segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A derrota é a grande revelação do homem

Li no jornal que José Serra evitou abraços demorados após seu discurso a respeito de ter perdido o segundo turno das eleições para a prefeitura de São Paulo. Segundo o repórter,  Serra não queria cair no choro. Sabe, acho até possível que isso seja verdade, mas não sei até que ponto um dado como este é mesmo notícia. É perfeitamente compreensível que Serra tenha sentido uma vontade desgraçada de chorar naquele momento: perder dói, principalmente quando a gente lutou, acreditou, desejou.

Chegamos ao ponto, que hoje não é o José Serra nem os Sarney, lá no Maranhão, outros que devem ter levado um susto com o resultado das urnas.
Venho observando, na cobertura jornalística das eleições, um tom meio jocoso a respeito da perda. Dia desses, antes do primeiro turno, foi numa matéria que narrava o apoio de Lula a algum candidato que nem me lembro: o repórter conduziu o texto dando dicas, aqui e ali, de que o ex-presidente estaria em franca decadência física, o que já lhe prejudicaria na política, e também ao seu candidato. Senti no texto o tal tom jocoso nas referências a Lula, como se o fato de não ter a saúde em excelente estado fosse demérito. Como se não poder mais falar por horas, e sem microfone, tirasse dele o valor “de outrora”. Até a barba, que ele já não tem, foi lembrada com um certo saudosismo pejorativo.
Na Era do Facebook e da felicidade de plástico, “perder” é tudo o que um sujeito não pode fazer porque, se fizer, estará assinando o documento que comprova sua incapacidade, sua menos-valia, seu fracasso.
Na esfera da vida privada é mais ou menos assim: divórcio, aborto, desemprego, falta de grana... tudo isso é sinônimo de “perder”. Até a moça que não casou é perdedora, coitada: não casou porque ninguém a quis... e  é por isso que muitas se casam só por causa daquele medo, sabe, de ficar pra titia. Sem falar nas outras tantas que têm filhos porque não querem ser vistas como "fracassadas" que não conseguiram ou não foram capazes. Isto aí também é um caso típico sobre perder ou ganhar.
E na vida profissional, que é onde o bicho realmente pega, “perder” é uma tragédia. Não pode “perder” aquela promoção, aquele bônus, aquele curso que a empresa oferece... nem pode “perder” a discussão na reunião, caso contrário o que é que o chefe vai pensar?  Olha, perder o emprego, então... isso aí nem se fala, e nem é pelo dissabor ou por ter que procurar outro: é porque vão tachar você de incompetente, e além do emprego você vai estar perdendo o respeito. Você não pode, de jeito nenhum, perder a pose! E quando for a outra empresa para se candidatar a uma vaga, não pode perder a oportunidade para o outro candidato... olha lá, hein?!
Mas o povo esqueceu que perder faz parte da vida! Até o óbvio caiu em desuso, porque se alguém precisa perder para que outro alguém vença... como é que todo mundo só quer ganhar?
Perder, hoje em dia, é pior que morrer, desde que se morra vencedor, é lógico. Veja Tancredo Neves: para muitíssima gente, ele eternizou-se como aquele que teria consertado o país... porque morreu logo depois de vencer e ser eleito presidente. Ulysses Guimarães, que já contava com o respeito do povo, não conseguiu ser presidente, mas também eternizou-se como o grande democrata brasileiro naquele voo infeliz sobre o mar. E como haveria de ter sido a carreira de John Kennedy, lá nos Estados Unidos, se ele não tivesse morrido em seu apogeu?
 O mundo psíquico fica claustrofóbico quando o indivíduo não tem nenhuma alternativa à vitória: as crianças aprendem, em casa e na escola, que é vencer ou vencer! Perder não pode! Perder é uma vergonha, um absurdo! Perder é coisa de... perdedor!
E aí, quando perdem qualquer coisa, seja um jogo no computador, uma pelada com o time da escola, uma gincana entre colégios, uma discussão ou até uma namorada... perdem junto o rumo, a autoestima e até o desejo de seguir em frente.
Há quem pense que ensinar o filho a perder é o mesmo que programá-lo para ser um fracassado, mas é exatamente o contrário: só quem sabe perder uma batalha sem perder-se de si mesmo é realmente capaz de ser vencedor. Só quem dá ao semelhante o direito de sair vitorioso consegue buscar a vitória através do esforço honesto e verdadeiro. Só quem compreende que há dias em que a gente ganha, e dias em que a gente perde... é de fato um democrata na vida: nos embates profissionais, amorosos, ideológicos, afetivos e até de si consigo mesmo.
Perder é um desafio, e dos grandes, porque puxa lá de dentro o mais íntimo fio da meada que nos compõe. Quando perdemos é que vem à tona a força ou a debilidade da nossa alma. Somos realmente quem somos quando estamos de frente para a derrota... e aí é que se esconde o nosso verdadeiro valor neste mundo.



