quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Sra. "Gente fina" esqueceu a finesse em casa


Desta vez a loja era de bolsas, e eu estava de frente para o único espelho que havia, bem estreitinho, inclusive, decidindo se comprava ou se não comprava uma tiracolo. Então ela entrou, poderosa, como se, passados uns 50 anos, ainda estivesse desfilando para Dior lá em Paris.

A loja estava vazia, note bem, duas vendedoras de pé, sem fazer nada, e a digníssima senhora, ex-modelo, ex-bonita e atual colunista de comportamento e autora de textos muito legais, achou por bem parar exatamente entre mim e o espelho. Com sua pose de rainha-mãe, ignorou as vendedoras que estavam à toa e se dirigiu à moça que me atendia. Não falou boa tarde nem por favor.

-- Você tem aí um sacolão de lona?

Ela estava tão próxima, ensanduichada entre mim e o espelho, que fiz questão de continuar paradinha ali, só para ser tão desagradável quanto ela, que parou naquele exato lugar e dali não saiu, deflagrando uma batalha invisível entre nós duas, uma disputa para ver quem é que daria um passinho atrás.

Os minutos passaram enquanto ela conversava com a vendedora e ao mesmo tempo fingia me ignorar -- embora isso fosse impossível dada a proximidade em que estávamos -- e foi quando dei o xeque-mate: puxei das cordas vocais a voz mais educada que pude, toquei de leve seu braço fazendo uma pressãozinha para afastá-la, forcei um sorrisinho amarelo e pedi:

-- A senhora pode por favor me dar licença?

Ela interrompeu o papo com a moça e, mesmo sendo mais baixa, olhou-me de cima, como se eu fosse o protozoário da varejeira do cocô do cavalo do bandido... esboçou uma cara de nojo (de quem não comeu e não gostou) e deu um passo à frente.

Saiu da loja sem comprar e sem dizer muito obrigada, provavelmente rumo a Paris, cidade que adora, segundo gosta de contar em suas crônicas. Mas será que lá em Paris ela também banca a superior? Ou é só aqui entre nós, os mortais do Terceiro Mundo, que seu nariz fica tão em pé? Por aqui, ela desfila tentando mostrar que não tem só o Luís XVI na barriga, e sim a dinastia inteira dos Bourbon ali guardadinhos na pança.

O negócio é o seguinte: a gente lê as crônicas super legais que ela escreve... lê as entrevistas inteligentes que dá... e fica com a impressão de que a figura é gente finíssima, sente até vontade de tomar um café com ela e conversar a tarde toda. Mas o caso é que "gente fina" é outra coisa, e está longe de ter algo a ver com tirar onda de madame. A digníssima senhora, apesar da pompa de que se cerca, não tem nada de finesse.

Por falar em café, foi quando lembrei do dia em que, comendo pão de queijo com o escritor Fernando Sabino, comentei que certa poetisa brasileira, uma das maiores, deveria ter sido pessoa incrível, e os escritos dela estavam aí pra mostrar isso: pessoa com tamanha sensibilidade só poderia mesmo ser bacanérrima. E ele, que havia conhecido bem a dita-cuja, me contou:

-- Vaidosa. Vivia puxando o tapete dos outros...

É, leitor... que Deus nos dê discernimento para separar a pessoa pública que vemos (famosa ou não) da que ela realmente é, sem maquiagem. E que tenhamos verdade suficiente em nós mesmos para sermos quem somos sem ludibriar ninguém.

P.S. Que ninguém se engane comigo... este blog é pra lavar a alma, o que significa que, de vez em quando, ela fica bem sujinha...


                                               Ontem mesmo dei uma lavada nela!!!
 
Leia também:
Eu e os velhinhos que de fofos não tinham nada

21 comentários:

  1. Minha falecida avoh ja me dizia: "Meu neto, cuidado com os/as babacas. Sao irrecuperaveis!".

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  2. Que bruaca!!!! Sérgio Natureza - BA

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  3. Fernanda, mais uma "gente fina" para a coleção...(retirado do FB)

    “ Hoje gostaria de relatar a decepção que tive ao encontrar ontem a Lilia Cabral no Shopping da Gávea. Digo decepção, simplesmente, porque eu havia assistido no domingo passado sua premiação como melhor atriz pelo papel de Griselda ( Pereirão) no Faustão, quando ela fez discurso comovente com simpatia e simplicidade. Enfim, ontem eu estava com uma amiga e suas filhas gêmeas de 5 anos. As meninas, deslumbradas ao esbarrar com ela no corredor do shopping, mencionaram o Pereirão. Afastando-se num passo rápido, ela fingiu que não ouviu. Eu e minha amiga chamamos em voz alta pelo Pereirão, para que ela desse uma atenção às pequenas. Lilia simplesmente parou, botou as mãos na cintura, e nos fulminou com um olhar daqueles que matam ou fazem a gente se sentir uma formiga. Na mesma hora , espontaneamente, eu disse: desculpa , você não gostou???/ Ela então, na maior rispidez, disse que ela se chama Lilia e não Pereirão, que de todos os lugares que anda só no Rio as pessoas se dão essa “intimidade”. Sem parar nem para respirar, seguiu com a espinafração dando o exemplo de uma menina que acompanhava a novela em Boston e ao encontrá-la no Rio, acompanhada da avó , teve a mesma reação. Só que a avó na mesma hora corrigiu a menina dizendo que ela se chamava Lilia. Perplexa, eu enfim tomei coragem e perguntei se era tão ofensivo a ela ser abordada como Pereirão, personagem que a fez ganhar o prêmio.... Ela, sem graça, continuou a repetir e disse para eu me colocar no lugar dela , sendo uma atriz. Eu respondi que JAMAIS poderia me colocar no lugar dela , pois eu imaginava o quanto uma atriz , pessoa pública , deveria ser assediada , e para encerrar me despedi: Tchau, Lilia, e mais uma vez desculpa. As crianças ficaram decepcionadas, claro, e quem estava em volta, horrorizado”.

