Desejo que em 2012 a gente entenda que todo dia é dia de celebrar o “ano-novo". A gente se esquece, mas todo momento pode ser um maravilhoso recomeço ou uma libertação. Dezembro não é o fim de nada; janeiro não é o único recomeço, porque o tempo passando no relógio e o coração batendo no seu peito já são, verdadeiramente, a oportunidade do renascimento.
Quer vencer este medo que te paralisa? Mudar o curso das coisas? Seguir outra estrada? Fazer dieta? Parar de fumar? Buscar seu sonho? Reencontrar aquele amigo? Pedir um velho perdão? Fazer aquela viagem? Ser alguém melhor? Começar a pintar? Aventurar-se na dança flamenca? Fazer novos amigos? Aprender sobre a generosidade? Deixar o passado para trás? Enterrar as mágoas? Li-ber-tar-se?
Todo dia é dia de mudança; toda manhã é uma nova estrada que se abre; todo minuto novo é um convite à transformação. Você só precisa ter fé em sua capacidade de regeneração, compreender que “mudar” é “renascer”; ser outra pessoa, deixar a alma velha para trás e recomeçar... consciente de que esta renovação nem sempre é fácil, e portanto exige esforço permanente... além de um novo olhar sobre si mesmo, sobre os outros e sobre o mundo. Experimente olhar-se livre da certeza de que se conhece muito bem... e quem sabe começará, de fato, a conhecer-se? Quem sabe ficará até surpreso ao descobrir que gosta de berinjela, que no fundo não tem dificuldades para falar em público e que conta com um talento incrível para contar piadas? Talvez descubra também que Fulano não é o chato que você pensava, e que o mundo é muito maior, muito mais lindo e cheio de possibilidades do que você jamais imaginou.
Mas não espere que tudo seja um mar de rosas. Os recomeços sempre doem, sempre ardem, apertam o peito, sempre são dolorosos, sei lá por quê. Não espere que a felicidade chegue à sua porta como um delivery, nem que as oportunidades toquem muitas vezes a sua campainha e, caso você tenha preguiça de abrir a porta, que elas se sentem à soleira para esperar, e até durmam ali, se for preciso.
Não tenha ilusões de que a vida lhe oferecerá quantas chances forem necessárias, até que você decida a qual senhor servirá: à alegria ou ao infortúnio.
Tenha em mente que o ano-novo está sempre no passo seguinte. No instante seguinte. Na decisão seguinte. No gesto seguinte.
O ano-novo está em suas mãos. Valorize-o e seja feliz!
Às vezes a gente só precisa abrir o portão
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
Sobre as naus que não chegam a lugar nenhum
Obrigada, Danilo, pelas palavras de Jorge de Lima, que me pegaram de surpresa como um soco no estômago. A poesia é, ao meu ver, o que há de mais "fino", de mais elevado entre as criações humanas; é a única coisa, além da verdadeira caridade, que faz de nós uma sombra tímida de Deus.
"Também há as naus que não chegam
mesmo sem ter naufragado:
não porque nunca tivessem
quem as guiasse no mar
ou não tivessem velame
ou leme ou âncora ou vento
ou porque se embebedassem
ou rotas se despregassem,
mas simplesmente porque
já estavam podres no tronco
da árvore de que as tiraram".
"Também há as naus que não chegam
mesmo sem ter naufragado:
não porque nunca tivessem
quem as guiasse no mar
ou não tivessem velame
ou leme ou âncora ou vento
ou porque se embebedassem
ou rotas se despregassem,
mas simplesmente porque
já estavam podres no tronco
da árvore de que as tiraram".
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
O melhor do Natal são as pessoas
Não, não mudei. O natal não me anima nem um pouco... não entro na piração dos presentes; não mergulho no prato das rabanadas e não finjo gostar de quem não gosto. Pra piorar, também de-tes-to esse negócio cafona de “enterrar os ossos” no dia seguinte. Meu estômago lá é coveiro, por algum acaso?
Coveiro ou não, ele trabalha muito nesta época, e apenas para digerir a realidade... e jogar já nem sei quantas pás de cal sobre o tempo que nos afasta daqueles natais da infância, quando tudo era diferente de agora e a casa seguia feliz e iluminada, madrugada adentro, mesmo que os vizinhos todos já estivessem em silêncio. Havia presentes coloridos sob a árvore, uma ceia sem exageros sobre a mesa, na melhor louça, e uma oração que rezávamos, de mãos dadas, à meia-noite, para o Menino Jesus.
O meu estômago dói, então eu penso que o tempo passa, que continua passando, e que ainda há gente viva ao meu lado, para ser celebrada. Os mortos... digo a mim mesma que os mortos não existem, sobretudo no natal: festejam lá em cima, vivíssimos entre as nuvens... e vez por outra nos olham, aqui embaixo, enquanto cada um de nós segue adiante.
Entre a tristeza e a alegria, pensei bem e decidi festejar os vivos, agradecer por ainda estar aqui e por ter ao meu lado todos os que cá estão... inclusive os amigos do blog, muitos deles desconhecidos para mim, outros tantos que às vezes se mostram e, finalmente, os que sempre aparecem. Monica, Marcos Lúcio (e sua turma), Danilo, Mauro Pires Amorim, Gilda Bosé, Paulo (de Friburgo), André, Alfredo, Marcelo... agradeço a cada um pela companhia no decorrer do ano, pelas palavras trocadas, pela força e pelo carinho que fizeram tanta diferença nos meus dias.
É realmente muito bom ter vocês por perto. Obrigada por tudo! Feliz Natal!
Coveiro ou não, ele trabalha muito nesta época, e apenas para digerir a realidade... e jogar já nem sei quantas pás de cal sobre o tempo que nos afasta daqueles natais da infância, quando tudo era diferente de agora e a casa seguia feliz e iluminada, madrugada adentro, mesmo que os vizinhos todos já estivessem em silêncio. Havia presentes coloridos sob a árvore, uma ceia sem exageros sobre a mesa, na melhor louça, e uma oração que rezávamos, de mãos dadas, à meia-noite, para o Menino Jesus.
O meu estômago dói, então eu penso que o tempo passa, que continua passando, e que ainda há gente viva ao meu lado, para ser celebrada. Os mortos... digo a mim mesma que os mortos não existem, sobretudo no natal: festejam lá em cima, vivíssimos entre as nuvens... e vez por outra nos olham, aqui embaixo, enquanto cada um de nós segue adiante.
Entre a tristeza e a alegria, pensei bem e decidi festejar os vivos, agradecer por ainda estar aqui e por ter ao meu lado todos os que cá estão... inclusive os amigos do blog, muitos deles desconhecidos para mim, outros tantos que às vezes se mostram e, finalmente, os que sempre aparecem. Monica, Marcos Lúcio (e sua turma), Danilo, Mauro Pires Amorim, Gilda Bosé, Paulo (de Friburgo), André, Alfredo, Marcelo... agradeço a cada um pela companhia no decorrer do ano, pelas palavras trocadas, pela força e pelo carinho que fizeram tanta diferença nos meus dias.