Leia também:
Muitas possibilidades brotam de uma única perda

22 comentários:

  1. Um grande amigo escreveu: "Você não é derrotado quando perde. Você é derrotado quando desiste".

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    1. Amei a frase e vou guardá-la no fundo da memória, pra não esquecer munca! Convida este seu amigo pra vir tomar um chopp aqui no blog!

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  2. Vencer é mais, é ressurgir, inalar a equalização de nossas melhores sensações e poder, de algum modo, doar isto, disseminar a própria grande descoberta. É mais do que um jogo, é mais do que vencer e, vencer, pode até mesmo ser menos. Vencer é descobrir nosso limite, andar nele, ter nas pontas dos dedos, o contato, a luz da verdade, que eu sei apenas, de ouvir falar, mas que busco... Sinceramente busco. Busco mais, sem morrer, busco os sons do universo, para contar a todos que ouvi, senti e que por isso mesmo, devemos confiar. Busco e, pouco me sobra para dedicar às derrotas.

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  3. Fernanda,

    Adorei este texto e o video (Zico perdendo um penalty) ....pode, mas ele nao se venceu por uma derrota ao contrario se fortificou ....
    Quando eu vejo uma pessoa "vitoriosa" penso comigo mesma: "quantas lutas ele nao teve que vencer, quantas barreiras ele nao teve que passar e quantas derrotas ...."

    Beijos

    Gilda Bose

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    1. Gilda, eu penso a mesmíssima coisa. Perder é um aprendizado e tanto...

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  4. Mauro Pires de Amorim.
    Uns vão dizer que o comentário que escrevo em seguida é pelo fato de ser Rubro-Regro, mas verdade seja dita que, Zico, Júnior, Adílio, Nunes, Andrade, Anselmo, Leandro, Mozer, Raúl, Cantarelli
    Júlio César "Uri-Gheler", Lico, entre outros que não me lembro de memória imediata, fizem parte da "Geração de Ouro" do C.R. do Flamengo e ninguém monta um timaço de qualidade como esse por acaso.
    Na história, nada é por acaso, nada ocorre por acaso, tudo é uma questão de conjunturas e fatores, que relacionados e somados, fazem a diferença e o consequente marco. Portanto, tudo possuí um esteio, uma base, seja a história individual de uma pessoa, seja a história coletiva de uma instituição ou sociedade.
    Dessa forma, não posso negar que durante a Copa do Mundo de Futebol de 1986, Zico não estava em sua melhor forma técnica, embora, fisicamente, seu preparo físico estivesse excelente. Algo comum a essa geração de atletas Rubro-Negros e que, deixariam alguns dos atuais elencados como "craques" do nosso futebol, com cara de bolas murchas cocorocas.
    Mas enfim, no final do ano de 1984, após 2 incríveis temporadas na Itália, onde, a postura e comportamento decidido de Zico e sua habilidade como atleta contagiara a pequena equipe do Udinese e levara esse clube ao topo da tabela da 1ª Divisão do Campeonato Italiano de Futebol, quebrando o tabú de que somente os grandes clubes italianos seriam os favoritos pelo "Scudeto", sendo tal feito inédito até os dias de hoje na história do Udinese.
    Assim, terminado seu contrato com o clube italiano, Zico retorna ao Brasil para jogar pelo Flamengo e num jogo contra o Bangú, o zagueiro Márcio, daquele clube, foi em cima de Zico "para quebrar" e aplicou-lhe um "carrinho" frontal, tendo levantado as travas da chuteira na altura dos joelhos de Zico. Resultado, as lesões foram tão graves, que Zico tinha grande percentual de chance de ficar inutilizado como atleta.
    Após incontáveis cirurgias e tantas horas de fisioterapia e treinamento para recuperar a forma física após praticamente 2 anos de afastamento dos gramados, Zico é convocado praticamente na véspera dessa Copa do Mundo de Futebol e aceita o desafio.
    Revendo a jogada que originou o pênalti perdido, percebe-se a alta velocidade do time brasileiro contra a atônita defesa francêsa e que a bola fora magistralemnte efiada para Zico, que parte em grande velocidade e no momento em que, certamente encobriria o goleiro da França, este derruba-o, provocando o pênalti posteriormente cobrado por Zico e perdido.
    Muita gente, geralmente torcedores recalcados dos outros clubes, fanáticos invejosos e odiosos anti-flamenguistas, até os dias de hoje, culpam Zico pela perda dessa Copa do Mundo de Futebol, com a consequente eliminação nesse jogo contra a França. No entanto, essa gente esquece que futebol, assim como qualquer outro esporte coletivo, possuí equipe, coletividade, apesar de ser verdade de que, mesmo numa equipe, existem os que são acima da média, mas mesmo os medianos, são vitais e importantes numa equipe e ogrande exemplo que os acima da média podem dar aos medianos, aos medíocres é o fato de estimula-los a se superarem e crescerem cada dia mais forte. Mas sem fazer o devido esforço, querer ficar encostado na aba alheia e viver de propaganda enganosa, não tem "Santo" que faça milagre.
    E para finalizar, o grande espírito futibolístico herdeiro do exemplo de Zico na atualidade, chama-se Lionel Messi e isso inclusive, ele já admitui ter o "Galinho de Quintino" como seu grande inspirador.
    Felicidades e boas energias.

