terça-feira, 21 de maio de 2013

Manual de sexo e de opressão

Soube hoje que existe um manual básico de sexo para judeus ortodoxos. É o “Hora de amar – Guia para intimidade física dos recém-casados”, escrito por um rabino e terapeuta sexual, em dupla com uma educadora.

Se os fiéis católicos reclamam que o Vaticano precisa se modernizar, fico imaginando o que deverão pensar, secretamente, alguns dos judeus ortodoxos que necessitam ler um manual para conhecer melhor o próprio corpo, para aprender sobre sexo e até para entender como agir na intimidade do casamento, já que entres eles o assunto é tabu na escola e em casa, locais inclusive onde meninas são separadas de meninos e onde é proibido um aperto de mão ou uma conversa "olho no olho" com o sexo oposto... onde internet e TV são proibidos, os casamentos são arranjados e os noivos em geral se conhecem no dia da cerimônia. O guia nem deve ajudar muito, considerando que ilustrações seriam imorais...

O corpo é liberdade, expressão máxima dos nossos sentimentos e emoções, expressão inclusive de quem somos; desconhecê-lo significa, antes de tudo, desconhecer a si mesmo. O corpo é também uma dádiva divina, instrumento através do qual experimentamos o mundo e a vida... se é através dele que pecamos, é através dele também que transcendemos. Mas o tabu do sexo faz justamente calar o corpo e o nosso lado humano e pleno, alegre e livre; o tabu do corpo talvez seja a pior forma de aprisionamento e submissão.
Com todo respeito às religiões e aos dogmas de cada uma, penso cá com meus botões que nada que nos oprime pode ser divino; nada que nos limite a alegria pura e simples no amor pode ser sujo ou pecaminoso. A impossibilidade de amar a si e ao outro, e os limites culturais impostos ao ser humano, impedindo-o de desfrutar do seu direito natural de escolha e possibilidades é que fere a natureza e o espírito.
Mas um dogma é um dogma, e as religiões não existem sem eles. E os homens, por sua vez, necessitam estar inseridos em uma religião e em uma cultura; romper com isso exige forças mitológicas que nem sempre temos condições de acionar, dentro de nós. Nem as palavras são livres, e falar de sexo pode ser tão sujo quanto praticá-lo. Assim sendo, as pessoas crescem cegas a respeito de sexualidade, e emocionalmente separadas por gênero em toda a infância e adolescência. E cegas entram na vida adulta e no casamento... onde a distância física e psicológica entre masculino e feminino dificilmente haverá de ser rompida... o abismo entre homem e mulher é tão profundo que um ritual de casamento não há de ser tão forte a ponto de vencê-lo.
Claro que não é preciso ser um judeu ortodoxo para nascer e crescer sob tais ditames;  muitos católicos, por exemplo, vêem pecado no corpo e enxergam a sexualidade como uma força obscura e perigosa, que deve ser dominada ou usada como instrumento de dominação.

No fim das contas, tanto quanto o tabu do corpo, o tabu da linguagem também se modifica de acordo com a cultura não só dos povos, mas a cultura familiar, aquela que a gente aprende e vive em casa (e que pode nos libertar ou nos aprisionar mais ainda): “imoral”, por exemplo, é um conceito que, para uns, aplica-se ao sexo, enquanto que para outros pode ser, simplesmente, a opressão oficializada em estado bruto.

15 comentários:

  1. Conhece essa canção judaica?

    "Hala, halando o Tchan aê!"

    SERGIO NATUREZA - BA

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  2. Sexo é (ou deveria ser)tão bom, tão natural, tão saudável, tão pacificador (make love, not war rsrs)que merece dois posts, no mínimo e looooooonge de esgotar o assunto (never!!!).

    Seu post é NOTA 10!Assino embaixo. Não pode haver nada mais contraditório do que sexo como pecado, uma vez que se chegamos ao mundico - em condições normais de temperatura e pressão - só foi através do ato sexual, com penetraçao, orgasmo(ou não), e ejaculação.

    Clarice Lispector disse:"Ah, as pessoas põem a idéia de pecado em sexo. Mas como é inocente e infantil esse pecado. O inferno mesmo é o do amor. Sexo é susto de criança". Bingo!

