terça-feira, 30 de abril de 2013

Que me transformo

Acende a luz, amor, que já não tarda,

Ver-me selvagem, e tanto, que já ouso
Tirar a roupa e me livrar até dos pelos
Pra, como índia, me fartar do teu desvelo
Sem que haja entre nós dois nem uma linha,
Um fio só, que nos separe alma e corpo.


Abre a janela, amor, eu quero a luz
Pra que me vejas, toda, enquanto pouso,
Em cada fio, um a um, dos teus cabelos...


E abre os braços, pra que eu, como avezinha,
Possa voar sobre o teu corpo posto em cruz.


Depois de tudo, amor, abre teu peito:
Que eu, que já fui ave e já fui índia,
Só quero ser o teu amor-perfeito.

(Fernanda Dannemann)

domingo, 28 de abril de 2013

Rocambole, bole, bole, booooole...

Não há pretexto melhor que o aniversário de uma amiga querida pra eu correr logo pra cozinha e bater um bolo. Desta vez, o escolhido foi o sr. Rocambole!

 


Ficou com vontade? Vai a receita...

8 ovos

7 colheres (sopa)  de açúcar

7 colheres (sopa) de farinha de trigo

1 colher (sopa) de fermento.

Bata as claras em neve e reserve. Em outra tigela, misture as gemas com o açúcar, depois junte a farinha e o fermento. Quando a massa estiver homogênea, misture as claras em neve e leve ao forno (médio) para assar (mais ou menos 60 a 70 minutos). Depois de pronto, use o recheio de sua preferência e cubra com açúcar misturado com canela, ou com açúcar de confeiteiro.



Ok, ok... como nos livros de receita que a gente compra, tudo parece simples, lindo e maravilhoso, né? Pois só parece! O rocambole é um desafio dos maiores, e exige pequenos detalhes... caso contrário... a tragédia está feita.

Lá vão as dicas que o livro de receitas das chefs da moda não dá:

1-    O ovo não pode estar gelado

2-    A farinha deve ser peneirada

3-    O forno deve ser ligado no momento em que você começa os trabalhos

4-    Unte a forma e polvilhe com farinha de trigo antes de começar a massa

5-    Basta um só pingo de água (ou os batedores molhados) para que as claras jamais cheguem a virar neve

6- Importantíssimo: quando misturar as claras em neve com a massa, não mexa demais, nem muito rápido. Faça movimentos circulares bem devagar, e não precisa misturar até que as claras desapareçam totalmente na massa. Este aqui é o ponto crucial do rocambole...

7-    Feche as janelas antes de tirar o bolo do forno. Uma leve brisa na cozinha e o bolo murcha

8-    Desenforme o bolo sobre um pano de prato limpo e molhado, pra facilitar na hora de enrolar

9-    O bolo deve ser enrolado quente. Se esfriar, quebra.

10-    Se for dar o bichão de presente, corte as extremidades e prove, pra ter certeza de que a massa está fofa e perfeitamente cozida.
 
11 - Esta é a dica mais importante de todas: lembre-se de que o rocambole não é para você. É um presente. Se quiser, faça outro e coma tudo sozinha (antes que o marido chegue e peça um pedaço...).

                                                              Este aí é só pra mim!!!!

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Auto-biografia em Cinco Pequenos Capítulos


                                                                    I

Eu caminho pela rua.
Há um buraco fundo na calçada.
Eu caio dentro dele.
Eu estou perdido... estou desamparado.
Não é culpa minha.
Leva um tempão para encontrar a saída.

II

Caminho pela mesma rua.
Há um buraco fundo na calçada.
Finjo que não o vejo.
Caio dentro de novo.
Não posso crer que esteja no mesmo lugar.
Mas não é culpa minha.
Ainda leva muito tempo para sair.

III

Eu caminho pela mesma rua.
Há um buraco fundo na calçada.
Eu vejo que ele está lá.
Eu ainda caio... é um hábito.
Meus olhos estão abertos.
Eu sei onde estou.
É culpa minha.
Saio imediatamente.

IV

Eu caminho pela mesma rua.
Há um buraco fundo na calçada.
Eu passo ao redor.

V

Eu caminho por outra rua.