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  5. Embora o post seja primoroso e irretocável, com esta eterna mania de pitaqueiro, fico tentado a digitar...sobre assunto tão seminal e divisor de águas na minha vida.

    Se a vida não é um eterno " PERDEGANHA", posto que para se ganhar um dia, PERDE-SE, concomitante outro dia,então ainda não sei o que é viver.
    Quando nascemos, implícito está que vamos perder a vida material. Não vejo tragédia alguma nesta realidade imutável. Infinitas vezes pior é o que deixamos morrer dentro da gente enquanto vivemos.

    Há comentários dos quais, quando estamos atentos, jamais esquecemos. Ainda jovem _sempre curioso para o que considerava relevante_ouvi esta pérola de uma senhora por quem já nutria admiração intelectiva:"Tem uma coisa, a mais importante em minha vida: eu sei perder”.
    E me contou das perdas familiares, amorosas, tantas para seus quarenta e poucos anos. A ferro e fogo, foi aprendendo a perder, com mortes, separações, despedidas.
    _“Há coisas que não dependem ou não são para mim, então eu aceito e deixo seguir”, ainda completou, soberanamente.

    Percebi, naquele momento,que certas coisas não eram minhas, por mais que eu as quisesse. Senti uma paz imensa, misturada com uma inveja calma. Aceitação do que não podemos mudar ou do que não dependeu de nós, evita ou mitiga sofrimentos desnecessários. Consegui colocar em prática, anos mais tarde.
    Aceitar as perdas integralmente, com tudo que elas trazem é prova de sabedoria, até porque não aceitar só piora a situação.

    A gente nasce e cresce aprendendo que o importante é ganhar_embora ninguém explique quais os prováveis graus de satisfações alcançáveis. A estupidez infantilóide de dividir o mundo entre "winners e loosers", mostra a sua cara patética e só não vê quem é tolo. Como no trabalho e no amor estas questões se potencializam mais, causa-me espécie a quantidade de sacrifício sobrehumano que pessoas fazem para manter um cargo ou as aparências...e tome terapia, ansiolíticos, êxtase, cocaína, álcool, maconha e sabe lá Deus o que mais.

    Se o povo fosse mais analítico ou menos incauto, veria que não compensa a quantidade absurda de renúncia a que se submete para uma pífia recompensa proporcionada.

    Com as energias sugadas, e com tanto sapo e , às vezes, sapas cururus vivas pra engolir rs...o melhor salário não traz prazer ou paz de espírito.Logicamente, não dá pra aprender, sem errar. Mesmos erros não, novos erros, sim. Portanto, sem perder, não se ganha, mas quando muitos entram, incautamente, no mesmo jogo, os ganhos descem a ladeira.

    "Vivendo e aprendendo a jogar, nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas, aprendendo a jogar".

