quinta-feira, 11 de abril de 2013

O amor nos tempos de Gaza

O nome do filme é “Uma garrafa no mar de Gaza”, e vou te dizer: é lindo!

Lindo porque tinha tudo para acabar de maneira previsível, mas não acaba. O clima de tragédia permeia cada minuto da história... uma pálida ideia de como deve ser viver em um lugar onde uma existência inteira pode acabar sem aviso, um lugar onde o medo está em todos os cantos e a paz é um devaneio: não, não estamos falando do Rio de Janeiro. Desta vez o drama é na Palestina.
A garrafa viaja pelas águas levando uma mensagem de Jerusalém. É a moça judia que escreve para quem quer que esteja do outro lado do mar. E o rapaz, lá na outra margem, é quem responde.
Pronto! Começa a beleza da descoberta das diferenças; acima de qualquer disputa ou ódio cego, a beleza do encontro entre dois seres humanos. Os fatos vão se desenrolando ásperos no dia a dia da guerra ao mesmo tempo em que a sede de vida e de liberdade toma de assalto os dois desconhecidos. Por que esta guerra? Por que matar ou morrer? Por que tanto medo e terror?
O amor em sua plenitude é o que emerge: o amor de um ser humano por outro, a empatia que torna-se maior que qualquer rixa histórica e sem remédio. Diante da tela, a gente se dá conta do quanto uma pessoa é passível de influenciar os acontecimentos e mudar a vida de outra, para o bem ou para o mal, mesmo que longe, mesmo que desconhecida, mesmo que impossível.
Esta singela história de amor e amizade, tão poética quanto verossímil, vem tratar exatamente disso: da esperança que é capaz de lançar ao mundo um coração puro e pacífico. Somos todos responsáveis pelas sementes que jogamos ao vento; todo ato tem sua consequência, de toda influência um fruto há de brotar.

Aí é que se encontra a verdadeira herança que podemos deixar desta vida: a emoção boa ou má que plantamos na memória e na alma de quem cruza o nosso caminho.

3 comentários:

  1. Realmente o que marca ou como marcamos as pessoas, é a emoção que causamos (boa ou má)e vice-versa.Excelente comentário, queriDanneman.

    Baseado no romance da francesa Valérie Zenatti, o filme levanta a questão: quando emitimos opinião, de forma geral, sobre o absurdo conflito IsraelxPalestina, optamos por uma vilanização ou vitimização de quaisquer das partes. Por isso, é fascinante quando nos deparamos com uma obra que busca debater tal complicada vizinhança como o filme faz, através dos olhos de inocentes.

    Para quem não assistiu, de acordo com a sinopse, Tal é uma jovem francesa de 17 anos que mora em Jerusalém com sua família. Após a explosão de um camicase num café do seu bairro, ela escreve uma carta a um palestino imaginário, onde exprime suas interrogações e sua recusa em admitir que só o ódio possa reinar entre os dois povos. Ela coloca a carta numa garrafa e entrega a seu irmão para que jogue no mar, perto de Gaza, onde ele faz seu serviço militar. Algumas semanas depois, Tal recebe uma resposta de um misterioso “Gazaman”.

    Tanto em Israel quanto na Palestina existem, certamente, pessoas que sonham com o fim do conflito e com a convivência pacífica.
    Mesmo contando histórias de dificuldades, não deixa de passar uma mensagem de esperança através dos atos individuais.

    O filme suscita a dúvida: Temos o direito de amar ou ser amigos de alguém que pertence ao "outro lado"? Isto seria trair a família, amigos e povo, de modo geral?
    "Dar um passo em relação ao outro tem um preço", diz a autora do livro.

    Une Bouteille à la Mer (no original) trata sim de esperança, mas não investe em doses exageradas de otimismo, uma vez que o medo continua imperando naquelas sociedades.

    Com delicadeza, "Uma Garrafa no Mar de Gaza"-título que considero belo e poético- não cai no angelismo nem no maniqueísmo e tem o mérito de procurar o que aproxima sem ocultar o que afasta, segundo Jean-Pierre Lacomme( Le Journal du Dimanche).
    Santé e axé!
    Marcos Lúcio

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  2. A cena da família palestina desesperada em casa ouvindo o barulho dos mísseis cruzando os ares e sem saber se um deles os atingirá, pra mim, é a mais marcante desse excelente filme.

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  3. Belo, delicado e sensível filme, sem incorrer em proselitismos óbvios ou apontar soluções, que sabemos, estão longe de serem encontradas, se é, que um dia, serão.

    ANTONIO CARLOS

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