terça-feira, 12 de março de 2013

O Bicho Papão da velhice quer comer você

Engana-se quem pensa que Bicho Papão é coisa da infância. Ele aparece mesmo é na vida adulta... aí é que "são elas", como diz o povo que já chegou à minha idade, e sabe por quê? Porque a gente tem que começar a encarar o medo da velhice e da morte. Quer Bicho Papão mais papudo do que este?

Já vi vários filmes que tratam deste assunto, e em sua maioria resvalam no medo, na recusa, na rebeldia, no culto à juventude. Em quase todos, envelhecer é uma tragédia e ser velho é o fim e tudo: das possibilidades, do desejo, da alegria, da esperança e até da criatividade.

Ninguém aqui está dizendo que "dobrar o Cabo da Boa Esperança" é uma delícia. Claro que não é. Ser jovem e forte é um barato! E claro que a gente treme nas bases quando percebe que o corpo já não é o mesmo... que o tempo está passando, incansável, inexorável, indiferente à vaidade tão típica da juventude, quando a gente é forte, é lindo e poderoso, e de quebra ainda se vê como donos do mundo, afinal... somos imortais!
Está em cartaz mais uma história sobre o assunto, o filme "Amigos Inseparáveis", que não é grande coisa e não se salva nem mesmo pelo desempenho de Al Pacino, que desta vez não convenceu: acho que nem ele gostou do roteiro. Christopher Walken sim, está ótimo, mas o papo aqui é simplesmente o fato de que quase sempre os filmes sobre a Terceira Idade tropeçam na nostalgia (e caem!). Então pergunto: não dá pra envelhecer de outro jeito? Não é possível chegar à velhice e vivê-la sem sofrer como um prisioneiro da saudade?


"Elsa e Fred", comédia argentina de alguns anos atrás, e cuja foto está aí ao lado, caminha neste sentido ao mostrar a velhota que é cheia de vida até o fim e que decidiu viver apesar de ter envelhecido, já que não entrou numas de crer que estar vivo é coisa de gente jovem e com saúde. O filme bem poderia ser um drama, mas foi feito como comédia acho que justamente porque este personagem é quase irreal e só cabe em um roteiro de cinema se for pra fazer rir.
 
Deixemos de lado o blá-blá-blá da aposentadoria ruim, da incapacidade crônica que a nossa sociedade tem para lidar com os velhos e de que a saúde se fragiliza e eticétera e tal. Não é disso que estou falando, e sim de uma outra questão também  impactante: a questão individual e personalizada da velhice. Como é que eu, que já estou com 45 anos, vou conduzir a minha cabeça, os meu olhos, a minha percepção e o meu cotidiano em relação a este processo que já começou, e que é uma fase da minha vida?
Vou lutar contra? Vou entregar os pontos? Ou tentar enveredar por este caminho e descobri-lo sem medo, sem vergonha e sem preconceitos? Aberta ao que poderei ter de bom (afinal quem é que sabe do destino?).
Vou viver de saudade e sofrer por aquela pessoa que eu fui, e que já não sou mais? Ou me envolver cada vez mais com esta pessoa que eu sou, de modo a não perder o gosto pela vida? Vou acabar morrendo de medo de morrer ou vou encarar este temor e enfraquecê-lo?
Esta ideia de que a velhice é o começo do fim é uma mentira! O fim está sempre por perto de quem está vivo: de tão frágeis que somos, e de tão imponderável que é a existência, podemos morrer a qualquer momento. Em contrapartida, pessoas que se julgam (ou são julgadas) como pés-na-cova, com frequência vivem ainda por muitos anos e realizam muitas coisas... chegam até a enterrar filhos e netos, quem diria?
Não, talvez não seja bom o caminho do trio aí de baixo, que se rebela contra a natureza e não se aceita como gente que chegou "lá". Quem sabe o melhor seja viver as mudanças em vez de desejar  morrer por causa delas?


