quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

O lado B da Cidade Maravilhosa

Pode dizer que eu sou implicante, eu não ligo. Mas não vou entrar numas de festejar o aniversário da Cidade Maravilhosa, nem fingir, como alguns jornalistas têm feito, que aos 448 anos o Rio "está com tudo e não está prosa.

Maravilhosa? Onde? Só se for lá na Prainha, reduto dos "ricos e famosos" que saem toda semana na "Caras", porque na praia de Copacabana, que já foi Flor do Campo e hoje é Tiririca do Brejo, cheia de camelôs, quiosques no calçadão, gente acampada na areia, palcos montados para shows... bom, lá em Copacabana a coisa não anda cheirando bem. (Inclusive... será que alguém já parou pra pensar em quanto micróbio e bactéria deve ter naquela areia, onde o povo vomita e urina nos dias de show?). E a pivetada? Não há quem dê jeito nos assaltos em bando lá em Copa. Dia desses vi dois em menos de dez minutos.

Mas chegamos ao ponto: algo no Rio não cheira bem... aliás, cheira mal pra burro, e são as ruas. Lixo e xixi por todo lado, as calçadas são um nojo só. Nas praças, hoje cercadas, gatos, pombos e gatunos fazem a festa. Alguém dirá que lá na Piazza San Marco, em Veneza, os pombos também são os donos do pedaço, e eu direi que sim, e lamentavelmente. Aliás, a única coisa que estraga um passeio a Veneza é o medo que o turista fica de pegar uma histoplasmose ou uma gripe aviária.

Enquanto os vândalos ajudam a piorar a situação e depredam orelhões, picham, jogam lixo no chão e esvaziam a bexiga em qualquer lugar, o poder público não tem olhos para ver, por exemplo, a competição que rola entre o nojo e a tristeza quando a gente passa pelo Largo da Carioca, enorme praça localizada em área nobre e que é um verdadeiro desalento largado às traças e aos vendedores ambulantes. É que o prefeito anda ocupado demais: quando não está em algum evento, fazendo pose para os fotógrafos, está ocupado com as obras faraônicas feitas para "inglês ver" (além de outros povos) na Copa e nos Jogos Olímpicos. Nossos governantes ainda não entenderam que a turistada não é boba e já não se limita aos cartões-postais da cidade, onde a maquiagem dá uma "enganada"... os estrangeiros agora querem ir além de Ipanema e do Cristo... e acabam conhecendo um Rio de Janeiro que decepciona e não tem nada do charme mitológico.

E a Avenida Chile, a nossa Paulista, o coração financeiro da cidade, onde estão as maiores empresas do país, e onde executivos estrangeiros negociam com o Brasil? É um corredor de ônibus, de carrocinhas de cachorro-quente, de ambulantes... e é também o penico oficial do povo, que faz xixi e até cocô embaixo da passarela. Sem falar no cheiro de um certo cigarrinho proibido...

Gente, o Centro da Cidade tinha tudo para ser um lugar lindo, pululando de cafés, restaurantes, cinemas, museus, livrarias, praças... como acontece nas maiores cidades do mundo. O casario abandonado dá dó em quem olha. E por quê? Vejam a Praça Quinze... foi bem ali ao lado que viveu o nosso rei... chega a ser difícil acreditar. E o que dizer da confusão e da desordem que é Uruguaiana, meu Deus? E a Lapa, caindo aos pedaços?

Olha, nem vou falar de Santa Teresa, me limito a lembrar do bonde... o bonde? Quem perdeu não pega mais.

E as praias, imundas? E a falta cada vez maior de estacionamento? Por falar nisso, e o preço extorsivo dos estacionamentos? O prefeito, que por certo anda de helicóptero, cismou que a gente tem que largar o carro em casa, mas como, se o transporte coletivo é péssimo? E os buracos nas ruas? E a falta d´água em pleno verão? E o trânsito caótico? E a comida vencida nos mais caros restaurantes da cidade? E o aeroporto internacional, que conseguiu ficar pior que a rodoviária? E os carros abandonados pelas ruas? Os camelôs, que tomam as calçadas da zona sul com suas banquinhas facilmente desmontáveis, à prova do monta-desmonta para driblar a guarda municipal?

Eu realmente lamento que a "Veja" não tenha arranjado um Pai-de-Santo para entrevistar o Walt Disney, o Charles Darwin, o Albert Einstein e o Theodore Roosevelt e perguntar o que é que eles acham da cidade HOJE! Porque usar gente ilustre para fazer elogios baseados no que eles viram no fim do século 19 e no começo do 20 é brincadeira...

Não, não me venha com o papo de que eu sou reclamona: está cada vez mais difícil fingir que a cidade é maravilhosa. E olha que eu nem me aprofundei muito nesta história... ia ficar deprê demais.

