domingo, 10 de fevereiro de 2013

A fantasia que eu nunca mais tirei

Já tive fantasias de muitas coisas: Mulher Maravilha, Chiquita Bacana, espanhola estilizada e zulu: todas saídas dos mágicos carnavais da infância e adolescência, de quando as tias saíam do Rio de Janeiro para chegar à nossa casa no meio da madrugada e encher o quarto de tecidos brilhantes, contas coloridas, laços, tules, fitas e flores... sem nenhuma ideia pronta na cabeça, elas nos acordavam no meio da noite para tirar medidas e começar a costurar.

Parecia mágica mesmo: tudo ficava pronto da noite para o dia, a partir de um improviso criativo saído do amor que só as tias têm para dar. Minhas irmãs e eu fazíamos um sucesso danado com nossos modelos coloridos sempre muito leves, fresquinhos e que em nada nos atrapalhavam na hora de pular o nosso carnaval ao som das velhas marchinhas de sempre. E tão diferentes dos trajes pesados, cheios de pedrarias e plumas que nossas amigas usavam e com os quais mal conseguiamm dançar.
Mas a minha melhor lembrança de fantasia não vem do carnaval, e sim de um evento qualquer que houve na cidadezinha de Minas, quando eu tinha mais ou menos cinco anos: lembro vagamente de minha mãe me levando à casa da moça ruivinha e simpática que estava montando a estrutura de fios de metal e cobrindo-a com papel crepom vermelho. Eu mesma só fui entender do que se tratava no dia da festa, quando me vesti de morango e me encontrei, na quadra poliesportiva da cidade, com o restante da turma: havia uma menina, a Estefânia, com uma fantasia feita a partir de saquinhos de litro de leite, e lembro de uma outra, talvez a Jaqueline, irmã dela, vestida de espiga de milho. Mas posso estar confundindo a pessoa e o personagem, sabe como é, já faz muito tempo...
Estava hoje na pia da cozinha, lavando os morangos que comprei para a sobremesa, quando comentei com meu marido:
--Toda vez que vejo um morango fico triste por não ter uma foto daquele dia.
-- Você tem a lembrança, que vale mais.
Não preciso nem fechar os olhos para rever o sol da manhã de vestir a fantasia! E de sentir a armação balançando enquanto eu caminhava pela calçada, e a preocupação em não deixar que nada rasgasse o papel vermelho pontilhado de bolinhas pretas. Ainda sinto a alegria que foi constatar que eu não queria ser o leite, nem o milho, nem ninguém mais... porque estava feliz por ser eu mesma, naquela fantasia que me caía tão bem... será que foi ali que aprendi a gostar de ser quem eu sou? E a me sentir bem na minha própria pele? E a não querer ser mais ninguém?
Minha garganta se fecha quando vejo minha mãe feliz entre as pessoas, segurando-me pela mão, orgulhosa do único morango da festa. É uma gratidão que me sobe pelo estômago, uma gratidão de mais de 40 anos por esta lembrança gasta pelo tempo, mas cuja emoção nada é capaz de esgarçar... uma gratidão tão grande por eu ter sido sempre, vida afora, aquele morango feliz, e por sentir-me até hoje como o único morango da festa!

                                   Olha os meus primos aêêêê, genteeeee!!!!!

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11 comentários:

  1. Hermoso recuerdo, gracias por compartirlo !! Fernando

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    1. Gracias a usted, Fernando, por escribirme. Espero volver a verlo por acá. Saludos!

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  2. Eu acho que a minha mãe queria que eu fosse bailarina,pois todos os anos ela só me fantasiava dessa forma...

    Monica.

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    1. E você não tentou? (A única vez que quase fui bailarina deu errado e saí de palhaço... mas esta história eu conto depois). Beijos e vai aproveitar porque hoje é terça!!!