É realmente muito bom ter vocês por perto. Obrigada por tudo! Feliz Natal!
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
Carolina, a mulher invisível que existe em mim
-- Vai desregistrar essa menina!!!
Foi assim que meu pai recebeu a notícia de que sim, eu era Fernanda, como ele queria. Mas era também a Carolina que a minha mãe sonhava.
Fui registrada aos sete anos, quando a burocracia da escola pediu minha certidão de nascimento. Minha mãe deu um pulinho no cartório e resolveu a situação. E foi à noite, quando os casais conversam as amenidades do dia, que ela contou ao meu pai, num tom bem corriqueiro, que finalmente tinha registrado a menina.
Ela não tentou, mas nem que tivesse tentado: o cartório não ia mesmo rasurar o livro e muito menos arrancar a página do dia anterior... e fiquei com este nome composto que não combina com nada, e que fez com que tanta gente, vida afora, exclamasse surpresa.
-- Feio nada! É nome de princesa!
Falou agora a minha tia querida, defensora leal e perseverante de todos os nomes esquisitos da família.
O engraçado é que, embora eu sempre tenha sido a “Fernanda” que ele queria, ou a “Dannemann” que era o nome dele, foi justamente o próprio a única pessoa neste mundo a me chamar pela alcunha estranhamente composta, e que virou, em sua boca, uma série de marchinhas carnavalescas inventadas de improviso. Ou, simplesmente, fui para ele a “Carolina”, que muitas vezes saía pela metade e virava “Carol”.
E minha mãe, que sonhou ter Carolina como filha, mas sempre me chamou pelo primeiro nome (arriscando, no máximo, um “Carol”, nos momentos de maior ternura) um dia me disse pra prestar atenção naquela música que tocava.
-- Não vai fazer igual, e deixar o tempo passar na janela...
E eu, que sempre fui Fernanda, quase secretamente Carolina, pela pura questão de que os nomes compostos são em geral amputados no dia a dia, defendi minhas raízes no guichê do cartório, em pleno casamento, quando o escrivão deu a chance:
-- Aproveita que a hora de mudar este nome é agora!
-- Obrigada, mas não quero adicionar o nome do meu marido não.
-- Eu tô falando é do “Fernanda Carolina”.
Esse negócio de nomenclatura é uma coisa curiosa, porque o nome acaba se ajustando à pele da gente, à ossatura, ao fígado, até. E por mais que você mude tudo lá no cartório, nunca deixará de ser aquela pessoa de antes, aquela identidade essencial, aquele primeiro nome que fez de você uma pessoa. Eu sou Fernanda Carolina, e nada pode mudar isso.
E agora que chega o Natal, e este é o primeiro Natal de plena orfandade que estou vivendo, sinto a tristeza sem remédio de já não ser Carolina pra ninguém.
Foi assim que meu pai recebeu a notícia de que sim, eu era Fernanda, como ele queria. Mas era também a Carolina que a minha mãe sonhava.
Fui registrada aos sete anos, quando a burocracia da escola pediu minha certidão de nascimento. Minha mãe deu um pulinho no cartório e resolveu a situação. E foi à noite, quando os casais conversam as amenidades do dia, que ela contou ao meu pai, num tom bem corriqueiro, que finalmente tinha registrado a menina.
Ela não tentou, mas nem que tivesse tentado: o cartório não ia mesmo rasurar o livro e muito menos arrancar a página do dia anterior... e fiquei com este nome composto que não combina com nada, e que fez com que tanta gente, vida afora, exclamasse surpresa.
-- Feio nada! É nome de princesa!
Falou agora a minha tia querida, defensora leal e perseverante de todos os nomes esquisitos da família.
O engraçado é que, embora eu sempre tenha sido a “Fernanda” que ele queria, ou a “Dannemann” que era o nome dele, foi justamente o próprio a única pessoa neste mundo a me chamar pela alcunha estranhamente composta, e que virou, em sua boca, uma série de marchinhas carnavalescas inventadas de improviso. Ou, simplesmente, fui para ele a “Carolina”, que muitas vezes saía pela metade e virava “Carol”.
E minha mãe, que sonhou ter Carolina como filha, mas sempre me chamou pelo primeiro nome (arriscando, no máximo, um “Carol”, nos momentos de maior ternura) um dia me disse pra prestar atenção naquela música que tocava.
-- Não vai fazer igual, e deixar o tempo passar na janela...
E eu, que sempre fui Fernanda, quase secretamente Carolina, pela pura questão de que os nomes compostos são em geral amputados no dia a dia, defendi minhas raízes no guichê do cartório, em pleno casamento, quando o escrivão deu a chance:
-- Aproveita que a hora de mudar este nome é agora!
-- Obrigada, mas não quero adicionar o nome do meu marido não.
-- Eu tô falando é do “Fernanda Carolina”.
Esse negócio de nomenclatura é uma coisa curiosa, porque o nome acaba se ajustando à pele da gente, à ossatura, ao fígado, até. E por mais que você mude tudo lá no cartório, nunca deixará de ser aquela pessoa de antes, aquela identidade essencial, aquele primeiro nome que fez de você uma pessoa. Eu sou Fernanda Carolina, e nada pode mudar isso.
E agora que chega o Natal, e este é o primeiro Natal de plena orfandade que estou vivendo, sinto a tristeza sem remédio de já não ser Carolina pra ninguém.
sábado, 17 de dezembro de 2011
Fui pro spa e pirei na batatinha (pena que não era frita!)
Imagino a cena assim: eu já estava ali, na fila pra nascer, quando Deus olhou pra mim e disse, de sopetão:
-- Ah, pra essa aí... que presente eu vou dar? Ela vai ser... deixa eu ver... rica? Linda? Um gênio da música? Da literatura? Não... ela vai ser... hum... já sei! MAGRA!
Assim sendo, imagine você o susto que tomei quando o "garçon" do hotelzinho simpático que eu pensava estar, nas montanhas, me serviu o almoço:
-- Você pode por favor me trazer umas torradas?
-- Não. Só às seis horas.
Chocada, comecei a cair na real: qual o único lugar do mundo inteiro que o cliente pede uma torrada para o garçon e ele diz que não?
Num spa. E quem é que disse que prato colorido é a coisa mais legal do mundo? Prefiro um tricolor, que vem com feijoada, arroz e couve. Sim, eu mesma não sei como, mas o fato é que caí no conto do vigário e fui parar em um spa, quando imaginava estar indo para um hotel-fazenda. E foi lá que tive uma pálida ideia do que é a gente ser meio doido e tentar convencer alguém de que é normal:
-- Eu não estou de dieeeeeeeeeta !!!!!!!!!!!!! Me dá uma comidinha aí pelo amor de Deus !!!!!!!!