 
 
 
 
 
 

 
 



 
 





segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

O furacão da roupa nova

Para fugir do calor, entrei na popular loja de departamentos, onde não punha os pés havia mais de vinte anos. Uma vez lá dentro, pus-me a passear entre as araras de roupas coloridas que exibiam etiquetas enormes com preços módicos. Olhei tudo em volta e me dei conta de que ao passar por aquela porta não havia entrado na loja, e sim na máquina do tempo, aquele veículo que vez por outra uso para dar um pulo ao passado.

Quando dei por mim, estava na década de 80, quando era ali mesmo que fazia minhas comprinhas: lembro de um moletom amarelo, de uma capa de chuva rosa-choque e de um biquíni verde-periquito. Gostava de roupas coloridas.
Aquela loja era perfeita ao meu orçamento curto e ao meu estilo jovem. E lembro de como me dava por contente o bastante para não perder tempo babando vitrines das boutiques da moda, como Toulon, Company, Moda Mania, Smugller e outras que, se não sumiram do mapa, já não figuram entre as preferidas da moçada da zona sul. Veja você que a tal lojona de departamentos continua lá, cheinha da silva, e com umas roupetas bem legais, aliás.
Foi aí que lembrei do meu armário, que era modesto, composto por duas ou três mochilas, cinco ou seis pares de sapatos e um rol de peças que me permitia fazer mil combinações, estar sempre feliz com o que usava e não padecer do enjoo que às vezes dá um armário muito gordo, cheio de peças que a gente até esquece que tem, e que mesmo sem uso acabam estragando no cabide.
Chega a ser esquisito, mas senti saudades.
Acabei comprando uma camisa amarela e saí da loja cantando aquele samba tão lindo na voz da Gal Costa, e pensando que a ideia de “melhorar de vida” pode ser enganosa às vezes. A gente melhora de vida e fica mais exigente como consumidor, passa a gastar dinheiro em lojas cada vez mais sofisticadas e claro, caras... quando vê, tornou-se consumista sem dar-se conta, acumulando objetos sem serventia dentro de casa. E pra quê?
Naquele tempo em que não havia shopping center, lembro que minha mãe e minhas tias eram muito felizes com suas três bolsas: a preta, a marrom e a azul marinho. Eram felizes com suas poucas sandálias, usadas até a exaustão. Hoje está aí o “personal stylist”,  e em breve surgirá o profissional especializado em nos guiar dentro do nosso próprio armário, ajudando-nos a encontrar uma simples blusa branca ali dentro, em meio a tanta coisa. E as revistas de moda, os desfiles, a indústria que só cresce e agora trouxe, ao Rio de Janeiro, um shopping de luxo onde as bolsas custam milhares de reais. O cartão de crédito tornou-se o melhor amigo da mulher, as lojas nos servem cafezinho, chocolates e até champanhe, dispõem de cadeiras confortáveis e jornais para que os maridos esperem sem reclamar, mandam em casa as roupas, se estivermos com preguiça de prová-las. Vendedoras em séquito fazem até uma cliente classe-média comum sentir-se a rainha da Inglaterra, mas tem uma condição: tem que comprar!
Ok, ok... melhorar de vida é ótimo, comprar é bom, uma roupinha nova é uma delícia, sentir-se bonita e charmosa faz bem à saúde, mas sabe? Se a gente não abre os olhos para o furacão que nos engolfa, se a gente não aprende a se defender da publicidade que promete felicidade, se não somos capazes de identificar muito bem nossas reais necessidades para sentir paz e contentamento, acaba mesmo entrando nessa. Sei lá... deve ser uma tentativa doida de tapar, com “coisas”, aquele vazio doloroso que existe no coração, e no qual, se a gente parar pra pensar, corre o risco de chorar um dia inteiro.


Vamos de Gal Costa neste começo de semana!

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Profissão: desespero

As súplicas eram tão desesperadas que, mesmo estando eu láááááá na esquina, a sei lá quantos metros de distância do homem, já fiquei com o coração apertado:

