Quanto mais a ciência evolui e aumenta a vida útil
dos que têm grana para pagar médicos e remédios, e quanto mais a cosmética
avança, esticando o rosto do povo, implantando cabelos, peitos, bundas, dentes,
unhas e um rejuvenescimento plástico... mais ainda a velhice torna-se
insuportável.
É que ainda não inventaram um implante para a
amargura. Tampouco uma cirurgia que extirpe o rancor, a frustração e a inveja que
muita gente leva no coração, e que são os verdadeiros radicais livres que
marcam a face com vincos tão fundos, e escurecem o olhar com a sombra da arrogância,
e encurvam a coluna com cem quilos de infelicidade sobre as costas, e
entortam a boca que já não sorri de verdade, e esmagam os sonhos e esperanças
entre os dentes da desilusão.
Então os consultórios médicos ficam lotados e
faturando horrores para fazer recauchutagem na lataria enquanto que o motor
continua tomado pela ferrugem... e é
assim que os velhos vão se tornando caricaturas patéticas, porque nem o bisturi
mágico do Ivo Pitanguy resolve um rosto
infeliz ou amargo. (Aliás, em casos como estes, o bisturi termina por piorar ainda mais a situação).
Dia desses conheci um rapaz que imaginei estar por
volta dos 30 anos; quase caí pra trás quando ele disse que tem 50. Usa cremes?
Foge do sol? Já fez lifting? Botox? Será
clonagem? Qual o milaaaaagre??? Descobri depois de meia hora de conversa: ele contou que preza seu coração leve e
contente, e que aprendeu de verdade a não guardar mágoa e raiva de nada nem de
ninguém.
Anos atrás, viajei a São Paulo para entrevistar uma senhora que havia adotado dezenas de crianças portadoras de paralisia cerebral. Era de classe média e fez as adoções movida pelo sentimento. E olha que nem conhecia as crianças, decidiu adotar quando soube que o abrigo em que viviam seria fechado por falta de verbas. Quando ela abriu a porta, vi que era mesmo uma senhora, mas seus olhos azuis eram tão incrivelmente jovens que chegavam a não combinar com o resto. De dentro deles saía uma vivacidade de adolescência; e foi quando entendi porque é que dizem que os olhos são o espelho da alma.
Anos atrás, viajei a São Paulo para entrevistar uma senhora que havia adotado dezenas de crianças portadoras de paralisia cerebral. Era de classe média e fez as adoções movida pelo sentimento. E olha que nem conhecia as crianças, decidiu adotar quando soube que o abrigo em que viviam seria fechado por falta de verbas. Quando ela abriu a porta, vi que era mesmo uma senhora, mas seus olhos azuis eram tão incrivelmente jovens que chegavam a não combinar com o resto. De dentro deles saía uma vivacidade de adolescência; e foi quando entendi porque é que dizem que os olhos são o espelho da alma.
Enquanto isso, os incautos que se deixam levar pela vaidade entram no túnel sem volta da decreptude. Vaidade de
achar-se mais importante, mais merecedor, mais digno, mais tudo de bom. Ou uma outra vaidade, pior ainda, que é a de sofrer com a felicidade e até com a juventude alheias, principalmente quando a pessoa feliz ou mais jovem é um desafeto. É mais ou menos assim:
-- Então eu sou o máximo e o Fulano é que se dá bem?!
E como sofrem estas pessoas! Porque o mundo não perdoa e lentamente lhes devolve cada gota da solidão que eles próprios semearam através dos anos, enquanto guerreavam com tudo e com todos para defender sua suposta superioridade.
-- Então eu sou o máximo e o Fulano é que se dá bem?!
E como sofrem estas pessoas! Porque o mundo não perdoa e lentamente lhes devolve cada gota da solidão que eles próprios semearam através dos anos, enquanto guerreavam com tudo e com todos para defender sua suposta superioridade.