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Todo mundo é pé-na-cova

7 comentários:

  1. Fernanda,

    Nao e coencidencia, sim porque ela nao existe para mim.....acabei de ver um video, uma palestra justamente sobre o assunto do coach seu post anterior e sobre o envelhecer.....veja e claro que tambem tenho medo de envelhecer, mas nos envelhecemos desde o dia que nascemos, e o nosso corpo se modifica a cada instante, nascemos bebes, viramos criancas, depois adolescentes, adultos, depois meia idade, enfim .... e tambem morremos a cada instante ... (quer dizer o corpo, a materia), totalmente diferente do ser eu, Gilda, esta sim nunca ira morrer, o nome sim, mais eu como voce, como todo mundo, nao iremos morrer jamais... pelo menos e isso que eu acredito, independente de qualquer religiao......para mim e um estado de consciencia.....todos nos temos alguma coisa diferente tal como impressao digital.....nossas linhas dos dedos (para ser mais clara), nao tem igual....pode !! quase 7 bilhoes de habitantes no planeta terra e nenhuma igual ......
    E por falar do filme Elsa e Fred ... eu adorei e recomendo este filme para qualquer pessoa, ele nos ensina muito, atraves de um jeito leve, tipo comedia em muitas cenas, principalmente a do restaurante ....

    Ja fui jovem (bem nao sou tao velha assim rsrrsr) e se voce quer saber, nao tinha um terco do conhecimento que tenho hoje, agora se voce me perguntar: Voce gostaria de voltar a ser jovem? Eu iria te responder claro !!!! mas com o conhecimento que eu tenho hoje, do contrario nao ia me valer de nada......Fernanda, 45 anos ... voce ainda e uma menina, portanto aproveita, bjs.

    Felicidades,

    Gilda Bose

    B

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    1. Gilda, eu também acho que coincidência, assim como a morte, não existe. O que existe é a visão curta, que faz com que a gente se iluda a respeito destas duas coisas. E vou te contar: eu aproveito a vida o máximo que posso, tento enxergar o milagre nas "pequenas coisas", que de pequenas não têm nada e são, na verdade, as maravilhas da vida. É esta, aliás, a mensagem principal que tento passar aqui no blog, que está virando uma rede de gente que pensa igual. Gente como você, por exemplo. Isso não é jóia? Bjão

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  2. Viver a velhice , inevitável, exceto prá quem morre jovem, parece-me difícil para quase todas as pessoas, inclusive prá mim. Certo qua a morte inicia-se no momento mesmo em que nascemos. Freud ratificava essa verdade inquestionável nos anos 1920 do século passado. Certo que podemos morrer fisicamente em qualquer etapa da vida terrena, e não , apenas na velhice.
    O sofrimento com a velhice ou a proxmidade cada vez maior da mesma, nem sempre é por vivermos ancorados em imagens pretéritas, mas sim, pela reakidade do aqui e agora. Realidade que, mesmo, quando ausente de doenças incapacitantes de qualquer ordem, ´constitui-se muito mais de perdas do que conquistas. Já li e ouvi entrevistas com pessoas como Chico Buarque e Caetano Veloso, ARTISTAS lúcidos e criativos, em que deixam claro que estar cada vez mais velho, é uma merda. Também sinto assim, o que não significa, tanto quanto prá eles, na nõ aceitação dessa fase da vida. Aceitação crìtica, apenas isso. Não por acaso, os ARTISTAS citados relacionam-se com mulheres com metade ou menos que isso, de suas idades, o que também faço. É muito gratificante , quando, no percurso inexorável rumo à velhice, temos como companheiras de viagem, uma mulher mais jovem, bela e independente, em todos os níveis. Generalisando e portanto, admiyindo exceções, mulheres mais velhas são preenhes de amargura, frustrações e até mesmo, ressentimentos com a figura masculina, por conta de suas relações passadas, não parecendo-me a mehor companhia para um homem em envelhecimento.
    Perdoe-me a acidez, mas, nada é mais ridículo do que grupos de velhinhos felizes da melhor (?) idade. Jamais participaria de um desses grupos, verdadeiros estímulos à ativação da memória da morte definitiva de nossos corpos.
    Finalisando, reitero colocação feita em postagem anterior: desejo deixar esse planeta antes que a velhice exagerada possa transformar-me num estorvo para quem amo. Viver, sim, enquanto tiver plena autonomia sobre minha existência e prazer em SER--NO MUNDO. Diferente disso, prá mim, não é vida.
    ANTONIO CARLOS

