quarta-feira, 6 de junho de 2012

Ecologia: pra salvar o mundo, salve primeiro a emoção

-- Você fala do seu pai, mas é igualzinha a ele!

Fiquei uma fera com a minha mãe quando ela me disse isso, lá pelos meus 17 anos, em resposta a uma queixa que lhe fiz, a respeito do Velho Dannemann.

Anos depois, numa sessão de análise, levei um susto tamanho GG ao enxergar as semelhanças, tão grandes e tão nítidas, que me ligavam, como um fio invisível, à minha família original... e eu, que andava pela fase da revolta, pensando que era diferente em quase tudo!

Tais semelhanças são um mistério: invisíveis a nós mesmos, totalmente aderentes à pele e à alma, e dotadas de raízes tão profundas e fortes que chega a ser impossível saber onde está a semente. Elas também parecem ter vida própria, porque atuam sobre nós sem que a gente se dê conta: um gesto, uma reação, um tom de voz, um jeito de sorrir... mas sabe? No lote das heranças não vem só coisa boa (quem nos dera!), e domar aquelas que não prestam é um exercício eterno de atenção e de cuidado...

O interessante, ao pensar a respeito disso, é notar que estas semelhanças não moram todas no DNA; muitas a gente aprende com a convivência, com o exemplo, com o que nos é ensinado no dia a dia. E estas aí não nos são transmitidas só pelos pais, avós e tios, mas por qualquer pessoa com a qual a gente tenha a sorte (ou a falta de sorte) de cruzar. Se um motorista me xinga na rua, posso fazer dele um espelho e partir pra briga. Mas se digo bom dia ao porteiro do prédio, e sorrio de verdade para ele, a chance de ter o mesmo retorno é quase 100%. Se não acredita, faça o teste, e verá quanta verdade existe na máxima que diz que, se "violência gera violência", "gentileza também gera gentileza". Tudo é uma questão de opção. E de responsabilidade.

Se queremos tanto mudar o mundo, seria um bom começo reciclar nosso lixo interno e não fazer as crianças de lixeira. Deveríamos, quem sabe, investir tempo e energia para limpar a mente e torná-la mais ecológica, de forma a não envenenar nosso corpo, alma e quem mais estiver por perto. Se queremos mesmo salvar o planeta, temos antes que salvar o que há de bom em cada um de nós: taí uma atitude que faria toda a diferença.


6 comentários:

  1. Fernanda,

    Em primeiro lugar Parabens, pela excelente escolha de tema e pela belissima escrita, clarissima .... e o video tao bem colocado (que inspiracao !

    As conotacoes como: "domar aquelas que nao prestam e um exercicio eterno de atencao e de cuidado" .... e "as pessoas que temos a sorte (ou a falta de sorte) de cruzar" ..... foram demais ....

    Vou citar um exemplo meu: Quando eu era pequena (digo isso por que eu perdi meu pai com 15 anos)achava que meu pai ficava bravo, irritado, sem muita falta de paciencia, facilmente ...... quando cresci, fui eu que fiquei assim sem notar ..... descobrir depois de alguns anos ......

    E quanto a "gentileza gera gentileza", e "violencia gera violencia" para mim e um fato comprovado ..... e impressionante .....

    Beijos

    Gilda Bose

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  2. É, Gilda, se a gente não fica vigilante, acontece mesmo... beijos!

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  3. Como na na Grécia o figo era um alimento sagrado, parece que você escreveu ou "psicografou" este indefectível texto, após a ingestão desta saudável e saborosa iguaria rsrs.

    "Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais", do grande Belchior e imortalizado pela fenomenal Elis Regina, corrobora suas lúcidas relfexões. A sabedoria popular diz: filho de peixe peixinho é, ou quem sai aos seus, não degenera, ou cavaco não voa longe do pau rsrs..

    O seu dedo _e com a unha pintada de esmalte Chanel_ foi brilhantemente colocado sobre a ferida existencial que está, quase sempre , na emoção. Somos muiiiiiito mais o que sentimos (ainda que o neguemos) do que o que pensamos.