E os funcionários te olham, com uma mistura de riso e pena nos olhos, e dizem, simplesmente:
-- Não posso.
-- Mas olha como eu sou magra! Você acha que eu preciso emagrecer?! Estou aqui só pra acompanhar meu marido!!! Eu PRECISO de um carboidrato e de uma colher de açúcar no meu chá, antes que eu tenha um treco!!! (Aliás, não tem aí um café com leite não?).
Mas não há argumento que dê jeito na situação, e o quadro surreal faz a gente pensar em coisa pior: será que eles têm camisa-de-força para os clientes mais rebeldes?
Apelei para a gerente.
-- Querida, presta atenção, porque ninguém aqui me escuta. Se eu emagrecer, desapareço. Só estou aqui para "viver a experiência", que foi o que o meu marido (gorducho, diga-se de passagem), me disse. Preciso comer comida de verdade, senão passo mal e desmaio. Sou jornalista. Isso aqui é só um "laboratório", saca?
-- Lamento, mas aqui só temos um cardápio.
-- Ok, e o que é que vocês, funcionários (alguns bem gordinhos, inclusive), comem?
-- Comida normal.
-- Tô dentro. Faz um pratinho pra mim que eu como com vocês lá na cozinha.
E finalmente, quando chegou o jantar...
Quer achar alface uma delícia? Coma um pepino antes. Desanimada depois da janta, meu marido tentou me animar e perguntou, de chofre:
-- Olha! Temos um calendário de atividades! Vamos nos divertir um pouco! Será que tem partida de peteca?
E eu:
-- Às seis temos uma torrada pra comer!!
A primeira noite foi mal-dormida, mas acordei desesperada pelo café da manhã. No refeitório, cadê o café com leite? Cadê o pão com manteiga? Só quem deu as caras foi um copo de suco verde, aquele que te dá uma dor de barriga da-que-las TODAS AS MANHÃS, mas pelo menos faz com que a sua pança vá cantar em outra freguesia.
No spa é o seguinte: todo mundo demonstra uma animação muito grande, todo mundo faz mil atividades, tira fotografia, coisa e tal... mas quando toca o sino que anuncia a vitamina, é um Deus-nos-acuda desgraçado, sai todo mundo correndo, inclusive eu. E o que dizer do "energético", um copinho daqueles de cachaça com uma mistura de limão, gengibre, guaraná em pó e sei lá mais o quê, que eu, em sã consciência, na minha vida normal, JAMAIS tomaria... mas aqui, onde a gente até finge que está com a pressão baixa só pra faturar duas azeitonas, na hora do energético é uma felicidade geral, e o povo faz até fila pra pegar o seu.
O caso é que ninguém me convence que os hóspedes estão mesmo curtindo adoidado as férias saudáveis. Só o chato do meu marido é que acha tudo um barato, mas ele é ponto fora da curva porque nasceu em Marte.
O fato é que, com menos de 24 horas hospedada num hospital disfarçado de spa, eu já estava quase precisando mesmo era de um hospício, e tratei de
procurar o telefone mais próximo (porque nem o celular funciona lá no meio daquele mato) pra pedir socorro ao meu amigo de todas as horas, o velho Migliaccio, fiel e incansável defensor das pizzas, feijoadas e cachorros-quentes... mas eis que meu marido, o gorducho-saudável que veio de Marte, me pegou em flagrante:
Para manter a perfeita paz conjugal, ele tratou de correr comigo para a padaria mais próxima, onde mandei ver num chocolate cremoso com um francês caprichado na manteiga. Pasmem! E não é que minha cara-metade ficou só olhando e não comeu nadica de nada?!
Então, depois de mandar brasa, voltei para o jantar natureba, feliz da vida com a barriga saliente... e forrada. E dá-lhe na caminhada, debaixo de chuva mesmo, que é pra queimar as calorias do lanche e o peso na consciência... porque não é que a gente acaba entrando numa de que precisa mesmo emagrecer???
-- Ah, pra essa aí... que presente eu vou dar? Ela vai ser... deixa eu ver... rica? Linda? Um gênio da música? Da literatura? Não... ela vai ser... hum... já sei! MAGRA!
Assim sendo, imagine você o susto que tomei quando o "garçon" do hotelzinho simpático que eu pensava estar, nas montanhas, me serviu o almoço:
-- Você pode por favor me trazer umas torradas?
-- Não. Só às seis horas.
Chocada, comecei a cair na real: qual o único lugar do mundo inteiro que o cliente pede uma torrada para o garçon e ele diz que não?
Num spa. E quem é que disse que prato colorido é a coisa mais legal do mundo? Prefiro um tricolor, que vem com feijoada, arroz e couve. Sim, eu mesma não sei como, mas o fato é que caí no conto do vigário e fui parar em um spa, quando imaginava estar indo para um hotel-fazenda. E foi lá que tive uma pálida ideia do que é a gente ser meio doido e tentar convencer alguém de que é normal:
-- Eu não estou de dieeeeeeeeeta !!!!!!!!!!!!! Me dá uma comidinha aí pelo amor de Deus !!!!!!!!
E os funcionários te olham, com uma mistura de riso e pena nos olhos, e dizem, simplesmente:
-- Não posso.
-- Mas olha como eu sou magra! Você acha que eu preciso emagrecer?! Estou aqui só pra acompanhar meu marido!!! Eu PRECISO de um carboidrato e de uma colher de açúcar no meu chá, antes que eu tenha um treco!!! (Aliás, não tem aí um café com leite não?).
Mas não há argumento que dê jeito na situação, e o quadro surreal faz a gente pensar em coisa pior: será que eles têm camisa-de-força para os clientes mais rebeldes?
Apelei para a gerente.
-- Querida, presta atenção, porque ninguém aqui me escuta. Se eu emagrecer, desapareço. Só estou aqui para "viver a experiência", que foi o que o meu marido (gorducho, diga-se de passagem), me disse. Preciso comer comida de verdade, senão passo mal e desmaio. Sou jornalista. Isso aqui é só um "laboratório", saca?
-- Lamento, mas aqui só temos um cardápio.
-- Ok, e o que é que vocês, funcionários (alguns bem gordinhos, inclusive), comem?
-- Comida normal.
-- Tô dentro. Faz um pratinho pra mim que eu como com vocês lá na cozinha.
E finalmente, quando chegou o jantar...
Quer achar alface uma delícia? Coma um pepino antes. Desanimada depois da janta, meu marido tentou me animar e perguntou, de chofre:
-- Olha! Temos um calendário de atividades! Vamos nos divertir um pouco! Será que tem partida de peteca?
E eu:
-- Às seis temos uma torrada pra comer!!