    A psicanalista Regina N. Lins , para quem a maioria das pessoas têm no amor e no sexo (quase sempre equivocados) grande parte das causas das suas infelicidades,coloca mais um pouco de pimenta: “Reformular as crenças a respeito do amor(que é uma coisa) e do sexo (que é outra) deveria ser o objetivo de quem quer viver com mais prazer”; “é preciso descomplicar o sexo”. E reafirma o óbvio risível: “O principal a ser reformulado é a ideia equivocada de que quem não ama não sente desejo de fazer sexo com mais ninguém”.

    Num primeiro momento, eu poderia me surpreender por ainda haver moralismo e preconceitos. Mas na verdade isso não causa estranheza, afinal, são dois mil anos de repressão da sexualidade, isto é, desde que o cristianismo se instalou no Ocidente. Você já reparou que todo xingamento tem uma conotação sexual? Desde cedo, as crianças aprendem a associar sexo a algo sujo, perigoso. A ideia de que há no sexo algo de pecaminoso é absurda, causando sofrimentos que se iniciam na infância e continuam pela vida afora. Não é de admirar, portanto, que, apesar de toda a liberação, tanta gente renuncie à sexualidade ou que a atividade sexual que se exerce na nossa cultura seja de tão baixa qualidade. Na maioria das vezes ela é praticada como uma ação mecânica, rotineira, desprovida de emoção, com o único objetivo de atingir o orgasmo o mais rápido possível. Resulta daí ser o desempenho bastante ansioso, podendo levar a um bloqueio emocional e a vários tipos de disfunção, como impotência, ejaculação precoce, ausência de desejo e de orgasmo, sem falar nos casos de enfermidades psíquicas. A maioria das pessoas ainda sofre com seus desejos, fantasias, medos, culpas. É preciso descomplicar o sexo, afinal, estudos científicos comprovam cada vez mais a importância do sexo realmente prazeroso para a saúde física e mental.
    Marcos Lúcio
    Continua...

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  3. Continuando...O homem vai pro sexo, inconscientemente, para provar que é macho. Então, tem de ficar de pau duro e ejacular. As preliminares ficam pra lá. Para estar no ponto, a mulher precisa de cinco vezes mais sangue irrigando os órgãos sexuais do que o homem. E também de mais tempo para ter um orgasmo. Já o cara, quer gozar logo para não perder a ereção. E fica naquele movimento igual, de ir pra frente e pra trás, que faz com que a mulher tenha cistite, mas não tenha orgasmo [risos].

    Na verdade, os homens são muito inseguros. São dependentes das mulheres como crianças. E isso é culpa do sistema patriarcal. O menino aprendeu a se defender da mãe muito cedo. Imagine a seguinte cena: um menino e uma menina estão brincando no play. Se a menina cai e rala o joelho, começa a gritar, pede o colo da mãe, que faz chamego na filha. O menino tem que engolir o choro, coitado. O menino passa o tempo todo negando a necessidade da mãe, e por isso começa a desvalorizar a mulher. Mais tarde, quando entra em uma relação amorosa, fica frágil. E a mulher acaba cuidando dele. Tem casos de homens que têm empresas de 10 mil empregados e não conseguem decidir a roupa! É uma loucura! Muitos são extremamente dependentes! O sistema patriarcal foi o maior inimigo dos relacionamentos. Colocou a mulher e o homem, cada um de um lado, e criou uma guerra insana dos sexos.

    A religião é o maior problema para a sexualidade.O que houve de culpabilização do desejo sexual na Igreja durante todo esse tempo! Tanto moralismo... A Igreja fez barbaridades, como por exemplo apoiar a caça às bruxas. Esse foi um período terrível de violência contra a mulher, em que aconteceram atrocidades das mais horríveis. É importante conhecer o passado para a gente entender o presente. A Igreja usava uma coisa chamada danação eterna para assustar as pessoas.A repressão era tanta que muita gente fugia para o deserto do Egito para se mortificar, para tirar os pensamentos da cabeça e fugir dessa “danação eterna”. ! A nossa história é um hospício. É inacreditável O cristianismo, mais especificamente o catolicismo, é responsável pela infelicidade sexual humana com seus séculos de repressão. O sexo ainda é visto como algo sujo. Mas há 2 mil anos era pior. Era visto como uma coisa tão terrível que acho até um milagre que as pessoas conseguissem ter orgasmo. Era tanta repressão acumulada que cada orgasmo é quase um milagre e um sucesso [risos].
    Santé e axé!
    Marcos Lúcio

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  4. Após a repressão sexual veio a aceitação do sexo e agora estamos na fase do apodrecimento dos conceitos sexuais, que irão secar e desaparecer. Depois, assim como tudo mais, é incógnita.

