quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

"Na próxima encarnação, quero nascer homem!"

Sou admiradora de Freud, mas não gosto nada da teoria da Inveja do Pênis. Houve época em que cheguei a acreditar que a tal inveja fosse metafórica e o pênis simbolizasse a liberdade, a autonomia, as possibilidades, a capacidade de ser dono do próprio nariz. Aí eu entendia esta conversa e até concordava com ela, porque não faz muito tempo que as mulheres não podiam nada, e em muitos lugares do mundo, aliás, continuam não podendo.

Depois descobri que não, o Freud acreditava que as mulheres invejam o pênis mesmo... em outras palavras, sofrem porque não o têm balançando ali entre as pernas. Tive que discordar, embora saiba que as exceções existem.
Já ouvi de algumas mulheres a frase terrível:
-- Na próxima encarnação, quero nascer homem!
Até entendo que alguma mulher diga isto num momento de revolta contra uma situação de machismo, mas a gente precisa ter cuidado com esse papo de igualdade. Se não, ser mulher vai virar vergonha nacional. Olha a cena que vi no domingo, na quadra de tênis:

Rapaz está jogando e vê a amiga que chega, toda paramentada.

-- Fulana! Comprou raquete nova! É de mulher?

E ela, com cara de ofendida:

-- Nããããão... esta aqui só tem o cabo um pouco mais fino, mas é de homem! Você acha que eu vou comprar raquetinha de mulher?!
 
Ser mulher não é fácil, e muito menos buscar a igualdade. Veja você que ontem mesmo assisti um programa na TV sobre uma moça nascida na Jordânia, num acampamento paupérrimo, e que conseguiu ser enviada à Índia para um curso de seis meses, no qual aprendeu como montar uma pequena empresa instaladora de lâmpadas em residências a partir de pequenos painéis solares presos ao telhado. Virou personalidade nos programas de TV quando voltou ao seu país, teve que enfrentar os ciúmes do marido, que se sentiu ameaçado em seu poder de macho, teve que batalhar para convencer as outras mulheres a aprender um trabalho remunerado e, finalmente, sofreu por não ser a escolhida, entre familiares e vizinhos colaboradores, para ser a presidente da empresa que ela mesma estava fundando. Perdeu o cargo para um homem que não tinha feito o curso e não entendia nada do negócio... mas era homem e isso bastava.
Ao final do programa, com luz em casa e na vizinhança, a moça sorria, feliz, por sentir que conseguiu driblar todos os limites que uma cultura machista lhe impôs a vida inteira e pôde fazer alguma coisa importante da sua vida.
Enquanto isso, aqui no Brasil, vejo no jornal que um delegado perdeu seu cargo porque disse, na Internet, que 13 mulheres que passaram no concurso para a polícia não têm perfil para o cargo. Foi demitido por uma mulher e perdeu o cargo para outra.  
Nós, mulheres livres do Ocidente, que gozamos de uma liberdade impensável para a moça da Jordânia, precisamos aprender a conviver com a crítica, se quisermos verdadeira igualdade de condições com os homens... e, principalmente, se estivermos na liderança. Ou estaremos perpetuando a histórica condição feminina de vítima das circunstâncias, ou o exagero de autoridade que tantas vezes padecemos no mundo masculino, e que odiamos tanto.


                                        Que a luz da igualdade brilhe para todos nós!


14 comentários:

  1. Existe uma grande diferenca entre a anatomia das pessoas e a inteligencia das mesmas. Facilmente podemos classificar como "burro/a"/"inteligente" uma pessoa, independente do sexo.
    A moca da Jordania foi inteligente. O marido e o "presidente", burros.
    O delegado foi burro ao usar uma rede social para fazer comentarios pertinentes ao seu trabalho. Tambem foi burra a Martha Rocha ao demitir o delegado, levando a questao para o sexo do individuo, principalmente quando optou por uma delegada para substitui-lo, numa demonstracao desnecessaria...

    Li que uma jovem professora de Ohio esta em bundas apos ter publicado no facebook fotos dos estudantes que foram com ela a um passeio, com tape nas bocas e a frase: finalmente encontrei uma maneira de faze-los ficar quietos". Foi uma brincadeira... politicamente incorreta e ela esta em problemas nao soh por ter feito mas, principalmente, por ter misturado as bolas ao publicar numa rede social.
    Em outras palavras: nao importa tanto o sexo da pessoa mas sim a maneira de como torna publico coisas que nao deveriam ser... Antigamente pessoas "pagavam" pelo que falavam. Hoje, pelo que publicam...

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    1. O povo perdeu a noção de tudo com as redes sociais. Você viu a pesquisa alemã que descobriu que o Facebook faz as pessoas se sentirem infelizes?

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  2. Fernanda,vamos combinar que o Delegado pisou na bola,e feio,ao fazer um comentário desse,na internet...
    Ah,e na próxima encarnação,eu quero nascer novamente MULHER e bem poderosa!!! Bjs.