(Portia Nelson)

 

quarta-feira, 24 de abril de 2013

MAR e MAM: o primo rico e o primo pobre

Ontem, feriadão ensolarado no Rio, passei em frente ao MAR, o novo museu que virou coqueluche. A fila na entrada (como sempre) dava voltas, gente de todas as idades e classes sociais, uma cena tão bonita de se ver quanto os quadros que estão expostos lá dentro...



E então passei pelo MAM, o Museu de Arte Moderna, e confesso que não entendi por que é que há tanto investimento de grana e de publicidade ali na Praça Mauá, enquanto que bem perto, em pleno Aterro do Flamengo, a gente se sente em outro país... ou melhor, a gente sente que voltou ao Brasil. O MAM estava às moscas! Lixo por toda parte, o chão sujo, a grama alta e queimada, a aparência de abandono... havia até gente tomando banho no jardim e pendurando as roupas na grade do estacionamento... na maior naturalidade! Pena que fui pega em flagrante por eles no momento de fazer a foto...

Mesmo ali, encravado de frente para a Baía, cercado pelo jardim de Burle Marx e pelo céu aberto de um azul que só o Rio tem, mesmo dispondo de um prédio que é verdadeira obra de arte... o MAM me pareceu agonizante no feriado de sol... um quadro triste de se ver, e no entanto uma cena brasileira tão típica quanto uma tela de Tarsila ou Portinari... daquelas que estão lá dentro, esperando quem as queira admirar.







terça-feira, 23 de abril de 2013

Valei-me Jorge, contra o dragão da Ignorância!




Eu andarei vestida e armada com as armas de São Jorge
para que meus inimigos, tendo pés, não me alcancem;
tendo mãos, não me peguem;
tendo olhos, não me exerguem;
e nem pensamentos eles possam ter para me fazerem mal.
Armas de fogo ao meu corpo não alcançarão,
facas e lanças se quebrarão sem ao meu corpo chegar,
cordas e correntes se arrebentarão sem o meu corpo amarrarem.


Jesus Cristo me proteja e me defenda com o poder de Sua santa e divina Graça,
Virgem Maria de Nazaré me cubra com o Seu sagrado e divino manto, protegendo-me em todas as minhas dores e aflições;
e Deus, com a Sua divina misericórdia e grande poder, seja meu defensor contra as maldades e perseguições dos meus inimigos.
Glorioso São Jorge, em nome de Deus, em nome de Maria de Nazaré, e em nome da falange do Divino Espírito Santo, me estenda o seu escudo e as suas poderosas anulas, defendendo-me, com a sua força e com a sua grandeza, do poder dos meus inimigos carnais e espirituais, e de todas as más influências;
e que debaixo das patas de seu fiel cavalo, eles fiquem humildes e submissos, sem se atreverem a ter um olhar sequer que me possa prejudicar.

Assim seja, com o poder de Deus, de Jesus e da falange do Divino Espírito Santo.
Amém.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Margaret Thatcher e o orgulho de ser mulher

“As pessoas não pensam hoje em dia: elas sentem.

“Como está se sentindo?” “Não me sinto confortável” “Oh, lamento, nós, o grupo, sentimos...”

Sabe, um dos maiores problemas da nossa geração é sermos governados por quem liga mais para os sentimentos do que para os pensamentos e ideias. Pensamentos e ideias me interessam. Pergunte em quê estou pensando.".
(Margaret Thatcher)




"Cuidado com seus pensamentos; eles podem se tornar palavras.

Cuidados com suas palavras, elas podem se tornar ações.

Cuidado com suas ações, elas podem se tornar hábitos.

Cuidado com seus hábitos, eles podem se tornar seu caráter.

Cuidado com seu caráter, ele pode se tornar seu destino”.

domingo, 21 de abril de 2013

Sonhar não custa nada...

 
Eu chamei a Susie de cérebro de minhoca depois da aula e ela foi chorando pra casa.
- Nooossa! Por que você fez isso?
- Eu estava brincando.
- Parece que você a magoou.
- Nao pensei que ela iria levar para o lado pessoal.



