Como bem disse o Migliaccio, no comentário do post
anterior, andar pelas ruas sem medo de ser assaltado é uma das maravilhas de
estar em lugares como Londres, Paris ou Berlim. Ainda mais pra nós, brasileiros, acostumados ao medo de uma violência iminente. Vou mais adiante e digo que
isso tem a ver com uma questão muito profunda da sociedade, que é a maneira
como lidamos com o dinheiro. E se tem uma coisa que diz muito a respeito de
alguém, é justamente o modo como se relaciona com o “vil metal”...
É como sempre digo: quer conhecer uma pessoa?
Coloque dinheiro na parada... acho que o mesmo pode ser dito a respeito de um povo.
Mas o caso é que nós, brasileiros da Silva,
estamos sempre nos espantando em viagens à Europa, e não só com a paisagem, a comida, os preços... mas
principalmente com situações como a que passei no teatro, em Londres: na hora
do intervalo, a moça sentada ao meu lado foi passear e deixou suas duas bolsas
na poltrona. Primeiro levei um susto e não acreditei; depois fiquei tão
incomodada que passei a tomar conta das duazinhas, temendo que algum larápio se
aproveitasse e eu depois levasse a culpa. Mas o fato é que ninguém tentou mexer em
nada. E eu achei incrível.
E a palhacinha, em Berlim, que nos abordou fazendo
palhaçadas e depois nos contou que faz parte de uma Ong tipo “Doutores da
Alegria”? Quisemos dar-lhe um dinheirinho e ela recusou prontamente: disse que
seu trabalho não é pedir doações, e sim convencer as pessoas a fazer visitas
em hospitais.
Numa outra vez, em Paris, diante de uma rua deserta
e comprida, perguntamos, à única moça que passava, se não era perigoso andar por
ali àquelas horas... e agora foi ela quem se assustou:
-- Perigoso por quê?!
-- Assalto, ladrão...
Ela se surpreendeu:
-- Aqui não temos disso não.
E nós justificamos:
-- É que somos do Rio de Janeiro...
E no parque? O povo dorme profundamente sem precisar
se agarrar ferrenhamente às bolsas ou fazê-las de travesseiro, como até os
mendigos fazem aqui no Rio, pra se precaver. Chega a ser até bonito de olhar:
E namorar às margens do Sena, até de madrugada, no
escurinho, num lugar onde, teoricamente, o casal está totalmente desprotegido e
à mercê do meliante? Lá, todo mundo namora sem medo.
Outra coisa interessante é que ninguém parte do
princípio de que você é ladrão. Nas lojas, é comum que os vendedores fiquem
sentados numa cadeirinha, na calçada, curtindo o sol, e quando os clientes
entram, eles continuam lá. A gente entra, mexe em tudo, olha, fuxica... e eles
não demonstram a menor preocupação com roubo. Parece que, simplesmente, não
lhes passa pela cabeça que algum gatuno possa entrar em ação dentro da loja. Uma
beleza. Mas que nós, brasileiros, estranhamos... ah, isso sim!
Por falar em loja, em Berlim estava eu comprando uma
calça, quando o rapaz do caixa não entendeu os 60 euros que botei em cima do
balcão. Disse alguma coisa em alemão e eu fui logo deduzindo que o preço na
etiqueta estava errado, e que a calça custava
mais. Ele então me explicou, em inglês, que eu tinha desconto de 50%. A loja
estava em liquidação. Cá entre nós: se ele não dissesse nada, eu jamais saberia, mas a filosofia do Gérson não é coisa de alemão.
E o metrô de Berlim? Não tem catraca. Você compra o
bilhete num caixa eletrônico e guarda no bolso. Vez por outra aparecem uns
fiscais dentro do vagão e pedem pra ver o seu bilhete. Se viajar sem pagar,
leva multa. Mas taí outra coisa que eu achei estranhíssima! E pensei logo que
aqui no Brasil este sistema não ia dar certo.
Ah, tem também os famosos 10% nos restaurantes. Lá,
eles não vêm incluídos na conta. Você dá a gorjeta que quiser, e se quiser, e o
garçon não faz cobranças, como já me aconteceu em Buenos Aires... aí lembrei do
Rio, onde muitos restaurantes já cobram até 14% e ainda têm a cara de pau de
botar também R$1 de contribuição a Ongs, mas sem dizer nada ao cliente... isso
tá certo?!
Por fim, há a moedinha de 1 centavo, que por lá não
é raridade. Eles sempre dão o troco certinho, sem arredondar pra cima nem pra
baixo. Numa confeitaria, a moça estava enrolada com o troco e sugeri que ela
fizesse como no Brasil, e me desse o troco em balas. Ela primeiro não entendeu.
E, quando expliquei... ela deu gargalhadas. Ai, ai...
Fernanda,
ResponderExcluirAdorei seus comentarios e fotos ......
Tudo que voce citou e muito simples, trata-se de: educacao. Ninguem precisa levar vantagem em nada e de ninguem ..... e mais uma vez prova de que honestidade da certo em qualquer parte do mundo .....
Honestidade, delicadeza, tolerancia deveria estar no dia a dia de todos nos.
Gostei muito da sua visao como reporter sobre a Berlin do Leste com a do Oeste e suas diferencas .... bacana.
Felicidades,
Gilda Bose
Fernanda,
ResponderExcluirMais um comentario .....quanto a moca do teatro, que saiu no intervalo deixando as duas bolsas ..... ingenua, hummm, nao sei nao .... Londres....como voce mesma citou .... voce encontra todas as nacionalidades, e muitos turistas tambem ..... paranoia minha ..... nao sei nao ....todo cuidado e pouco nos dias de hoje.
Bjo
Gilda Bose
Brasileiro não furta, só pega emprestado sem pedir...
ResponderExcluirSERGIO NATUREZA - BA
Realmente . O que já é bom, fica melhor ainda sem a preocupação com os contratempos provocados pelos contraventores. Aí sim, pode-se pensar em relaxar e gozar as maravilhas dos passeios.
ResponderExcluirSanté e axé!
Marcos Lúcio
Entre outros, um dos motivos que me levou a terra do Marlboro foi a seguranca. Claro, crime existe mas a proporcao em que isso ocorre eh minima se comparado com o que ocorre na Terra Brasilis...
ResponderExcluirJa foi no Bistro de la Gare?
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