A primeira noite foi mal-dormida, mas acordei desesperada pelo café da manhã. No refeitório, cadê o café com leite? Cadê o pão com manteiga? Só quem deu as caras foi um copo de suco verde, aquele que te dá uma dor de barriga da-que-las TODAS AS MANHÃS, mas pelo menos faz com que a sua pança vá cantar em outra freguesia.
No spa é o seguinte: todo mundo demonstra uma animação muito grande, todo mundo faz mil atividades, tira fotografia, coisa e tal... mas quando toca o sino que anuncia a vitamina, é um Deus-nos-acuda desgraçado, sai todo mundo correndo, inclusive eu. E o que dizer do "energético", um copinho daqueles de cachaça com uma mistura de limão, gengibre, guaraná em pó e sei lá mais o quê, que eu, em sã consciência, na minha vida normal, JAMAIS tomaria... mas aqui, onde a gente até finge que está com a pressão baixa só pra faturar duas azeitonas, na hora do energético é uma felicidade geral, e o povo faz até fila pra pegar o seu.
O caso é que ninguém me convence que os hóspedes estão mesmo curtindo adoidado as férias saudáveis. Só o chato do meu marido é que acha tudo um barato, mas ele é ponto fora da curva porque nasceu em Marte.
O fato é que, com menos de 24 horas hospedada num hospital disfarçado de spa, eu já estava quase precisando mesmo era de um hospício, e tratei de
procurar o telefone mais próximo (porque nem o celular funciona lá no meio daquele mato) pra pedir socorro ao meu amigo de todas as horas, o velho Migliaccio, fiel e incansável defensor das pizzas, feijoadas e cachorros-quentes... mas eis que meu marido, o gorducho-saudável que veio de Marte, me pegou em flagrante:
Para manter a perfeita paz conjugal, ele tratou de correr comigo para a padaria mais próxima, onde mandei ver num chocolate cremoso com um francês caprichado na manteiga. Pasmem! E não é que minha cara-metade ficou só olhando e não comeu nadica de nada?!
Então, depois de mandar brasa, voltei para o jantar natureba, feliz da vida com a barriga saliente... e forrada. E dá-lhe na caminhada, debaixo de chuva mesmo, que é pra queimar as calorias do lanche e o peso na consciência... porque não é que a gente acaba entrando numa de que precisa mesmo emagrecer???
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
Breve (e ótima) história sobre a amizade
Eu, que não me iludo com o ser humano, às vezes me encanto com ele: um poema, uma pintura, um filme... uma equação matemática, uma descoberta científica, um gesto de humildade ou compaixão... quando me vejo diante de preciosidades como estas, penso no quanto o homem pode ser incrível e, na melhor das palavras, "gente".
E o que dizer da amizade? Não encontro as palavras! Só sei dizer que justamente elas -- as amizades verdadeiras que encontrei pelo caminho -- é que sempre deram um norte à minha vida; o que me leva a pensar que a vida sem amigos é toda de espinhos.
Divido com vocês este vídeo que alguém nomeou erradamente: ele não tem nada a ver com bebês, e tudo a ver com a amizade... coisa cada vez mais rara no mundo e, por isso mesmo, cada vez mais preciosa.
Clique aqui para rir e se emocionar!
E o que dizer da amizade? Não encontro as palavras! Só sei dizer que justamente elas -- as amizades verdadeiras que encontrei pelo caminho -- é que sempre deram um norte à minha vida; o que me leva a pensar que a vida sem amigos é toda de espinhos.
Divido com vocês este vídeo que alguém nomeou erradamente: ele não tem nada a ver com bebês, e tudo a ver com a amizade... coisa cada vez mais rara no mundo e, por isso mesmo, cada vez mais preciosa.
Clique aqui para rir e se emocionar!
domingo, 11 de dezembro de 2011
Robozinhos feitos em série também sofrem
Começo este post parafraseando o antigo comediante: “quando eu era criança pequena lá em Barbacena”... digo, em Minas Gerais, sempre acontecia de ter a má sorte de encontrar uma outra criança (chata) que saía logo com a pergunta:
-- Mas por que é que você é diferente?
É, a palavrinha desagradável vinha assim mesmo, em itálico, o que lhe dava um tom pejorativo que, aos meus ouvidos infantis e ávidos por aceitação, provocava as mais diversas dores, da rejeição à otite aguda.
Para uma criança, ser diferente dói, e embora eu não conheça Freud de perto, imagino que ele deva ter falado alguma coisa sobre isso. Uma vez, lá pelos meus oito anos, cheguei da escola chorando por causa das minhas botas de plástico amarelas, ridicularizadas naquela tarde de calor, e minha irmã Teresa me contou uma história, passada em alguma cidade do Oriente, onde todo mundo se vestia de azul. Lembro dos desenhos, maravilhosos, das roupas esvoaçantes, em mil tons... de uma mesma cor. Faltava um roxo-batata ali, um vermelhão, um verde-bandeira... pra deixar tudo mais bonito.
-- Tá vendo? Tudo o que esse povo queria era uma bota amarela igual a sua, pra ir pra escola.
E eu lembro do meu coração ficando leve dentro do peito, enquanto a gente ria da situação.
Como não há mal que sempre dure, felizmente a gente cresce e tem a chance de aprender o valor maravilhoso das diferenças. Tenho um amigo, por exemplo, que adora viajar pra lugares inóspitos: a-do-rou dar a volta ao redor de uma montanha no interior da França, num lugar onde não há nada além do pequeno hotelzinho onde se hospedou, só com meia-dúzia de quartos. Um outro, jura que não sai mais dos limites do Rio de Janeiro... e tem ainda um doido que sonha com uma viagem à lua (ele não sabe, mas acho que veio de lá).
Esse negócio de todo mundo igual chega a ser assutador: me dei conta disso vendo um documentário sobre a Alemanha de Hitler... e então pensei na “igualdade” que se vive em lugares como a Cuba de Fidel e o Iraque de Sadam, onde o diferente paga com a vida por sua falta de enquadramento.
Costumo dizer que aqui, nesse país tão cheio de problemas, a gente pode fugir, se for o caso: esta é a maravilha da democracia, e de poder ser o que a gente é de verdade, sem encenação, sem o desejo terrível de identificação, sem precisar ser um robô recém-saído da fábrica, igualzinho a todos os outros... e justamente por isso aceito na tribo. Esta necessidade infantil de aceitação transforma a vida adulta num inferno, numa eterna maratona a ser vencida, mas cujo pódio fica lá onde o arco-íris finca sua raiz.