-- Um ajuda pequena, pelo amor de Deeeeeeeus!!!
E, quando cheguei mais perto, ouvi a frase fatal:
-- Eu tô com foooooome!!!
Pronto! Foi antes mesmo de botar os olhos em cima do sujeito esquálido, que certamente havia sido vítima da pólio na infância, porque tinha pernas tão finas que me pareceram atrofiadas... antes mesmo de botar os olhos no seu peito nu, no seu cabelo desgrenhado e na sua cara de fome e desamparo... antes disso meu coração de manteiga já estava dominado.
Passei por ele e olhei, sem interromper minha marcha, e ele me estendeu a mão imunda, num gesto trêmulo. "Será doença, pobreza ou crack?", ainda pensei, mas a razão daquilo tudo não interessava: o homem era pura aflição.
Parei no ponto de ônibus mais adiante e fiquei observando enquanto o povo passava e, sem dó nem piedade, olhava para ele com a mesma indiferença que olharia a árvore que lhe fazia sombra.  Estava já pegando a única nota de 20 reais que eu tinha na bolsa para trocar no supermercado em frente, e assim fazer a caridade da esmola, quando ouvi uma senhora dizendo a outra, cheia de desprezo na voz:
-- É assim que ele faz o showzinho dele...
Foi movida por puro instinto que fuzilei a velhota com o olhar, enquanto estufei o peito para trocar a nota e dar a esmola, tudo isso sob os holofotes da velha maledicente, que me olhava com um sorrisinho superior na boca murcha.
Soltei para ela o "credo!" mais enojado que consegui tirar do fundo da garganta e dei a esmola ao rapaz, que agradeceu com olhos lacrimejantes. Sentindo-me superior à Língua-de-trapo, voltei para o ponto de ônibus com o coração de manteiga quase derretido pelo calorão de 40 graus e pela pena que eu estava do pobre coitado.
É, leitor... foi pouco depois que vesti o chapéu de "a mais panaca das mulheres", sobretudo quando a velha deu o grito:
-- Alá! Alá!!!!!!
Olhei, meio sem saber pra onde, e vi quando o cafajeste  levantou, deu umas batidinhas no short pra sacodir a poeira, guardou o desespero no bolso, mostrou que suas perninhas não tinham nada de pólio, tirou debaixo de si a mochila que lhe servia de almofada, guardou seu dinheiro, vestiu a camisa e pegou o primeiro ônibus que veio. Ainda olhou em minha direção e viu que lhe tirava uma foto... mas não se importou.
"Tomara que eu não tenha financiado uma dose de crack", já ia eu pensando, quando a velha mostrou que se divertia às minhas custas sem que eu pudesse dizer nada para me defender:
-- Tem trouxa que cai no choro dele, mas só os que não moram por aqui...
Quase que mandei um "sou trouxa mas sou feliz, mais trouxa é quem me diz", mas me sentia tão idiota que achei melhor botar o galho dentro e me fingir de morta.
Pensei nas várias vezes em que já fui extorquida por pidões profissionais de rua, gente que derreteu meu coração de manteiga com seu desespero digno de "Oscar" e faturando não uma estatueta, mas um almoço, um café com leite na padaria e, certa vez, até um tutu pra pagar a fictícia passagem interestadual de volta para casa... (fictícia sim, porque no dia seguinte a figura estava lá, batendo ponto na mesma esquina).
Tento não levar a coisa a ferro e fogo: em vez de ficar pê da vida pelo golpe de alguns poucos reais, penso em quanta gente de talento a TV Globo anda perdendo... atores de primeira linha, saídos da escola de malandragem que são as ruas da cidade. Fazer o quê? Cada um ganha a vida como pode... ainda mais se há sempre um bobão de coração mole dando sopa por aí.



 

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Pobres mulheres ricas

Para aqueles que acreditam que TV aberta é um lixo, vou logo avisando: foi justamente ali que tive um momento de iluminação...

Sim, caro leitor... saio hoje em defesa da televisão sensacionalista, literalmente “veículo” do qual o Universo fez uso para me dar um tremendo de um choque, seguido de verdadeiro enlevo espiritual quando me senti mais uma mulher absolutamente comum no mundo, entre bilhões de outras iguais. É bem verdade que ao final da experiência acabei meio enjoada e tive uma noite de sono agitado, mas vá lá! Nem toda iluminação espiritual vem de graça.
Bom... depois deste trelelê, explico: foi zapeando que caí em um tal de “Mulheres Ricas”, programa sem pé nem cabeça que vive de mostrar umas senhoras cheias da grana e... mais nada. Sim, a atração é exatamente isto: um show de esnobismo, futilidade, ostentação. E só. Mas o incrível de tudo é que, mesmo sendo apenas um espetáculo de egocentrismo, o "Mulheres Ricas" tem o mérito de esfregar na cara do telespectador aquela verdade que diz que há artigos que o dinheiro não paga, por maior que seja a bala na agulha.  Autoestima, por exemplo, não se compra nem nas melhores maisons de Paris, né, ô Chanel?
As protagonistas do espetáculo são milionárias, mas de sua boca não sai quase nada além de “este vestido é um Valentino”... como se isso fosse realmente uma coisa de outro mundo. O consumismo surreal mistura-se ao esforço para convencer a plateia a respeito do sangue que, se não saiu azul de fábrica, teria azulado no decorrer da vida. Mas alguém aí liga pra isso? Junto delas, um séquito de puxa-sacos só consegue tornar tudo ainda mais indigesto e reforçar a verdade de que amizade não se compra, mas outra verdade também prega que gente rica nem sempre liga pra isso. E olha, quando digo “indigesto”, não se trata de uma figura de linguagem: a “diversão” não caiu bem e me causou um certo enjoo psicológico que desceu para o estômago.
O bom deste programa é que, ao final, nós, reles mortais que nada temos de milionários excêntricos, aliás muito contrário, acabamos nos sentindo comuns até demais, distantes milhões de anos-luz daquele universo aparentemente glamouroso... mas que me pareceu mais frio que uma lâmpada fluorescente, e mais infeliz que uma piada de mau-gosto.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Entrevista: Marcelo Migliaccio

