quinta-feira, 3 de maio de 2012

O Rio de Janeiro continua lindo, mas...

Voltei para o meu guaraná, meu suco de caju e minha goiabada para a sobremesa...




Em Copacabana, me sentei numa mesinha dessas de calçada, num café bem gostosinho, para ver a paisagem carioca enquanto tomava um chá... sem direito a bolo, porque andei comendo horrores nas últimas semanas e agora tenho que fechar a boca, apesar dos protestos insistentes do meu estômago, aquele comilão.

Já ia eu pensando...

"Tá vendo, Fernanda, o Rio também tem suas belezas... olha que céu... aqui também tem gente alegre nos cafés, tem alto astral, tem turista do mundo inteiro pagando a peso de ouro por cada diária nos hotéis... "...

Bastou o primeiro gole do chá para ser abordada por um cara em andrajos, lá pelos 1,80 de altura e com uma leve nota de autoridade na voz de sotaque chiado do carioca malandro:

-- Ô tchiááá...  (Traduzo: "Ô tia...")

Levei um susto.

-- Ô tchiááá... dá um real aí, tchiáááá...

Fui logo me encolhendo, receosa de que ele desse um tapão na xícara que eu tinha na mão.

-- Não tenho.
-- Tem sim, tchíááá´... dá um real aí, pô!

Busquei inspiração na Mulher Maravilha e dei uma encarada no insistente:

-- Não tenho.

Ele desistiu, mas saiu reclamando. Menos de cinco segundos depois veio o outro, saído da mesma fôrma...

-- Aê, tchiááááá... tô com fome, dá esse biscoito aí!

Olhei para o palmier que repousava no pires e pensei rápido: "se eu der o palmier, ele vai querer o chá, se eu der o chá, vai querer dinheiro, se eu der dinheiro, que mais ele vai querer?".

-- Não tenho.
-- Dá aí um sanduíche, tchiiiáááá´, eu tô com fome!

O problema foi o tom de voz imperativo. Eu sentada, ele de pé. A xícara de chá no ar... será que ele vai dar o tabefe que o outro não deu e fazer a xícara voar?

Ameacei um gesto inconsciente de me levantar para sair dali, e ele se ofendeu.

-- Pode ficar sentada porque eu não sou ladrão não, tchíiiiááá!

E entrou no café, para esmolar lá dentro. Foi posto para fora por uma horda de garçons.

Ao vê-lo se afastando, minha alegria já tinha ido embora, e foi quando caí na real de que, realmente, voltei para o Rio de Janeiro... cadê o "bairro modelo" que o Paes disse que ia fazer de Copacabana?

12 comentários:

  1. Fernanda,

    Bem vinda ao Brasil, bem vinda ao Rio de Janeiro !!!
    Para voce ve, ferias quando ela e boa, faz a gente da risada de uma situacao triste, da qual voce passou, ao tomar um cha, sentada tranquilamente, apreciando a maravilhosa natureza do Rio .... garota, voce esta muito inspirada ...o seu "tchiiiaaa" foi o maximo ... ri muiiito.

    Felicidades,

    Gilda Bose

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    1. Oi, Gilda! Você andou sumida! Obrigada pela recepção calorosa! Beijos, tchiáááá!!!

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  2. Joaninha curiosa

    Eu quero chá e cheesecake, tchiáááá.

    È uma làstima, mesmo. O Rio de Janeiro é uma cidade maravilhosa, com um potencial imenso, mas a desigualdade social é dilacerante, e salta a todos os cantos dos olhos, mesmo se fechados. Certamente, nao é "dando um real" pros "menordemaior", que resolveremos a situaçao. A fome dòi na barriga de todos. A miséria nao conhece cor, ou pelo meno nao deveria conhece-la.
    Acredito que os governos federal, estadual e municipal, deveriam se comprometer em enfrentar uma SÈRIA campanha de natalidade consciente, educaçao sexual nas escolas pùblicas, e muito, muito investimento em educaçao, esporte; além de uma de oferecer à populaçao uma "programaçao televisiva de qualidade".

    Este negòcio de ficar maquiando a cidade para inglês ver, nao dà.
    Aliàs, nunca deu.