    Desde já, da sua lavra fecunda, este é dos meus preferidos, porque creio, inclusive, que devemos ser radicalmente, a mudança que esperamos ou almejamos para o mundo ao redor, alhures e algures.

    Só estamos no caminho certo quando intuímos que se todos agissem como nós, o mundo estaria em melhores condições para todos.

    De acordo com a estranha familiaridade freudiana, precisamos dar as boas-vindas ao estranho no lugar do familiar, não na equivalência com o que é o outro, mas com o que se busca e se coloca nesse outro. Assim a alteridade, movimentando-se, enquanto processo, trabalha para manter o estranho nas imediações sem que se precise absorvê-lo e exterminá-lo.

    Isso implica suportar, por sua vez, familiarizar-se, intertextualizar-se com o "estrangeiro", o esquisito, o incômodo, que em nada vai prejudicar financeira ou fisicamente a nossa vida... surgindo, daí, surpreendentemente a mais inesperada intimidade/reconhecimento, se bem analisado.

    O outro, quase sempre pode refletir nossas desconhecidas, indesejadas e descontroladas emoções e, por conseguinte, desejos.

    O mundo é uma bela ou feia caixa de ressonância, com raras exceções, como bem sinalizado pelo Thomas Dreier:"O mundo é um grande espelho. Ele reflete de volta o que você é. Se você é carinhoso, se você é bondoso, se você é prestativo, o mundo se mostrará carinhoso, bondoso e prestatito para você. O mundo é o que você é"; se preferir: "Dê ao mundo o seu melhor e o melhor virá de volta a
    você, de Madeleine Bridge.

    O problema é que estranhamos o efeito bumerangue, quando negativo... por falta de auto-conhecimento. O próximo passo é cairmos na tentação de competir para ver quem é o pior. Nesta insanidade de olho por olho e dente por dente, acabamos cegando e desdentando e descabelando, estupidamente, a nossa emoção.

    A prudente distância do que ou de quem não nos convém, é suficiente prova de maturidade, além de podermos divergir , sem conflitar.

    A luz não tem significado algum a não ser que ilumine algum objeto. Portanto, brilhe a sua luz em direção a outras pessoas e, em retorno, você é quem irá brilhar. Quem distribui alegria, espontânea e despegadamente, inevitavelmente é e será alegre... ou colhe/rá o que semeia?

    Abraço forte!
    Marcos Lúcio

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    Respostas
    1. Tem coisa pior que emoção cega, desdentada, descabelada e estúpida? Cruzes!!!!!!!!!!!! (Graças a Deus minha TPM já passou...)

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  4. Tenho um amigo queridíssimo que fez
    o favor de passar, como exercício de casa, a leitura deste post , dizendo se tratar de uma rara pérola abalone, dentre as pérolas do blogue perlífero da minha blogueira favorita. E fez muitíssimo bem!

    E mandou na lata, afirmando com base na forte intuiçãos dele : é tão excelente e verdadeiro e cutuca a onça com vara tão curta, que o puxão de orelhas vai incomodar a muiiiiiiiiita gente e os comentários, escafeder-se-ão. Mas o silêncio , quase sempre, é um consentimento, uma concordância.

    Adoooooooorrando cala linha deste primoroso e oportuníssimo texto, concordo plenamente com ele, bastando esta sua brilhante frase, de evidência solar... que merece ser repetida, sempre, e sem cínicos relativismos:
    "Se queremos mesmo salvar o planeta, temos antes que salvar o que há de bom em cada um de nós: taí uma atitude que faria toda a diferença".

    Consequentemente, agir com responsabilidade, cuidado, sensatez, alteridade, generosidade e equilíbrio, para que os resultados sejam saudavelmente satisfatórios, é quase tudo de que o "serumano" precisa para seu bem estar, bem parecer, bem fazer ,bem pensar, bem escolher, bem sentir, enfim, bem ser... e antes que seja tarde!.:
    Um abraço afetuoso
    Danilo

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