segunda-feira, 4 de março de 2013

Tá rindo de quê?

Então as recentes pesquisas exclusivas feitas pelo jornal O Globo mostram que a felicidade mora no Rio e que o carioca é o mais alegre dos brasileiros, contente da vida, aliás, com os eventos esportivos marcados para 2014 e 2016. Diante disso, devo estar mesmo me metendo com a turma dos rabugentos, porque ando procurando alguém que se encaixe no perfil do “carioca feliz”, da dita pesquisa, e... tá russo de encontrar!

Mas os entrevistados foram ouvidos onde? Na praia de Ipanema? Só se for ... ou quem sabe em qualquer um dos cartões-postais que embelezam a matéria. Não há dúvidas de que o Rio sempre sai bem na foto... exceto naquelas que vão além do mito de "Cidade Maravilhosa" e que mostram a realidade do dia a dia deste povo tão feliz que é o carioca, segundo a tal pesquisa.
Duvido que tenham ouvido o depoimento de alguém que enfrenta o engarrafamento que cansou de ficar só em São Paulo e já virou lei por aqui. É só botar o pezinho pra fora da portaria do prédio e pronto: você está engarrafado. Já pensou levar, em média, duas horas entre sua casa e o trabalho? Na última sexta-feira, meu marido bateu o recorde e levou três horas para chegar em casa. É que ele não anda de helicóptero. Quem mandou não entrar para a vida pública?
Então o cantor Zeca Pagodinho virou símbolo da nossa alegria... um símbolo midiático escolhido a dedo para vender cerveja, vender show na praia, vender Domingão do Faustão. A minha alegria, pelo menos, não tem nada a ver com o Pagodinho. E a sua?

Segundo a pesquisa, a cidade é feliz por causa do próprio carioca (que, pelo visto, se acha o tal), do carnaval e do samba, das praias e do calor (mas só quem tem tempo e grana pra curtir a praia e pra comprar ar-refrigerado para casa e para o carro), das belezas naturais, do futebol e do Maracanã (que, quando funciona, tem ingresso caro), do alto astral, da malandragem (sem comentários...), da sensualidade, dos bares e dos shows (muitos na Praia de Copa, tirando a paz de quem paga impostos caríssimos para viver ali, mas quem é de longe adora, pelo visto).
Estes critérios me parecem, no mínimo, tendenciosos.
Será que foram ouvir alguém que tentasse atendimento em hospital público? Ou alguém que não pudesse pagar o ingresso do Maracanã? Ou que se espremesse, de pé, no transporte coletivo que também é caro? Ou que procurasse uma vaga para estacionar o carro? Ou que não fosse a favor das obras do metrô em Ipanema ou da Copa de 2014 e da Olimpíada em de 2016, e preferisse que o dinheiro investido para transformar o Rio dem "Cidade Olímpica" fosse aplicado na saúde pública? Na tal matéria, um taxista diz que a cidade está mais segura. Onde, se a gente é assaltado a pé ou de carro, a qualquer hora e em qualquer lugar?  
Gente, e o que dizer do incêndio no Leblon, área nobre da cidade e com o metro quadrado entre os mais caros do Rio de Janeiro, se não for o MAIS caro, e onde, segundo os moradores da área, não havia água nos hidrantes? E os bombeiros, que segundo as mesmas testemunhas, levaram mais de meia hora para chegar ao local e já encontraram o incêndio apagado por obra da natureza?
Bombeiros e CEDAE se defendem dizendo que não, não foi nada disso...  mas quem é que paga a conta desta tragédia? As vítimas que morreram ao tentar se salvar pulando da janela, e que pagaram com a vida.
Aí, por uma ironia digna de filme B, a Vieira Souto, bem pertinho dali, amanhece alagada por causa de um rompimento de tubulação da CEDAE! Seria cômico se não fosse trágico.
Este é o nosso Rio de Janeiro... e  eu só queria perguntar à turma dos felizes e contentes:
-- Tá rindo de quê?

13 comentários:

  1. O Rio e lindo, mas viver aqui ta dificil.

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  2. Fernanda,

    Desde quando voce acredita nessas pesquisas rsrsrsrsr.Ja faz muito tempo que eu nao acredito na midia e nem nessas pesquisas .......pois tudo que voce falou, na minha opiniao e verdade, tanto e que eu garanto a voce, que 90% dos cariocas concordam com tudo que voce escreveu no seu post..... os 10% tem suas razoes (ocultas) rsrsrs ....noooossa me lembrei do entao Presidente da Republica Sr. Janio Quadros, quando lhe perguntaram o motivo de sua renuncia ....veja bem eu era uma menininha rsrsrs,
    e que na realidade eu tenho boa memoria .....

    Felicidades, Bjs

    Gilda Bose

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    1. Não acredito não, Gilda... mas estou achando incrível como O Globo está puxando a sardinha para a brasa do prefeito e do governador. Isso é medo da Dilma...