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    1. Falou muito bem, Joaninha Curiosa! Concordo com tudo, de A a Z. Inclusive, eu também quero cheesecake, mas prefiro um capuccino com pana em vez do chá!!! Dá pra ser ou tá difícil tchiáááá????

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  3. Bem Vinda, Fernanda.
    Seus comentários europeus foram deliciosos.
    Paulo

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    1. Oooooiii, Paulo! Obrigada! Fico contente demais em saber que você continua por aí, ainda que invisível! Quede a nossa entrevista? Abraços!

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  4. Tudo bem,agora que a ficha caiu,vc já se ligou que está no BRASIL,onde as promessas de alguns dos nossos políticos,dificilmente são cumpridas,mas vamos combinar,é muito gostoso está de volta á esta terrinha,não é verdade? (Apesar de tudo.) Bjs.

    Monica.

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  5. O choque cultural na Europa é para o bem, o bom, o culto e o belo _quase sempre. Aqui, no Patropi, fundamentalmente na Cidade Maravilhosa...o choque é econômico e não
    só pela infinidade de favelas...que não param de "crescer". Infelizmente, mendigos, descuido e sujeira são exponenciais neste purgatório tropical... da beleza e do caos.

    Se, como brasileiros, já não suportamos o aumento da miséria ou mendicância...e não existe política de controle de natalidade por conta, principalmente, da condenação da igreja _eu prefiro chamar de reprodução irresponsável_ , imagine o choque ou transtorno que esses pobres indigentes causam aos turistas estrangeiros.

    Os cursos de Turismo e Hotelaria da UniverCidade, RJ, realizaram uma pesquisa para definir o perfil do turista estrangeiro ,na alta temporada. Foram ouvidos 500 turistas estrangeiros sendo que, 45% eram europeus, 35% norte-americanos, 15% sulamericanos e 5% asiáticos.

    Os pontos negativos destacados pelos visitantes foram a população de rua (40%), seguido pelos vendedores ambulantes e sujeira (25%), segurança (20%), informação turística deficiente (10%)
    e táxis (5%).

    O que mais impressiona é a percepção de que os pedintes estão "convencidos" da obrigação dos turistas em dar-lhes dinheiro...dá aí tchiaááá!!!

    Não cabe aqui expor as causas que afoga um sem número de pessoas num caldeirão de mazelas e tampouco julgá-los inconvenientes, apesar de o serem porque uma parte tem a violência como aliada, enfim, uma inconveniência travestida de medo. Diante de inúmeros mendicantes com os quais já me deparei, senti angústia por ver desventura estampada nos olhos deles, sem perspectivas, castigados pela exclusão, e totalmente sem valor diante da sociedade onde se é estimado pelo que se tem.

    Uma vez -só para citar um exemplo e são infinitos_ estava à beira-mar , em Copa, e bebia/beliscava com grupo de amigos quando uma moça se aproximou vendendo um tipo de arte simplória. Ela estava macérrima e grávida (NÃO SE COMBATE A MISÉRIA COM A PROLIFERAÇÃO DESORDENADA E DESCONTROLADA DOS MISERÁVEIS).

    Como não se sentir mal diante disso? Uma onda de culpa e egoísmo me invadiu. Tenho de fato eu culpa, mesmo indiretamente? Claaaro, que não! E o aumento em escala astronômica dos miseráveis é incompatível com o tamanho da terra...que continua o mesmo.

    Desses seres errantes, sei que a maioria não teve condições de estudar ou oportunidades, porém estou convencido de que uma parcela não se esforça o mínimo para garantir o seu sustento e o movimento de estender os braços aos que passam tornou-se um movimento automático.

    As crianças, que não são poucas, por originarem-se de famílias desestruturadas-muitas já nascidas nas ruas_, fazem delas seus lares por parecerem lugares mais atraentes. Também os que permanecem com a família são incentivados a pedirem, sendo estes o tipo que acostuma a ter o mínimo pedindo e crescem atrelados a cultura da mendicância. Então, como procurar trabalhar ou estudar se é mais fácil se enveredar nesse mundo “mais prático”? E a um passo muito curto da criminalidade.

    Sinceramente, enquanto não fecharem ou controlarem essas torneiras...estaremos expostos a essas águas poluídas e, pior, ela poderá provocar alagamentos e, quiçá, afogamentos. Deus nos livre e guarde!!!
    Bem-vindíssima, alegrias, santé e axé!

