segunda-feira, 1 de abril de 2013

Entrevista: Davis Sena Filho

“A pobreza é, para mim, a maior e mais grave doença da humanidade”

Os leitores não sabem, mas o jornalista Davis Sena Filho, especializado em política e à frente do blog Palavra livre, também é poeta e por pouco não enveredou pelos caminhos do esporte: doido por futebol desde a infância – a ponto de ser atacante em vários campeonatos, dos sete aos 25 anos – ele quase tornou-se professor de Educação Física. “Não podia ver uma ‘pelada’ que já queria participar”, relembra, ao mesmo tempo que pensa também nos livros que sempre teve em casa, e que lhe abriram as portas para o prazer de escrever.

Apaixonado pelo Flamengo tanto quanto por poesia (e por gente como Augusto dos Anjos, Paul Verlaine, Walt Withman, Goethe e Cora Coralina), sua paixão maior, já sabemos, é a política, e foi em Brasília que se especializou em assessoria de imprensa e na arte de escrever discursos... sem perder de rumo seus próprios ideais de esquerda, que defende com unhas, dentes e argumentos.

 

Como é ser assessor de imprensa de um político, escrever os discursos dele (sendo que ele, seu chefe, pode ser de outro partido?). Como equilibrar o profissionalismo e suas crenças nessa hora?

Faço assessoria há muito tempo, e no setor público. Quando escrevo
para outra pessoa, o faço de forma distante da minha realidade de
pensamento, exceto quando o político tem ideologia e os propósitos parecidos com os meus. Quanto aos discursos, alguns deputados federais publicaram livros, legalmente, com textos de minha autoria, e que estão nos anais da Câmara dos Deputados. Esta minha opção profissional aconteceu depois que, na primeira metade da década de 1990, percebi que o ambiente em algumas redações era péssimo, além de esnobe e exageradamente competitivo. Tem de ter muito estômago para agüentar tanta desfaçatez, bem como ser cúmplice de pautas montadas e direcionadas a prejudicar pessoas ou instituições.

Você é um dos poucos jornalistas com coragem para assumir sua posição de esquerda e de apoio aos governos do PT. Isso prejudica sua carreira?

Em termos. A maior parte da minha carreira foi em Brasília, e
trabalhei nos principais jornais da capital. Nas redações, os jornalistas sabem quem é quem, até mesmo os profissionais que fingem que não sabem. Ser de esquerda e de direita não é tão importante ou essencial para que uma redação trabalhe de maneira digna, profissional e competente. Também não é motivo para determinado profissional ser perseguido, boicotado, não ter oportunidade para crescer na empresa e
ser demitido, como acontece com muitos talentos que vi nas redações.
Eu fiz greve em 1989 no Correio Braziliense, uma greve que durou cerca de dez ou 15 dias, e 44 jornalistas foram demitidos, além do pessoal operário, que trabalhava nas rotativas e em outros setores da empresa, em um tempo que não existia ainda a informatização dos jornais. Quero dizer que nunca ninguém chegou para mim e disse: “Olha Davis, você trabalha direitinho, mas porra, cara, você é de esquerda e por isso não tem vaga para você trabalhar e poder sustentar a sua família”. Contudo,
alguns colegas me falaram que eu não fui contratado em determinada
empresa porque eu sou de esquerda. Mas a realidade é que sempre me
empreguei, inclusive no setor público, assessoria de imprensa, elaboração de discursos etc. A verdade é que muitos dos meus colegas, muitos os quais considero e respeito, quando têm a oportunidade de sair do setor privado e ir para o público não pensam duas vezes, ainda mais quando passam em concurso.


Como você avalia os dois governos do Lula?


