segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Os Miseráveis: luxo total

Minha paixão por Jean Valjean já conta mais de vinte anos. Mais de uma vez devorei a obra-prima de Victor Hugo e descobri, a partir daquela história incrível, que meu coração também é parte francês.

Vi várias filmagens de “Os Miseráveis”e também a montagem teatral que foi, para mim, a melhor de todas as tentativas de adaptação de um enredo impossível de ser resumido ou recontado. Mas olha... fiquei quase duas horas e meia sem conseguir me mexer na cadeira do cinema diante da ópera que saiu da Broadway para a telona.
Não tenho ouvido de músico e mesmo assim percebi que alguns atores desafinaram. Aliás, quando soube que aquele gato, digo, aquele australiano chamado Roussell Crowe ia atacar de Javert, pensei cá com os meus botões:

"Mas o Gladiador além de tudo... canta?!"

Não, não canta, ou melhor, canta afinadinho com seu vozeirão, mas isso não importa porque ele dá conta do recado como o melhor Javert que já vi, inclusive faz um anti-herói que, pela primeira vez, divide o coração da plateia e faz o Jean Valjean de Hugh Jackman perder parte de seu eleitorado.

Ok, tirante Amanda Seyfried, a Cosette, e Samantha Barks, a Eponine, estas sim profissionais do gogó, a turma dos Miseráveis não ganha a vida cantando, mas mesmo assim todo mundo arrebenta. A Fantine de Anne Hathaway me levou às lágrimas quando cantou sua ária principal: merece Oscar, e o fato de desafinar só aumenta o valor de seu desempenho na atuação. No papel do pilantra Thénardier, Sacha Cohen dá um show e conquista o público que tem ojeriza aos seus filmes que beiram o nojento: eu, por exemplo, passei a respeitá-lo como ator.
Quando as luzes se acenderam vi que o cinema estava lotado, inclusive de crianças e de jovens que jamais imaginei capazes de aguentar cinco minutos de um musical, que dirá duas horas e meia de ópera. Lindamente ambientado, cantado e narrado, o romance de Victor Hugo mostra que permanece atual, tanto tempo depois de escrito. Fácil entender. A história contada neste filme fala de três perfis muito humanos: Javert, o homem que tanto busca ser correto que torna-se incapaz de ser generoso; Valjean, o pecador que busca a redenção e descobre a bondade e o amor; Thénardier, o mau-caráter incorrigível que no livro tem final feliz. Uma história que toca o coração do público porque trata das questões da alma,coisas que nem o tempo nem os costumes são capazes de deteriorar.

5 comentários:

  1. E o tipo de filme que se deve assistir pelo menos duas vezes.

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  2. Assistiria o filme, mesmo. Depois de sua percepção do mesmo, virou prazerozo compromisso á ser Cumprido.

    ANTONIO CARLOS

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  3. Assim como o genial Joãozinho Trinta transformou a miséria em arte, no memorável desfile da Beija Flor: Ratos e Urubus larguem minha fantasia, com muito mais poder esta produção oscarizável e impecável enche os olhos dos mais atentos e exigentes, esteticamente.Com uma série de aspirações republicanas retratadas em Os miseráveis, Victor Hugo, que era formado em direito, não desviou da carga crítica atrelada à política da época, nada generosa com aspirações da massa. Pessimista,(realista, prefiro) em parte, o musical traz pérolas como a pesada letra de I dreamed a dream: “Agora, a vida matou o sonho que sonhei”. Nesta façanha no filme, Anne Hathaway dedicou mais de oito horas à interpretação visceral e antológica da bela canção.
    O público -raríssimo, pois no Patropi ler clássicos é exceção_que já fez o filme do livro na sua cabeça quando leu , inevitavelmente diz: ‘Ah, não imaginava a personagem desta forma, ou falta aqui este diálogo.’ E são aspectos que têm de faltar, porque não se consegue pegar um livro e pô-lo tal e qual em filme, marrelógico, e nem teria porque, afinal, cinema é cinema e filme é filme...cada qual no seu quadrado.
    Jean Valjean é o personagem vivido por um Hugh Jackman que está irreconhecível, pois o ator passou por uma dieta de água, ficando 36 horas sem tomar líquido no intuito de adquirir a aparência envelhecida e os olhos ressecados. O sacrifício deu certo, e o personagem maltrapilho, preso há 20 anos por roubar um pão, assusta para logo mais se tornar o centro da história e do afeto do público e carregar o filme nas costas...sem desmerecer os demais.