Aquele Calvin estúpido! Por que ele me xinga por nada?
- Eu gostaria de ter centenas de amigos. Então eu não me importaria. Eu diria: quem precisa de você, Calvin? Eu tenho centenas de outros amigos!
- Então meus cem amigos e eu iríamos fazer alguma coisa divertida e deixaríamos o Calvin sozinho. Há!
- E já que estou sonhando, eu gostaria de ter um pônei.


quinta-feira, 18 de abril de 2013

Frase do dia


“A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás, mas só pode ser vivida olhando-se para frente”.
                                                                                                                     (Kierkgaard)


 

terça-feira, 16 de abril de 2013

Psicórdica


Vamos dormir juntos, meu bem,

sem sérias patologias.

Meu amor é este ar tristonho

que eu faço pra te afligir,

um par de fronhas antigas

onde eu bordei nossos nomes

Com ponto cheio de suspiros.

(Adélia Prado)

quinta-feira, 11 de abril de 2013

O amor nos tempos de Gaza

O nome do filme é “Uma garrafa no mar de Gaza”, e vou te dizer: é lindo!

Lindo porque tinha tudo para acabar de maneira previsível, mas não acaba. O clima de tragédia permeia cada minuto da história... uma pálida ideia de como deve ser viver em um lugar onde uma existência inteira pode acabar sem aviso, um lugar onde o medo está em todos os cantos e a paz é um devaneio: não, não estamos falando do Rio de Janeiro. Desta vez o drama é na Palestina.
A garrafa viaja pelas águas levando uma mensagem de Jerusalém. É a moça judia que escreve para quem quer que esteja do outro lado do mar. E o rapaz, lá na outra margem, é quem responde.
Pronto! Começa a beleza da descoberta das diferenças; acima de qualquer disputa ou ódio cego, a beleza do encontro entre dois seres humanos. Os fatos vão se desenrolando ásperos no dia a dia da guerra ao mesmo tempo em que a sede de vida e de liberdade toma de assalto os dois desconhecidos. Por que esta guerra? Por que matar ou morrer? Por que tanto medo e terror?
O amor em sua plenitude é o que emerge: o amor de um ser humano por outro, a empatia que torna-se maior que qualquer rixa histórica e sem remédio. Diante da tela, a gente se dá conta do quanto uma pessoa é passível de influenciar os acontecimentos e mudar a vida de outra, para o bem ou para o mal, mesmo que longe, mesmo que desconhecida, mesmo que impossível.
Esta singela história de amor e amizade, tão poética quanto verossímil, vem tratar exatamente disso: da esperança que é capaz de lançar ao mundo um coração puro e pacífico. Somos todos responsáveis pelas sementes que jogamos ao vento; todo ato tem sua consequência, de toda influência um fruto há de brotar.

Aí é que se encontra a verdadeira herança que podemos deixar desta vida: a emoção boa ou má que plantamos na memória e na alma de quem cruza o nosso caminho.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Na TPM, céu de brigadeiro!

Se tem uma coisa que homem nenhum deste mundo terá o prazer de saber um dia, é o valor que tem uma boa TPM!