    Monica.

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    1. Monica, eu também quero nascer mulher poderosa!!!

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    2. Muito bem resolvidas as moças que querem nascer novamente mulheres na próxima encarnação.Pois eu também gostaria de nascer de novo como homem. A diversidade ou a diferença é a característica mais evidente desta vida, além da impermanência. O Criador é insuperável: não faz nada idêntico e não repete figurinhas no álbum da vida. Mas a igualdade , nos direitos humanos, deveria ser obrigatória para todos, em todos os continentes, por lei e sem exceções.

      Naturalmente, ninguém precisa copiar , nem invejar ninguém, cada qual com suas características únicas, pessoais e intransferíveis. Se as estrelas brilham no céu, cada uma a seu modo, e h´pa espaço para todas, então, repito-a:"Que a luz da igualdade brilhe para todos nós!" algum dia, se possível.

      Como estamos às portas da folia momesca, e não resisto a um baticum com excelentes sambas de enredo, lembrei-me de "Sonhar não custa nada" da Mocidade. Em que pese a idade avançada rs, ainda digo muito bem no pé (segundo as boas e más línguas...pelo menos neste quesito consegui unanimidade rs), e tenho boa memória para lembrar-me , também, deste ótimo refrão, de 1989, da Imperatriz Leopoldinense:

      "Liberdade, liberdade!
      Abra as asas sobre nós (bis)
      E que a voz da igualdade
      Seja sempre a nossa voz"

      Santé e axé e Evoé!!!
      Marcos Lúcio

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  3. Oi Fernanda,

    No último final de semana assisti a um filme frances que achei muito interessante: "Potiche - Esposa trofeu", com Catherine Deneuve e Gerard Depardieu.

    Meio água com açúcar, a história se passa nos anos 70, em uma cidade no interior da França. É a história de uma mulher (Catherine Deneuve) casada, dois filhos, dedicada ao marido (dono de uma fábrica de guarda chuvas), aos filhos e à sua casa.

    Marido machão, a trai com várias mulheres. Ela poetisa, uma perfeita dona de casa e se sente como uma peça de decoração.
    Ela aparenta ser uma perua e fútil.

    O mais interessante é que ela se vê obrigada a assumir a fábrica, em razão do infarte do marido, e dá o maior show na administração, mudando, radicalmente, a política da empresa e a satisfação dos seus empregados.

    A história aborda, de forma sutil, reformas trabalhistas, interesses políticos e direitos das mulheres.

    As transformações pessoais de cada personagem sobressaem em relação às revoluções que eles querem causar — ou evitar — na sociedade.

    O filme traz saborosas reviravoltas amorosas, responsáveis por momentos hilariantes.

    E aí descobrimos, que ela é muito mais que apenas uma esposa troféu.

    Me esqueci, o Gerard Depardieu é o Deputado Prefeito da cidade e teve um caso com ela no passado, quando ela já era casada.

    Vale a pena ser visto.

    Eu queria voltar como eu mesma na próxima encarnação, pelo menos "saberia quais erros não cometer novamente". Poderia cometer até outros erros, pois acredito que existem erros que podem ser bem interessantes.

    Um abraço,

    Mercedes

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    1. Oi Mercedes! Vou ver o filme. E olha, também acho que alguns errinhos podem ser interessantes...

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  4. Na Arábia Saudita, mulher não pode nem dirigir carro...

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  5. Parece que na verdade voltamos para corrigir erros, mas creio que nem sempre exatamente do modo desejado. Espero não nascer de novo mulher lá na Arábia.

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  6. Fernanda, continuo interpretando o conceito Freudiano, de inveja do FALO, enquanto poder. Recorde que a obra de Freud foi elaborada no contexto Vitoriano, no qual a mulher, simplesmente, não tinha qualquer significãncia.
    Atualmente, percebo claros exemplos desse conceito, presente mesmo, na situação da tenista amadora, citada por você. Todos sabemos que na luta constante da busca dessa justa e óbvia igualdade entre os gêneros, muitas mulheres comportam-se afetivo-sexualmante, social e profissionalmente, mimetisando o gênero masculino, em suas mais deploráveis características. Certamente, devem pensar, se é que pensam, que para elas, a inveja do FALO, não mais se coloca.

    ANTONIO CARLOS

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    1. Antonio Carlos, se a teoria freudiana encara o pênis enquanto "poder", eu acho super compreensível, na verdade uma ideia brilhante, como falei no post. Mas o Freud não via as coisas assim, certo???

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  7. Sempre fiz essa leitura. Estou com as obras completas, em espanhol, aqui na minha frente. Vou reler o capítulo pertinente. Talvez, algo essencial tenha me escapado. De todo modo, essa leitura que faço, nunca deixou-me em apuros profissionais e pessoais. Caso esteja equivocado, ousarei discordar de Freud.

    ANTONIO CARLOS

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