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    1. Não sou atriz e entendo perfeitamente a situação da dita cuja. Não entenderia se fosse somente o assédio destas duas criancinhas e de mais ninguém, nunca. Já imaginou quantas crianças e marmanjos a infernizam o tempo todo e em todo e qualquer lugar, com este apelido caricato??? Nem Jó _na sua infinita paciência_daria conta disto. Ainda mais após o sucesso estrondoso que "O Pereirão" fez. Veja bem, ela não estava representando/trabalhando e muito menos ganhando cachê no corredor do shopping.Ali era somente a Lilia , sim!
      Aquela avó que corrigiu a neta se colocou no lugar da atriz, sensatamente. Tenho amigos atores e sei do inferno que é...não têm direito a um minuto de privacidade...as pessoas acham-se no direito de importuná-los . Até quando estão jantando, são interrompidos, pasme! Também interrompem suas corridas no calçadão. E fotos? Imagine se pararem para fotografia com toda criança ou adulto que queira...não farão mais nada na vida, além de não saberem qual a utilização daquela imagem . Já soube de artista assediado até em Motel, coitado... sem direito a umazinha, tadinhos. As pessoas esquecem que assim como elas, milhares de outras também estão importunando os atores. Se ela não foi gente fina, é porque não foram gente fina com ela.

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    2. Fernanda,eu não penso assim. Ator é abordado na rua no mundo inteiro. Se eles forem educar as pessoas para distinguir o privado do público sempre que forem abordados, é melhor cair fora da televisão. É muita exposição para exigir não ser chamado pelo nome do personagem do último trabalho. Jogo de cintura nessa hora é fundamental e aposto que ela precisou muito disso chegar ao papeal principal de uma novela.
      Um abraço e bom dia.
      Raquel

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    3. Raquel e Anônimos... esta história tem dois lados (no mínimo): deve mesmo ser muito chato ser pessoa pública e chamar a atenção na rua; já pensou ter que estar sempre simpático e disposto a conversar com os fâs? O avesso do lance é que realmente não existe ator de sucesso sem o público, e eu, que como jornalista já conheci muitos deles, digo que no começo fazem de tudo para aparecer, mas depois da fama, tornam-se em geral avessos a badalações e muitas vezes mal-educados. Por isso é que eu não banco a tiete de ator de televisão. E se vocês querem saber, nem acho que eles mereçam tietagem. Abraços!

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    4. Concordo radicalmente com a blogueira. Não devemos esquecer de que muitos fãs _ o povo da tietagem, ainda mais com esta coisa horrorosa, de mal gosto e popularesca que a tv se tornou_são pessoas mal educadas, inoportunas, invasivas e chatas, na melhor das hipóteses. Ser famoso é uma coisa, estar disponível, como se fosse objeto de uso para "Claras, Anas, e quem mais chetgar...", é o fim da picada ou a picada do fim.
      Assim como F.Dannemann, não entendo e não reconheço motivos suficientes de tamanho assédio __antigamente eram as macacas de auditório se rasgando e dando ataques de pelanca , pitis homéricos, siriris campelos e faniquitos mis rsrsrsrs... as fãs alucinadas da Emilinha e Marlene(prefiro Marlinha e Emilene rsrsrs)__ para idolatrar um ator/atriz de tv, com seus trabalhos embora muitas vezes bem realizados, mas sempre rasos ou inconsistentes...devido à velocidade e à superficialidade, além da mediocrização e infantilização destes tempos ditos "modernos" ...ou seriam merdernos?!

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    5. Adorrrrrei lembrar das macacas de auditório, que se rasgavam, davam ataques de pelanca, pitis homéricos, siriris campelos e faniquitos mais... quá! quá! quá!!!!

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    6. Sabia ... melhor: tinha certeza de que você iria adorrar!!! estas pitiáticas, inclusive das fãs "histérricas" de Marlinha e Emilene kkkkkkk.

