terça-feira, 2 de outubro de 2012

Mocoronga, Chanel e o espírito da coisa

-- Vai levar? É o último grito da moda para o verão!

Estava eu na fila do caixa, com uma calça estampadona na mãos, pronta pra fazer um gasto, quando a moça desconhecida me sai com esta. Sim, eu levei a calça, mas não por ser a tendência do verão, e sim porque adoro umas peças escalafobéticas no armário, pra variar (Com bastante cuidado, que é pra não cair no ridículo).

Sempre achei esse lance de moda uma coisa ultra "demodê". Tem coisa mais "carne de vaca" do que "andar na moda"? Todo mundo igualzinho pela rua? Desde que era criança pequena lá em Barbacena, eu gostava de ser diferente... pra não me sentir uma vaca de presépio, branca e preta igualzinha as outras, nota zero em personalidade.

E foi assim que tive um casaco acolchoado de retalhos, que as outras crianças achavam ser a parte de cima do meu pijama... e tive também um macaquinho atoalhado de listras horizontais berrantes, que os caipiras pensavam ter sido uma toalha de banho que virou macaquinho para o Carnaval, e  que continuou em uso... e uma calça amarelo ovo, e uma capa de chuva rosa-choque... e um chapéu preto de bolinhas brancas... e um sapato vermelho de verniz, e um óculos de sol azul-marinho que tinha a estampa do Mickey Mouse na armação.

A gente vê de tudo por aí depois que alguém saiu com aquela conversa mole pra boi dormir, de que hoje em dia tudo se usa! É aí que prolifera o Personal Stylist, profissional que cobra os tubos pra misturar jaqueta de couro com vestido de festa e saia longa de seda com bota de caubói, e depois convencer a clientela de que o resultado ficou ótimo! Então é só olhar as duplas sertanejas nas revistas de fofoca e ver que realmente estilo não é coisa que se compra (ou vende). Meu pai costumava dizer que o grande problema da roupa nova é justamente o fato de ser nova, o que já faz dela uma breguice total. E tem mais: não adianta um mocoronga vestir um Chanel porque o máximo que conseguirá é deixar o Chanel tão mocoronga quando ele próprio... Sacou o espírito da coisa?

Ok, tudo até pode ser usado, mas daí a dizer que ficou bonito é outro papo. E o povo mistura tudo: perdoem-me os muito liberais, mas olha... nenhuma mulher com mais de 20 anos deveria usar shortinho ou mini-saia. E short com salto alto? Não dá! E nem bota de cano longo no inverno carioca, principalmente quando a moça já passou dos 25 e ainda põe um vestido acima dos joelhos, pra bancar a francesa da década de 60. A cafonice tem sido tanta, que até marcas mundialmente famosas por sua elegância estão se tornando símbolos do brega no Brasil: culpa da ostentação.

Mas estilo... estilo, que é bom, é coisa pra poucos. E não há personal que dê jeito nisso.

Gente... este padeiro é o melhor páo da padaria!
 
 E por falar em Chanel...
 
 Só Love, só Love... um visual destes, só ele pode! 
 
Em tempos de chapinha, os cachos valem ouro!
 
Isto é que é atitude, sacou?
 
                                                      "Qual o telefone do cachorrinho?"

                                                                 Classudérrima!

                                                            Olha a elegância...

                                                           Arrasou no vermelhão!

                                                    E por falar em personalidade...

Leia também:
Moda de verdade não muda a cada estação

17 comentários:

  1. Como não existe nada mais fora de moda do que seguir a moda...o que prevalece e segura o visual é o estilo e a auto-confiança , e sem perder o bom senso.

    Como as francesas são as mais magras e chiques e moda é um conceito que remete a Paris, não resisti e trancrevi:

    Trecho de A Parisiense, da chiquérrima Ines de la Fressange


    Ter um estilo “made in Paris” é mais um estado de espírito. Ser alternativa e nunca burguesa, por exemplo. A parisiense jamais cai na armadilha das tendências: ela respira o l’air des temps e as usa com critério, eis sua receita secreta! E sempre tem um objetivo: divertir-se com a moda. Ela segue algumas regras, mas adora transgredi-las também, faz parte do estilo.

    Saber mesclar estilos e marcas diferentes é essencial. Rimar chique com cheap conta 100 pontos. A parisiense tem o espírito livre: ela não compra uma blusa e uma saia combinando, na mesma loja. “Combinações possíveis” não é uma preocupação. A regra é simples: o chique é sobretudo não comprar conjuntos!