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  6. Mauro Pires de Amorim.
    Também sou morador de Copacabana e ando pelas ruas do bairro e concordo plenamente contigo.
    Aliás, já havia escrito em comentário anterior, referente a texto passado, que, a humanidade, especialmente a brasileira e carioca, está em franco processo de involução. Por isso, a postura, os dizeres ou discursos demagógicos, delirantes e até mesmo mentirosos da prefeitura do sr. Paes, não causam surpresa. São o reflexo do processo de deteriorização intelectual e mental de nossos partidos políticos, afinal, os candidatos aos cargos eletivos, nada mais, nada menos são, do que o reflexo e avalização destas instituições partidárias.
    Para se ser candidato(a) a cargo eletivo, não é necessário se ter bons, viáveis e coerentes projetos de governo. Por sinal, nem isso é necessário, requerido e avaliado, antes de ser partidariamente avalizado.
    Para ser candidato(a) a cargo eletivo, é necessário se trazer muito dinheiro para o partido, sendo isso conseguido por meio dos grupos econômicos que suportarão financeiramente a campanha do candidato(a), em troca, claro, de depois de eleito(a), o(a) mesmo(a) retribua o apoio desses grupos econômicos a sua campanha, providenciando dotações orcamentárias, que são provenientes do dinheiro dos tributos recolhidos e pagos por toda a sociedade, para alimentar com dinheiro público, a atividade econômica específica de tais grupos econômicos.
    Portanto, a atividade político-partidária está resumida a um balção de negócios, tal qual uma carteira de investimento. Aplica-se ou aposta-se "X" valor, para se obter posteriormente, tal valor "X" multiplicado quantas vezes o exercício do poder permitir. Saem ganhando o(a) candidato(a); seu partido político; os(as) asseclas de campanha, inclusive, marqueteiros e órgãos de mídia e os grupos econômicos que apoiam a candidatura.
    Só quem sai perdendo é a ética e a cidadania, uma vez que, as gerações envelhecem e se sobrepõem ao longo da passagem do tempo e na verdade, muito pouco em termos de valorações prioritárias evolutivas de uma sociedade é alcançado. Muito pelo contrário, há a tendência a deteriorização do sistema político-social, pela perda da credibilidade das pessoas no sistema vigente, colocando a democracia em risco, diante de tanta falta de ética e imoralidade.
    Mas esses "cabeções geniais" político-partidários, que se julgam os supra-sumos da raça e sociedade humana, vão conseguir com sua mentalidade mercenária, fazer merda, que é na verdade, sua grande especialidade. Afinal, para destruir, basta um imbecil imoral qualquer, mas para, verdadeiramente se construir, é preciso se ter parâmetros evolucionistas consensuais e realísticos.
    Felicidades e boas energias.

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  7. Por absoluta falta de tempo acompanhei sua maravilhosa viagem, mais por relato do Lúcido...e que viagem!

    Ainda não tive o privilégio mas, por todos os motivos, escolherei a Europa como destino... se e quando Deus permitir. Naturalmente esforçando-me ao máximo para coquistar este futuro_ e tomara que bem próximo_ direito. E olha, quero começar pela maravilhosa e imbatível Paris, também por toooooooooodos os motivos, pois já pertenço ao clube parisiense da felicidade e da sorte, a priori (risos).

    O melhor de tudo foi a minha blogueira predileta ter feíto uma viagem sem maiores problemas, inclusive com a saúde preservada, benza Deus!

    Adorei a escolha do síndico Tim Maia _para dançar e rei da voz, não há melhor_ para sinalizar que está de volta à cidade maravilhosa, apesar da mendicância, desorganização e sujeira ( inclusive das praias que servem de lixeira para este povo escroto ou mal educado) e, claro, da malandragem horrorosa.

    Sou carioca, detesto estas mazelas citadas e, evidentemente, em nada contribuo para isto.

    Seja, então muiiiiiiiiiiito bem-vinda!!!
    Abraços afetuosos,
    Danilo

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    1. Obrigada Danilo! Espero que você vá logo a Paris... e que eu também possa voltar lá o mais breve possível, porque este clube vicia! Abraços!

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