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  3. Muita gente prefere fantasiar-se de última COCA LIGHT do deserto. Pior que encarnam essa fantasia por toda vida.
    Sua recordação de melhor fantasia, merece 10, nota 10.

    ANTONIO CARLOS

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  4. Seu post está uma delícia, Chiquita Bacanérrima. Adorrei.

    Olha o que o Fernando Zacarias, o primeiro e único porta-estandarte do mundialmente famoso Galo da Madrugada -há 35 anos ininterruptos -, afirmou: posso dizer que tenho frevo no DNA e ser porta-estandarte vem de berço", assegurou. E Zacarias está passando tudo que sabe para o neto Vinícius, de 10 anos. "Nunca pensava nisso, quando ele mais novo pediu para eu fazer uma roupa [de porta estandarte] para ele. Hoje ele é o porta-estandarte mirim do Galo e oficial do Pinto da Madrugada", explicou.

    Concordo radicalmente com o Zacarias e não adianta querer gostar ou não do que entendo e sinto como carnaval e , aqui, deixo claro: belos sambas (especialmente), marchinhas e frevos e nada mais.

    Na verdade, como quase em tudo na vida, somos escolhidos... e o carnaval escolheu-o e a mim, "too", senão vejamos: Meu pai era presidente de um clube de futebol no interior de Minas, bancado por uma indústria de tecidos, que resolveu fazer desfile de carnaval, também. Ele teve a feliz idéia - há mais de cinco décadas - pelo meu talento inato e explícito para a folia, de colocar-me abrindo o desfile, juntamente com uma garotinha de mesma idade, como baliza e ela de porta estandarte (equivalente, hoje, a mestre-sala e porta bandeira). Era uma fantasia bem confeccionada (olha o capricho mineiro ,aí, geeente!), estilo reizinho, com capa e tudo. Sucesso foi pouco, afinal, crianças talentosas e bonitinhas sempre cativam, né? A fotografia deste momento mágico é a minha predileta dentre as milhares que possuo em diversas situações. Tenho a impressão de que o reizinho Lúcio , nunca mais perdeu a majestade, afinal, não sou pouca merda, sou penico cheio , de fato rs...e , até hoje, possuo a mesma paixão e participo ativamente (já fui até passista em escola de samba carioca, etc.) dos festejos momescos.

    Até os vinte e muitos anos, quando acabava o carnaval, chorava copiosamente. Começava , quando criança, na noite de terça-feira gorda...ao ver os adultos indo pro baile. E mais: músicas como As pastorinhas , Trem das Onze e outras pérolas... comovem-me às lagrimas.

    Até agora, os ritmos e melodias do samba, frevo e marchinhas, são os que dão-me mais tesão para cantar e dançar (muiiiiito bem, sempre ouvi dizer...tenho natural facilidade no gingado, e boa disposição, modéstia à parte) em qualquer época, inclusive no carnaval.
    Santé e axé!
    Marcos Lúcio

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  5. Bota uma foto vestida de Zulu!

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  6. Ô Marcos Lúcio,só falta vc falar que passou carnaval também em Recife,eu passei lá e adorei conheci o Galo da Madrugada,e o Pinto da Madrugada tambem,eu já conhecia Recife mas não no carnaval,só falta agora aparecer tambem o Ôvo da Madrugada,rs mas foi tudo muito legal!
    No ano que vem,vou escolher entre Recife e Salvador.

    Bjs procê.

    Monica.

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    1. Mônica querida!!! "marrrrrrelógico" que passei um dos melhores carnavais (são mais de 10.000...eu nasci há dez mil anos atrás...fui o muso inspirador do Raul Seixas rs) em Recife e Olinda (preferi este). E pretendo repetir a dose pois o TODOPODEROSO benevolente, ainda permite que eu caia na folia ou gandaia, como le gusta rs.

      Adooooooooooooro os frevos, principalmente do Alceu Valença.

      Salvador, desculpe, não suporto axé, é pouco...
      Abraçaços e beijaços procê.

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