Sim! Hoje estou aqui pra falar bem da maldita. Falar bem, não. Falar “ótimo”!
Como o leitor há de ter percebido pelo meu sumiço, e já há de ter sacado pelo rumo desta conversa... tive uma TPM nojenta por estes dias. E com tudo o que tinha direito: chorei, deprimi, “enxaquequei”, gastei, comi, briguei, discuti, dormi e tive vontade de morreeeeeeeer...
Agora, graças ao Pai do Céu, estou de volta, tal qual fênis ressuscitada (ou melhor, renascida).
E venho a público dizer que TPM é o seguinte: em primeiro lugar, um perigo, porque a gente pira total na batatinha, fica valente e sai encarando qualquer valentão pela rua, principalmente aqueles que fazem bandalha no trânsito e mandam a gente pilotar o tanque ou o fogão.
E as velhinhas? Well... as velhinhas são um capítulo à parte.
Todo mundo já sabe que, embora eu me amarre em bater papo com velhinhas, volta-e-meia uma delas cisma de implicar comigo. Desta vez, fui chamada de “descompensada” por uma delas, que me viu batendo boca com uma vendedora de loja que me atendeu mal. E só porque eu, depois de ser maltratada seguidas vezes, dei um passa-fora na sem-educação que estava do lado de dentro do balcão. Saí da loja e, ali meia-dúzia de passos depois, voltei pra dizer pra moça deixar pra lá, e que eu ia fazer o mesmo... e que deveríamos ter então um bom dia depois de feitas as pazes. Mal cheguei e a velhota, que não me viu, estava dizendo:
-- Liga não, ela é descompensada!
E eu grunhi, bem ali ao lado dela:
-- QUEM é descompensada?
A velhota deu um salto, quase foi parar no teto com o susto e gaguejou:
-- Ninguém não, tô contando aqui um outro caso pra ela...
O susto da velhota parece que contagiou a vendedora, que deu no pé na mesma hora e foi sei lá pra onde.
Fiz o mesmo: dei no pé. E resolvi devorar uns brigadeiros pra compensar o aborrecimento.
É o seguinte: quando fico atacada dos “nelvos”, só mesmo uma, duas, três rodadas de brigadeiros são capazes de me acalmar. Nestes dias de crise, sou capaz de traçar um brigadeiro grandão em apenas duas bocadas e engolir tudo sem nem mastigar. Meu marido acha um absurdo e gosta de ir comigo só pra dar risada junto com a vendedora. Ele não entende que é um devorar por devorar, uma busca sôfrega por serotonina na veia e um “zero total radiante” de civilidade ou culpa: prazer selvagem de saciedade, volúpia inconsequente de um deleite carnal que, além de tudo, só vai fazer mal (porque engorda e aumenta o colesterol), mas é de delícia total até mesmo esta consciência, a de que trata-se de um prazer puramente corpóreo e material.
Na TPM, um brigadeiro pode ser melhor que sexo, ainda que seja um sexo “daqueles”... e melhor que comprar uma roupa nova naquela loja carérrima... a gente mastiga, mastiga... e pensa nos brincos que comprou, mas que não devia ter comprado, porque precisa economizar... pensa que se sente um traste quando se olha ao espelho, e nada dá um jeito neste cabelo langanhento, mas foda-se! A gente mastiga, mastiga...  e pensa até que escreveu “foda-se” na Internet, mas...aaaah, foda-se!
Nestes dias do mês, toda mulher tem a sorte de entrar em contato com aquele seu lado selvagem, que há milênios vem sendo domesticado... e taí uma coisa que os homens jamais terão o prazer de experimentar! Eles nunca saberão o que é ter os hormônios dançando loucamente pelo corpo e deixando a gente num estado de libertação que nenhum Gatorade com vodca é capaz...
Os hormônios ficam doidos e quebram o cadeado que aprisiona aqueles sentimentos e instintos mais básicos: a sensibilidade, a fúria, a mágoa, os desejos, as necessidades ... e aí a gente suporta menos, se adapta menos, se enquadra menos, aceita menos... e se enerva mais, se rebela mais, se cansa mais... e até grita e se exaure mais... antes que tudo se acalme dentro do corpo e as coisas voltem a ser como antes.

A gente está livre para as maiores doideiras, inclusive brigar com o chefe e pedir o divórcio, mesmo sabendo que as chances de ter que pedir desculpas depois são enoooooormes. E daí? A gente pede, mas primeiro é preciso fazer a besteira, porque sem besteira não se vive!
E toma brigadeiro! E come, come... que é pra mandar para o espaço toda a culpa que está ali, atrás da porta, só esperando a TPM passar... e aí, minha nega... não vale mais chorar de arrependimento, porque a TPM já passou!
 


domingo, 7 de abril de 2013

O Rio da van que Tom Jobim não cantou

Chegamos ao ponto em que a França aconselha o povo a ter cuidado com as vans cariocas. Francês é um povo gentil. Deveria mesmo era aconselhar a evitar o Rio de Janeiro, onde a violência explode sem hora nem lugar. Uma van, um ônibus... não há limites para o perigo. Enquanto lá na Palestina as bombas explodem sem aviso e botam a população em estado de terror, aqui no Rio moradores das favelas também sabem muito bem o que é isso. Temos até a nossa própria Faixa de Gaza...