E então, um dia, dão-se conta de que o tempo passou,
passou demais e tão veloz... que já é tarde até para tentar mudar as coisas. Aí jogam a culpa nas circunstãncias, na vida
(que não foi mãe, foi madrasta), em Nossa Senhora, que não ouviu as orações, no
destino (que foi um sacana), na família, no marido, nos amigos, no chefe e até
no cachorro. Mas nunca, nunquinha, responsabilizam suas próprias escolhas equivocadas, nem os caminhos tortuosos que optaram por trilhar, nem os laços afetivos que desataram sem pensar.
O orgulho é um veneno que mata devagar, e não sem
antes deixar o futuro defunto ridículo: a imagem decadente que sempre tem o ser humano perdido em sua própria mesquinhez.
Leia também:
Em queda livre, no espaço sideral
Todo mundo é pé na cova
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Curto e simples: Colhemos os frutos das arvores que plantamos.
ResponderExcluirAriel, você disse em uma linha o que eu disse em muuuuuuitas! Isso é que é poder de síntese, ô!
ExcluirComo sempre, um texto impecavelmente realista.
ResponderExcluirBeijos,
Mercedes
Obrigada, Mercedes, sua opinião pesa muito! bjos
ExcluirEu adoro todos os seus textos!!! O seu blog compete com a globo.com , todos os dias eu acordo leio as noticias e depois passo por aqui para lavar a minha alma...
ResponderExcluirDivulgo todos os dias no face e nos meus grupos!!
Estou te devendo o nome dos livros da palestra de sábado né... pode deixar que vou mandar ainda hoje, antes preciso encontrar o papel onde anotei...
Ô, minha flor, muito obrigada! Suas palavras foram um bálsamo nesta minha manhã, pode ter certeza! Obrigada por divulgar o Alma, isso me deixa feliz. Sim, os livros, estou esperando. Mas a gente pode se encontrar também, né?
ExcluirCom este primoroso post, o CAFOFODAFÊ acolhe, generosamente, este velhinho animadinho rs.
ResponderExcluirPara abertura dos trabalhos, saber envelhecer é o que interessa e, coincidentemente, tenho um grande amigo de 50 anos em condições semelhantes às citados por você . Só não envelhece quem morre cedo de "susto, bala , ou vício y otras cositas más".
Vou baixar o nível um cadinho, até porque sei que matronas pudibundas não visitam este espaço: o povo passa, incautamente, a maior parte do tempo cagando na gaiola da vida, fazendo o que dá na telha, sem medir as inevitáveis consequências, e, com a maior desfaçatez, fica esperando, na velhice, que a bosta cante. Agora então, com o infantilização do mundo (a essência do neoliberalismo), estas crianças anciãs estão ficando insuportáveis e, pior, não se suportam, muito menos os demais rs.
Envelhecer é de ordem natural, e a vida tem características próprias para cada idade: a dependência das crianças, o ímpeto juvenil, a seriedade (com leveza) nos adultos, e
a maturidade que só os esforçados conseguem na velhice, quando trocam o vigor físico pelo intelectual/espiritual.Os raros que sensatamente conseguem adaptar seus esforços aos seus meios , não podem sentir frustração.
Convenhamos:as façanhas mais relevantes requerem sabedoria, clarividência e discernimento, típicos da maturidade... que não se realizam somente pela força, desempenho físico ou rapidez, comuns da juventude.
Entendo que a questão central é de saúde: entre ser um jovem doente e um velho saudável...Há muitos adolescente fracos. Por isto é fundamental não cuidar apenas do corpo, mas muito mais do espírito e da alma. Ainda que o corpo esteja fatigado, com a prática de LAVAR A ALMA todos os dias, o espírito se alivia exercitando-se (a leitura de filosofia, p.ex., é de grande auxílio e reconfortante).
Naturalmente um caráter sólido ,o conhecimento, e bons hábitos com a prática das virtudes atenuam bastante as inevitáveis inconveniências.
O ridículo é quanto à avareza dos velhos. É quase uma insanidade, justamente quando o caminho a percorrer diminui, querer aumentar ou poupar as provisões.