O primeiro governo de Lula foi dedicado ao contingenciamento do orçamento, dos tributos, da arrecadação. Como se fizesse uma poupança forçada para depois começar a pagar contas, dívidas e, o mais importante, a investir no país, o que ocorreu com a criação do PAC 1 e do PAC 2, além dos diversos benefícios e bolsas que fomentaram
também a economia e garantiram o quase pleno emprego, o que não acontece atualmente na Europa e nos EUA. Lula não fez tudo o que queria, mas avançou muito no que concerne a combater a pobreza e a miséria. A pobreza é, para mim, a maior e mais grave doença da humanidade. Uma verdadeira pandemia e causada pelas civilizações propositalmente. Com a eliminação da pobreza e da miséria, não haverá
lucro e nem opulência exorbitantes, como ocorre neste mundo atual Lula fez muito, mas se eu ficasse a citar ponto por ponto o que ele fez de bom para o Brasil, esta entrevista seria muito longa. No Jornal do Brasil e no Blog da Dilma, eu disserto com certa constância sobre a obra social e econômica do governo trabalhista do presidente estadista Luiz Inácio Lula da Silva, bem como lembro sempre da obra do outro
presidente trabalhista e estadista e fundador do Brasil moderno, Getúlio Dornelles Vargas.


E o que está achando da presidente Dilma?


É a continuação do Governo Lula com maioria no Senado, o que acarreta o ódio da imprensa privada e historicamente golpista. A imprensa tenta, em vão, mostrar uma falácia de que os dois governos são diferentes e que Lula e Dilma poderiam até romper um com o outro. Dilma foi eleita sem nunca ter ocupado cargo eletivo, e Lula a elegeu.
Este fato é incrível, porque além de eleger uma mulher quase desconhecida antes de assumir a chefia da Casa Civil, derrotou ainda a velha imprensa burguesa, uma das mais poderosas do mundo e que tem apoio do empresariado e de certa parcela da classe média, a maioria branca, cheia de preconceitos ridículos e que lê revistas de péssima
qualidade editorial como a Veja, a revista porcaria, autora de um jornalismo de esgoto — o verdadeiro detrito de maré baixa, somente para ficar nesta publicação. Evidentemente, existem outros órgãos como a Veja que são muito conhecidos do público. Dilma faz um
governo forte, com maioria na Câmara e no Senado e que está a aperfeiçoar e melhorar o que o presidente trabalhista Lula fez e deixou como legado. Dilma é Lula e Lula é Dilma, porque são políticos socialistas, trabalhistas e que têm um projeto de país e programas de governo para atingir a meta de termos um Brasil cuja maioria do povo seja de classe média. Dilma é a continuação de Lula, bem como foi eleita por ele.

Preferia que o Lula fosse candidato nas próximas eleições?

Não. E por quê? Para não dar margem à direita brasileira que, se puder, dá um golpe de estado, como tentou com Lula em 2005. Lula é um político consagrado e deve ficar em uma posição de líder político que negocia apoios políticos, que dá conselhos à Dilma, que trata de questões brasileiras sem, no entanto, ser candidato. Lula é o maior cabo eleitoral do país e o político mais famoso e respeitado no exterior e pelo povo brasileiro.

 A grande imprensa tem publicado denúncias de corrupção contra vários ministros do atual governo. Você acha que a Dilma escolheu mal alguns deles?

O Governo Lula foi o que mais demitiu e prendeu. Basta o cidadão acessar a Internet e pesquisar, inclusive em órgãos públicos e oficiais. Dilma afastou ministros e a imprensa golpista promove marchas sem credibilidade e sem movimentos sociais que foram um fracasso retumbante. O Governo afasta ministros, funcionários e ONGs enquanto empresários e a imprensa comercial e privada dizem que o Governo é corrupto. Gostaria de ver uma marcha contra os corruptores, coisa que a imprensa e parcela da classe média que fica a carregar vassouras janistas nunca fazem. Por quê? Porque os corruptores são empresários e megaempresários, principais clientes, anunciantes da velha imprensa. Além disso, existe um movimento constante da imprensa de criminalizar a política e as instituições republicanas, como o Congresso que foi fechado pela ditadura militar, que esta mesma imprensa apoiou. Quando você desmoraliza o político e a política, o caminho fica aberto para que os grandes empresários, a imprensa e os banqueiros controlem a agenda dos poderes do Estado, como, por exemplo, a Presidência da República. Eu trabalhei em várias redações, sempre na área de política, e sei como a banda toca. O negócio da imprensa é pautar os poderes e as autoridades constituídos e, conseqüentemente, privilegiar e atender os interesses do setor privado, que odeia governos trabalhistas desde os tempos do grande Getúlio Vargas.