"O outro lado é o da mentira"

Jornalista, fotógrafo, cronista, documentarista: este é Marcelo Migliaccio, o melhor chefe que já tive não só pelo grande conhecimento e pela criatividade que tem, mas também por saber, sem ter feito nenhum MBA, o que é ser um gerente e líder competente. Sem medo de dizer o que pensa -- aquele tipo de jornalista em extinção nos dias de hoje -- ele possui a rara capacidade de ser exatamente a mesma pessoa em qualquer situação, e diante de quem quer que seja. À frente do documentário "Paixão Rubra", sobre o América Football Club, e do blog RioAcima, Migliaccio agora prepara um segundo filme sobre futebol. Vamos ao papo com este cara que por sorte é meu amigo, e que tem aquele humor tão raro, que só os críticos têm, além de um coração generoso pra olhar o mundo... o que faz toda a diferença.

 
Qual o lado bom e o ruim de ser jornalista?

O lado bom é conhecer pessoas, histórias, ir a lugares aonde eu talvez jamais fosse. Sentar diante do computador e retratar essas pessoas, contar essas histórias, descrever esses lugares, é outra parte boa da profissão. Da mesma forma, editar imagens e entrevistas em documentários é um novo aspecto do jornalismo ao qual estou me dedicando atualmente. O lado ruim foi me defrontar com os interesses da grande imprensa, que são em última análise econômicos, mas se traduzem no noticiário político. Mas, como disse Raul Seixas, se você quer dormir no estábulo, tem que ter o mesmo cheiro dos cavalos para não incomodar...

O que o seu blog, o Rio Acima, representa pra você?

Hoje é um canal para escrever o que penso. Fico feliz porque os acessos estão crescendo. A internet democratiza mais e mais a informação e oferece milhares de opções aos monopólios da mídia.

Qual foi o maior aprendizado que o jornalismo lhe deu?

De que todo ser humano é capaz de todo e qualquer ato, dependendo das circunstâncias. De que cada um tem a sua verdade, mas a verdade não tem dois lados. O outro lado é o da mentira.

E a vida? O que ela lhe ensinou até agora?

Me ensinou que temos que viver com prazer. Cada um tem a sua equação interna e deve descobrir como resolvê-la, seja no bar ou na igreja. Viver é gastar o corpo, e o homem é o exercício que faz. Sabe aquelas pessoas que compram um sofá novo e o deixam eternamente coberto com um plástico para não gastar? Na verdade, elas nunca terão o sofá que compraram.

É fácil trabalhar na imprensa e manter a alma limpinha?

Facílimo, basta pedir demissão... ou esperar que te demitam, o que é mais inteligente.

 

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Henry Sobel e a liberdade que existe no erro



Rabino e celebridade, Henry Sobel é ótimo de conversa: sem papas na língua, ele não tem pudores em dizer, em suas entrevistas, que adorou o Festival de Woodstock, que fumou – tragou – e gostou de maconha, e que um rabino pode sim, errar, porque também é gente. Reconhecido no mundo inteiro por sua veia pacifista, Sobel já não figura entre o personagens dos noticiários de TV, desde que, sob efeito de medicamentos, foi acusado de furtar gravatas, em 2007, nos EUA. Mesmo longe da mídia, ele segue
com seu trabalho. “Não estou afastado. Dirijo os serviços religiosos na Hebraica de São Paulo, principalmente as grandes festas, e também
dou palestras e participo de eventos sobre religião e assuntos semelhantes”, conta. A seguir, a conversa que tivemos sobre o perdão, assunto
de um livro que pretende escrever.



O sr. acredita que foi perdoado pela sociedade?
– Não sei. É preciso consultar as pessoas que me magoaram para saber se fui, de fato, perdoado. Mas estou bem com a minha consciência e otimista em relação ao presente e ao futuro. Tenho muito chão pela frente como
rabino e como ser humano. E as pessoas que não têm vontade ou condições para perdoar, não vão interferir no meu otimismo.