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  5. Excelente post. Lembrei da música da genial Rita Lee inspiradíssima no texto provocador, a seguir.

    "Percebo que os mais “sutis” defendem o amor, como algo “superior”. Para os mais práticos, sexo é a única coisa concreta.
    O amor tem jardim, cerca, projeto. O sexo invade tudo isso. Sexo é contra a lei. O amor depende de nosso desejo, é uma construção que criamos. Sexo não depende de nosso desejo; nosso desejo é que é tomado por ele. Ninguém se masturba por amor. Ninguém sofre de tesão. O sexo é um desejo de apaziguar o amor. O amor é uma espécie de gratidão posteriori pelos prazeres do sexo.
    O amor vem depois, o sexo vem antes. No amor, perdemos a cabeça, deliberadamente. No sexo, a cabeça nos perde. O amor precisa do pensamento.
    No sexo, o pensamento atrapalha; só as fantasias ajudam. O amor sonha com uma grande redenção. O sexo só pensa em proibições. O amor é um desejo de atingir a plenitude. Sexo é o desejo de se satisfazer com a finitude. O amor vive da impossibilidade sempre deslizante para a frente. O sexo é um desejo de acabar com a impossibilidade. O amor pode atrapalhar o sexo. Já o contrário não acontece.

    Existe amor sem sexo, claro, mas nunca gozam juntos. Amor é propriedade. sexo é posse. Amor é a casa; sexo é invasão de domicílio. Amor é o sonho por um romântico latifúndio; já o sexo é o MST. O amor é mais narcisista, mesmo quando fala em “doação”. Sexo é mais democrático, mesmo vivendo no egoísmo. Amor e sexo são como a palavra farmakon em grego: remédio e veneno. Amor pode ser veneno ou remédio. Sexo também – tudo dependendo das posições adotadas.
    Amor é um texto. Sexo é um esporte. Amor não exige a presença do “outro”; o sexo, no mínimo, precisa de uma “mãozinha”. Certos amores nem precisam de parceiro; florescem até maIs sozinhos, na solidão e na loucura.

    Sexo, não – é mais realista. Nesse sentido, amor é uma busca de ilusão. Sexo é uma bruta vontade de verdade. Amor muitas vezes e uma masturbação. O amor vem de dentro, o sexo vem de fora, o amor vem de nós e demora. O sexo vem dos outros e vai embora. Amor é bossa nova; sexo é carnaval.

    Não somos vítimas do amor, só do sexo. O amor inventou a alma, a eternidade, a linguagem, a moral. O sexo inventou a moral também do lado de fora de sua jaula, onde ele ruge. O amor tem algo de ridículo, de patético, principalmente nas grandes paixões. “Faça amor, não faça a guerra”. Sexo quer guerra. O ódio mata o amor, mas o ódio pode acender o sexo.

    Amor é egoísta; sexo é altruísta. O amor quer superar a morte. No sexo, a morte está ali, nas bocas... O amor fala muito. O sexo grita, geme, ruge, mas não se explica. O sexo sempre existiu – das cavernas do paraíso até as saunas relax for men. Por outro lado, o amor foi inventado pelos poetas provinciais do século XII e, depois, revitalizado pelo cinema americano da direita cristã. Amor é literatura. Sexo é cinema. Amor é prosa; sexo é poesia. Amor é mulher; sexo é homem . O amor domado protege a produção. Sexo selvagem é uma ameaça ao bom funcionamento do mercado. Por isso, a única maneira de controla-lo é programa-lo, como faz a indústria das sacanagens.

