos Lúcio
EstiMarcos, o preconceito é uma coisa tão enraizada (será no homem? será na cultura?) que a gente nem percebe que tem. O que devemos fazer, portanto, é abrir bem os olhos sobre nós mesmos, pra pesquisar como anda o nosso coração. bjão
ResponderExcluirCertíssima, queriDannemann.Os preconceitos, todos, sem exceção, estão fundmentados nas crenças ou no fundamentalismo até religioso, e não na ciência ou no academicismo. São parte do nosso capital cultural, emocional, religioso, familiar e moral, sim. São aquelas informações errôneas passadas de geração em geração, sem a curiosidade de verificar e realidade da questão.
ResponderExcluirDe minha parte, looonge de querer ser o melhor ou perfeito, cruzes!!!, busco sempre o autoconhecimento (se consigo, é outra história rs) e solicito, encarecidamente _ aos amigos e conhecidos_ que denunciem, gritem , façam passeata, tirem a roupa e o que mais precisar...quando ou se perceberem, ainda que subrepticiamente, uma leve sombra de preconceito em mim. Se pesada, que me esbofeteim rs. Mas quando ou se acontecer, que tragam as fontes bibliográficas desmascaradoras do equívoco, ou as provas incontestes,
até filmadas, de preferência (adoro um documentário rs), pois achismo é perdição.
Mandou mutíssimo bem, o MAHATMA GANDHI:
SUAS CRENÇAS SE TORNAM SEUS PENSAMENTOS.
SEUS PENSAMENTOS SE TORNAM SUAS PALAVRAS.
SUAS PALAVRAS SE TORNAM SUAS AÇÕES.
SUAS AÇÕES SE TORNAM SEUS HÁBITOS.
SEUS HÁBITOS SE TORNAM SEUS VALORES.
SEUS VALORES SE TORNAM O SEU DESTINO.
Triste época! É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito.
Albert Einstein
Fernanda,
ResponderExcluirAdorei a sua conversa com esta senhora .... digo isso porque , e num bate papo informal que conhecemos o ser humano. E foi atraves desta pequena conversa pudemos notar o grau de preconceitos, a todos que ela citava sendo amigo ou nao ela dizia pobre, rico, branco, preto, zona sul, zona norte .....vamos falar serio agora: quantos de nos nao somos assim .....agora eu gostaria sim de conhecer pessoas que referem as outras como: uma amiga super legal, uma pessoa que esta sempre estudando, (a procura do conhecimento) um amigo alegre. auto astral, um grupo que me faz super feliz quando eu encontro ....coisas desses tipos e nao rotulos ...... tristeza .....
Beijos
Gilda Bose
Ja entendi!
ResponderExcluirVoce encontrou a mae daquela "senhora fina"...
Não, Ariel, mas talvez seja uma parente próxima...
ExcluirBom, esta semana também tive uma experiencia com uma senhora anciana, no metro. A diferença estava nao em se achar superior, mas na nonchalance... a dita cuja, no meu caso, saiu da outra parte do trem, para me ameaçar verbalmente, me dizendo inclusive que se eu continuasse em pé onde estava (metro lotado, tipo aniversàrio do Guanabara, rsrsrsr) iria passar literalmente por cima de mim, por cima do meu cadàver (medo)! Me chamou inclusive, aos berros e categòrica de "imbecil"! Esterrecida, olhava para ela pensando, vou mandar esse urubu catar "coquinho no mato" (eufemismo, né, meu bem?!)... mas, como da minha avò e minha mae recvebi educaçao, e nao tinha a menor intençao de descer ao seu nìvel e nao mesmo!, pensei: Deus me livre chegar ao 70 e quebrados com esta supérbia bestial, com este umbigo dono do mundo! Esperei o momento em que a senhora, que de senhora contava somente os anos, nao cupsisse mais fogo, para com extrema fleuma, esbofeteà-la com estas palavras: Deve ser muito difìcil para a senhora chegar à esta idade sem saber o que é educaçao e equilibrio, mas... triste mesmo, é constatar que embora seu tantos anos de vida, a senhora nao foi capaz de aprender o que é ser uma pessoa civilizada.
ResponderExcluirEla arregalou os olhos e tremendo os làbios manifestou certo desaponto enquanto saìa de fininho, com os rabinho entre as pernas. Acredito que para a ela, tenha sido um sapo gordo e nada democràtico de se engolir.
Bem-vinda ao blog, Ancilla! E quye fleuma você teve, hein?
ExcluirOi Fernanda,
ResponderExcluirPreciso ler seu texto sobre o leilão da virgindade da catarinense Catarina Migliorini, por R$ 1.500.000,00.
Mercedes
Vou pensar a respeito, Mercedes!
ExcluirFernanda,eu tenho muito respeito pelos idosos,mas esta "vozinha simpática"merece ser chamada de PRECONCEITUOSA EM TODOS OS SENTIDOS QUE A GENTE POSSA IMAGINAR.
ResponderExcluirAliás,o Marcos Lúcio definiu muito bem o perfil dela.Como sempre ele sabe das coisas. Bjs.
Monica.
Obrigado Mônica,pela gentileza do elogio, mas na verdade, sou um aprendiz_muiiiiito looooooooonge de sábio_ bastante esforçado, que busco fundamentar em boas e confiáveis e prestigiadas fontes bibliográficas as questões humanas que julgo relevantes. Adooooro uma pesquisa séria ou embasada. E adoooooro, mais ainda, rever ou atualizar ou restaurar ou fazer atentas manutenções nos conceitos, afinal, a mediocridade é a norma ou a média, infelizmente. Preconceito, seja ele qual for, considero inadmissível para mim (deveria ser pra todos, massssssss...), até mesmo por razões óbvias:o preconceituado não pode nem deve preconceituar, né?
ExcluirO melhor presente que posso receber é um novo aprendizado, mas, repito e reitero: desde que haja comprovação científica e que eu possa consultar as fontes.
Sua generosidade já dá uma dimensão do humano civilizado que habita em você.Bem-vinda ao C.P.F.A.S., então, e se quiser, "marrelógico"!!!
Beijão procê .
Marcos Lúcio
Valeu,Marcos Lúcio,beijão procê tambem.
ExcluirMonica.
Vaidosa assim, ela tinha mesmo que não gostar do Lula...
ResponderExcluirSergio Natureza - BA