sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

O mal é o que sai da boca do homem

-- Deixe que o silêncio repouse em sua boca.

Volta e meia minha mãe recorria ao conselho de Santa Clara, na tentativa de me fazer ficar quieta. Lembro do dia em que, lá pelos cafundós da infância, perguntei à dona Fulana de Tal, uma parenta distante e de seios enoooooooormes saltando pelo decotão:

-- Isto é a sua bunda?

Tenho passagens ainda mais constrangedoras no currículo e um talento terrível para dizer coisas imperdoáveis no calor de uma discussão. Por isso mesmo, tento seguir o conselho de Santa Clara e cultivar o silêncio.

Nem sempre dá... nem sempre consigo: às vezes as palavras fervem na minha boca, e depois parecem descer ao peito e acelerar o batimento cardíaco. Chego a pensar que, se engoli-las, posso ter um ataque do coração! Então cuspo as frases e respiro em paz... para arriscar-me à frustração de mais uma batalha perdida comigo mesma, ou ao arrependimento sem cura por ter ferido alguém. Como diz o velho provérbio, a palavra dita é uma das três coisas que não têm volta nesta vida.

Mas tudo é questão de treino, inclusive o silêncio. Treinando, percebemos o quanto quase todas as palavras ditas ou ouvidas são dispensáveis. O quanto falamos mais por preguiça de não falar, de diminuir nossa velocidade interna e criar um outro tipo de diálogo com as pessoas e com o mundo: um diálogo baseado nas atitudes.

Quem não sabe que mais vale um gesto do que mil palavras?

Todos falam, falam, falam... Temem o silêncio porque é aí que a nossa alma murmura, e muitas vezes diz coisas que não queremos escutar. Quando sozinhas, as pessoas ligam o rádio, ligam a televisão ou ligam pra alguém, com a desculpa de “conversar”. Não: elas querem é fugir.

Rebobine só um pouco a fita da sua vida... quantos males teriam sido evitados se você tivesse ficado calado? Quantos desentendimentos teriam deixado de acontecer, quantas mágoas teriam deixado de nascer, quanto arrependimento você não teria se livrado de carregar?

Fiquei pensando em tudo isso depois de ver "O artista", e me lembrei de outra pérola silenciosa, o "Primavera, verão, outono, inverno... e primavera", que nos
mostra que bem poderíamos falar menos (e talvez a vida fosse até melhor ou mais fácil).

Tenho pra mim que Deus inventou as palavras para nos ensinar sobre a moderação. Mas esta foi mais uma aula que a gente deixou de assistir.


5 comentários:

  1. Tá Fernanda,já que vou fugir de casa,e aproveitar esses quatro dias para descansar,vou treinar esse tal "silêncio," mesmo sabendo que é difícil... Bom feriadão p/ você.

    Monica.

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  2. Faz isso, Monica, e depois você me conta como foi. Bjs e bom descanso!

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  3. Cada vez que engolimos um desaforo, engolimos um sapo. E eu não digiro bem batráquios.

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  4. Fernanda,

    O silencio vale ouro..... porem tem certos momentos que nao da para ficar calada........

    Lindo o video das estacoes ....... a natureza e perfeita .......

    Felicidades,

    Gilda Bose

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  5. Lindo texto Fernanda. Ninguém ensinou isso melhor do que o mestre Jesus. Mais um filme pra eu ver.
    Primavera, verão,outono..........etc.
    Sergio.

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