Incrivelmente, a maioria, em vez de fazer uso de sua liberdade, faz um esforço danado para ser toda loura de cabelo liso, e ter carrões 4X4 brancos, que é a cor da moda; e usar aquelas roupas iguais, e votar no mesmo candidato, e ver os mesmos filmes e ler os mesmos jornais... e seguir o mesmo caminho, que é ter um emprego estável, casar e ter dois filhos... desfrutar das mesmas férias que os robôs amigos, e gastar os tubos no cartão, sem esquecer de comprar aquela bolsa famosa e aquela lingerie de renda, que vem na sacolinha rosa-choque. E ser da mesma patota, e ter a mesma opinião, a mesma vida, o mesmo futuro e os mesmos dramas... quem sabe até morrer da mesma doença e se tratar com o mesmo médico antes de ir para o mesmo cemitério, depois de passar pelo mesmíssimo hospital.
Se você vive como se tivesse saído de uma linha de montagem, talvez seja hora de olhar-se no espelho e perguntar-se:
-- Mas por que você é igual?
Já pensou se a pêra e o jambo fossem iguais? Ai, pobreza de mundo!
-- Mas por que é que você é diferente?
É, a palavrinha desagradável vinha assim mesmo, em itálico, o que lhe dava um tom pejorativo que, aos meus ouvidos infantis e ávidos por aceitação, provocava as mais diversas dores, da rejeição à otite aguda.
Para uma criança, ser diferente dói, e embora eu não conheça Freud de perto, imagino que ele deva ter falado alguma coisa sobre isso. Uma vez, lá pelos meus oito anos, cheguei da escola chorando por causa das minhas botas de plástico amarelas, ridicularizadas naquela tarde de calor, e minha irmã Teresa me contou uma história, passada em alguma cidade do Oriente, onde todo mundo se vestia de azul. Lembro dos desenhos, maravilhosos, das roupas esvoaçantes, em mil tons... de uma mesma cor. Faltava um roxo-batata ali, um vermelhão, um verde-bandeira... pra deixar tudo mais bonito.
-- Tá vendo? Tudo o que esse povo queria era uma bota amarela igual a sua, pra ir pra escola.
E eu lembro do meu coração ficando leve dentro do peito, enquanto a gente ria da situação.
Como não há mal que sempre dure, felizmente a gente cresce e tem a chance de aprender o valor maravilhoso das diferenças. Tenho um amigo, por exemplo, que adora viajar pra lugares inóspitos: a-do-rou dar a volta ao redor de uma montanha no interior da França, num lugar onde não há nada além do pequeno hotelzinho onde se hospedou, só com meia-dúzia de quartos. Um outro, jura que não sai mais dos limites do Rio de Janeiro... e tem ainda um doido que sonha com uma viagem à lua (ele não sabe, mas acho que veio de lá).
Esse negócio de todo mundo igual chega a ser assutador: me dei conta disso vendo um documentário sobre a Alemanha de Hitler... e então pensei na “igualdade” que se vive em lugares como a Cuba de Fidel e o Iraque de Sadam, onde o diferente paga com a vida por sua falta de enquadramento.
Costumo dizer que aqui, nesse país tão cheio de problemas, a gente pode fugir, se for o caso: esta é a maravilha da democracia, e de poder ser o que a gente é de verdade, sem encenação, sem o desejo terrível de identificação, sem precisar ser um robô recém-saído da fábrica, igualzinho a todos os outros... e justamente por isso aceito na tribo. Esta necessidade infantil de aceitação transforma a vida adulta num inferno, numa eterna maratona a ser vencida, mas cujo pódio fica lá onde o arco-íris finca sua raiz.
Incrivelmente, a maioria, em vez de fazer uso de sua liberdade, faz um esforço danado para ser toda loura de cabelo liso, e ter carrões 4X4 brancos, que é a cor da moda; e usar aquelas roupas iguais, e votar no mesmo candidato, e ver os mesmos filmes e ler os mesmos jornais... e seguir o mesmo caminho, que é ter um emprego estável, casar e ter dois filhos... desfrutar das mesmas férias que os robôs amigos, e gastar os tubos no cartão, sem esquecer de comprar aquela bolsa famosa e aquela lingerie de renda, que vem na sacolinha rosa-choque. E ser da mesma patota, e ter a mesma opinião, a mesma vida, o mesmo futuro e os mesmos dramas... quem sabe até morrer da mesma doença e se tratar com o mesmo médico antes de ir para o mesmo cemitério, depois de passar pelo mesmíssimo hospital.
Se você vive como se tivesse saído de uma linha de montagem, talvez seja hora de olhar-se no espelho e perguntar-se:
-- Mas por que você é igual?
Já pensou se a pêra e o jambo fossem iguais? Ai, pobreza de mundo!
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
O rabino Henry Sobel me ensinou sobre o perdão
Já que andamos falando de perdão por estes dias, lembrei de um lance que vale a pena contar. Tive duas oportunidades de entrevistar o rabino Henry Sobel, a quem admiro muito, por ser ele defensor da paz e dos direitos humanos. Na primeira vez, pra uma matéria sobre o perdão, na revista Marie Claire, tive a sorte de ouvir a seguinte história, que ele aprendeu na infância, contada por seu pai:
"O rabino chefe da Cracóvia, importante cidade polonesa, viajava de trem para Varsóvia e estava sentado na cabine lendo um livro. Repentinamente, entraram três vagabundos e começaram a jogar cartas. Convidaram o rabino para se juntar a eles, mas o rabino recusou. Um dos vagabundos levantou-se e jogou o rabino para fora da cabine. E o rabino ficou de pé, no corredor, até chegar ao seu destino. Quando os passageiros desembarcavam em Varsóvia, viram uma grande comitiva esperando o rabino. Então, o vagabundo, o mais agressivo deles, reparou que o rabino era alguém de grande valor. Pediu perdão. Mas o rabino recusou-se terminantemente a perdoá-lo.
-- Mas rabino, perdoar é humano! Eu não sabia que era o senhor!
Ao que o rabino respondeu:
-- Justamente por isso não posso perdoá-lo. Você pensou que eu era outro. Pede então perdão ao outro, porque eu não fui sua vítima."
"O rabino chefe da Cracóvia, importante cidade polonesa, viajava de trem para Varsóvia e estava sentado na cabine lendo um livro. Repentinamente, entraram três vagabundos e começaram a jogar cartas. Convidaram o rabino para se juntar a eles, mas o rabino recusou. Um dos vagabundos levantou-se e jogou o rabino para fora da cabine. E o rabino ficou de pé, no corredor, até chegar ao seu destino. Quando os passageiros desembarcavam em Varsóvia, viram uma grande comitiva esperando o rabino. Então, o vagabundo, o mais agressivo deles, reparou que o rabino era alguém de grande valor. Pediu perdão. Mas o rabino recusou-se terminantemente a perdoá-lo.
-- Mas rabino, perdoar é humano! Eu não sabia que era o senhor!
Ao que o rabino respondeu:
-- Justamente por isso não posso perdoá-lo. Você pensou que eu era outro. Pede então perdão ao outro, porque eu não fui sua vítima."
