quarta-feira, 6 de março de 2013

O "Paradise" da Pinóquia

Pois desta vez foi a Pinóquia que apareceu pra ocupar o posto de diarista aqui em casa. A moça era ótima, chegava cedo, limpava tudo bem à beça, não bancava a tagarela, não faltava... era bom demais pra ser verdade, mas mesmo assim (ou talvez por isso) meu radar já estava com a língua de fora, de tanto apitar e acender todas as suas luzes. Alguma coisa não estava no lugar... mas fiz o que me convinha e tratei de ignorar minha intuição, mesmo pressentindo que aquele “Paradise” não ia muito longe.

A primeira mentira foi quando ela disse que era moça muito séria e não queria saber de homem. Fiquei olhando para ela, aos vinte e poucos anos mãe solteira de três filhos de pais diferentes, que terminava de calçar a sandalhona de salto para ir embora e, vestida com uma roupa colante e decotada, fazia caras e bocas de mulher braba ali na minha cozinha. Mas sabe? Se tem uma coisa que mulher não disfarça, é que gosta (e gosta muito)  de namorar. Taí uma mentira da pior espécie, a que é gratuita: se eu não perguntei, por que ela veio dar satisfação?
Dias depois falou da reunião matinal que sempre rola entre porteiros, diaristas e empregadas domésticas lá na portaria, quando a onda é meter o pau nas patroas. E vi a nota de esgar em sua voz quando ela contou, em tom de confidência:
-- As empregadas chamam as patroas de piranhas e contam tudo o que acontece na casa delas.
Êpa! Como é que é? Parti do princípio de que ela JAMAIS me chamaria de piranha e fiz a pergunta fundamental:
-- Você fala alguma coisa daqui de casa?
-- Nããããããoooo, imagiiiiiiiina...
Será que eu também fazia parte do bloco das piranhas? Será que minha casa estava em boca de Matildes?! Recusei-me a crer...
-- É CLARO que ela te chama de piranha – disse meu marido, e depois todas as amigas para quem contei o lance.
Do alto de sua sabedoria de décadas, minha tia entrou na conversa:
-- Nada é perfeito. Trocar de empregada é como trocar de marido, a gente só muda os defeitos.
Ok, ok, o jeito era fazer vista-grossa para os papos dela e seguir em frente. Se ela gostava de bancar a santa-do-pau-oco, o que é que eu tinha com isso? E se ela ficava de fofoca lá embaixo, quem era eu, pra me meter?  Ninguém. Era apenas a patroa que pagava o salário dela (e de quem ela falava mal), mas isto era um mero detalhe diante da perspectiva de ter que encarar todo o serviço doméstico, e logo agora, que eu já estava quase me acostumando de novo com a vida mansa. 

Nãããããão... eu não podia tomar a trágica decisão de demitir a diarista só porque ela falava mal de mim lá com a turma dela, e por causa de umas histórias rocambolescas que ela contava cada vez mais, de mentiras que se amontoavam pela casa como se fossem trouxas de roupa suja e pilhas de pratos usados... Se fosse pra demitir, haveria que ser por um motivo incontestável, daqueles com prova material! Um motivo indesculpável, inafiançável, indisfarçável, daqueles que eu não pudesse relevar nem varrer para debaixo do tapete.
Mas o problema da mentira é o seguinte: ela é sem-vergonha e se acha mais esperta que todo mundo; ela vai ficando cada vez mais cabeluda, crente que a pessoas são burras e caem em qualquer disparate. E foi assim que aconteceu: chegou o dia da festa, procurei por todas as gavetas aquela calcinha horrorosa de lycra, bege, enooooorme, ideal para vestidos justos e transparentes. E cadê?
Não apareceu, não teve jeito. Perguntada sobre o paradeiro da peça, a Pinóquia me saiu com esta:
-- Semana passada a senhora disse que a sua sogra vinha para uma visita no domingo. Será que não foi ela quem pegou?

17 comentários:

  1. Fernanda,

    A minha intuicao funciona assim:

    Se alguem faz algum comententario sobre outra pessoa comigo, tipo fofoca, com certeza esta mesma pessoa tembem ira comentar de mim para outras pessoas.
    So dou ouvidos para aquelas conversas que me informam ou me ensinam alguma coisa.

    E se eu tiver que dizer alguma coisa a alguem, nao mando recado.

    Ninguem e perfeito, e nao e mesmo, e infelizmente nao temos como saber sobre a personalidade de todas as pessoas que entram em nossas casas .........do qual e uma falha, pois a nossa casa tem que ser preservada.

    Felicidades,

    Gilda Bose

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    1. Não tem jeito, a gente tem mesmo que ouvir a intuição, porque quando não ouve sempre se estrepa!

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  2. Faço minhas as palavras da Gilda.A sua intuição não falhou, afinal, além de moça séria , ela disse que não queria saber de
    homem ??? Só acreditaria se fosse assexuada ou, na melhor das hipóteses, lésbica... o que considero tão natural quanto não ser.O perfil da "ditacuja" não casa com:"aos vinte e poucos anos mãe solteira de três filhos de pais diferentes, que terminava de calçar a sandalhona de salto para ir embora e, vestida com uma roupa colante e decotada"...tipicamente periguete/cafona que, como tal, sempre dá uma aparência de vulgaridade, conceitualmente, né?.