Conheço um casal português que já viajou por muitos lugares e adorou passear por dentro de uma mina na Bolívia. A dupla considerou exótico olhar nos olhos dos mineiros lá embaixo, imagine você... e achou pitoresco passear de carrinho por dentro da mina, enquanto assistia, de camarote, o trabalho em péssimas condições daqueles bolivianos. É mais ou menos assim que os turistas reagem quando vêm às favelas cariocas e desbravam o mistério das ruelas pobres, onde o calor dos trópicos e a simpatia do povo parecem encher a realidade de poesia. Mal sabem eles! O Rio é lindo na poesia de Tom Jobim... e quanto desgosto teria o Maestro se visse a cidade nos dias de hoje! Pergunte agora ao casal torturado na van dos estupradores o que é que eles acham do Rio. Pergunte ao grupo de alemães, rendido na Estrada das Paineiras dias atrás, e assaltado à mão-armada...
Nós, que nascemos, crescemos e nos acostumamos a viver numa cidade violenta, estamos também acostumados aos maus-tratos das autoridades: veja que os policiais abordados nas Paineiras pelo tal grupo alemão sugeriram que eles ligassem para o 190! E que as moças brasileiras estupradas naquela mesma van nem se deram ao trabalho de prestar queixa... e a que correu à Delegacia (Delegacia Especial de Atendimento à Mulher, hein?) não foi atendida como deveria. Veja o absurdo que é você sair para o trabalho e não saber se estará de volta para o jantar, porque pode acontecer de um doido violento dar pontapés na cara do motorista do ônibus e você morrer ali mesmo, no ônibus que despenca do viaduto.
Ontem fui ver um filme lindíssimo sobre como floresce o amor em plena guerra na Palestina, e saí do cinema em estado de graça, diretamente para o trânsito caótico da Cidade Maravilhosa. Enquanto dirigia e me vigiava para não entrar no clima de agressividade que impera no Clube dos Motoristas Cariocas, pensei que o Rio não é a Faixa de Gaza, não, não é... mas a violência entre nós explode tão repentina e virulenta quanto lá naqueles lados do mundo, onde as famílias se espremem de pavor ao som dos aviões e cobrem com as mãos os ouvidos das crianças. Lá, o povo grita e se desespera, conforme nos mostram as reportagens de TV... o povo não se acostuma... a ponto de haver jovens como o israelense Nathan Blanc, que prefere a pecha de "traidor" a vestir a farda e ocupar territórios palestinos.
Aqui no Rio, onde a guerra é civil e continua partindo a cidade, apesar das Unidades Pacificadoras, a gente baixa a cabeça para o terror, a gente se rende ao absurdo que é ver várias pessoas morrendo em decorrência de uma briga entre um motorista despreparado e em péssimas condições de trabalho, e um estudante com antecedentes de violência. Nosso estado é palco de cerca de 16 estupros por dia... mas dá-lhe Jornada da Juventude, Futebol e Olimpíadas, dá-lhe!, e o carioca, que já não sei se padece mais de cegueira ou de narcisismo, entra cada vez mais fundo na onda de que a cidade é o Paraíso na Terra. Já disseram até que o Rio é melhor para passear do que Paris... alguém acreditou nessa, Jesus?
Da história de amor na guerra da Palestina eu falo depois. Aqui nestas linhas não há espaço para a beleza. Só mesmo para a tristeza que é este Rio de Janeiro esquecido por Deus.