    A parisiense da margem esquerda do Sena tem um estilo “tipo exportação” e marca muito bem esse diferencial. Ela passeia em Saint-Germain-des-Prés e foge de tudo que é exagerado e chamativo.

    Não ter cara de perua é a ideia. Detesta brilhos e etiquetas.

    Uma parisiense não está à cata de um marido milionário. Ela não vai gastar muito para deixar uma etiqueta à mostra. Quer ficar elegante, e exige qualidade. Seu luxo? Uma marca que garanta o bom gosto sem ostentar o preço.

    A parisiense adora descobrir novas grifes. Principalmente se forem criativas e acessíveis. e não quer ser a primeira a possuir o último modelo de “it bag”, carérrimo, sobretudo se é vendido em lista de espera (que vulgar!).

    Seu guarda-roupa é habilmente composto de “coisas baratinhas”, de roupas compradas em viagens e de algumas peças luxuosas. Ela não faz o gênero de torrar todo o seu salário num must-have. Primeiro porque não tem dinheiro, e depois porque considera que tem tanto talento quanto uma estilista: por que pagar caro por uma produção que ela mesma poderia ter imaginado? A parisiense tem essa arrogância de pensar que nunca estará fora de moda. Ela não liga para a moda. Embora sempre use um pequeno detalhe provando que domina as tendências. É aí que está seu charme.

    Você nunca vai ouvir uma parisiense se queixar de que a saia está muito curta, o vestido muito apertado e os sapatos muito altos. Todas as garotas que entendem de estilo chegam à mesma conclusão: “O segredo de um bom estilo é sentir-se bem dentro da roupa.” Elas conhecem o próprio corpo, sabem o que lhes fica bem e o que combina com o seu modo de vida.

    Quem nunca se sentiu tentada por um vestido todo de paetês ou uma anágua com mil babados? Não é fácil resistir ao canto da sereia da moda. No entanto, toda parisiense aprende uma lição: se não se deixar inebriar pela abundância de opções, irá manter seu armário livre das peças que jamais irá usar.

    Fuja daquela vendedora que lhe disser: “É a grande tendência da estação!” A parisiense detesta comprar o que todo mundo está usando. Ela é mais atenta ao que lhe fica bem do que à moda — que, aliás finge ignorar.

    Seguir as tendências é tudo o que a parisiense detesta, mas ela deve saber o que é in. O negócio é não entrar nas ondas de cabeça. Por exemplo, se estampa de pantera é o que mais vende, ela não vai se vestir no estilo “fugi do zoológico”. Uma carteira de estampa animal basta para mostrar que ela é uma mulher de estilo, não uma maria vai com as outras.

    Assim você evitará o mantô alaranjado vivo quando seus cabelos forem ruivos e a minissaia prateada com babados quando as suas coxas e sua idade não se prestam exatamente a isso.

    Conhecer os limites da moda_e os seus_é uma arte!

    Às vezes é preciso pouco para se conseguir um verdadeiro estilo. Pré-requisito? Ter autoconfiança... e sorrir (tudo sempre fica melhor quando sorrimos)!

    Santé e axé!
    Marcos Lúcio

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    1. Excelente colaboração: aula de estilo de uma mulher chiquerrérrima!

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  2. Quando o Fernando Henrique Cardoso disse que somos um povo caipira é porque para nós é fácil. Mete-se um terno e pronto.

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    1. É, Alfredo, muita gente pensa exatamente assim, e foi deste modo que Louis Vuitton, Dolce Gabbana e Louboutin viraram pérolas da breguice... tem gente que nem mesmo dentro de um terno Saint Laurent fica elegante. Fazer o quê? Só mesmo nascendo de novo... (ando terrível ultimamente).

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    2. Concordo plenamente com a Inês de La Fressange..."chiqueretrésima!!!" e com a minha blogueira number one. Como moda lembra imediatamente Paris (sempre concordo com o Lúcido, até na paixão pela cidade luz), transcrevo as sábias palavras de quem mais entendeu e divulgou esta questão, além de ter afirmado que azul marinho é a cor mais chique, acertando na mosca azul :"Sem elegância no coração, não há elegância." (Yves Saint-Laurent, estilista francês).


      Gosto muito desta afirmação, também: "O luxo é a naturalidade com que uma pessoa usa uma t-shirt junto a peças caríssimas. Se não consegue, não está acostumada ao luxo. É apenas uma pessoa rica que pode comprar coisas." (Karl Lagerfeld, um dos mais influentes estilistas da atualidade).

