quinta-feira, 7 de junho de 2012

Muito além do queijinho curado

Voltemos ao Visconti, porque este homem tem muito a dizer.

Não entendo nada de pintura, vou logo avisando, e felizmente tenho um co-piloto que saca do assunto e me explica as coisas nas exposições. Isto faz toda a diferença, porque uma coisa é só olhar um quadro... outra, totalmente diferente, é olhar o dito-cujo e entender o contexto do por quê que ele é assim ou assado.

Visconti, diferente da maiorira dos artistas de sucesso desta e de outras épocas, não se contentou em seguir o mesmo caminho. Ele ousou tentar vários estilos. Olha só: eu adoro Polock e Mondrian, por exemplo, mas estes dois, ainda que geniais, foram mais tímidos em sua criaitividade, limitando-se à forma de expressão que eles próprios criaram. Outros, que não chegaram a gênios, como Botero e Romero Brito, seguem variando sobre o mesmo tema, e acabam repetindo-se vida afora.

Aí é que está: a gente não precisa ser artista para incorrer na repetição. Saca o mineirinho que come sempre o mesmo queijinho curado? É disso que estamos falando. Se a gente não presta atenção, transforma todos os dias em um só, porque temos a tendência natural a não arriscar um salto no novo.

Experimentar uma torta de quiabo, ir a um restaurante tailandês, parar pra conversar com aquela pessoa, usar uma blusa rosa-choque, viajar para um lugar bem distante, ler um livro em espanhol, abrir-se para conhecer e aprender coisas novas... quem sabe até gostar!

Vou te contar: eu tinha preconceito em frequentar piscina de clube. Achava ultra-brega! E não é que agora a-do-ro ficar meia horinha lá? Outro: cinemão de Hollywood! Cruzes! Agora, quem diria, comprei a coleção de "O Senhor dos Anéis" e tenho até "Avatar!".

O negócio é o seguinte: na grande maioria das vezes em que provei um queijo diferente, eu, como boa mineira, achei que o tal queijinho curado era mesmo melhor. Por outro lado, minha vida vem ficando cada vez mais rica e divertida à medida em que provo os queijos diferentes. E se você quer saber, alguns até que são bem saborosos! Se a gente não se cuida, faz igual ao mineirinho que, ao encontrar o gênio da lâmpada, gastou seus três pedidos com três queijinhos curados!


1898: Em "Giuventú", o estilo Clássico que o consagrou:


1893: "o Homem do Gorro Vermelho". Outro Clássico
1922: Em "O Colar", lembra o Expressionismo


1917: Em "De volta às Trincheiras", ele mostra seu talento impressionista


1902: "Vista do Mar" nos remete ao simbolismo


1933: Em "Ilusões Perdidas" ele brinca com o Surrealismo

12 comentários:

  1. Mauro Pires de Amorim.
    Maravilhosos os trabalhos de Visconti. Não apenas em termos privados, particulares, que fazia como ofício profissional e eram, continuando sendo, negociados particularmente por seus proprietários, mas igualmente, aqueles que deixou publicamente registrados em locais públicos, onde, de forma genérica, quem frequentar tais locais, poderá admira-los.
    Ô Fernanda, não sumí não, apenas precisei priorizar meu tempo para outros afazeres.
    Saiba que gosto muito de seu blog, do Marcelo Migliacio e do Davis Sena Filho.
    Felicidades e boas energias.

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    1. Ah, que bom! Mas andei te vendo lá no Rio Acima e estranhei o seu sumiço daqui. Faça o favor de botar o Alma nas suas prioridades também, senão eu entro em crise!!!

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  2. Faço sempre as mesmas coisas, nos mesmos lugares e acho que não há nada de mal. O importante é descobrir do que gosta e aproveitar.

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    1. Mas é bom abrir espaço para coisas novas que a gente possa vir a gostar e aproveitar, né seu marcelo???

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  3. O que um filósofo e psicanalista francês Felix Guattari chamou de subjetividade serializada ou produzida, pode ser uma contribuição para o post da minha blogueira "number one"...tão bom quanto o "queijim minero".

    Segundo ele, nossa subjetividade ou interioridade interativa é condicionada, principalmente pela mídia- um forte dispositivo de poder, posto que queremos ser amados como captamos o que é ser amado pelos discursos desse poder dominante e controlador e normatizante, alienante; assim como deverão ser os cabelos das mulheres que só ficarão bons se forem que nem os daquela atriz ou se usarem o xampu tal e fizerem a escovinha tal.

    Ou seja, que se nos rastrearmos interna e profundamente, perceberemos que muitos de nossos desejos, escolhas, “lutas”, “batalhas” que constituem grande parte de nossa subjetividade, são produzidos, induzidos, criados de fora para dentro e nós os incorporamos por causa desse afã MALUCO de “querer” ser amado, de sermos incluídos nessa sociedade freneticamente capitalísta/frustrante/movida a "remédios" e cheia sempre de novos desejos e coisas/metas a almejar/alcançar.