O medo da morte que acomete a grande maioria dos idosos infantilóides não faz o menor sentido: quem pode- mesmo os jovens- estar seguro de estar vivo até o próximo dia? Já perdi um querido sobrinho, de acidente, aos
quinze anos e inúmeros exemplos desta incerteza não faltam.
Considero triste os frutos verdes da juventude serem arrancados da árvore da vida, mas absolutamente natural que eles caiam de maduros.
A sensatez aconselha a não se apegar inútil e desesperadamente, e muito menos renunciar ao pouco de vida que pode restar nesta fase.
Ainda creio que sejam suas próprias faltas e insuficiências que os incautos imputam à velhice...que é somente uma extensão. Platão que morreu aos 80 anos, pacífica e suavemente em pleno trabalho de escrita, colheu o que semeou através de uma vida tranquila, honorável e distinta, deixando-nos, ainda, um precioso legado. É inaceitável e despropositada uma velhice preguiçosa, indolente e embotada.
Deve-se , na idade outonal, além de exercitar-se, ter uma vida intelectiva atarefada, fervilhante,utilitarista, inclusive estudando e descobrindo coisas novas (evita Alzheimer), e com muita tolerância, simpatia, bom humor e experiência, para poder interessar e trocar com os mais novos.
Já que devemos servirmo-nos do que temos em função dos meios disponíveis- e muitos não chegam a este estágio natural da vida- lembro que a natureza, que fixa os limites convenientes de duração, nos dá apenas uma pousada provisória...nosso domicílio está no além.
Portanto, na cena final da peça da existência, se estamos fatigados ou saciados, partamos agradecidos e contentes com o tempo que nos foi dado viver e da melhor forma possível, se tivermos lucidez.
Santé e axé!
Marcos Lúcio
Sapientíssimas palavras, honorável pitaqueiro!
ExcluirFernanda,
ResponderExcluirAlgumas frases sobre a velhice que gosto muito:
"Envelhecer e cansar se de si mesmo" - Mario Silva Brito.
"Qualquer idiota consegue ser jovem. E preciso muito talento para envelhecer" - Millor fernandes.
"Se o tempo envelhecer o seu corpo mas nao envelhecer a sua emocao, voce sera sempre feliz" - Augusto Cury.
"Envelhecer e um estado de repouso e de liberdade no que respeite aos sentidos. Quando a violencia das paixoes se relaxa e o seu ardor arrefece, ficamos libertos de uma multidao de furiosos tiranos" Platao.
Felicidades,
Gilda Bose
Gilda, adorei a do Millor! E a do Platão é tão boa que nem há o que dizer. Obrigada!
ExcluirFernanda, no início dos anos 200, cometi esse poema, musicado , por ex-cunhado, de meu primeiro casamento. Participamos do último Festival da Canção da Globo, não obtendo classificação, claro.
ResponderExcluirDesculpando-me, antecipadamente, pela ousadia, segue a canção.
ENVELHECIMENTO:SIlvio Leite- A. Carlos
Você envelheceu,
só vê nos olhares, a destruição.
E nos prazeres, você vê pecados,
que pena, você envelheceu.
Dos corações
sente apenas o ódio
e na dança dos corpos, você é triste estátua,
no sorriso dos rostos,
como você sofre.
A natureza só te inspira o inverno,
o canto do verão
vive os teus temporais.
A luz clara da lua
impede teu brilho,
pois é, amigo,
você envelheceu,
da vida, se despediu,
morreu.
Você envelheceu...
Abraço e boa noite.
ANTONIO CARLOS
Antonio Carlos, ousadia coisa nenhuma! Obrigada pela confiança. Abraços
ExcluirMuito obrigado! Detectar a velhice da minha pele, aceitá-la, tem sido para mim um desafio e ontem mesmo vi a Barbarela na TV, novinha em folha. Isto mesmo! Jane Fonda está chegando ou já está no Brasil e parece que saiu da fábrica... De cosméticos, claro. Confesso que quando a vi, fiquei bastante derrubado e juntando meus cacos. É o impacto das coisas. Agora tudo voltou ao normal e bate exatamente, em gênero, número e grau com que você descreveu sobre o envelhecer, suas mazelas, egoísmos e também, olhos que brilham, brilhos que já vi alguns. Quanto a mim, agradeço a Deus a oportunidade de estar aqui tentando melhorar meu espírito, minha alma e em dias sim outros não, até disseminando o bem para outras almas.
