terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Sobre os "Cinquenta tons de cinza"

Quis conhecer o tal do Christian Grey (será parente distante do Dorian?), e ver que borogodó é este que o sádico que anda conquistando a mulherada mundo afora tem... e comecei a ler os tais “Cinquenta tons de cinza”.

Nas primeiras linhas fui remetida às páginas daquelas antigas revistinhas “Bianca” e “Sabrina”, que uma das minhas irmãs mais velhas devorava em vez de estudar para as provas, e que eu lia junto, escondido da minha mãe, quando tinha lá pelos 13 anos.
Era sempre a mesma coisa: homem meio bruto, rico, lindo, distante e irresistível tratava quase aos tapas a moça metidinha a independente, livre, moderna, estabanada e inexperiente... mas que gostava mesmo era de um cara meio troglodita pra chamar de seu. O enredo nunca mudava e girava em torno de situações eróticas cuidadosamente construídas para não chocar as leitoras, dos desentendimentos entre o casal de apaixonados, do sofrimento dela e dos olhos frios e metálicos... do sorriso enigmático... e do desprezo superior dele. Logo me enchi da mesmice de sempre nas páginas das tais revistinhas e descobri a sra. Barbara Cartland, inglesa famosíssima por suas histórias adocicadas e adepta de uma receita mais ou menos parecida, porém sem sexo, é claro, e por isso mesmo muito mais romântica.
De "Sabrina" e "Bianca" para os "Cinquenta Tons...", a diferença é só uma: agora o sexo é preto-no-branco mesmo, com mais cinquenta tons de cinza dando todos os detalhes que, àquela época, nenhum editor toparia publicar, sob pena de escândalo, excomunhão e falência.
Insisti com o sr. Christian Grey e tentei chegar às tais situações de sadomasoquismo, mas desisti da história quando a protagonista, virgem e inexperiente, e que consegue a proeza de enrubescer de uma a três vezes em quase todas as páginas, tem três orgasmos em sua primeira supertransa com o macho man da história, um amante jovem, mas cujas habilidades deixariam o velho Casanova roxo de inveja.
Numa última tentativa, corri algumas páginas à frente para dar gargalhadas, junto com o meu marido, quando soubemos que a mocinha, em dado momento, se declara irremediavelmente gamada pelo homem que quer encaixotá-la amarrada e amordaçada.
Fico pensando que, daqueles tempos em que as revistinhas“Bianca” e “Sabrina” eram um sucesso de vendas junto com as fotonovelas “Grande Hotel”, tanta coisa mudou no mundo e no dia a dia da mulher... aliás, ainda existe fotonovela?
E, no entanto, este sucesso estrondoso do Christian Grey surge como uma radiografia da mentalidade do público feminino, mulheres das mais variadas nacionalidades, idades, classes sociais, escolaridades e profissões... uma radiografia que não deixa de ser incoerente com o discurso e a pose de independência, liberdade e modernidade adotado por elas... exatamente como as personagens de "Sabrina" e "Bianca" há mais ou menos trinta anos.

6 comentários:

  1. Martinho da Vila disse: voce nao passa de uma mulher... (Gracas a Deus)

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  2. Fernanda,

    Numa roda de amigos, o tema do livro surgiu, e eu fiquei curiosa em saber da historia. Ai uma amiga que ja tinha lido (mais nao entrou em detalhes) me enviou, nao so um, mais tres volumes..... quando eu vi aquilo, pensei ; bom vou passar um bom tempo lendo ...... pois bem comecei a ler, no principio enquanto estava aquele flerte, aquelas trocas de olhares, aquele suspense, ate que me prendeu a atencao ..... depois de umas 100 paginas quando ela e convidada a conhecer o apartamento dele (sadico).. e montra o quarto .......que pela descricao nos volta a idade media ..... parei.
    Li as outras 10 ultimas paginas para ver se ela tinha tomado alguma atitude mais nao .... abro o segundo livro ....dez primeiras paginas .... o sadismo de ambas as partes continua .....paro e leio as dez ultimas paginas ... nada muda.....
    abro o terceiro e fiz a mesma coisa .... conclusao: devolvi os tres livros em tempo record e agradeci.

    Este e o tipo de leitura que nao me acrescenta nada, muito pelo contrario....

    Felicidades,

    Gilda Bose

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  3. Melhor rever o filme Ata-me!

    Elas acham que ser livre e independente é ler relatos detalhados de transas mirabolantes.

    Conheci uma garota que lia fotonovela embaixo da cama...

    SERGIO NATUREZA - BA

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  4. Ah,agora me deu saudades da época que lia "Bianca"e Sabrina," não era debaixo da cama,mas era no banheiro,para minha mãe não ver...

    Monica.

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  5. Essa sub- literatura mulherzinha enquadra as mulheres como idiotas e servas sexuais, tentando, paradoxalmente, mostra-las como livres e protagonistas de seu desejo. Puro lixo, em nível de Paulo Coelho.
    Tô fora.

    Abraço,
    ANTONIO CARLOS

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