    A arte de perder, melhor, de saber perder, nunca entra em nossa lista de intenções. “Quero aprender a perder em 2013″. Quem vai escrever isso? Certamente os raros que ainda têm algum vínculo com as realidades da vida.

    A maioria quer devaneio, fantasia, ilusão e frivolidades.As consequências desta insanidade são visíveis e lastimáveis, resultando na proliferação astronômica da insatisfação e/ou infelicidade que assola o mundo.

    É preciso ver o outro lado da derrota, ela é uma forma de aprendizagem para um futuro vencedor. É através dela que se torna possível ver os erros, e melhorá-los para uma próxima batalha. Os inteligentes emocionais se utilizam dela para melhorar seu potencial e futuramente tornarem-se futuros vitoriosos.

    Mas continuo convicto e fechado com Platão: " A melhor vitória é a conquista de si mesmo".
    Anté e axé!!
    Marcos Lúcio

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    1. O correto é concomitantemente ... e Santé e axé!!!. Pardon.

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    2. Um dia, o cavalo de um camponês caiu num poço. Não chegou a se ferir, mas não podia sair dali por conta própria.
      Finalmente, o camponês tomou uma decisão cruel: concluiu que o cavalo já estava muito velho e não servia mais para nada, e também o poço já estava mesmo seco, precisaria ser tapado de alguma forma.
      Portanto, não valia a pena se esforçar para tirar o cavalo de dentro do poço. Ao contrário, chamou seus vizinhos para ajudá-lo a enterrar vivo o cavalo.
      Cada um deles pegou uma pá e começou a jogar terra dentro do poço.
      O cavalo não tardou a se dar conta do que estavam fazendo com ele, e desesperou-se.
      Porém, para surpresa de todos, o cavalo aquietou-se depois de umas quantas pás de terra que levou.
      O camponês finalmente olhou para o fundo do poço e se surpreendeu com o que viu. A cada pá de terra que caía sobre suas costas o cavalo a sacudia, dando um passo sobre esta mesma terra que caía ao chão.
      Assim, em pouco tempo, todos viram como o cavalo conseguiu chegar até a boca do poço, passar por cima da borda e sair dali trotando.
      A vida vai lhe jogar muita terra, todo o tipo de terra. Principalmente se você já estiver dentro de um poço.
      O segredo para sair do poço é sacudir a terra que se leva nas costas e dar um passo sobre ela.
      Cada um de nossos problemas é um degrau que nos conduz para cima ou mais possiblilidade de aprendizado.

      Podemos sair dos mais profundos buracos se não nos dermos por vencidos. Use a terra que te jogam para seguir adiante!

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    3. O texto da Fernanda é mesmo irretocável, mas a sua inspiração nesse comentário também fica... Irretocável. Parabéns sinceros.

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    4. EstiMarcos, você anda se superando: seu comentário está nota 11!

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    5. Sinceros agradecimentos, Alfredo. Entendi que o elogio é sobre o pitaco que dei no excelente post dela, né? A história do cavalo, que adoooro, desconheço o autor, infelizmente.
      Abraço
      Marcos Lúcio

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    6. É sim Marcos Lúcio. Muitas pessoas nos fazem bem por aqui e de vez em quando um se supera, tudo sob a batuta (ela vai encabular... Quer ver!) Sob a batuta da nossa maestrina dona desse gostoso blog.

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  6. Espero que o Atletico MG, tenha isso em conta e perca para o Flamengo amanha.

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  7. Adorei a história do cavalo. Quem foi que mandou???

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    1. Desculpe, queriDannemann...estou ficando gagá rs... e esqueci de assinar.

      Tenho esta história como mantra e como das maiores fontes de inspiração e quase piração rs... pelo entusiasmo que ela sempre provoca em mim. Ela é a prova viva de que podemos retirar os antídotos dos venenos que se nos impingem. Com ela sabemos que levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima é possível, mas não sem esforços e tenacidades, marrelógico!!!
      Obrigado pela nota 11 no outro pitaco e pela superação, que acredito ser nosso exercício cotidiano do saber ou aprender a viver, né??? Anote: VIVER É A ARTE DA SUPERAÇÃO , principalmente das dificuldades comuns a todos os mortais.
      Abraço forte + santé e axé e excelente feriado.