O sr. tem mágoas?
– O que eu sinto é decepção. Como qualquer ser humano, confio nos outros, mas, às vezes, a pessoa receptora simplesmente se revela não digna de confiança. Aí vem a palavra traição. Eu me sinto traído por algumas pessoas, mas sou muito mais recompensado por aqueles que corresponderam às minhas expectativas. E, mesmo quando sou traído, procuro superar meus sentimentos e busco dar uma segunda chance. A mágoa afeta mais a vítima do que o agressor.

Seu último livro, Um homem, um Rabino, fala de sua vida. Por que o sr. o escreveu?
– Até esse livro, nunca havia sentido vontade de me abrir aos leitores, mas chegou o momento de falar. O livro foi importante porque achei que as pessoas colocaram em dúvida a autenticidade de algumas afirmações minhas. Foi, em parte, uma resposta aos meus críticos, e também aos meus adversários. Mas o saldo maior do livro foi o meu encontro comigo mesmo. Eu precisava do livro para definir quem eu sou e quais são as minhas metas
para o futuro.


E quem é o sr., e quais são as suas metas?
– Sou uma pessoa que pensa e que, às vezes, se fragiliza por sua sensibilidade. A minha meta é ser eu mesmo. Anote isso: talvez um dia eu
mude os outros, mas nem por isso vou deixar os outros
me mudarem.

Por que é difícil perdoar?
– Porque o homem é egoísta e valoriza mais o orgulho dele do que os sentimentos  alheios. É difícil perdoar porque o homem não sabe
distinguir entre o ato cometido e a pessoa envolvida.

E qual é a diferença?
– O ato cometido pode ser uma fraqueza do momento, uma circunstância. Claro que me refiro aos casos banais, e não a situações como o genocídio da Segunda Guerra. Na banalidade, o ato em si tem pouco a ver com a
integridade da pessoa que cometeu o crime. É preciso discernimento e coragem para perdoar, porque o homem contemporâneo tem dificuldades para superar acidentes de percurso.

O sr. perdoou os nazistas?
– Há um ressurgimento do antissemitismo no mundo, porque as novas gerações não conheceram de perto a tragédia de 60 anos atrás. Perdi meus avós maternos e paternos no Holocausto, mas perdoei. Mas nós não temos
o dever moral de perdoar os nazistas, porque as vítimas não fomos nós: foram nossos avós e bisavós, que não estão mais aqui. Nós lembramos, mas não perdoamos.

Por que o antissemitismo está crescendo?
– A recessão econômica é um dos motivos. Sempre, em tempos de crise, há a necessidade de buscar um bode expiatório, e invariavelmente o bode expiatório clássico da história é o povo judeu. Também o destaque
dos judeus no mundo econômico e na vanguarda da revolução tecnológica... tudo isso provoca o ódio. A diferença gera a suspeita. Mas nós acreditamos na diferença, porque ela é o pilar da democracia. No entanto, psicologicamente, há um distanciamento das minorias,
principalmente quando aquela minoria se destaca. Mas é impossível sobreviver se as raças não perdoarem depois de tanta intolerância e preconceito, se as religiões não perdoarem depois de tanto ódio e perseguição, se as nações não perdoarem depois de tanto derramamento
de sangue. Perdoar não é esquecer: se fosse, não haveria mérito nenhum no perdão.

É mais difícil perdoar os outros ou a si mesmo?
– Minha experiência me leva a crer que é mais difícil perdoar a si mesmo. Quando eu era menino, ser perdoado era uma necessidade diária: sempre que eu cometia um erro, contava com a compreensão e o perdão dos meus pais. Era um peso tirado do meu coração, uma gostosa certeza de ser aceito. Quando cresci, foi a minha vez de perdoar os meus pais pelos seus erros, reais e imaginários. É um estágio natural do processo de amadurecimento compreender os nossos pais e perdoá-los por serem menos perfeitos do que gostaríamos. Lembro da crítica se abrandando, dos ressentimentos
se dissolvendo, do afeto libertando a alma. E também é bom perdoar a si próprio. Quando me tornei rabino, eu era intolerante comigo mesmo, o autojulgamento era severo, a autopunição, imediata; a culpa, duradoura. Então, me conscientizei de que o rabino também é humano, portanto falível. E ele pode errar. É boa essa sensação: a ausência de medo, o enorme alívio.


CPDoc JB - 19/5/2011

Leia também:
O rabino Henry Sobel me ensinou sobre o perdão

 

domingo, 10 de fevereiro de 2013

A fantasia que eu nunca mais tirei

Já tive fantasias de muitas coisas: Mulher Maravilha, Chiquita Bacana, espanhola estilizada e zulu: todas saídas dos mágicos carnavais da infância e adolescência, de quando as tias saíam do Rio de Janeiro para chegar à nossa casa no meio da madrugada e encher o quarto de tecidos brilhantes, contas coloridas, laços, tules, fitas e flores... sem nenhuma ideia pronta na cabeça, elas nos acordavam no meio da noite para tirar medidas e começar a costurar.