sábado, 6 de abril de 2013

Desiderata

Siga tranqüilamente entre a inquietude e a pressa
e lembre-se de quanta paz há no silêncio.
Tanto quanto possível, e  sem humilhar-se,
mantenha-se em harmonia com todos que o cercam.
Fale a sua verdade clara e mansamente,
E escute a verdade dos outros, pois eles também têm a sua própria história.
Evite as pessoas agitadas e agressivas: elas afligem o nosso espírito.
Não se compare aos demais, olhando as pessoas como superiores ou inferiores a você:
isso o tornaria superficial e amargo.
Viva intensamente os seus ideais e o que você já conseguiu realizar.
Mantenha o interesse no seu trabalho;
por mais humilde que seja,
ele é um verdadeiro tesouro na contínua mudança dos tempos.
Seja prudente em tudo o que fizer, porque o mundo está cheio de armadilhas,
mas não fique cego para o bem que sempre existe
em toda parte; a vida está cheia de heroísmo.
Seja você mesmo,
sobretudo, não simule afeição e não transforme o amor numa brincadeira,
pois no meio de tanta aridez, ele é perene como a relva.
Aceite, com carinho, o conselho dos mais velhos
e seja compreensivo com os impulsos inovadores da juventude.
Cultive a força do espírito e você estará preparado
para enfrentar as surpresas da sorte adversa.
Não se desespere com perigos imaginários:
muitos temores têm sua origem no cansaço e na solidão.
Ao lado de uma sadia disciplina conserve,
para consigo mesmo, uma imensa bondade.
Você é filho do universo, irmão das estrelas e árvores,
você merece estar aqui e, mesmo que você não possa perceber,
a Terra e o Universo vão cumprindo o seu destino.
Procure, pois, estar em paz com Deus,
seja qual for a maneira que você O veja.
No meio do seu trabalho e nas aspirações, na fatigante jornada pela vida,
conserve, no mais profundo do seu ser, a harmonia e a paz.
Acima de toda mesquinhez, falsidade e desengano,
o mundo ainda é bonito.
Caminhe com cuidado, faça tudo para ser feliz
e partilhe com os outros a sua felicidade".
(Max Ehrmann)

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Entrevista: Davis Sena Filho

“A pobreza é, para mim, a maior e mais grave doença da humanidade”

Os leitores não sabem, mas o jornalista Davis Sena Filho, especializado em política e à frente do blog Palavra livre, também é poeta e por pouco não enveredou pelos caminhos do esporte: doido por futebol desde a infância – a ponto de ser atacante em vários campeonatos, dos sete aos 25 anos – ele quase tornou-se professor de Educação Física. “Não podia ver uma ‘pelada’ que já queria participar”, relembra, ao mesmo tempo que pensa também nos livros que sempre teve em casa, e que lhe abriram as portas para o prazer de escrever.

Apaixonado pelo Flamengo tanto quanto por poesia (e por gente como Augusto dos Anjos, Paul Verlaine, Walt Withman, Goethe e Cora Coralina), sua paixão maior, já sabemos, é a política, e foi em Brasília que se especializou em assessoria de imprensa e na arte de escrever discursos... sem perder de rumo seus próprios ideais de esquerda, que defende com unhas, dentes e argumentos.

 

Como é ser assessor de imprensa de um político, escrever os discursos dele (sendo que ele, seu chefe, pode ser de outro partido?). Como equilibrar o profissionalismo e suas crenças nessa hora?

Faço assessoria há muito tempo, e no setor público. Quando escrevo
para outra pessoa, o faço de forma distante da minha realidade de
pensamento, exceto quando o político tem ideologia e os propósitos parecidos com os meus. Quanto aos discursos, alguns deputados federais publicaram livros, legalmente, com textos de minha autoria, e que estão nos anais da Câmara dos Deputados. Esta minha opção profissional aconteceu depois que, na primeira metade da década de 1990, percebi que o ambiente em algumas redações era péssimo, além de esnobe e exageradamente competitivo. Tem de ter muito estômago para agüentar tanta desfaçatez, bem como ser cúmplice de pautas montadas e direcionadas a prejudicar pessoas ou instituições.

Você é um dos poucos jornalistas com coragem para assumir sua posição de esquerda e de apoio aos governos do PT. Isso prejudica sua carreira?

