domingo, 3 de junho de 2012

O tempo passa, e nós também

A gente não se dá conta, mas o tempo passa... e nós também.

Encontro aquela amiga antiga, que fiquei anos sem ver, e penso "nossa! Como ela envelheceu!"... mas concluo que ela deve ter pensado o mesmo de mim, à revelia dos cremes e do espelho aqui de casa, que é de ótima qualidade e se recusa a mostrar a verdade total dos fatos: nele, todo mundo fica lindo, até eu mesma, nos meus piores dias de TPM ou alergia.

A primeira vez que me dei conta de que estava envelhecendo, tinha mais ou menos vinte anos: foi quando uma das crianças da vizinhança me chamou de "tia". Minha mãe não aguentou e fez piada:

-- Ih! Já era! Depois que te chamam de tia pela primeira vez, é só esperar te chamarem de "senhora"...

Pois não demorou muito; eu estava com trinta e poucos e mal acreditei que já tinha chegado "lá". "Gente...mas não foi outro dia desses que uma criança mala me chamou de 'tia' na rua?!". É, amore... o tempo não passa, o tempo voa!

Envelhecer chega a ser engraçado... ao mesmo tempo em que você vai ficando mais ponderado, que aprende a identificar melhor o real peso e a real medida das coisas... ao mesmo tempo em que aprende a viver melhor e não dar importância para o que não tem importância... sabe o que acontece? Começa a ser paquerado por gente que, há até bem pouco, chamaria de "tio" ou de "tia", como o tal garoto chato lá da minha vizinhança.

Então você se rebela, acha um absurdo, um escândalo, uma falta de vergonha! "Esses velhos babões estão cada vez mais atrevidos!".

Mas aí ... acontece o incrível, o inimaginável, o inacreditável... e, por fim, o inevitável:

Um belo dia, você é que se pega achando aquele cinquentão um gato! Aí, meu bem, é que não tem jeito mesmo: o tempo passou (e você, mais uma vez, porque eu já disse isso em algum post) igual à Carolina, não viu!
E dá-lhe cremes... e ginástica, auto-análise, beijo na boca, imaginação e boa-vontade para ser feliz apesar das rugas, porque ruga não é o fim de nada, é só o começo... da Terceira Idade! Como diz meu guru Sergio Cortella, "a vida é curta, cabe a nós não fazermos dela... pequena".

No fim de semana fui ver a exposição do pintor italo-brasileiro Eliseu Visconti, no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio, e a sequência de auto-retratos chamou-me a atenção justamente para isso:  o tempo passa sobre o homem ali nas telas, mas a vitalidade e a doçura seguem em seus olhos. Os traços e as cores sobre o rosto sugerem que Visconti soube levar a vida sem resvalar na pequenez. Morreu aos 78 anos, vítima de violência em seu atelier, durante um assalto.



Eliseu Visconti em 1898

1902

1905

1910

1914

1925

1929

1938

1943



13 comentários:

  1. Acho impressionante sensação do exato a respeito do tempo que passou e, a rapidez com que isto aconteceu. Você mesma ascendeu Fernanda, a realidade dessa visão ao apresentar na sua postagem a sequencia de auto-retratos de Eliseu Visconti, o objetivo da expressão eternizada. Fernanda: Sua sensibilidade humana não cansa de me surpreender.

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  2. Fernanda,

    A reportagem que voce fez sobre o tempo, atraves dos auto-retratos de Eliseu Visconti .....que beleza .....
    que apesar das rugas e do envelhecimento, o artista conservou a docura em seu olhar ....que sensibilidade ......

    E atraves de voce, conheci suas obras, sim, por que fui pesquisar outra vez no Google ..... que beleza.... ele foi o responsavel por introduzir o Impressionismo europeu na arte brasileira.