      Na verdade o que temos assistido, aqui no Patropi, é um festival de mau gosto, com honrosas exceções. Vemos muitas mulheres usando tudo o que não deveriam, como por exemplo: roupas justíssimas (se magras, ficam parecendo cotonetes, se gordas, salsichão...e por aí vai).

      Uma amiga nossa, arteterapeuta, uma vez comentou: já reparou como muitas mulheres estão parecidas com travestis? Perguntamos: como assim??? (embora já tivéssemos repado neste equívoco desastroso).
      Ela começou pelas famigeradas roupas "à la periguete"...que mesmo a mulher tendo corpo escultural (convenhamos ... infelizmente, é exceção), fica vulgar, apelativo e "funcional" somente se ela deseja sexo, tanto para fazer michê quanto para satisfazer seus instintos eróticos. Se não for esta a intenção, não pode e nem deve usar esta roupa ridícula, em hipótese alguma, e em qualquer idade...se tiver mais de trinta, então, pode
      mandar internar..."tá surtada" rs.

      Abraço afetuoso
      Danilo

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    3. Danilo... e não é que tá cheio de cotonete, salsichão e surtadas por aí???

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  3. Eu nunca dei muita importancia a ditadura da moda,até porque,se a gente seguir essa linha,termina gastando muito dinheiro.
    Se eu me sinto bem dentro de uma roupa,para mim é o bastante.

    Monica.


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    1. Monica, tenho que dizer: cuidaaaaaaado, mulher!!!! Aí é que mora o perigo. Já viu o Esquadrão da Moda? (O americano, que passa na TV a cabo, e não a cópia brasileira ultra mal-feita). Não pode ser o bastante só a gente se sentir bem. Se eu , por exemplo, pensasse assim, sairia de pijama todos os dias.Ó o perigo aí... bjos!

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    2. Sei de gente que se o critério fosse se sentir bem, sairia, tranquilamente peladona, não fosse o falso moralismo do atentado ao pudor (de quem? se nascemos nus risossssssss).

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    3. Não Anônimo,o meu "sentir bem"não chega a tanto,rs até porque,eu seria presa rapidinho,como vc bem lembrou,rs.
      Fernanda,essa do pijama foi ótima,eu tambem já ví algumas vezes,o Esquadrão da Moda americano.Mas no meu "sentir bem"tem que ter os devidos limites,principalmente no meu caso,que preciso sair de segunda a sexta feira.Mas prometo que vou pensar no lance do pijama. rs Bjs.

      Monica.



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  4. Agora vamos falar um "cadim" mais sério, afinal, as aparências enganam aos que odeiam e aos que amam. O que está por trás do discurso da propaganda ou da moda? Qual o objetivo?

    A comercialização de estilos de vida é evidente , afinal, no neoliberalismo tudo se transforma em valor de mercado, até as emoções e os amores líquidos. Não por acaso, grandes pensadores como Ana Arendt, Nietzsche e Lipovetsky veem a moda e seu ar de futilidade, como a tônica da existência despersonalizada, na sociedade de existência vazia e alienada, onde predomina o consumo de tudo e todos.

    Concordo plenamente com o filósofo Renato Bittencourt quando afirma:"Moda e consumismo se tornam temperos que concedem sabores pretensamente mais sofisticados a um paladar doente, incapaz de perceber a frugalidade e a sobriedade da simplicidade da vida". São sofisticados tecidos que ocultam feridas de uma sociedade anestesiada e líquida, despersonalizada quase sempre. A moda produz uma falsa noção de singularidade diferenciadora do rebanho anônimo , além de produzir excitação psíquica pelo novo, na eterna e insatisfatória busca pelas novidades fabricadas cada vez mais aceleradamente.

    Destarte, ela visa estabelecer padrões de estilo, regulando o uso de vestuários, consumo de bens e critérios de gosto, ou seja, uma espécie de moralidade secularizada. Para Kant "O engenho é inventivo na moda, com regras de comportamento adotadas que só agradam pela novidade. Antes de se tornarem costume, terão de ser trocadas por outras formas igualmente passageiras".

    Acontece uma aniquilaçao da autonomia do consumidor, uma redução estética do indivíduo, quando ele acredita se diferenciar dos demais, ao usar determinada roupa (etiquetada) ou consumindo aquele produto fashion.