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  8. O lançamento milimétrico do Zico p Branco foi o primeiro lance dele, de Zico, na partida. Acabara de entrar em campo, depois de aquecimento histórico de meia hora. Meia hora de aquecimento mesmo, sem força de expressão. Aproximada/ 30 minutos se aquecendo. O Galinho vinha sendo poupado e acionado em momentos de necessidade de geniais soluções geométricas. Detalhe, se ele firula, pedala, rebola (pras câmeras), antes de de tocar, quebrava a corrida do Branco e dava o tempo necessário, um segundo ou menos, pro time adversário perceber e fechar a avenida Brasil desenhada pelo engenheiro de Quintino.

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  9. Marcos Lucio, que beleza de comentario....Parabens!

    Conhecia a historia do cavalo .....a moral dela cabe a todos nos .... mais duas coisas que gostaria de salientar no seu comentario: "Vivendo e aprendendo a jogar ........." lembro da musica que Elis Regina cantava ....saudades, e a frase do Platao: "A melhor vitoria e a conquista de si mesmo" .... ADOREI ...

    Felicidades, hoje e sempre.

    Gilda Bose

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    1. Gilda, querida!!! e Diretora do C.P.F.A.Que beleza de elogio! Fico gratíssimo e , claro, lisonjeado.Quanta generosidade! Só elogiáveis são assim, como você, e tão chique, que matou a charada: foi pensando na incomparável Elis que citei esta frase incontestável.
      Saúde e sorte, "procê" e felicides mil!!!
      Mrcos Lúcio

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  10. Vendo esse video,passou na minha cabeça como se fosse um filme,a final da copa do mundo de 1998 na França.
    Depois de 14 anos,eu ainda lembro de tudo nos mínimos detalhes,e confesso que é muito complicado aceitar uma derrota.

    Monica.

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  11. Como você gosta, queriDannemann, repasso este interessantíssimo comentário que recebi do amigo e professor Carlos Melo, com seu recado muito bem dado.

    Mais uma vez um ótimo texto do Blog da Fernanda Dannemann, espaço que é realmente diferenciado, onde os comentários sempre enriquecem os temas tratados.

    Algo me chamou atenção no assunto abordado. Algo entre o teor e o momento... Esses tempos que vivemos. É, nos dias de hoje, ainda mais agudo esse dilema comportamental de ensinar aos filhos a ganhar (sempre...). A ter, antes de ser. Deixar a sensação de que perder marcará sua existência como uma sombra de fim de tarde, muito maior que o próprio objeto.

    Não sei se o texto provocou tantas reflexões por tratar de tema em que volta à tona a questão dos limites, do equilíbrio, do tato, da generosidade. É elegância, saber perder, deixar ganhar (em alguns casos), desde que essa generosidade não dê as mãos à arrogância ou ao descaso. A derrota ensina, produz, traduz, desperta. A vitória é boa... Gratifica, nos responde, mas não tudo e a todos. Não esquecendo, ainda, as incômodas vitórias de Pirro.

    Perder é ambíguo: vem de dentro e vem de fora; pode ser esperado ou inesperado; pode ser provocado ou emergir de onde não esperamos.

    O valor da perda consiste em descortinar novas perspectivas, novos prismas e conceder um tempo, em maior ou menor grau aos lutos nossos de cada dia. Curioso é que não dá para construir uma escala precisa relativa à dor e perda. Nós perdemos um compromisso; um amigo; um familiar; uma promoção; uma entrevista (é a dor de ficar pensando como é que seria...); nós perdemos um jogo; uma resposta na hora certa; uma prova; uma moeda (ou mais de uma) quando não podemos; nós perdemos a saúde; perdemos um amor. Perdemos quando enfrentamos o desprezo, que é a perda da sensação de sermos amados. Separando a perda do amor com a perda da sensação de sermos amados: a primeira, construímos de nós, mas não podemos segurar ou controlar, a outra, forjamos como queríamos que fosse, mas é o que entendemos não o que é. Essa perda desespera. Todavia, duro mesmo é quando nos perdemos dentro de nós mesmos. Quando perdemos o motivo para a ação. Essa inércia é nociva e acaba por trazer outras perdas.

    Se as perdas ensinam e os ganhos confortam, vivemos buscando estes e aprendendo com aqueles, aceitando o velho dito italiano que aponta que “ao final do jogo, Rei e Peões voltam para a mesma caixa.”

    Um amplexo,
    Carlos Mello

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