ResponderExcluirSabe, Alfredo, envelhecer bem é um dos meus projetos de vida. Espero que Deus me conceda esta graça, e a você também.
ExcluirA beleza de cada fase
ResponderExcluirÉ interessante observar quanto há de cultural na maneira de olharmos para o envelhecimento. Mesmo quando queremos acreditar que envelhecer é sinônimo de amadurecer com sabedoria e serenidade, que podemos viver plenamente, sabendo aproveitar cada fase da vida com saúde e alegria, a pressão social tem dificultado isso.
Enquanto na sociedade industrializada é comum que as mulheres escondam suas idades, como se o passar dos anos fosse um motivo de vergonha, existem recantos isolados do mundo onde envelhecer é motivo de orgulho. Nestas comunidades as mulheres às vezes também mentem a idade... Mas, nesse caso, para mais!
A velhice é tão valorizada entre os povos mais longevos do mundo- incluindo os abecássios, povo que vive nas montanhas do Cáucaso; os hunza, no Paquistão; os habitantes do vale de Vilcabamba, no Equador; e os Okinawanos, no Japão - que os idosos destes lugares insistem em aumentar sua idade. O que motivaria isso?
Nestas comunidades as pessoas mais velhas são as mais respeitadas e os filhos brigam entre si para decidir quem terá o direito de ter seus pais morando consigo. Os idosos são tratados com carinho e admiração. Todos envelhecem sabendo que o passar dos anos lhes confere valor e status social.
No livro Saudável aos cem anos (editora Fontanar, 324 páginas) o autor John Robbins afirma: Os abecássios esperam ter uma vida longa e útil e anseiam pela velhice por um bom motivo. Numa cultura que valoriza tanto a continuidade de suas tradições, os idosos são indispensáveis. Eles nunca são considerados ? ou percebidos ? como fardos. Muito pelo contrário, são as riquezas mais valorizadas pela sociedade. Um provérbio abecássio repetido com freqüência é: "Além de Deus, precisamos dos idosos".
Oi, Anônimo! Você esqueceu de assinar a sua mensagem, e ela está tão legal! Olha, também acho que esse lance de esconder a idade é uma bobeira muito grande... eu digo a minha com o maior orgulho! (Mas "orgulho" positivo, hein?!)
ExcluirSei não...este comentário parece coisa de pitaquista -gratíssimo pelo honorável- que "adorra" uma pesquisa básica.Se necessárias mais dicas, solicite-as, então.
ExcluirAbração
Quando conheci meu melhor amigo, não cri na sua idade e no seu entusiasmo.Ao indagar se ele não temia a velhice, respondeu-me: não vou ficar velho, tornar-me-ei antigo, pois antiguidade tem valor e respeito. E nunca pense que sou baixinho... sou concentrado.A partir daí nossa conversa engatou e não tem fim.
ResponderExcluirDepois enviou-me este texto que ele põe em prática. Arquivei-o e compatilho-o, então, com a melhor blogueira do Brasil.
O melhor dia da sua vida é hoje
Envelhecer é parte do processo de desenvolvimento humano. A fase pode ser melhor ou pior, conforme a preparação prévia de cada um
O envelhecimento não é um presente de aniversário oferecido ao indivíduo quando se completa 60 anos. O conteúdo do pacote é elaborado muito antes disso. Ao longo da vida, à medida que cada um investe em suas relações, seu crescimento pessoal e espiritualidade, é que se elabora a bagagem emocional que vai ajudar a tornar a senescência enriquecedora e saudável emocionalmente. Envelhercer bem é uma construção a longo prazo.