    Na verdade, a pessoa incauta apenas transferiu sua capacidade de decisão aos ditames do mercado, de gosto muitas vezes bastante duvidoso, com produtos cada vez mais homogeneizados, para satisfações universais "standardizadas", tão prejudicial ou danoso como a macdonaldização dos comes e a "cocalização" dos bebes. Cruzes!!!

    O brilhante pensador francês Jean Baudrillard diz: "Moda e consumo mascaram uma inércia social profunda, uma falência social, por meio de mudanças cíclicas de objetos, vestuários, etc., e assim ilude e desilude a real exigência de mobilidade social".

    A avaliação que considero mais interessante é do filósofo francês Dominique Quesada: "Cada homem que aceita uma marca, demonstra sofrer a tirania desta, mantendo-se na servidão voluntária, e não pode fazer outra coisa a não ser transmiti-la".

    Podemos concluir que, desta maneira, a moda apresenta um teor tecnicamente fascista, exigindo nesta "lógica" social das aparências, uma devoção incondicional pelo padrão estabelecido, lamentavelmente.

    É justamente pela ausência de pensamento e senso crítico, além da infantilização dos consumidores, que os especuladores e exploradores do sistema prosperam.

    Alguns de nós, contudo, estamos livres destas armadilhas, e não caímos no canto da sereia da hora, principalmente as ovelhas negras mais danadas rs.Elas entenderam, ontologicamente, que a existência constitui-se única e exclusivamente de diferenças ou diversidades, o tal do pluriverso. Ato contínuo, para cada ser humano existe uma singularidade própria intransferível, irrepetível e absolutamente independente de critérios morais, religiosos e políticos.

    Uniformização ou pensamento único neoliberal camulha sentimentos enviezados fascistóides ou nazistóides(?!) de alterfobia, intolerância, exclusão e preconceito, evidenciando uma dezumanização e um claro retorno à barbárie.
    .
    Santé, alegria e axé!!!
    Marcos Lúcio

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    1. Marcos Lúcio, vamos parar de enrolação e abrir logo uma empresa de consultoria (em qualquer assunto)... estamos perdendo dinheiro e desperdiçando seu talento para dar pitacos sábios em qualquer assunto. Aliás este é um nome ótimo para a nossa empresa: "Pitaco Sábio". Topas?

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    2. Entendi que você gostou da minha modesta colaboração, agradeço muito seu prestígio... como seu franco admirador, afinal, elogios de elogiáveis são sempre bem vindos.

      Posso garantir que já dou , há bastante tempo, consultoria em alguns assuntos, mas ainda não cobro (possuo a síndrome de não saber cobrar...do Chico Xavier ou do Sobral Pinto?).Outra hora explico melhor, pra não cansar a sua fina freguesia.

      Vamos combinar, sim...de cara gostei do seu Sábio Pitaco.

      Gostei imenso do ressurgimento da nossa mui estimada Diretora do C.P.F.A.S, Gilda, e agradeço a consideração dela para com este mui modesto Presidente do Clubinho rs...
      Beijos para ambas, "oquei"?
      M.L.

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  5. Fernanda,

    Adorei o seu texto e as fotos, muito bacana.
    Estava com problemas no meu computador, e assim que ele ficou bom, li todos os seus textos e gostei muito.
    Como sempre Marcos Lucio dando a sua colaboracao impecavel.
    Tenho a descordar dos shorts e das minis que so devem usar mulheres ate 20 anos, tem muita mulher que ate seus trinta anos na minha opiniao nao fica feio nao (claro tem que ter corpo e pernas para tal), quanto as botas, dependendo da onde voce esta, as de cano longo abaixo do joelho, de salto baixo acho elegante tambem.

    Felicidades,

    Gilda Bose

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    1. Gildaaaaaaaaaaaa!!! Que bom ter notícias! Eu já estava pensando em escrever um post perguntando aos leitores se alguém teria notícias suas. Ainda bem que voltou. Olha: eu adoro botas! Mas no calor do Rio não tem condição! Mas o shortinho eu só uso em casa... bjos

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  6. Fernanda,

    So voce poderia ter noticias minhas, pois nao faco comentarios em nenhum outro blog. (olha a exclusividade sua rsrsrsr). Quanto ao nosso estimado Presidente Marcos Lucio, acho que eu entendo, pois tambem nao sei cobrar nada, tudo que sei ou (aprendo) passo para os outros.

    Beijos para ambos.

    Felicidades.

    Gilda Bose

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    1. S´aqui?! Isso é que é prestígio, hein? Muitíssimo obrigada, seus comentários são sempre muito bem-vindos!

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