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  4. Fernanda,

    Adorei o seu texto. Parabens !
    E por essas e outras que eu tenho pavor de conhecer pessoas que dizem ou escrevem coisas e que na realidade sao totalmente opostas. Tai uma coisa que eu nao aguento .... tudo bem, tem certos dias em que a TPM ataca, mas do jeito que voce descreveu a situacao e falta de educacao mesmo, daquela de berco, que nao ha dinheiro no mundo que compre. Mais triste ainda e saber que existem muuuuitas pessoas assim.



    Felicidades,
    Beijos

    Gilda Bose

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  5. Fernanda,

    Ja ia me esquecendo, em Paris ela nao seria besta de fazer o que fez e nem de ter esta postura.

    Beijos

    Gilda Bose

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  6. Já falamos sobre isto e concordo, mais uma vez, radical e pletoramente com você, inclusive com o seu excelente comentário, no último post do blog Rio Acima, que sugiro também a visita, sempre. Deixei lá uma réplica merecidamente elogiosa.

    Tenho um amigo que recusa ir ao camarim da Bethânia (apaixonadíssimo pelo trabalho dela _só o artístico, pois andou gravando algumas bobagens), justamente para não ter decepção.

    Desde que caí na real (se é que caí rs...) separo absolutamente a vida pessoal do artista, do seu trabalho, enfim, da sua arte, sem a qual minha vida perderia muito do sentido.

    Acredito que ocorre com a Danuza o tal do faça o que digo mas não o que faço. Observo que é muito difícil, quase impossível para a maioria dos seres humanos, pensar, sentir, dizer e fazer a mesma coisa. A tal da coerência fica a ver navios...

    Quase sempre, principalmente para os talentosos escritores, como o magistral Fernando Pessoa, dentre inúmeros, a literatura é uma compensação, o que poderia ser ou um substituto das suas inseguranças, medos, frustrações, carências e quejandos...destes seres inadequados, tímidos ou com problemas de adaptação, mas excessivamente sensíveis e talentosos.Escrevem o que gostariam de viver ou para organizar o pensamento, pois na prática, costumam ser atabalhoados e sem presença de espírito (que já se fez presente nas letras). Passam a limpo, com suas pérolas literárias, a vida que vislumbram ou sentem "suja".

    O excepcional Rubem Alves afirma que ostra feliz não fabrica pérolas...

    "Resóperadaumo": o ser humano é aquilo que faz, como se comporta,como trata os semelhantes, enfim, é através das suas atitudes e jamais do seu discurso ou da sua arte, que devemos deles nos aproximar e permanecer ou não.

    Amor para mim é prática, é a forma como se lida, como se respeita e como se admira, jamais uma simples declaração, ainda que seja poética. Não sou romântico, sou utilitarista -o que não significa pragmático_e com resultados prá lá de satisfatórios, graças ao "TODOPODEROSO".

    Santé e axé!!!
    Marcos Lúcio

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  7. Mauro Pires de Amorim.
    Certas pessoas não aceitam a passagem do tempo e vivem no passado e do passado. Tal qual em estado de torpor ilusório em seu mundo de redoma.
    Percebo que essas pessoas são profundamente infelizes, precisando viver no passado e do passado, quando conseguiram alguma felicidade ou ao menos, o que conceituaram como tal. Mas enfim, o conceito de felicidade de uma pessoa nem sempre é compatível, similar, com o de outra.
    Mas sem dúvida, essa senhora a quem você se refere em seu texto, ainda que alguma vez no passado tivesse tido felicidade e estivesse tentando ressucitá-la. Seu conceito de felicidade depende e dependeu da humilhação e desprezo por outras pessoas a quem ela julgou e julga inferiores.
    Lamentável esse culto ao conceito de felicidade que depende do subjugo, da humilhação, da submissão de outrem. Afinal, conforme certa vez expressou Mahatma Gandhi. "O que mais me impressiona nos fracos é a necessidade que tem de humilhar os outros só para parecerem fortes".
    Felicidades e boas energias.

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  8. Fernanda,coloque isso na sua cabeça: Bom dia,boa tarde,boa noite,dá licença,por favor,obrigada,desculpe.
    Essas palavras infelizmente foram esquecidas pela maioria das pessoas,e é com essas pessoas que a gente tem que conviver aonde quer que a gente vá... Bjs.

    Monica.

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  9. Fernanda,

    Nao querendo por mais pimenta no assunto, rsrsrsrs
    Eu tive a mesma impressao que o nosso estimado Presidente Marcos Lucio, qie era a Danuza .... e que voce a descreveu tao bem, que logo pensei nela ......agora se e ou nao e ....tchan tchan tchan, tchan ......eu nao sei ..... rsrsrsr

    Felicidades,

    Gilda Bose

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    1. Gilda, nem tudo o que parece é, e as aparências enganam. Volto a dizer: eu não afirmei, em nenhum momento, que se tratava da Danuza, colunista aliás a quem admiro. Bjos

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  10. Me desculpe: Eu gosto muito que façam comigo o que a dona fez com você. Gosto porque é quando ponho nas costas delas, todo o meu ódio acumulado e deixo que ela, a idiota de plantão saia levando todo o mau guardado. O passo seguinte é sentir-se vítima e não se pode sentir pena da infeliz, porque senão... O babado volta.

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