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
Reme contra a maré ou ande para trás
Eu já falei aqui sobre o argentino Miguel Rep, desenhista de quem sou fã: e agora recorro novamente ao trabalho dele para falar do quanto pode ser maravilhoso remar contra a maré.
Eu remo. Já remei muitas vezes e continuarei remando... desde que a causa valha mesmo a pena e o esforço, e mesmo que eu não saia do lugar.
Seja o DNA, sejam as circunstâncias, o percentual de possibilidade, as comprovações, as chances, os indícios... seja o que for... remar contra a maré, às vezes, é a única coisa que podemos fazer, porque em muitíssimos dos casos ficar à deriva significa andar pra trás.
E não falo de lutar guerras perdidas, nem de insistir cegamente no impossível.
Mas note que, no mundo em que estamos, o simples fato de buscar a felicidade já é o mesmo que tentar subir o rio a nado: é que a correnteza do dia a dia e das necessidades fúteis que nos dominam vai rumo ao desequilíbrio e às ilusões mais tristes.
E te digo: se você conseguir ser feliz, vai incomodar tanta gente, mas tanta gente que fracassou nesta empreitada... que seu trabalho para manter-se bem terá que ser redobrado.
Reme contra a maré dos invejosos, dos que não crêem na pessoa que você é, dos que mal disfarçam, em seu olhar, aquela sombra tão nítida da antipatia ou do ódio. Continue nadando, e eles que se afoguem em seu próprio veneno.
E contra a maré das suas limitações mais íntimas, mais secretas: tudo aquilo que você desenvolveu em seu espírito, em sua personalidade e em seus hábitos mais mecânicos, e que o impede de ser uma pessoa melhor, mais livre, mais jovem e contente.
Reme contra a má-educação que recebeu, contra os exemplos negativos que teve. Nade para longe daquilo que assimilou, inconscientemente, e que o impede de ser feliz. Afaste-se de tudo o que o conduz ao redemoinho do fracasso.
E descubra que ser feliz é, acima de tudo, uma opção.
Eram seis os Stromber Carlson
A um, lhe partiu um raio
A outro, lhe caiu em cima um ídolo
Outro não resistiu a uma mistura de aguardente, pistache e quaker
Outro se perdeu definitivamente no metrô
Outro, votou mal pela segunda vez e não se perdoou
E o outro outro outro outro outro outro desfruta desta vida, se cuida, goza os amanheceres e as estrelas, está sempre se apaixonando, não lhe interessa o consumo, fala bem, come de forma saudável, ajuda, faz pão e acredita em um homem melhor. E é a ovelha negra dos Stromber Carlson.
Eu remo. Já remei muitas vezes e continuarei remando... desde que a causa valha mesmo a pena e o esforço, e mesmo que eu não saia do lugar.
Seja o DNA, sejam as circunstâncias, o percentual de possibilidade, as comprovações, as chances, os indícios... seja o que for... remar contra a maré, às vezes, é a única coisa que podemos fazer, porque em muitíssimos dos casos ficar à deriva significa andar pra trás.
E não falo de lutar guerras perdidas, nem de insistir cegamente no impossível.
Mas note que, no mundo em que estamos, o simples fato de buscar a felicidade já é o mesmo que tentar subir o rio a nado: é que a correnteza do dia a dia e das necessidades fúteis que nos dominam vai rumo ao desequilíbrio e às ilusões mais tristes.
E te digo: se você conseguir ser feliz, vai incomodar tanta gente, mas tanta gente que fracassou nesta empreitada... que seu trabalho para manter-se bem terá que ser redobrado.
Reme contra a maré dos invejosos, dos que não crêem na pessoa que você é, dos que mal disfarçam, em seu olhar, aquela sombra tão nítida da antipatia ou do ódio. Continue nadando, e eles que se afoguem em seu próprio veneno.
E contra a maré das suas limitações mais íntimas, mais secretas: tudo aquilo que você desenvolveu em seu espírito, em sua personalidade e em seus hábitos mais mecânicos, e que o impede de ser uma pessoa melhor, mais livre, mais jovem e contente.
Reme contra a má-educação que recebeu, contra os exemplos negativos que teve. Nade para longe daquilo que assimilou, inconscientemente, e que o impede de ser feliz. Afaste-se de tudo o que o conduz ao redemoinho do fracasso.
E descubra que ser feliz é, acima de tudo, uma opção.
Eram seis os Stromber Carlson
A um, lhe partiu um raio
A outro, lhe caiu em cima um ídolo
Outro não resistiu a uma mistura de aguardente, pistache e quaker
Outro se perdeu definitivamente no metrô
Outro, votou mal pela segunda vez e não se perdoou
E o outro outro outro outro outro outro desfruta desta vida, se cuida, goza os amanheceres e as estrelas, está sempre se apaixonando, não lhe interessa o consumo, fala bem, come de forma saudável, ajuda, faz pão e acredita em um homem melhor. E é a ovelha negra dos Stromber Carlson.
sábado, 3 de dezembro de 2011
O mais santo dos remédios custa baratinho e não tem contra-indicação
Demorei pra entender, mas entendi: cem anos de ioga não liberam sua respiração se você carrega o peito cheio de mágoas. É que elas pesam tanto, e ocupam tanto espaço, que o diafragma, por mais super-herói que seja, não dá conta de subir e descer... e acaba ali, espremido pela substância invisível que aos poucos entope as veias, seca as artérias, envenena os pulmões, destrói o fígado e paralisa o coração.
Desista dos calmantes, eles também não funcionam. Trazem apenas o engano do alívio imediato; enquanto nossos ossos continuam no caminho que faz deles cada vez mais tortos... e nosso olhar, ai, nosso olhar! Quanta tristeza bóia sobre os olhos de quem padece de mágoa! Quanta tristeza pela beleza da vida que não foi vista (e muitas vezes nem sequer imaginada...). Quanta tristeza pela paisagem que foi sempre a mesma, aquela cena um milhão de vezes revista, aquela cena que deu origem à mágoa!
Beba deste santo remédio, que é o perdão profundo e verdadeiro, aquele que vem da menor e mais fina artéria do seu coração; aquele que nasce autêntico (e tão forte, e tão viril) lá do fundo da sua vontade; aquele que brota tão naturalmente quanto um botão de rosa no seu jardim imaginário.
Beba até a última gota sem esperar ser compreendido ou aceito, sem esperar que o outro o perdoe também: você está livre, e isso já é sua recompensa.
Deixe que o gosto do perdão inspire suas palavras, que o ar invada esta casa triste que tem sido a sua vida, libere todos os bons sentimentos que aguardam, presos e ansiosos, por uma simples oportunidade diante da porta trancada que foi sempre a sua decisão.
E então respire leve... ganhe finalmente o mundo, descanse à sombra de sua liberdade... viva em plenitude a maior prova de amor aos outros e a si mesmo: a maravilha da absolvição.