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  3. Em Abril próximo, completarei oito anos vivendo na Região dos Lagos,não deixando, todavia, de estar no Rio, quatro vêzes por mês, local, onde, a despeito de todos esses problemas reais, citados por você, a Cultura continua pulsando forte e diversificada, inclusive em suas periferias. Há oferta de cultura e lazer para todos os bolsos, até para os vazios, ou quase.
    Interessante, caso pesquisemos informalmente, àqueles que mais sofrem com as desigualdades, amplo espectro, do Rio, a maioria, creia, não deseja abandonar a Cidade. Será puro masoquismo? Talvez, esteja equivocado, mas acredito que a felicidade do Carioca, como a do baiano, tem muito a ver com a solaridade das pessoas e dessas regiões, sua resiliência.

    ANTONIO CARLOS

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  4. Também não entendo esta "alegria" generalizada entre os carioCAOS rsrs...e, claro, não acredito em pesquisas isentas.

    Por um outro viés, a alegria não está nas coisas, mas em nós, segundo o gênio Richard Wagner . Intuitivamente supunha que algumas pessoas possuem inclinação ou tendência para a felicidade (não sem esforços, pelo menos para mantê-la). Qual não foi minha satisfação ao ler uma entrevista com o geneticista italiano Edoardo Boncinelli , professor de biologia genética da Universidade San Raffaelle de Milão, dentre outras prestigiadas qualificações, e que acredita, por exemplo (dentre outras idéias polêmicas) na existência de "genes da felicidade" e que a satisfação não é um acidente e sim um destino.

    Já o descontentamento tem papel evolutivo importante...fiunciona como estímulo, pois se vivêssemos constantemente felizes (isto é impossível pois os contratempos são inevitáveis) não teríamos projetos nem objetivos (evidentemente), afinal, parafrasendo Clarice...a chaleira tem de ferver para levantar a tampa, né? O grande Rubem Alves diz que ostra feliz não faz pérola (grande sacada).Alguns de nós percebemos que a infelicidade também decorre da falta de ajuste entre nossos desejos e aquilo que realmente podemos/conseguimos alcançar. Isto decorre da superestimação/avaliação do nosso potencial.Previsível é: quanto maior a ilusão, fantasia ou falsa expectativa...mais provável candidato ao Oscar da inquietação, aspereza, mágoa e desesperança. Sabemos que há inúmeras pessoas que não sonham... deliram rsrs. Ato contínuo, dão com os burros n'água e sofrem.Muitos serezinhos humanos, infelizmente, nao têm competência e querem se estabelecer, ou, para baixar um cadinho o nível, são como passarinhos que comem pedra sem saber o "uc" que têm rsrs.Infelizmente pouquíssimos possuem auto-conhecimento, daí colocam os chapéus acima das cabeças (sou antigo, né? rsrs).O problema maior é sabermos definir ou entender estes conceitos de (in)felicidade...a filosofia ajuda bastante, se não estou enganado. Parece , SE ACREDITARMOS NESTA PESQUISA (HUM...) que os carioCAOS pussuem uma "válvula de escape" beeeem maior do que os demais brasileirinhos e que lhes permite amar a vida, apesar de tudo, e esquecer a própria infelicidade.Mas, repito, ajuda muito no processo a questão genética, segundo o geneticista citado: alguns indivíduos produzem de maneira rápida e eficaz dopamina(satisfação) ou endorfina (decepçãp), e outros de forma lenta.É razoável , destarte, supor que a pessoa que não necessita de muita coisa para se sentir feliz tenha uma estrutura psicofísica favorável ao alcance imediato da satisfação.Por enquanto, creio nisto, e exemplos não me faltam, e até provas contrárias rs, assim como no combustível da verdadeira arte e da bela natureza e das boas leituras e da boa música e das boas amizades, etc., para a manutenção da felicidade.

    "Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina", da Cora Coralina, ajuda a pensar a questão, também, não é mesmo, queriDannemann?

    Santé e axé!
    Marcos Lúcio

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    1. Sapientíssima pitacada, honorável ML... Adorrrei os "serezinhos humanos". Só você mesmo pra sair com uma desta, em meio ao um comentário que vale por um post!

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    2. Gratíssimo pelo gentil elogio, mas na afobação rsrs...este serzinho humano ("moi même") truncou a frase:Infelizmente pouquíssimos possuem auto-conhecimento, daí colocam os chapéus acima das cabeças...ou seja, o que quis digitar, exatamente é: inúmeros cidadãos que não possuem autoconhecimento... colocam os chapéus onde não alcançam...bem acima do quengo... e se phodem... desculpe a baixaria(sou quase do tempo em que se escrevia , ainda, com ph rsrs).
      M.L.

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  5. Eu nasci em Vila Isabel,zona norte do Rio de Janeiro,e só mudei para outra cidade em setembro de 2002. Após essa mudança,eu entendi que a mal administração nas grandes cidades,é uma praga que rola no País inteiro.
    Portanto Fernanda,o Brasileiro já está tão habituado a sofrer descasos,que tanto faz,chorar,rir,mentir falando que é feliz...
    Bjo.

    Monica.


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    1. É, Monica, por isso mesmo é que o Feicibuque faz tanto sucesso! O negócio é bancar o contente...

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  6. Monica, tambem prefiro as cidades pequenas.

    Marcos Lucio, adorei a frase de Cora Coralina, ate anotei.

    Gilda Bose

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    1. Pois é Gilda,é que as pessoas sentem-se atraidas pelas duas maiores cidades do Brasil,Rio de Janeiro e São Paulo,e esquecem das cidades menores,porém mais tranquilas.
      Bjo.

      Monica.

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