    E sobre o olhar, me lembrei que um dia, num encontro familiar, fiquei sentada e conversando com uma senhora e ela estava de oculos bem escuros (isso aconteceu a tarde foi um almoco num rancho) e derrepente ela tira os oculos, esta imagem eu nunca irei esquecer, pois apesar de sua idade, e de sua pele ser bem marcada os seus olhos azuis eram tao brilhantes quanto uma crianca de 8 anos .........
    ate hoje eu nunca mais vi olhos tao lindo e cheios de vida ......

    Parabens mais uma vez.

    Beijos

    Gilda Bose

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  3. Voce ja parou para "se ver" sem o uso do espeho?
    Eu me sinto muito bem, mesmo tendo passado por varios problemas de saude. Sinto "de cabeca" tal qual decadas atras. Pintaram rugas, manchas, barriga, cabelos grisalhos, reducao de testosterona e eu sigo me vendo como antes.
    Quando me vejo no espelho vejo as mudancas. Vejo a realidade a qual os anos me levou.
    Na minha juventude ja amei mulheres mais velhas mas nunca fui (ou notei ter sido) cobicado por alguma jovem e, sabe o que, nao importa. Nao importa a idade da outra pessoa mas sim o que se sente. Isso nos faz viver feliz e, sendo felizes, naturalmente eliminamos algumas rugas ou, pelo menos, tiramos o gosto de azedo das nossas vidas. Sentimento puro eh tal qual um doce (considerando que nao tenhamos diabetes...) que nos leva ao prazer de viver a vida tal qual desejamos.
    O que pode ser mais gostoso do que envelhecer curtindo cada instante da vida?
    Nao seria por ai o caminho para fazer a vida nao ser pequena?

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    1. Ariel, tô contigo e não abro! Acho que o Visconti também concordaria...

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  4. QueriDannemann...em que pese o ímpeto, tentarei não digitar sobre a exposição do genial Visconti a que tive o privilégio deleitoso de visitar. Foi muito feliz a escolha destes quadros emblemáticos que iluminaram, mais ainda, o seu texto, além de bem fotagrafados. Ainda assim terei de fazer dois posts, desculpe, é que fiquei mais atiçado do que sempre..
    Sou velhinho animadinho kkkkkk, lembra?

    A questão do tempo, que está passando concomitantemente conosco, além de democrática e justa, é uma ordem natural das coisas. O que a natureza faz, sapientíssima "comme d"habitude", é uma compensação. Enquanto desfavorece o corpo, aprimora o espírito -pelo menos daqueles que, sagazmente, acreditam que estamos aqui para aprender, aprimorar e finalmente evoluir.

    Quem comparou gente a vinho vaticinou: alguns, com o passar do tempo, aprimoram suas qualidades, outros avinagram. Se observarmos, no mundo de Baco, quanto mais jovem o enólogo, mais sisudo e complexo é o vinho. Por outro lado, quando esta maravilha líquida é elaborada por enólogos mais velhos, o que sentimos ao degustá-la, é serem mais prazerosas, alegres e fáceis.

    Creio mesmo_ além do "in vino veritas"_ que na vida, quanto mais velho se está, mais chance de usufruirmos, conscientemente, o fugaz aqui e agora. O conhecimento acumulado, para os que o buscam e o privilegiam, é mister para este êxito.

    Ney Matogrosso (70) , a Elza Soares (tipo 80...) , Bibi Ferreira, aos noventinha, Dona Canô (104), etc., .dão uma idéia parcial do que tenciono argumentar: podemos ser antigos,
    maduros , e bem humorados (sem precisar de fazer palhaçada rsrs), mas não devemos, jamais, ser velhos, imaturos e ranzinzas.

    O pior é ruga no espírito, observável , também, em muitos jovens. Se o velho conserva a curiosidade, a vontade de sempre aprender, ,e sabe cativar e conquistar amizades, e, melhor: modifica hábitos que não o engrandecem, acontecerá o que a Gilda bem observou: os olhos, que são o espelho da alma, permanecerão com o brilho ou vivacide de uma juventude _que é um estado de espírito alcançável somente a partir dos 50_ eterna. Leva-se muiiiiiiiiiito tempo para ser, responsavelmente, jovem de verdade e de espírito.

