Maravilhosa? Onde? Só se for lá na Prainha, reduto dos "ricos e famosos" que saem toda semana na "Caras", porque na praia de Copacabana, que já foi Flor do Campo e hoje é Tiririca do Brejo, cheia de camelôs, quiosques no calçadão, gente acampada na areia, palcos montados para shows... bom, lá em Copacabana a coisa não anda cheirando bem. (Inclusive... será que alguém já parou pra pensar em quanto micróbio e bactéria deve ter naquela areia, onde o povo vomita e urina nos dias de show?). E a pivetada? Não há quem dê jeito nos assaltos em bando lá em Copa. Dia desses vi dois em menos de dez minutos.
Mas chegamos ao ponto: algo no Rio não cheira bem... aliás, cheira mal pra burro, e são as ruas. Lixo e xixi por todo lado, as calçadas são um nojo só. Nas praças, hoje cercadas, gatos, pombos e gatunos fazem a festa. Alguém dirá que lá na Piazza San Marco, em Veneza, os pombos também são os donos do pedaço, e eu direi que sim, e lamentavelmente. Aliás, a única coisa que estraga um passeio a Veneza é o medo que o turista fica de pegar uma histoplasmose ou uma gripe aviária.
Enquanto os vândalos ajudam a piorar a situação e depredam orelhões, picham, jogam lixo no chão e esvaziam a bexiga em qualquer lugar, o poder público não tem olhos para ver, por exemplo, a competição que rola entre o nojo e a tristeza quando a gente passa pelo Largo da Carioca, enorme praça localizada em área nobre e que é um verdadeiro desalento largado às traças e aos vendedores ambulantes. É que o prefeito anda ocupado demais: quando não está em algum evento, fazendo pose para os fotógrafos, está ocupado com as obras faraônicas feitas para "inglês ver" (além de outros povos) na Copa e nos Jogos Olímpicos. Nossos governantes ainda não entenderam que a turistada não é boba e já não se limita aos cartões-postais da cidade, onde a maquiagem dá uma "enganada"... os estrangeiros agora querem ir além de Ipanema e do Cristo... e acabam conhecendo um Rio de Janeiro que decepciona e não tem nada do charme mitológico.
E a Avenida Chile, a nossa Paulista, o coração financeiro da cidade, onde estão as maiores empresas do país, e onde executivos estrangeiros negociam com o Brasil? É um corredor de ônibus, de carrocinhas de cachorro-quente, de ambulantes... e é também o penico oficial do povo, que faz xixi e até cocô embaixo da passarela. Sem falar no cheiro de um certo cigarrinho proibido...
Gente, o Centro da Cidade tinha tudo para ser um lugar lindo, pululando de cafés, restaurantes, cinemas, museus, livrarias, praças... como acontece nas maiores cidades do mundo. O casario abandonado dá dó em quem olha. E por quê? Vejam a Praça Quinze... foi bem ali ao lado que viveu o nosso rei... chega a ser difícil acreditar. E o que dizer da confusão e da desordem que é Uruguaiana, meu Deus? E a Lapa, caindo aos pedaços?
Olha, nem vou falar de Santa Teresa, me limito a lembrar do bonde... o bonde? Quem perdeu não pega mais.
E as praias, imundas? E a falta cada vez maior de estacionamento? Por falar nisso, e o preço extorsivo dos estacionamentos? O prefeito, que por certo anda de helicóptero, cismou que a gente tem que largar o carro em casa, mas como, se o transporte coletivo é péssimo? E os buracos nas ruas? E a falta d´água em pleno verão? E o trânsito caótico? E a comida vencida nos mais caros restaurantes da cidade? E o aeroporto internacional, que conseguiu ficar pior que a rodoviária? E os carros abandonados pelas ruas? Os camelôs, que tomam as calçadas da zona sul com suas banquinhas facilmente desmontáveis, à prova do monta-desmonta para driblar a guarda municipal?
Eu realmente lamento que a "Veja" não tenha arranjado um Pai-de-Santo para entrevistar o Walt Disney, o Charles Darwin, o Albert Einstein e o Theodore Roosevelt e perguntar o que é que eles acham da cidade HOJE! Porque usar gente ilustre para fazer elogios baseados no que eles viram no fim do século 19 e no começo do 20 é brincadeira...
Não, não me venha com o papo de que eu sou reclamona: está cada vez mais difícil fingir que a cidade é maravilhosa. E olha que eu nem me aprofundei muito nesta história... ia ficar deprê demais.