Parecia mágica mesmo: tudo ficava pronto da noite para o dia, a partir de um improviso criativo saído do amor que só as tias têm para dar. Minhas irmãs e eu fazíamos um sucesso danado com nossos modelos coloridos sempre muito leves, fresquinhos e que em nada nos atrapalhavam na hora de pular o nosso carnaval ao som das velhas marchinhas de sempre. E tão diferentes dos trajes pesados, cheios de pedrarias e plumas que nossas amigas usavam e com os quais mal conseguiamm dançar.
Mas a minha melhor lembrança de fantasia não vem do carnaval, e sim de um evento qualquer que houve na cidadezinha de Minas, quando eu tinha mais ou menos cinco anos: lembro vagamente de minha mãe me levando à casa da moça ruivinha e simpática que estava montando a estrutura de fios de metal e cobrindo-a com papel crepom vermelho. Eu mesma só fui entender do que se tratava no dia da festa, quando me vesti de morango e me encontrei, na quadra poliesportiva da cidade, com o restante da turma: havia uma menina, a Estefânia, com uma fantasia feita a partir de saquinhos de litro de leite, e lembro de uma outra, talvez a Jaqueline, irmã dela, vestida de espiga de milho. Mas posso estar confundindo a pessoa e o personagem, sabe como é, já faz muito tempo...
Estava hoje na pia da cozinha, lavando os morangos que comprei para a sobremesa, quando comentei com meu marido:
--Toda vez que vejo um morango fico triste por não ter uma foto daquele dia.
-- Você tem a lembrança, que vale mais.
Não preciso nem fechar os olhos para rever o sol da manhã de vestir a fantasia! E de sentir a armação balançando enquanto eu caminhava pela calçada, e a preocupação em não deixar que nada rasgasse o papel vermelho pontilhado de bolinhas pretas. Ainda sinto a alegria que foi constatar que eu não queria ser o leite, nem o milho, nem ninguém mais... porque estava feliz por ser eu mesma, naquela fantasia que me caía tão bem... será que foi ali que aprendi a gostar de ser quem eu sou? E a me sentir bem na minha própria pele? E a não querer ser mais ninguém?
Minha garganta se fecha quando vejo minha mãe feliz entre as pessoas, segurando-me pela mão, orgulhosa do único morango da festa. É uma gratidão que me sobe pelo estômago, uma gratidão de mais de 40 anos por esta lembrança gasta pelo tempo, mas cuja emoção nada é capaz de esgarçar... uma gratidão tão grande por eu ter sido sempre, vida afora, aquele morango feliz, e por sentir-me até hoje como o único morango da festa!

                                   Olha os meus primos aêêêê, genteeeee!!!!!

Leia também:

Nunca fui super em nada

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

De como roda a roda do infortúnio

Minha amiga Isabel, doente sem esperança de cura, me atendeu ao telefone pra bater um papinho.  Depois de alguns minutos, tratei de ir encerrando a conversa, mas ela me interrompeu:

-- E você, como é que tem andado? Tá tudo bem? O casamento, o trabalho... tudo jóia?
À esta altura de sua condição, eu não esperava por qualquer interesse que não fosse um bocadinho de alívio, mas esta sua pergunta lembrou-me que é na provação que as pessoas são mesmo o que são.

Neste ponto da conversa, chamo aqui o povo muito chique daquele filme emblemático, "O anjo exterminador", de Luis Buñuel, que tem uma situação muito reveladora e que é mais ou menos assim: granfinos jantam juntos, todos muito metidos a elegantes, e eis que, por alguma razão que o diretor e o roteirista nunca explicaram, ninguém consegue sair da casa. E é aí, na falta de charme do confinamento, que os nobres botam os dentes, o egocentrismo e a brutalidade pra fora: o ser humano em sua forma animal.
Minha amiga Isabel e "O anjo exterminador" são, para mim, como símbolos do antagonismo que vivenciamos nas relações. De um lado o afeto verdadeiro, aquele que motiva alguém a fazer uma pegunta muito simples, porém sincera, e que a gente quase não ouve por aí nas rodas e nos cafés:
-- E você?
Do outro lado, aquilo que se convencionou chamar "amizade" hoje em dia, estes tempos tecnológicos e ágeis da Internet e das relações superficiais: o desvalor do outro, que tornou-se tão patológico quanto o exagerado valor de si mesmo. E é assim que todos tornam-se cada vez mais sozinhos neste mundão sem fronteiras, reféns de uma vaidade que só existe para matar a própria fome.
O “estar só” no mundo é o que sobra. A carência absoluta de gente que se sabe tão desesperadamente só, e que padece uma fome sem remédio de atenção, de importância, de reverência, de lugar ao sol... é a cultura do eu, na qual a solidão é o motor que faz girar a roda do infortúnio. 