    Num escaneamento profundo de nossa interioridade, constataremos que fomos induzidos e condicionados para situações que vão muito além da criação de um desejo por um xampu, de uma escovinha .

    Experimentar outras coisas, fora do (nosso) padrão, pode nos fazer perceber o quanto o simples _nossa verdade interior_se perdeu na complicação dos desejos induzidos, da nossa subjetividade construída, invadida.

    Guattari além de estudar essa subjetividade maciçamente produzida (são muitas coisas para ser, para ter, para aparentar…), também fala de uma subjetividade singularizante que é nosso jeito único de ser; que é essa simplicidade que Adélia nos traz sempre em sua poesia concebida em Divinópolis, no fogão, no quintal, na rua, na trivialidade….Oh! Minas Gerais...

    Muitos sabem o que deles é esperado pela sociedade. Poucos sabem o que, realmente desejam e esperam da vida.

    É, existe isso ainda em todos nós, em alguns de maneira mais aparente e fluída, porém, em muitos, essa subjetividade, essa espontaneidade, essa imunidade à força externa que pretende nos reconstruir (no pior sentido da palavra) está tão soterrada quanto a comunidade do Morro do Bumba em Niterói.

    Há um mundo muito mais real e possível que o "novelescorolíudiano" ou “produzido” pela Globo, e que as ovelhas negras ou os raros de auto-conhecimento e auto-estima conhecem. Mundo esse, onde nossa subjetividade não precisa atender a tantos modelos externos e onde, relaxada, a brilhante Adélia Prado constata que o amor está mais solto que imaginamos e "muito além do queijo somente curado" , e que precisamos REAPRENDER a ser.

    Então, iluminada, ela constata:
    “Meu Deus, quanto jeito que tem de ter amor”.
    Afetuosmente,
    Danilo

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    1. Danilo, acho que tenho que fazer um mestrado antes de conversar com você...

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  4. Com este humor ou esta sua humildade orgulhosa, como diria Saramago...obrigado pelo elogio que, na verdade, é para o genial Felix Guattari, d"accord,?

    Você não faz a mínima idéia da infinidade de coisas que ainda não sei, não vi e não li. As minhas ignorâncias levam a nocaute meus parcos conhecimentos.

    Eu que me cuide e me "prreparre", para tentar dar conta desta sensibilidade brilhantemente inteligente e culta da minha experiente e traquejada blogueira mestra . Não, por acaso, claro, minha favorita.

    Abraço, beijo e queijo "curadim"
    Danilo

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  5. Confesso que nao entendo nada sobre pintura. Meu "conhecimento" fica restrito ao "achei bonita", "achei feia", "gostei", "nao gostei". Mais do que isso fica dificil. Tambem, nao tenho la grande interesse em saber detalhes sobre um pintor ou o seu estilo ou detalhes. No meu simplismo fica o meu gosto, ou desgosto.
    Tenho uns quadros aqui em casa. O que mais gosto eh o da bicicleta em Parati, pintado por alguem que assinou e eu nao consigo decifrar.
    Tambem nao sou um expert em fazer cada dia um dia diferente mas posso te garantir que rotina e monotonia passam distante. Nao que eu nao seja organizado mas ser organizado, cumprir agenda, etc nao significa que o tempo disponivel, o tempo para o ocio seja apenas para o puro ocio. Sempre acaba sendo usado para algo mais agradavel, mais gostoso. Foi assim que acabei descobrindo o prazer de fazer cruzeiros! Eh tao bom que ja virou rotina...
    Ja escrevi aqui dos prazeres da vida. De coisas pequenas que estao ao nosso redor e as vezes nao percebemos mas, cada vez que consigo ver/sentir algo novo, isso me traz felicidade. Felicidade de apenas contemplar ja nos faz sair da rotina, nao?
    Estive observando as flores no pe de laranja que plantei no fundo da casa. Pela primeira vez elas apareceram e eu estou acompanhando o ciclo.
    As vezes, sempre que da, corro para pegar a camara para fotografar um passaro que pousa na cerca, uma lagartixa que estufa o papo que fica avermelhado, coisas assim. E curto isso!
    Coisas diferentes que fazem o dia a dia ser mais gostoso.
    A proposito, estou curioso: Qual era o doenca do pobre queijo curado? Sarou mesmo?

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  6. Adoro quadros! Sinceramente, hoje acredito que saborear um quadro sem ser um Expert, pra mim, um chefe da tribo como o Copacabana é muito fácil. Poderia falar de quadros... horas, mas não tenho quem ouça sem ser alugado, infelizmente.

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  7. O que me encanta eh a diversidade. Veja o que escrevi e o que o Alfredo escreveu.
    O ser humano eh maravilhoso!

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  8. Para Ariel: Vejo que você está no que de melhor a vida pode proporcionar. Tenho dito que apenas o tempo ensina e claro, tenho ouvido isso por ai. Desejando, visite o meu Blog. http://alfredo-modelosnavais.blogspot.com/

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