Nunca me esqueço do dia em que me meti a comprar uma linguiça de porco para
o almoço e perguntei ao vendedor como é que fazia pra fritar a bicha. E
ele, indignado, perguntou ao meu marido:
-- Como é que o sr. se casa com uma mulher que não
sabe fritar linguiça?!
Alguns anos se passaram, eu aprendi muitas coisas...
mas ainda não sei fritar linguiça nem fazer feijão. Meu marido não liga, meu
ex-marido também não ligava. Lembro quando o "ex" disse que o meu waffle estava uma delícia e era
idêntico à comidinha que a prima dele fazia, na infância, quando eles brincavam
de casinha. Dia desses, peguei o "atual" na mentira, quando ele falou maravilhas do fettuccine que deu errado.
-- Se deu errado como é que pode estar uma delícia?!
-- É que você cozinha tão bem que até quando dá errado fica ótimo!
Mas olha: eu SEI que uma cozinheira de forno &
fogão está escondida em algum lugar aqui dentro, misturada aos meus outros talentos! E
agora cismei que vou dar um jeito de fazer esta cozinheira sair!
Pra começar a nova empreitada, tracei meu plano
estratégico: comprei uns livros de culinária fácil, avisei minhas amigas que ia
começar a ligar pedindo help, escolhi alguns pratos saudáveis pra aprender e contratei uma diarista nova. Espero que o leitor não me considere uma ardilosa maquiavélica, mas a ideia é que a pobrezinha seja minha cobaia gastronômica e, de quebra, me dê uns feedbacks. Preciso de uma crítica imparcial e sincera, que não tenha receios de ferir meus brios e acabar dormindo no sofá. E, obviamente, capaz de me prestar assessoria e salvar o almoço quando a situação sair de controle, mas de modo que sua benevolência não me deixe ainda mais humilhada. O cuidado extra, para não me inibir demais, foi contratar uma assistente gentil que dá risada da minha atuação com as panelas.
Mas hoje, eu confesso: fiquei com
vergonha da comida e sugeri que ela pedisse uma quentinha no restaurante da
esquina. Ela fez cerimônia, coitada, e minha culpa aumentou a ponto de eu lhe dar de presente um ovo frito. Sempre fui boa de ovo frito, coisa proibida aqui em casa por causa do colesterol e da sujeirada... a moça não sabe, mas aquele ovo, que também não deu lá muito certo, foi um gesto de tremenda gratidão da minha parte.
Ao final do almoço em que nós duas ficamos com
fome, voltei a sugerir aquela quentinha. E ela, magrinha de dar dó, mostrou que é
mesmo gentil:
-- Não tem problema não, dona Fernanda. Eu tô de
regime.
Tentei limpar
minha barra e falei que ia fazer um bolo pra compensar. E ela, que não conhece meu talento de boleira, se defendeu como
pôde, com a voz meio desesperada:
-- Melhor eu fazer um pudim!
Olha o quadro que o meu marido botou na parede da cozinha...
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Se não fossem os desafios, que graça teria viver?
Pra ser feliz, mulher não precisa ser Maravilha nem Bombril
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Conta do bolo solado que nem o flanelinha quis...
ResponderExcluirMas naquele dia eu tava de TPM, foi por isso que o bolo não deu certo. Pra cozinhar, a gente tem que estar de bem com a vida. Mas esta história é assunto pra outro post. E faça o favor de não denegrir a minha imagem...
ResponderExcluirE tem mais: ele quis sim, comeu tudinho e até hoje me pede bolo quando me vê!
ExcluirTente a receita de miojo da redacao do ultimo ENEM. Eu fiz e ficou otimo...
ResponderExcluirFernanda,
ResponderExcluirNinguem nasce sabendo nada, a gente aprende tudo nesta vida, e so querer.
Eu aprendi a cozinhar tarde tambem, e sabe por que? Porque eu fui criada numa casa que minha mae e uma outra tia que morava junto com a familia cozinhavam muito bem, e quando elas partiram e eu co mecei a experimentar as outras comidas dei um basta, e comecei a fazer o tal do arroz com feijao (parece facil nao e mesmo, mas um arroz e um feijao bem feito, (e de comer de joelhos rsrsrsr.), depois de aprender, vieram os acompanhamentos...... mas para falar a verdade, cozinhar todos os dias, ter que criar novos pratos, e receitas e cansativo.....mas como eu tambem gosto de comer, nao teve jeito, entro na cozinha, com paciencia (sem ela nada da certo) e com amor. Veja bem, isso nao quer dizer que deixei de frequentar restaurantes.
Pelo seu depoimento voce e uma pessoa amada sim, pois para o marido elogiar a comida quando ela nao esta boa e uma prova.
Dicas: pega a receita, compre todos os ingredientes, prepara tudo na sua frente e comeca a fazer.....a ordem na cozinha e muito importante, alem de facilitar ajuda tambem.
Felicidades,
Gilda Bose
Gilda, mesmo que a comida não fique boa eu insisto porque e divirto na cozinha. Como não tenho esta obrigação, a coisa vira brincadeira. Vou continuar insistindo, obrigada pelas dicas. E se eu precisar de uma força, vou te pedir aquele help!
ExcluirContinue o exercício. Em breve, será ótima cozinheira. No que respeita á contratação da faxineira-cobaia, minha leitura-escuta, apreendeu pensamentos- atitudes- comportamentos conflitantes e culpabilisantes. Um certo maquiavelismo que remeteu-me áquela hipótese da D. FERNANDA, do período Vitoriano. Sei não. Algo me diz que em breve, teremos um blog enfocando essa relação com a auxiliar magrinha e educada. Estarei atento. rsrsrs.
ResponderExcluirANTONIO CARLOS
Dona Fernanda Vitoriana não desiste! (Também acho que em breve haverá capítulo novo na "Saga da Diarista". Quem viver verá!)
ExcluirTenta preparar um ratatoille! Tem um desenho que ensina.
ResponderExcluirÓtima ideia! Quem sabe não dou um pulo em Paris pra conversar melhor com aquele rato-cozinheiro?
ExcluirCom relacao ao quadro que o seu marido colocou na parede da cozinha, depende da interpretacao das palavras... Quem sabe ele estava se referindo a voce e nao as suas "habilidades"?? Ve? O cara eh ou nao eh um doce? (feito fora da sua casa, claro...rsrsrs)
ResponderExcluirCozinhar, Fernanda, vai do paladar da pessoa e da imaginacao para criar. Voce reconhece sabores numa comida? Esse eh o caminho: junte coisas, sem que uma nao elimine a presenca da outra, na proporcao certa. Descubra o uso do fogo forte, medio, fraco. A necessidade de tampar ou deixar a panela aberta.
Assim, depois de alguns erros, voce -certamente- iniciara uma nova etapa nao soh na sua vida como na sua cozinha!
Boa sorte!!
Estou insistindo, Ariel. Mas olha, o meu negócio é aprender a fazer o almoço, porque em matéria de sobremesa eu mando bem. E de bolo também, para o lanche. Assim sendo, o meu marido bem poderia sim ser um doce saído da minha cozinha. No dia que você abrir aquele restaurante, vou te passar umas receitas fáceis e deliciosas de quitutes, e depois vou passar lá pra conferir a janta.
ExcluirSe vc quer saber,eu também sei fritar ovo,e com um detalhe: Sem quebrar a gema!Portanto,não me deixa com inveja...
ResponderExcluirAgora duas observações,o Marcelo,não consegue ser discreto,e o Antonio Carlos,muito otimista. rs
Monica.