    Os miseráveis já é o quarto musical mais visto dos últimos 40 anos.Estilizado, o drama cantado abraça uma narrativa derivada do teatro. E não seria de estranhar a coroação de um longa embebido do charme do DNA francês.
    O pitaquista-mor descobriu, através do Nuno Santa Clara que
    Eugène François Vidocq, foi uma figura ímpar em França e sua vida deu vários livros e vários filmes, distinguindo-se entre eles a figura de Jean de Valjean, incluída em “Os Miseráveis”, de Vitor Hugo.
    Depois de uma adolescência turbulenta, Vidocq viu-se metido nas guerras da Revolução Francesa, mas distinguiu-se mais como duelista e desordeiro do que como combatente.
    Abandonando a carreira militar, ingressou forte e feio no crime, acabando por ser condenado a oito anos de trabalhos forçados. Tentou se evadir, por mais de uma vez, e acabou por fazer um acordo algo insólito, para a época: trabalhar como informador e espião para a polícia francesa.
    Profundo conhecedor do meio, a sua nova vida foi um sucesso(...).
    É hoje considerado como o pai da moderna criminologia, até pelo seu lado científico. Atribui-se-lhe mesmo a fonte de inspiração para Sherlock Holmes.
    Como foi isto possível? Pelo conhecimento do meio e da mentalidade dos criminosos. Não tinha ele sido um deles?
    Um dos princípios da Justiça é o da recuperação do criminoso, mais do que a punição cega, que destrói por completo o cidadão.
    E mesmo em termos bíblicos, foi Jesus Cristo que disse que havia mais alegria no Céu por um pecador arrependido do que por noventa e nove justos que lá entrassem…
    Assim, se algum prevaricador for nomeado para altos cargos do Estado, não desesperem: ele, melhor que ninguém, conhece todas as golpadas. E se, como Vidocq, entrar na senda do Bem, será tremendamente eficaz, como aquele francês ilustre.
    E até haverá grande alegria no Céu, por mais um arrependido.
    Santé e axé
    Marcos Lúcio

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  4. A pergunta que não quer calar: por anda anda a Gilda??? Tomara que esteja em Paris e feliz. O C.P.F.A.S está sentindo falta da estimada diretora.Aguardo notícias.
    Abração pra ela.
    Marcos Lúcio

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  5. O melhor filme de temática espírita que assisti nos últimos tempos! Temas como amor ao próximo (caridade), perdão (forma de caridade), reforma íntima (evolução moral), imortalidade da alma, lei de causa e efeito (ou ação e reação, ou seja, o Bem resulta em Bem e o mal resulta em mal, para quem os faz) são tratados de forma magnífica.O filme, com muita arte, ressalta mais a dramaticidade das canções do que seu aspecto técnico e tem um final esplêndido...e, claro, uma história sempre atual, clássica, pelo menos enquanto sobre a terra houver ignorância, injustiça, redenção, esperança, amor e miséria. O dilema proposto por Victor Hugo entre prezar pelo próprio bem ou lutar pelo bem de todos permanece, ainda e em parte, incrivelmente atual , não obstante o cínico pensamento único e estúpido neoliberal que coloca o individualismo egóico e supercompetitivo em primeiro lugar...os resultados estão aí - catastróficos - para quem ainda tem um lampejo de humanismo e/ou consciência.
    Celso.

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