Desista dos calmantes, eles também não funcionam. Trazem apenas o engano do alívio imediato; enquanto nossos ossos continuam no caminho que faz deles cada vez mais tortos... e nosso olhar, ai, nosso olhar! Quanta tristeza bóia sobre os olhos de quem padece de mágoa! Quanta tristeza pela beleza da vida que não foi vista (e muitas vezes nem sequer imaginada...). Quanta tristeza pela paisagem que foi sempre a mesma, aquela cena um milhão de vezes revista, aquela cena que deu origem à mágoa!
Beba deste santo remédio, que é o perdão profundo e verdadeiro, aquele que vem da menor e mais fina artéria do seu coração; aquele que nasce autêntico (e tão forte, e tão viril) lá do fundo da sua vontade; aquele que brota tão naturalmente quanto um botão de rosa no seu jardim imaginário.
Beba até a última gota sem esperar ser compreendido ou aceito, sem esperar que o outro o perdoe também: você está livre, e isso já é sua recompensa.
Deixe que o gosto do perdão inspire suas palavras, que o ar invada esta casa triste que tem sido a sua vida, libere todos os bons sentimentos que aguardam, presos e ansiosos, por uma simples oportunidade diante da porta trancada que foi sempre a sua decisão.
E então respire leve... ganhe finalmente o mundo, descanse à sombra de sua liberdade... viva em plenitude a maior prova de amor aos outros e a si mesmo: a maravilha da absolvição.
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
A verdadeira vitória é filha do verdadeiro esforço
Dia desses, vi um programa na TV sobre um ciclista que bateu o recorde de velocidade: 267 km/h.
Eu teria achado coisa de outro mundo, não fossem as condições:
A pista era de gelo; a bicicleta era especial, o percurso foi realizado com um carro à frente, puxando uma “casinha” . Dentro dela, o ciclista pedalava totalmente livre da resistência do ar. Havia outras condições, mas bastaram estas para eu perder meu interesse e mudar o canal.
Então eu soube de três mulheres que disputam o recorde do alpinismo mundial: a que escalou mais picos o fez com ajudantes para carregar a bagagem, oxigênio extra etc... as outras, que até o momento escalaram menos, não levaram ajudantes nem balões de oxigênio.
Perdoe-me o ciclista e a tal alpinista, mas não vejo valor nenhum em seus recordes.
Aliás, casos como estes me fazem pensar na minha amiga, que pagou (e muito bem) pelo diploma de faculdade.
E em outras situações: o escritor medíocre que vira imortal da ABL porque é presidente da república; o corredor de Fórmula 1 que é campeão do mundo porque tem um carro superior; o funcionário público que entrou na empresa pela janela; o concorrente que leva o prêmio porque é o “queridinho” de alguém importante; a miss que está entupida de silicones; o plágio; o casamento de interesse, o emprego que se mantém à base de puxassaquismo... e etc... etc...
Qual o valor de um recorde ou de uma conquista feita nessas bases?
Há quem se contente em, simplesmente, acreditar nas aparências: que é o tal, é o campeão, o rei da cocada preta ou seja lá o que for. Mas no fundo, acredito que
tais “vencedores” precisam esforçar-se demais para convencer-se a respeito do próprio valor. E jamais conseguem.
Vivem no esforço permanente e secreto que, certamente, é ainda maior que aquele que não foi feito, e que poderia ter mudado todo o curso da história, mesmo que os resultados não fossem bons...o esforço para chegar a algum lugar, para fazer algo, para conquistar algo... com as próprias e reais condições. No final das contas, a consciência dessa busca pessoal é que faz a vida valer mesmo a pena.
Eu teria achado coisa de outro mundo, não fossem as condições:
A pista era de gelo; a bicicleta era especial, o percurso foi realizado com um carro à frente, puxando uma “casinha” . Dentro dela, o ciclista pedalava totalmente livre da resistência do ar. Havia outras condições, mas bastaram estas para eu perder meu interesse e mudar o canal.
Então eu soube de três mulheres que disputam o recorde do alpinismo mundial: a que escalou mais picos o fez com ajudantes para carregar a bagagem, oxigênio extra etc... as outras, que até o momento escalaram menos, não levaram ajudantes nem balões de oxigênio.
Perdoe-me o ciclista e a tal alpinista, mas não vejo valor nenhum em seus recordes.
Aliás, casos como estes me fazem pensar na minha amiga, que pagou (e muito bem) pelo diploma de faculdade.
E em outras situações: o escritor medíocre que vira imortal da ABL porque é presidente da república; o corredor de Fórmula 1 que é campeão do mundo porque tem um carro superior; o funcionário público que entrou na empresa pela janela; o concorrente que leva o prêmio porque é o “queridinho” de alguém importante; a miss que está entupida de silicones; o plágio; o casamento de interesse, o emprego que se mantém à base de puxassaquismo... e etc... etc...
Qual o valor de um recorde ou de uma conquista feita nessas bases?
Há quem se contente em, simplesmente, acreditar nas aparências: que é o tal, é o campeão, o rei da cocada preta ou seja lá o que for. Mas no fundo, acredito que
tais “vencedores” precisam esforçar-se demais para convencer-se a respeito do próprio valor. E jamais conseguem.
Vivem no esforço permanente e secreto que, certamente, é ainda maior que aquele que não foi feito, e que poderia ter mudado todo o curso da história, mesmo que os resultados não fossem bons...o esforço para chegar a algum lugar, para fazer algo, para conquistar algo... com as próprias e reais condições. No final das contas, a consciência dessa busca pessoal é que faz a vida valer mesmo a pena.
domingo, 27 de novembro de 2011
Shopping center para as brancas, violência para as negras
Estou sempre dizendo que uma das melhores coisas de ser jornalista é poder telefonar para alguém que a gente admira e marcar um bate-papo. Numa dessas, uma vez conversei com a escritora de livros infantis Ruth Rocha, criadora de histórias deliciosas, que também ensinam adultos a olhar o mundo de um jeito melhor.
Naquela conversa, dona Ruth, uma senhora muito refinada, disse uma coisa que nunca saiu da minha cabeça:
-- Às vezes, pessoas desonestas ou que já te fizeram mal entram na sua casa pela porta da frente, se sentam à sua mesa para jantar. Por que é que a sua empregada, que limpa a sua sujeira, cuida do seu filho e faz a sua comida entra pela porta dos fundos e come na cozinha?
Nunca mais me esqueci destas suas palavras sobre a amizade __nem sempre reconhecida ou valorizada__ entre patroa e empregada.
Muitos anos depois, após fugir do marido violento com a roupa do corpo e quatro filhos na bagagem, veio parar à minha porta a Juliene, para quem entreguei a minha casa. Tão humilde quanto digna, esta moça negra, de 33 anos, já passou por faltas e horrores que nós, mulheres da classe média, sequer imaginamos em nossos piores pesadelos, e sozinha, sem ajuda de psicanalistas ou calmantes, deu lá seu jeito de não olhar para trás.