 


A cena curta, mesmo em espanhol, dá uma ideia da situação...

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

A equação dos amores impossíveis

"O lado bom da vida" não é um filmaço daqueles imperdíveis, mas diverte e vai além: pode ser uma boa reflexão sobre aquelas cismas amorosas da qual ninguém escapa; todo coração que bate neste mundo um dia resolve cismar com alguém... não aconteceu com você?

Já vi tanta gente sofrer por causa do “amor ideal” (e que de ideal não tinha absolutamente nada) que cunhei um nome para esta doença, e quando é o caso dou logo o diagnóstico:
-- Não chora, amiga. Parece que não, mas isso passa. Você está sofrendo de “amor impossível”. 
Já me disseram que para curar uma ferida de amor, o melhor mesmo é arranjar outro, e quer saber? Concordo plenamente, mas não levo o conselho ao pé da letra e não acredito que o remédio seja substituir uma pessoa por outra, mas sim uma tristeza por uma alegria, um dissabor por um prazer, uma amargura por uma delícia. Um novo amor não significa, necessariamente, um namorado novo; você pode se apaixonar perdidamente por um livro, por um curso de cerâmica, por uma aula de dança ou por uma ideia, um propósito, uma mudança de paradigma.
E é disso que "o lado bom da vida" é feito, estejamos nós falando do filme ou da nossa existência: da mudança de paradigma e da descoberta de um propósito. Da desistência de uma cisma amorosa, da aceitação de que não tem jeito, algumas vezes as coisas não saem como a gente gostaria, mas isso não quer dizer que estamos condenados à frustração. Da aceitação de que não, não em jeito meeeesmo, aquela figura com a qual você cismou, mas com quem a vida é complicada... não vai rolar! Um dia bom e dois ruins é a equação dos amores impossíveis: uma matemática que não leva a lugar nenhum, só mesmo ao fundo do poço.
O filme conta a história de um rapaz que está doente de amor e com o orgulho ferido. Que sofre por um futuro que imaginava traçado ao lado da mulher que foi embora. Que se recusa a enxergar a realidade dos fatos e está convencido de que seu amor é recíproco e eterno. Contra todos as evidências, ele opta por acreditar no que quer, mas mesmo assim sofre, e por quê? Porque está sozinho. Cadê a mulher?
Este é um caso típico de “amor impossível”, a tal cisma amorosa que falei antes.
Então a mudança de paradigma acontece sem que ele se dê conta, e isso é que faz o espectador acreditar no filme. Quantas vezes, na vida real, as pessoas solitárias vão para a noite na esperança de encontrar o amor e se esquecem de que, quase sempre, à noite todos os gatos são pardos... e o problema é acordar ao lado de um gambá na manhã seguinte...
Quantas vezes a gente está tão sozinho que se aventura a um “encontro às cegas” com o amigo do namorado da amiga, só para ter o desprazer de passar uma noite chatérrima aturando um “mala” que não tem absolutamente NADA a ver... ou arriscamos a sorte na Internet... o tentamos mais uma vez com uma figura saída do passado... quantas vezes queremos taaaaaanto encontrar alguém para amar que acabamos no fundo de um poço cheio de solidão, e com um gosto amargo na boca, um gosto de frustração e carência?
O lado bom da vida está em olhar para outra direção, compreender que a felicidade é muito, mas muito mais que ter um relacionamento amoroso, mas se por acaso a gente tiver a sorte de encontrar uma pessoa diferente do resto do mundo inteiro, e que ainda por cima tenha o dom de nos abrir para a vida... ai, como é bom viver! E é aí que está a graça do filme.


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Os Miseráveis: luxo total

Minha paixão por Jean Valjean já conta mais de vinte anos. Mais de uma vez devorei a obra-prima de Victor Hugo e descobri, a partir daquela história incrível, que meu coração também é parte francês.

Vi várias filmagens de “Os Miseráveis”e também a montagem teatral que foi, para mim, a melhor de todas as tentativas de adaptação de um enredo impossível de ser resumido ou recontado. Mas olha... fiquei quase duas horas e meia sem conseguir me mexer na cadeira do cinema diante da ópera que saiu da Broadway para a telona.
Não tenho ouvido de músico e mesmo assim percebi que alguns atores desafinaram. Aliás, quando soube que aquele gato, digo, aquele australiano chamado Roussell Crowe ia atacar de Javert, pensei cá com os meus botões:

"Mas o Gladiador além de tudo... canta?!"

Não, não canta, ou melhor, canta afinadinho com seu vozeirão, mas isso não importa porque ele dá conta do recado como o melhor Javert que já vi, inclusive faz um anti-herói que, pela primeira vez, divide o coração da plateia e faz o Jean Valjean de Hugh Jackman perder parte de seu eleitorado.