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  3. Para abrir os trabalhos rsrs, considero envelhecer um privilégio...além de democrático e inexorável para quem ultrapassa o "cabo da boa esperança". Pior é sair do palco da vida precocemente, né? Como já tenho idade de ser considerado velho, por aqueles incautos, incultos ou detentores de velhos preconceitos, afirmo: é possível na terceira idade ser ativo, saudável e produtivo...quem me conhece não esquece disto jamais rsrs. Sem contar que faço parte do segmento social mais discriminado da sociedade, o que poderia ser um agravante e que superei.Aliás, conheço uma blogueira talentosíssima, ainda uma menina de 45 aninhos, como bem lembrou a Gilda, e que fez uma entrevista no dia 10/01/13 neste imperdível blogue, com a sra. Marina Paiva, de 87 aninhos, onde o infundado medo de envelhecer cai por terra; alíás, considero a melhor entrevista que li neste espaço.A velhice é muito mais um estado de espírito do que de corpo. E evidências e exemplos não faltam. Quem a aceita, aproveita o que dá e o que resta. Se somos autosustentáveis, se ainda podemos nos locomover ou desfrutar dos atrativos da vida, aproveitemos com certa urgência, antes que uma fatalidade tipo AVC, cirurgia repentina (Deus nos livre e guarde, amém!), nos impeça...afinal o futuro, neste caso, é hoje, ou de curtíssimo prazo rsrs.

    Jamais confundi velhice com doença e prefiro mil vezes ser um idoso saudável a ser um jovem doente, marrelógico! E digo mais: como Deus ainda tem sido benevolente e permitido que eu tenha saúde -noves fora meus eternos cuidados com ela- assim como a Marina, vivo só (sem jamais ter sentido solidão) e os últimos 15 anos tem sido os melhores da minha vida...sou entusiasmado, curioso, de muitos gostos culturais, amante da natureza, apaixonado pelo saber(inesgotável) relevante, hiper ativo e de enorme resistência fisica, que busco preservar da melhor forma possível, benza Deus! Se todos os amigos confirmam e concordam, então não é caduquice minha rsrs. Certamente posso até ser antigo (antiguidade tem valor), mas jamais serei velho (inútil), enquanto saúde física e mental houver em mim.

    Porém penso que para aquelas pessoas que somente acumularam dinheiro, somente se dedicaram ao trabalho e esqueceram da importância do cultivo das boas amizades e dos novos aprendizados, envelhecer torna-se uma tragédia, de fato. As "tadinhas" apodrecem antes de amadurecerem. Na verdade esta fase final da vida é , inevitavelmente, um processo resultante do que planejamos, plantamos, cultivamos, enfim, da nossa preparação ao longo da vida.Cada fase tem seus prós e contras e nesta etapa não existem correrias, competições, ansiedades, dúvidas ...mas somente se for maduro, de fato, afinal como disse Machadinho: muita gente chega aos cinquenta sem sair dos quinze. E assim caminha a humanidade.
    Santé e axé!
    Marcos Lúcio

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  4. Somos uma das geracoes abencoadas, pois temos maravilhosos avancos da medicina que nos dao qualidade de vida na terceira idade, e temos o privilegio de morrer, pois acho que no futuro as pessoas nao morrerao mais (que saco!).

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  5. Eu aguardo a velhice e a morte numa boa,desde que as duas só venham quando os meus filhos estiverem com suas vidas resolvidas.

    Até porque,a gente aceitando ou não,as duas chegam para todos com uma excelente pontualidade.

    Monica.

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  6. Também tenho medo desse bicho papão como você..bem vinda ao hime querida. Sem conselhos para te dar..bjo

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