Assim como a infância, a adolescência e a fase adulta, a terceira idade faz parte do desenvolvimento humano. Tem características próprias e exige condutas específicas, como nas etapas anteriores da vida. E um aprendizado leva ao outro. “Satisfazer-se na fase atual é preparar-se para a próxima. E cada uma delas carrega um processo de desenvolvimento que não pode ser negligenciado. Com a velhice não é diferente.
A essência do indivíduo é elaborada ao longo da vida e é isso que vai pautar uma velhice melhor ou pior. É preciso investir nesse desenvolvimento, para obter crédito emocional e conseguir reconhecer as vantagens do envelhecimento”, aponta a psicóloga Ana Paula Pepe.
Trabalhar a própria consciência e as questões emocionais ligadas ao desenvolvimento humano é uma das orientações dada pelos especialistas.
" Lazer, cultura, entretenimento, atividades físicas e desenvolvimento espiritual são essenciais.Muitos sofrem com o impacto do envelhecimento. Mas pensar sobre isso é fundamental para não se assustar com o futuro”, diz a psicóloga.
A maior dificuldade está relacionada à identidade cultural da nossa sociedade sobre o envelhecer, onde aprendemos que isso significa perder, adoecer, não desejar, e outros atributos que não gostaríamos em nenhuma fase de nossa vida. Isso é agravado pela cultura contemporânea da estética do corpo perfeito. Quando percebemos que envelhecer é o processo da vida, entendemos que envelhecemos a cada instante de nossa vida e, para quem gosta de viver, envelhecer é bom.
Segundo a psicóloga e professora da PUC-SP, Célia Gorodscy, "Envelhecer é viver. Aceitar o próprio envelhecimento significa ter os pés no chão, vivenciar o concreto, o existencial, o real e que a idade cronológica não faz diferença para quem valoriza o que sente, vive, ama, chora, ri, experimenta. Não dá para dar uma idade à existência de cada pessoa, só dá para vivê-la, construí-la e senti-la".
"Temos presenciado quebras de paradigmas. Vejo cada vez mais idosos não aceitando essa identidade social dada a eles e fazendo o que gostam, indo e vindo, viajando, aprendendo, desejando. A geração de idosos de hoje está fazendo bem a sua parte. Eles estão se permitindo estudar, estão aprendendo a linguagem digital, se comunicam por redes sociais, utilizam o celular, estão trabalhando, namorando. Quem ainda não é idoso tem que pensar hoje que velhice quer ter", sugere a psicóloga.
Manter-se ativo política e socialmente, cultivar as relações humanas, amizades, amores , família, fazer o que dê prazer, estar com pessoas de que goste, trabalhar ou fazer algo voluntário pelas pessoas ou por qualquer ser vivo, se reinventar, resgatar planos, continuar aprendendo, ter curiosidade , bom cuidado com seu corpo, não ficar preso ao passado e às perdas, são bons hábitos. Se não olharmos para as limitações e sim para além delas, podemos ver muitas possibilidades sempre de realizar algo, antes tarde do que nunca.
Afetuosamente,
Danilo
Danilo... em matéria de pitaco, você está de parabéns e vejo que vem da escola do Marcos Lúcio... bjão!
Excluir
ResponderExcluirA bela velhice
Antropóloga Mirian Goldenberg fala sobre novas possibilidades e significados para o envelhecimento
No livro "A Velhice", Simone de Beauvoir, após descrever o dramático quadro do processo de envelhecimento, aponta um possível caminho para a construção de uma "bela velhice": ter um projeto de vida.
No Brasil, temos vários exemplos de "belos velhos": Caetano Veloso, Gilberto Gil, Ney Matogrosso, Chico Buarque, Marieta Severo, Rita Lee, entre outros.
Duvido que alguém consiga enxergar neles, que já chegaram ou estão chegando aos 70 anos, um retrato negativo do envelhecimento. São típicos exemplos de pessoas chamadas "ageless" ou sem idade.