    O mercado programa nossas fantasias.
    Não há saunas relax para o amor. No entanto, em todo bordel, FINGE-SE UM “AMORZINHO” PARA INICIAR. O amor busca uma certa “grandeza”. O sexo sonha com as partes baixas. O PERIGO DO SEXO É QUE VOCÊ PODE SE APAIXONAR. O PERIGO DO AMOR É VIRAR AMIZADE. Com camisinha, há sexo seguro, MAS NÃO HÁ CAMISINHA PARA O AMOR. O amor sonha com a pureza. Sexo precisa do pecado. Amor é o sonho dos solteiros. Sexo, o sonho dos casados. Sexo precisa da novidade, da surpresa. “O grande amor só se sente no ciúme” (Proust). O grande sexo sente-se como uma tomada de poder. Amor é de direita. Sexo, de esquerda (ou não, dependendo do momento político). E por aí vamos. Sexo e amor tentam mesmo é nos afastar da morte. Ou não; sei lá... Arnaldo Jabor

    Abraço com afeto,
    Danilo

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  6. Voltei apos longa ausencia mas nunca te esqueci.

    Desde que o mundo "civilizado" eh "civilizado", as autoridades, a sociedade, os religiosos cimentam o libido alheio, o tesao dos outros. Nada mais repressor do que um "defensor da sociedade".

    Meu filho certa vez escreveu: tenho medo de pessoas tratadas por "homem de bem..."

    O que mais natural do que uma relacao sexual? Tao necessaria como o copo de agua que bebemos. Por que nao imaginar, por que nao avancar, inovar, se libertar numa relacao? Relacao tem regra??

    Nao vou tratar do assunto nos tempos aureos da humanidade mas focar no atual. O momento em que vivemos. Um momento em que tantas mudancas estao ocorrendo mas, ao mesmo tempo, serve para confirmar que estamos rodeados por conservadores e, infelizmente, por radicais: aqueles que tem a sua "verdade" como unica, como intocavel, como imutavel. Um outro nome que se aplica a essa classe, sem duvida, eh "babaca". Mas, como bem escreveu o meu filho...

    A humanidade, em sociedades, cria regras, normas, tabus. A religiao coloca vendas e mordacas e cria o medo.

    No meio desse embroglio aparecem os contestadores e, gracas a esses, mudancas acabam ocorrendo.

    Eh triste saber que existe esse "manual" quando se trata de algo tao natural. Espero que seja em Hebreuou: nao entendo uma palavra!

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    1. Danilo, Alfredo e Ariel... como diz o velho dito: "o bom filho à casa torna!"...

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  7. Fernanda,

    Parabens !!!!!!!! Voce ja ultrapassou a contagem dos 100.000 leitores da sua, da nossa "alma lavada"

    Felicidades, bjs.

    Gilda Bose

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    1. Quem diria, hein, Gilda? Agora é rumar para os 200 mil!!!

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    2. Orgasmaravalha-me Deus!!!...nem percebi que ultrapassou, merecidamente, a barreira.Obrigado´pela lembrança, Gilda, nossa estimada diretora do C.P.F.A.S.
      Parabéns talentosa blogueira...e sucessos sempre...com saúde, felicidade, alegria e sorte.
      Abraçaços
      M.L.

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  8. Marcos Lúcio,pelo amor de Deus eu não tenho cistite,eu tenho orgasmo!rsrs eu quase não consigo escrever nada,pois fiquei o tempo todo rindo com os seus comentários. Bj.

    Monica.


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    1. (ter.rí.vel)

      a2g.
      1 Que causa terror; ATERRORIZANTE; ASSUSTADOR.
      2 Que acarreta resultados desastrosos (terrível temporal)
      3 Estranho, extraordinário: "Eu lamentava que uma ocorrência terrível não viesse de qualquer modo ameaçar o amigo..." (Raul Pompeia, O Ateneu)
      4 Poderoso, invencível, com que não se pode lutar (argumento terrível): Sua influência foi terrível.
      5 De grandes proporções: Possuída por uma terrível angústia, fugiu de casa

      QueriDannemann...se o TERRÍVEL estiver entre as acepções 3 e 4,acima, tudo "oquei", em que pese minha modéstia, sabedor de que não "tô" com esta bola toda não...sou banal que nem pardal ou basiquinho demais da conta rsrs.

      Parabéns às orgásticas que não querem saber de cistite.Ato contínuo, bem-vindos sejam sempre...os Mistérios Gozozos, então rsrs.
      Beijão pra ambas.
      M.L.

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  9. Fernanda,

    Com certeza, passara dos 200.000 facil, facil.....

    Aquele abraco para voce e para o pitaqueiro Mor e estimado presidente da C.P.F.A.S

    Gilda Bose

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