Ok, tirante Amanda Seyfried, a Cosette, e Samantha Barks, a Eponine, estas sim profissionais do gogó, a turma dos Miseráveis não ganha a vida cantando, mas mesmo assim todo mundo arrebenta. A Fantine de Anne Hathaway me levou às lágrimas quando cantou sua ária principal: merece Oscar, e o fato de desafinar só aumenta o valor de seu desempenho na atuação. No papel do pilantra Thénardier, Sacha Cohen dá um show e conquista o público que tem ojeriza aos seus filmes que beiram o nojento: eu, por exemplo, passei a respeitá-lo como ator.
Quando as luzes se acenderam vi que o cinema estava lotado, inclusive de crianças e de jovens que jamais imaginei capazes de aguentar cinco minutos de um musical, que dirá duas horas e meia de ópera. Lindamente ambientado, cantado e narrado, o romance de Victor Hugo mostra que permanece atual, tanto tempo depois de escrito. Fácil entender. A história contada neste filme fala de três perfis muito humanos: Javert, o homem que tanto busca ser correto que torna-se incapaz de ser generoso; Valjean, o pecador que busca a redenção e descobre a bondade e o amor; Thénardier, o mau-caráter incorrigível que no livro tem final feliz. Uma história que toca o coração do público porque trata das questões da alma,coisas que nem o tempo nem os costumes são capazes de deteriorar.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Final infeliz: nem sempre a culpa é da faxina

Enquanto o povo mais moderninho da Zona Sul das metrópoles jura de pés juntos que os homens de hoje cada vez mais cuidam da casa e trocam a fralda das crianças, uma pesquisa do IBGE diz que a coisa, na redundância da “verdade verdadeira” dos fatos... infelizmente não é bem assim.

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), nos últimos dez anos a situação continua a mesma na esfera doméstica, com as mulheres que enfrentam a dupla jornada  (ou seja, trabalham fora e dentro de casa) se esfalfando  cerca de 22 horas e 13 minutos semanais na labuta do lar, enquanto que a rapaziada vem bem atrás, com dez horas e oito minutos.
Certamente algum macho dirá que tudo já foi pior, afinal de contas houve tempo em que eles não gastavam um minuto sequer lavando um copo, que dirá dez horas!
E se quase nada mudou para a grande maioria, pelo menos as moças que vivem nos grandes centros urbanos já conseguiram estas dez horas... e agora querem mais. Prova disso são as pesquisas britânicas de sites especializados em divórcio (sim, isso existe!) que resolveram saber por que é, afinal de contas, que os casais andam se separando. Qual não foi a surpresa dos pesquisadores ao descobrir que o amor, ao menos naquelas bandas do globo terrestre, não resiste justamente à divisão de tarefas domésticas...
Aos mais românticos, que acreditam que o amor sempre vence no final, digo que já vi uniões duradouras acabarem pelas razões mais banais: tenho uma amiga que botou fim a uma vida em comum de vinte anos porque o marido fez pouco caso de um presente de aniversário caríssimo que ela havia lhe comprado. Ele não gostou e ela se encheu.
E sei de um casamento que acabou por causa de um pãozinho francês.  Melhor dizendo, porque a mulher matou a própria fome e não pensou na fome do marido. E olha que ela já havia comido os dois pãezinhos milhares de vezes no decorrer de alguns anos, mas um dia a casa (digo, a paciência dele), caiu.
Sei também de um rapaz que saiu de casa por culpa de uma bainha...
-- O quê?! Você não costurou a bainha da minha calça?! Mas o que é que te custava fazer a porra da bainha?! Quer saber de uma coisa? Eu é que não vou mais ficar casado com uma mulher que não faz as minhas bainhas!
Estes finais épicos existem, mas a gente há de convir que não há amor feliz que acabe assim, tão de repente...

Portanto, olhos abertos para o gérmen da separação, que cresce silencioso no dia a dia das chatices que são suportadas... suportadas... suportadas... até o dia em que aquela gota d´água cai de uma torneira qualquer e extravasa o copo da paciência, trazendo ao "lar, nem sempre doce lar" o dilúvio que engole a casa inteira, a noite, o dia, o futuro, e ainda faz daquele gérmen um verdadeiro Freddy Krueger capaz de meter as unhonas em todos os sonhos de final feliz, deixando jazer pela casa os corpos da insistência, boa-vontade, cegueira consciente e até mesmo da preguiça em tomar uma atitude.
É neste momento, de tragédia total, que a palavra FIM entra para sempre no roteiro da comédia-romântica, transformando-a em uma superprodução que o vento levou, num filminho B ou, nos piores litígios frente ao juiz, num filme de terror pra lá de trash. Ai, credo!