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  5. Continuando a saga...

    Aviso aos inconformados ou incautos: a questão essencial não é a idade, é a qualidade de vida, a saúde, fundamentalmente. Para quem não quer envelhecer, reze e peça ao Guia da sua fé, que o leve ainda bem jovem..."de susto, bala ou vício". Como tudo na vida, há,. no mínimo, dois lados.

    Como já sou quase SEXagenário kkkkk, afirmo: o avanço galopante e quase inacreditável da idade,e pelo menos enquanto saúde houver, benza Deus!, tem sido muito mais prêmio do que punição. Nunca, antes, na história deste país rs...senti-me tão íntegro e feliz (depois de muitas pedreiras quebradas, e de outras a quebrar, claro!). Estarmos inteiros é diferente de estamos concluídos.

    Foi graças ao acúmulo destes tantos anos (no lugar dos TONTOS anos juvenis) que consegui a almejada paz de espírito ,apesar dos inúmeros pesares,e entender o quanto devemos ser gratos pelo milagre de estar vivos, e mais: se estamos saudáveis, sem problemas financeiros , e sem nos compararmos com ninguém.

    Boa notícia: a neurogênese comprova, graças a Deus, que o cérebro, através de exercícios cognitivos constantes,como aprender uma nova língua, leituras mais complexas,etc., continua produzindo células novas ao longo de toda a vida. Oba!.

    Porém o que as pesquisas sinalizam é algo óbvio:quanto mais fisicamente aptos estivermos, mais adaptado a mudanças e em melhores condições cognitivas e psicológicas teremos o nosso cérebro, que muitos entendem como alma.

    Ninguém, em sã consciência, pode duvidar de que um índice de massa corporal e um sistema cardiovascular saudáveis, sustentam melhor o cérebro, e com vantagens indiscutéis. Ao fim e ao cabo, corpo e mente estão intrinsecamente concectados.

    Portanto, bons e saudáveis e serenos envelhereceres aos que tiverem os prazos de validade mais dilatados...uma vez que sermos processadores de fezes e urina, além de insensatos, são das nossas características mais evidentes, levando-se em conta, ainda, este achado do genial Nandinho Pessoa: somos cadáveres adiados. Até quando???
    Santé e axé!
    Abraço forte
    Marcos Lùcio

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  6. Marcos Lucio,

    Agora sou eu e que tenho a comentar: sua colaboracao esta impecavel, VALEU.

    Gilda Bose

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  7. É por essas e outras,que eu pensei direitinho e vou colocar uma camada de tinta nos espelhos da minha casa,pois não quero ver certas verdades...

    Monica.

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  8. Gilda Bose

    O valor do elogio está na qualidade do elogiador. Vindo de você, esta simpática ressonância, sinto-me, realmente, incentivado e lisonjeado.
    Meu sincero muito obrigado pelas gentis palavras.

    Um abraço do Marcos Lúcio

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  9. O tempo passa, e com ele caminhamos todos juntos, sem parar, nossos passos pelo chão, vão ficar. Marcas do que se foi, sonhos que vamos ter, como todo dia nasce novo em cada amanhecer. Lembra disso?

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    1. Repassando, queriDannemann

      Entendi esse tempo neste texto: é o tempo que não percebemos que ele passa, pois juventude é êxtase e nesse tempo , não aprendemos quase nada.Depois, mais tarde... quando nos deparamos com alguém com menor idade, nos sentimos passadas. No meu tempo(agora) entendo que sou quase tanto quanto fui, quase nada mudei, consigo enxergar isto. Tenho filhas e com elas sou obrigada a passar com o tempo e aprender o som de: MÃE, que jamais o tempo vai levar, serei eternamente mãe.

      Adorei Lúcio o texto e os comentários, ela sempre escreve muito bem e com palavras fáceis e isto prova o próprio tempo dela. Bjos, para este quase carioca, declarado!
      Juliana

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