Fazem parte de uma geração que não aceitará o imperativo: "Seja um velho!" ou qualquer outro rótulo que sempre contestaram.
São de uma geração que transformou comportamentos e valores de homens e mulheres, que tornou a sexualidade mais livre e prazerosa, que inventou diferentes arranjos amorosos e conjugais, que legitimou novas formas de família e que ampliou as possibilidades de ser mãe, pai, avô e avó.
Esses "belos velhos" inventaram um lugar especial no mundo e se reinventam permanentemente.
Continuam cantando, dançando, criando, amando, brincando, trabalhando, transgredindo tabus etc. Não se aposentaram de si mesmos, recusaram as regras que os obrigariam a se comportarem como velhos. Não se tornaram invisíveis, apagados, infelizes, doentes, deprimidos.
Eles, como tantos outros "belos velhos" que tenho pesquisado, estão rejeitando os estereótipos e criando novas possibilidades e novas possibilidades e significados para o envelhecimento.
Em 2011, após assistir quatro vezes ao mesmo show de Paul McCartney, perguntei a um amigo de 72 anos: "Por que ele, aos 69 anos, faz um show de quase três horas, cantando, tocando e dançando sem parar, se o público ficaria satisfeito se ele fizesse um show de uma hora?". Ele respondeu sorrindo: "Porque ele tem tesão no que faz".
O título do meu livro "Coroas" é uma forma de militância lúdica na luta contra os preconceitos que cercam o envelhecimento. Tenho investido em revelar aspectos positivos e belos da velhice, sem deixar de discutir os aspectos negativos.
Como diz a música de Arnaldo Antunes, "Que preto, que branco, que índio o quê?/Somos o que somos: inclassificáveis". Acredito que podemos ousar um pouco mais e cantar: "Que jovem, que adulto, que velho o quê?/ Somos o que somos: inclassificáveis".
Mirian Goldenberg é antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Olha que delícia recebi por "imeiu", pra transbordar mais ainda meu penico rs. Já vou providenciando outro rs.Como sei que vc "adorra" algumas notícias do meu povo que acompanha seu blog por minha culpa rs...pois 'adorro" compartilhar coisas e idéias relevantes...repasso, então. Beijão.
ResponderExcluirEssa mulher eh incrivel mesmo mas adoro seus comentarios apesar de
que vc ja parte das ideias dela. Ja enjoei de pedir a vc para criar
um blog ou um site onde vc alem de expor essa joias literarias tb
poderia colocar suas ideias bem embasadas, filosoficamente,
sociologicamente bem como dentro das normas educacionais, etc.
Interessante, envelhecer somente eh mais uma etapa da vida, portanto
viver eh a essencia da vida pq vida nao eh somente estar vivo.
Imagine a luta constante de nossos anticorpos para nos deixar imunes
a doencas, virus, bacterias que o dia inteiro nos atacam e a eles
estamos expostos. Viver eh lutar pela vida o tempo todo ate contra
balas perdidas sem levar em conta os acidentes corporais e do
planeta ou ate mesmo fora dele pq estamos expostos tb a particulas
cosmicas e de radiacao que nos atravessam, constantemente, e,
certamente, tb nos prejudicam ou podem prejudicar. Assim, a vida eh
repleta de vitorias ou nao e a velhice deveria ser um premio e nao
um fardo. Claro q aquele que plantou ventos, certamente, vai colher
tempestade e aquele que plantou o bem, amizades, respeito, etc... as
terah de volta por parte da sociedade durante toda sua existencia.
Velhice eh plenitude e envelhecer eh arte desde que se compreenda
que cada ruga nada mais eh que uma experiencia vivida. Portanto,
quem tem medo da velhice nao deveria ter medo da morte e ate mesmo
arriscar um pouco mais para evita-la. Ja ouvi que o ideal eh viver
muito ao ponto de nao deixar nada no corpo para alimentar os
microbios pos morte. Eh viver tanto para gastar tudo e ficar somente
pele e osso ... Eh mole??? Gd abraco, de novo.
J. Alberto