domingo, 15 de janeiro de 2012

Cavalo de guerra: o que é do homem, o bicho não come

Fui ver o filme “Cavalo de Guerra”, do Spielberg, justamente porque a crítica do jornal e da revista semanal que leio caíram de pau, dizendo que era sentimental demais. Como não confio na opinião dos críticos e sou mesmo uma sentimental, lá fui eu, com meu marido e meu saco de pipocas.

Adorei o filme desde o primeiro momento e não só por causa da luz, do figurino, dos personagens verossímeis e do olhar do Spielberg, que realmente faz toda a diferença, e por isso é que ele é quem é. Certa vez, um idiota com quem convivi por alguns anos parafraseou o cineasta Anselmo Duarte e disse o que salvou-o de ser, no meu entender, um idiota completo:

-- O crítico é aquele cara que queria ter feito, mas, como não fez, aponta os defeitos no que os outros fizeram.

Gostei. E é por isso mesmo que escolho o que vou ver com base na minha intuição. Pode ser coincidência, mas, em geral, quando a turma “especializada” diz que o filme é ruim, eu gosto. Será que é porque sou do contra?

Mas o caso aqui não é este, e sim o que o tal cavalo de guerra me fez pensar. O bicho é lindo, forte, cheio de opinião e tinhoso. Mas, mais ainda que isso, é um lutador e sobrevivente milagroso, que pelos mistérios da vida sempre encontra quem por ele se apaixone, e este simples detalhe lança os desígnios de sua existência. O que este cavalo tinha de diferente? Que força vital o impulsionava, de volta para casa, em meio ao caos e a desesperança total de uma guerra, na qual outros milhares de cavalos sucumbiram?

O filme é um conto de fadas, sim. Mas “Cinderela” também tem seu charme, e é preciso lembrar que, para nós, os espectadores, a alegria de viver também provêm destes roteiros rocambolescos, nos quais heróis e heroínas vencem batalhas quase perdidas... porque na vida real muitas vezes esperamos desesperadamente por um final feliz. E, graças aos céus, eles existem, sim.

O filme pode até viajar na maionese, mas nos mostra o quanto os soldados são gente, antes de serem soldados; e que a guerra não é capaz de acabar com a centelha de amor e humanidade que trazemos em nossa alma. A cena em que um inglês e um alemão param a batalha para socorrer o cavalo que está morrendo, pode, sim, ser chamada de sentimentalóide, mas está mais próxima do ser humano que gostaríamos de ser, do que os soldados americanos do vídeo que vazou esta semana na Internet, e que mostra a tropa urinando sobre cadáveres talibãs.

E tem mais: dentro de todo o romantismo do filme, ele também trata de uma outra verdade universal, na qual eu, que não acredito em destino, creio completamente. Como dizem os mineiros:

-- O que é do homem, o bicho não come.

Você pode até não acreditar, mas já tive provas deste dito popular em histórias como a da minha prima Iracema, que aos cinqüenta e tantos anos, preparando-se para o casamento com o amor de juventude, com quem não se casou por proibição da mãe, ficou viúva antes da cerimônia, porque o noivo não suportou a emoção.  Não era pra ser, e não foi.

Histórias como a da Iracema, na vida real, e a do cavalo de guerra, no filme, me fazem crer na força que certos acontecimentos fazem para acontecer, ou não acontecer... seja para a nossa alegria ou a nossa dor. Uma grande questão da vida é saber reconhecê-los e aceitá-los, para que a gente possa viver em paz.


3 comentários:

  1. Indepndemente de ainda não ter assistido este filme, Fernanda Carolina, concordo com as suas idéias que, também neste post, encontram , quase sempre, ressonância em mim. Afinidades eletivas, goetheanas...por supuesto...ou não?! O radical exemplo da sua tia _ e conheço outros que provocam , na maioria, igual estranhamento ou estupefação, no mínimo_ , lembram-me de duas frases do Caetano, que sondidero definitivas: "È incrível a força que as coisa parecem ter quando precisam acontecer"...e "o que tem de ser, tem força" et...voilà!. E quanto à fundamental aceitação (que de serta forma é tolerância com paciência), "sem dúvida de sombra" e sem sombra de dúvida, é um dos principais segredos e sagrados desta fugaz existência. O Guimarães Rosa pontifica; "Deus é paciência...o resto, é o diabo"~
    Poderosas e benfazejas energias, com forte abraço
    Marcos Lúcio

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  2. Depois do seu comentário interessantíssimo sobre o filme , senti-me muiiito inclinado a assisti-lo. Agora que o Marcelo fez o mesmo no último post dele, tentarei, hoje mesmo, correr pro cinema. Tornou-se quase obrigatório e urgente, então, posto que acompanho com interesse os blogues "docês". Aproveito para corrigir as digitações: independentemente, considero, coisas e certa, no meu afobado rara... comentário anterior.
    Abração.
    Marcos Lúcio

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  3. Fernanda,quanto mais os críticos metem o pau nesse filme,mais aumenta a minha curiosidade.
    Portanto,nem vou esperar o fim de semana,vou pegar o meu saco de pipocas,e vou assistir. Bjs.

    Monica.

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