Você é torcedor fanático do Flamengo. Por que escolheu o rubro-negro?


Fanático, não. Digamos, devotado (rsrsrsrs!). Escolhi o Flamengo por causa da camisa, que na verdade é um mito. As cores rubro-negras, o CRF do escudo, o time raçudo... e o povo, as massas, a alegria de sua torcida, a vocação para a gozação e a ironia, postura esta tão carioca, faz do Flamengo um clube ímpar, diferente, além, é claro, de ser um conquistador de títulos e de glórias. Flamengo sempre. Flamengo até morrer!!! E o Carioca, para mim, é essencial, além de ser o campeonato que mais aprecio por causa da rivalidade e da gozação. Os estaduais são os berços do futebol brasileiro e dão renda e público, inclusive nos estados menores. A imprensa esportiva elitista é que é contra, para privilegiar somente os clubes grandes dos estados mais poderosos. Sou francamente favorável ao Campeonato Carioca e o considero tão importante como qualquer outro em âmbito nacional. E sabe por quê? Porque o Carioca é o mais famoso dos campeonatos, além de ser televisionado para boa parte do Brasil e até do exterior. Quem é contra, para mim, está redondamente equivocado, ou com má intenção. São os estaduais que impedem que os times do interior (e de muitas capitais brasileiras) sejam extintos. Quer saber de outra coisa? O Campeonato Carioca me faz voltar à infância e à adolescência. Este fato é lúdico e essencial para que o coração e o espírito não envelheçam. O resto é elitismo e negócios das grandes mídias, que querem, por causa de dinheiro, somente defender os interesses dos clubes grandes, que
deveriam ganhar muito mais dinheiro do que ganham, por exemplo, da TV
Globo, que monopoliza também não somente o futebol como muitos outros esportes. Flamengo sempre! Flamengo até morrer!


Você acha que o Brasil vai ganhar a Copa?

Vai. Quem não acha é a imprensa mercantilista, parte da classe média conservadora que torce contra o Brasil e também parte da classe alta, provinciana, que detesta o Brasil mas não abre mão de ganhar muito dinheiro aqui. Depois o Brasil ganha, aí eles saem às ruas para comemorar, como o fizeram na Copa de 2002 e que, para o desgosto dessa gente, o Brasil foi campeão do mundo. O Brasil vai conquistar a Copa de 2014, sim!

Durante muitos anos você se declarou ateu, mas hoje tem fé e acredita em Deus. O que o fez mudar?


Fernanda, não mudei. Apenas me tornei humilde à vontade e aos desígnios de Deus, de Jesus Cristo, que merece todo e total respeito pelo seu bom olhar a cuidar de todos nós, até para aqueles que não acreditam em seu incomensurável amor.


             Com Marcelo Migliaccio, num Fla-Flu no Maraca





 

4 comentários:

  1. Como o excelente blogue dele está comemorando um aninho de vida, reproduzo recado que lá deixei:
    A justa comemoração é sua,
    P-A-R-A-B-É-N-S!!!!... mas sinto-me igualmente comemorando porque tenho este blogue como leme e lume, no que tange a questões políticas, fundamentalmente, onde você faz barba, cabelo , bigode e bainha. Comungo das suas sempre brilhantes e coerentes idéias e (re)aprendo muito com elas. Obrigado e vida loooooooooooooonga a você, com saúde e sorte, claro, e ao blogue, marrelógico!
    Abraço
    Marcos Lúcio

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  2. O Davis tem muito bom gosto,vê só a camisa que ele está vestindo,linda!!!

    Monica.

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  3. Sou torcedor do América, nunca votei no PT, em seus partidos de coligação, nem no PSDB. Não reconheço no ex- presidente, um Estadista e abomino qualquer Jornalismo, seja de direita ou esquerda(?) que fecha os olhos para toda lama institucionalizada com o Petismo. Tampouco, aprecio textos , falas e imagens que lembram-me lavagem cerebral, tentando convencer-me de que tudo que vi, vejo, refleti e reflito, é fruto da Imprensa golpista. Por essas razões, embora reconhecendo o talento e conhecimento do entrevistado, poupo-me de ler seus textos.

    ANTONIO CARLOS

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  4. Davis é uma das pessoas mais inteligentes que conheço

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