Em termos. A maior parte da minha carreira foi em Brasília, e
trabalhei nos principais jornais da capital. Nas redações, os jornalistas sabem quem é quem, até mesmo os profissionais que fingem que não sabem. Ser de esquerda e de direita não é tão importante ou essencial para que uma redação trabalhe de maneira digna, profissional e competente. Também não é motivo para determinado profissional ser perseguido, boicotado, não ter oportunidade para crescer na empresa e
ser demitido, como acontece com muitos talentos que vi nas redações.
Eu fiz greve em 1989 no Correio Braziliense, uma greve que durou cerca de dez ou 15 dias, e 44 jornalistas foram demitidos, além do pessoal operário, que trabalhava nas rotativas e em outros setores da empresa, em um tempo que não existia ainda a informatização dos jornais. Quero dizer que nunca ninguém chegou para mim e disse: “Olha Davis, você trabalha direitinho, mas porra, cara, você é de esquerda e por isso não tem vaga para você trabalhar e poder sustentar a sua família”. Contudo,
alguns colegas me falaram que eu não fui contratado em determinada
empresa porque eu sou de esquerda. Mas a realidade é que sempre me
empreguei, inclusive no setor público, assessoria de imprensa, elaboração de discursos etc. A verdade é que muitos dos meus colegas, muitos os quais considero e respeito, quando têm a oportunidade de sair do setor privado e ir para o público não pensam duas vezes, ainda mais quando passam em concurso.


Como você avalia os dois governos do Lula?


O primeiro governo de Lula foi dedicado ao contingenciamento do orçamento, dos tributos, da arrecadação. Como se fizesse uma poupança forçada para depois começar a pagar contas, dívidas e, o mais importante, a investir no país, o que ocorreu com a criação do PAC 1 e do PAC 2, além dos diversos benefícios e bolsas que fomentaram
também a economia e garantiram o quase pleno emprego, o que não acontece atualmente na Europa e nos EUA. Lula não fez tudo o que queria, mas avançou muito no que concerne a combater a pobreza e a miséria. A pobreza é, para mim, a maior e mais grave doença da humanidade. Uma verdadeira pandemia e causada pelas civilizações propositalmente. Com a eliminação da pobreza e da miséria, não haverá
lucro e nem opulência exorbitantes, como ocorre neste mundo atual Lula fez muito, mas se eu ficasse a citar ponto por ponto o que ele fez de bom para o Brasil, esta entrevista seria muito longa. No Jornal do Brasil e no Blog da Dilma, eu disserto com certa constância sobre a obra social e econômica do governo trabalhista do presidente estadista Luiz Inácio Lula da Silva, bem como lembro sempre da obra do outro
presidente trabalhista e estadista e fundador do Brasil moderno, Getúlio Dornelles Vargas.


E o que está achando da presidente Dilma?


É a continuação do Governo Lula com maioria no Senado, o que acarreta o ódio da imprensa privada e historicamente golpista. A imprensa tenta, em vão, mostrar uma falácia de que os dois governos são diferentes e que Lula e Dilma poderiam até romper um com o outro. Dilma foi eleita sem nunca ter ocupado cargo eletivo, e Lula a elegeu.
Este fato é incrível, porque além de eleger uma mulher quase desconhecida antes de assumir a chefia da Casa Civil, derrotou ainda a velha imprensa burguesa, uma das mais poderosas do mundo e que tem apoio do empresariado e de certa parcela da classe média, a maioria branca, cheia de preconceitos ridículos e que lê revistas de péssima
qualidade editorial como a Veja, a revista porcaria, autora de um jornalismo de esgoto — o verdadeiro detrito de maré baixa, somente para ficar nesta publicação. Evidentemente, existem outros órgãos como a Veja que são muito conhecidos do público. Dilma faz um
governo forte, com maioria na Câmara e no Senado e que está a aperfeiçoar e melhorar o que o presidente trabalhista Lula fez e deixou como legado. Dilma é Lula e Lula é Dilma, porque são políticos socialistas, trabalhistas e que têm um projeto de país e programas de governo para atingir a meta de termos um Brasil cuja maioria do povo seja de classe média. Dilma é a continuação de Lula, bem como foi eleita por ele.

Preferia que o Lula fosse candidato nas próximas eleições?

Não. E por quê? Para não dar margem à direita brasileira que, se puder, dá um golpe de estado, como tentou com Lula em 2005. Lula é um político consagrado e deve ficar em uma posição de líder político que negocia apoios políticos, que dá conselhos à Dilma, que trata de questões brasileiras sem, no entanto, ser candidato. Lula é o maior cabo eleitoral do país e o político mais famoso e respeitado no exterior e pelo povo brasileiro.

 A grande imprensa tem publicado denúncias de corrupção contra vários ministros do atual governo. Você acha que a Dilma escolheu mal alguns deles?