    As amigas, o marido e a tia estão prenhes de razão, nas suas análises ou conclusões. Massssssss a pinóquia colocar a culpa na sogra, parece até piada de mau gosto e demonstrou , mais uma vez, que a perna curta da mentira acaba aparecendo...é difícil-haja paciência- descobrir quem é a menos pior das candidatas a diarista para os serviços do "lardocelar" rs.
    Santé e axé!
    Marcos Lúcio

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  3. A sua sogra certamente ficou chateada,com essa história pra lá de desagradável...

    Monica.

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  4. No episódio anterior da saga: FERNANDA E AS DIARISTAS( a outrora amada, que lhe abandonou e as candidatas ao posto vacante), considerei a hipótese da talentosa e aguerrida blogueira estar em processo de atualização e limpeza kármica.
    O episódio de hoje, acrescenta elenentos de negação de desejo, intriga e furto, encenados pela recente ex-diarista, cujo desempenho era de beleza apolínea. Engano. A verdadeira face da inquestionável profissional de faxina, desvelou-se após o furto de peça íntima com apelo sedutor de gosto duvidoso e concomitante insinuação de imputar crine , á sogra da blogueira, que lhe visitara antes da descoberta do furto. Decidida, nossa blogueira preferida demitiu sua quase perfeita colaboradora, mergulhando, outra vez, no inferno quase Dantesco, de vassouras, flanelas, aspirador de pó...em trágico e solitário exercício de manter limpa, a casa que co-habita com o Prííncipe Eleito. Mais uma prova à ser superada pelo destemido casal.
    Construo uma segunda hipótese e uma sugestão:

    Hipótese: em vidas passadas,nossa blogueira infringia severos castigos de toda ordem aos empregados(as) que lhe serviam, isso, provavelmente, no período Vitoriano, do qual manteve o nome: D Fernanda.
    Sugestão: marcar algumas sessões de TVP( não vale comigo, pois, de certa forma, somos íntimos)
    Conclusão: é tudo bricadeirinha, tá legal?

    Boa noite e boa sorte no próximo episódio. Até lá.

    ANTONIO CARLOS

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    1. ADORRRRRRREI!!!!!!!!!!!!!! Além de poeta, nosso Antonio Carlos, o pitaqueiro-assistente-mor (eleito democraticamente) tem talento inegável para as histórias de reis, rainhas, príncipes (o co-piloto) e princesas reais (eu, desde priscas eras, como diz o Marcos Lúcio), além de seres mitológicos (no caso, as "peças" que têm se candidatado ao cargo). Pode aguardar porque em breve por certo haverá um novo capítulo da saga. Quanto à nossa intimidade, concordo, ela de certa forma já existe mesmo, por isso trate de me indicar um substituto... se bem que talvez um Pai-de-santo seja melhor.

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    2. Também adorei as hipóteses "antoniocarlistas", posto que, além de divertidas e inteligentes são ...prá lá de divertidas. Ele bateu um bolão, né???Até a próxima saga de Dona Beja e suas mucamas rsrs...
      Para os que (se) desconhecem a histórica e mítica personagem, garimpei este diamante existencial, que tenho como como exemplo.
      Das estórias de Dona Beija (lá em Araxá) uma das mais conhecidas é esta: certas senhoras incomodadas com a presença daquela mulher "perdida" que tinha hábitos pouco convencionais, mandaram-lhe um dia uma estranha caixa como se fosse um presente. Ao abri-la Dona Beja notou que o conteúdo era um monte estrume. Evidentemente ficou chocada. Mas resolveu dar uma resposta inversamente proporcional à ofensa. Mandou colher rosas, botou-os dentro de uma caixa e despachou-as para as referidas senhoras , com um bilhete: "Cada um dá o que tem".

      Dona Beja viveu em Araxá no século XIX. Naquela casa colonial, que hoje é museu, estão roupas, móveis, utensílios de cozinha e fotos de sua lendária figura. As aventuras e desventuras da bela Ana Jacinta viraram novela de televisão, Dona Beja virou Maitê Proença. Assim o público reviveu a paixão da linda jovem pelo fazendeiro Manuel Sampaio e o famigerado sequestro de que foi vítima pelo ouvidor do rei Joaquim Inácio Silveira da Motta.

      Mas o que em geral não se sabe é que o mapa de Minas foi alterado por causa dessa paixão. Diz o historiador Pedro Divino Rosa que o raptor da jovem, para escapar da condenação por sequestro de menor e outras falcatruas, facilitou a negociação para que o território que pertencia a Goiás, conhecido como Farinha Podre, voltasse à capitania mineira.

      Se Dona Beja é uma lembrança preciosa da memória dos mineiros, é bom que se saiba que um dos maiores diamantes do mundo foi descoberto em Estrela do Sul, cidade da região do Paranaíba. Corria o ano de 1853 e quem o encontrou foi uma escrava. Tinha 261,38 quilates e a forma de uma almofada. Passou pelas mãos de franceses, de holandeses e pertenceu até ao lendário e riquíssimo Marajá de Baroda.
      Santé e axé!!!
      Marcos Lúcio

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    3. Dona Beja era das nossas... garanto que se fosse a Paris, ia querer entrar para o nosso clube.

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  5. Legal, ter gostado da bricadeirinha.

    Abraço,

    ANTONIO CARLOS

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  6. Cuidado pra ela não te colocar na justiça do trabalho...

    SERGO NATUREZA - BA

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  7. Em tempo: infligia e não, infringia. Desatento, feri de morte, o Português( o idioma, claro)

    ANTONIO CARLOS

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  8. Ja tentou um do sexo masculino?

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  9. Feliz Dia da Mulher! (La em casa todo o dia e Dia da Mulher...)

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