O Governo Lula foi o que mais demitiu e prendeu. Basta o cidadão acessar a Internet e pesquisar, inclusive em órgãos públicos e oficiais. Dilma afastou ministros e a imprensa golpista promove marchas sem credibilidade e sem movimentos sociais que foram um fracasso retumbante. O Governo afasta ministros, funcionários e ONGs enquanto empresários e a imprensa comercial e privada dizem que o Governo é corrupto. Gostaria de ver uma marcha contra os corruptores, coisa que a imprensa e parcela da classe média que fica a carregar vassouras janistas nunca fazem. Por quê? Porque os corruptores são empresários e megaempresários, principais clientes, anunciantes da velha imprensa. Além disso, existe um movimento constante da imprensa de criminalizar a política e as instituições republicanas, como o Congresso que foi fechado pela ditadura militar, que esta mesma imprensa apoiou. Quando você desmoraliza o político e a política, o caminho fica aberto para que os grandes empresários, a imprensa e os banqueiros controlem a agenda dos poderes do Estado, como, por exemplo, a Presidência da República. Eu trabalhei em várias redações, sempre na área de política, e sei como a banda toca. O negócio da imprensa é pautar os poderes e as autoridades constituídos e, conseqüentemente, privilegiar e atender os interesses do setor privado, que odeia governos trabalhistas desde os tempos do grande Getúlio Vargas.


Você é torcedor fanático do Flamengo. Por que escolheu o rubro-negro?


Fanático, não. Digamos, devotado (rsrsrsrs!). Escolhi o Flamengo por causa da camisa, que na verdade é um mito. As cores rubro-negras, o CRF do escudo, o time raçudo... e o povo, as massas, a alegria de sua torcida, a vocação para a gozação e a ironia, postura esta tão carioca, faz do Flamengo um clube ímpar, diferente, além, é claro, de ser um conquistador de títulos e de glórias. Flamengo sempre. Flamengo até morrer!!! E o Carioca, para mim, é essencial, além de ser o campeonato que mais aprecio por causa da rivalidade e da gozação. Os estaduais são os berços do futebol brasileiro e dão renda e público, inclusive nos estados menores. A imprensa esportiva elitista é que é contra, para privilegiar somente os clubes grandes dos estados mais poderosos. Sou francamente favorável ao Campeonato Carioca e o considero tão importante como qualquer outro em âmbito nacional. E sabe por quê? Porque o Carioca é o mais famoso dos campeonatos, além de ser televisionado para boa parte do Brasil e até do exterior. Quem é contra, para mim, está redondamente equivocado, ou com má intenção. São os estaduais que impedem que os times do interior (e de muitas capitais brasileiras) sejam extintos. Quer saber de outra coisa? O Campeonato Carioca me faz voltar à infância e à adolescência. Este fato é lúdico e essencial para que o coração e o espírito não envelheçam. O resto é elitismo e negócios das grandes mídias, que querem, por causa de dinheiro, somente defender os interesses dos clubes grandes, que
deveriam ganhar muito mais dinheiro do que ganham, por exemplo, da TV
Globo, que monopoliza também não somente o futebol como muitos outros esportes. Flamengo sempre! Flamengo até morrer!


Você acha que o Brasil vai ganhar a Copa?

Vai. Quem não acha é a imprensa mercantilista, parte da classe média conservadora que torce contra o Brasil e também parte da classe alta, provinciana, que detesta o Brasil mas não abre mão de ganhar muito dinheiro aqui. Depois o Brasil ganha, aí eles saem às ruas para comemorar, como o fizeram na Copa de 2002 e que, para o desgosto dessa gente, o Brasil foi campeão do mundo. O Brasil vai conquistar a Copa de 2014, sim!

Durante muitos anos você se declarou ateu, mas hoje tem fé e acredita em Deus. O que o fez mudar?


Fernanda, não mudei. Apenas me tornei humilde à vontade e aos desígnios de Deus, de Jesus Cristo, que merece todo e total respeito pelo seu bom olhar a cuidar de todos nós, até para aqueles que não acreditam em seu incomensurável amor.


             Com Marcelo Migliaccio, num Fla-Flu no Maraca