Fome, injustiça, ameaças, violência e humilhação fazem parte do cotidiano das mulheres negras e pobres tanto quanto restaurante, shopping center, avião e perfumes (que eu aliás detesto) constituem a vida das brancas do asfalto. Mas quem é que pensa nisso? “A vida é assim”, costumamos dizer, e bola pra frente.
Depois de três anos pegando pesado na faxina, sem ajuda de família ou pensão de ex-marido, Juliene outro dia foi abrir uma poupança no banco, porque quer comprar uma casinha. Fui junto para participar de um momento tão especial, em que os primeiros tijolos do sonho dela estavam ali, amassados entre os dedos, na forma de duas notas de cem reais.
Fechamos os olhos para a má-vontade do atendente, até que ele se negou a abrir a conta porque o comprovante de residência não servia, e encerrou a conversa. Pedi, implorei. Lá pelas tantas, disse que só o gerente podia resolver.
Mas o gerente... era uma mulher de perfume caro e salto alto! Depois de várias negativas dela, tentei um último lance: olhei fixamente nos olhos vivos daquela loura com ares de executiva, de pele muito tratada, e pedi baixinho:
-- Olha pra ela.
Juliene estava sentada diante do balcão, com seus duzentos reais amassados na mão, junto com os documentos, com cara de quem considera a derrota normal.
-- A vida dela é muito difícil. Tudo é muito difícil para ela – murmurei, como se estivesse me referindo a um ser de outro planeta, totalmente diferente de nós duas.
Vi quando os olhos da gerente pararam sobre Juliene. Não sei o que se passou em sua cabeça naqueles segundos em que ela ficou olhando, mas o que quer que tenha sido, me pareceu despertar nela uma luz de identificação. E acabei lembrando da conversa com a Ruth Rocha.
-- Abre a conta – ela disse, decidida, diante da surpresa do atendente e da própria Juliene.
Enquanto voltávamos para casa, e Juliene comemorava os primeiros tijolos de sua casa, pensei naquelas três mulheres tão diferentes e senti meu coração aquecido pela convicção de que um ser humano, quando realmente olha para outro, é capaz de deixar brotar o bem em seu coração. Será assim que nos tornamos iguais?
Naquela conversa, dona Ruth, uma senhora muito refinada, disse uma coisa que nunca saiu da minha cabeça:
-- Às vezes, pessoas desonestas ou que já te fizeram mal entram na sua casa pela porta da frente, se sentam à sua mesa para jantar. Por que é que a sua empregada, que limpa a sua sujeira, cuida do seu filho e faz a sua comida entra pela porta dos fundos e come na cozinha?
Nunca mais me esqueci destas suas palavras sobre a amizade __nem sempre reconhecida ou valorizada__ entre patroa e empregada.
Muitos anos depois, após fugir do marido violento com a roupa do corpo e quatro filhos na bagagem, veio parar à minha porta a Juliene, para quem entreguei a minha casa. Tão humilde quanto digna, esta moça negra, de 33 anos, já passou por faltas e horrores que nós, mulheres da classe média, sequer imaginamos em nossos piores pesadelos, e sozinha, sem ajuda de psicanalistas ou calmantes, deu lá seu jeito de não olhar para trás.
Fome, injustiça, ameaças, violência e humilhação fazem parte do cotidiano das mulheres negras e pobres tanto quanto restaurante, shopping center, avião e perfumes (que eu aliás detesto) constituem a vida das brancas do asfalto. Mas quem é que pensa nisso? “A vida é assim”, costumamos dizer, e bola pra frente.
Depois de três anos pegando pesado na faxina, sem ajuda de família ou pensão de ex-marido, Juliene outro dia foi abrir uma poupança no banco, porque quer comprar uma casinha. Fui junto para participar de um momento tão especial, em que os primeiros tijolos do sonho dela estavam ali, amassados entre os dedos, na forma de duas notas de cem reais.
Fechamos os olhos para a má-vontade do atendente, até que ele se negou a abrir a conta porque o comprovante de residência não servia, e encerrou a conversa. Pedi, implorei. Lá pelas tantas, disse que só o gerente podia resolver.
Mas o gerente... era uma mulher de perfume caro e salto alto! Depois de várias negativas dela, tentei um último lance: olhei fixamente nos olhos vivos daquela loura com ares de executiva, de pele muito tratada, e pedi baixinho:
-- Olha pra ela.
Juliene estava sentada diante do balcão, com seus duzentos reais amassados na mão, junto com os documentos, com cara de quem considera a derrota normal.
-- A vida dela é muito difícil. Tudo é muito difícil para ela – murmurei, como se estivesse me referindo a um ser de outro planeta, totalmente diferente de nós duas.
Vi quando os olhos da gerente pararam sobre Juliene. Não sei o que se passou em sua cabeça naqueles segundos em que ela ficou olhando, mas o que quer que tenha sido, me pareceu despertar nela uma luz de identificação. E acabei lembrando da conversa com a Ruth Rocha.
-- Abre a conta – ela disse, decidida, diante da surpresa do atendente e da própria Juliene.
Enquanto voltávamos para casa, e Juliene comemorava os primeiros tijolos de sua casa, pensei naquelas três mulheres tão diferentes e senti meu coração aquecido pela convicção de que um ser humano, quando realmente olha para outro, é capaz de deixar brotar o bem em seu coração. Será assim que nos tornamos iguais?
sábado, 26 de novembro de 2011
Vai procurar a sua tribo!
Ganhei umas linhas lá no Barão Sacoheiro, o blog do Alfredo (clique para ver em Interpretação: China ou Blog? ).
E ninguém imagina a surpresa que foi, quando por lá cheguei e, no meio da leitura, vi que a "Fernanda" era eu. Um susto, um presente, uma alegria... e não precisei ir à China, como o Alfredo, para pensar nos mistérios da amizade, que são muitos, e insondáveis.
Há anos venho matutando: o que é que acontece que a gente conhece uma pessoa desde que nasce, vive perto dela a vida inteira e a amizade não frutifica? Às vezes, nem o laço de sangue, inquebrável, é forte o bastante para dar conta deste recado, e o amor incondicional entre pais e filhos, ou entre irmãos, ou entre o que quer que seja, não se transforma, nunquinha da Silva, no querer-bem espontâneo e simples da amizade. Vá entender isso!
Misteriosamente, este tal "querer" entra no nosso coração quando a gente menos espera: é só encontrar alguém da nossa tribo, alguém que tenha, nas veias do espírito, o mesmo e primordial sangue que nos constituiu. São os irmãos de alma, aquelas pessoas que nos conquistam imediatamente porque falam a nossa língua e entendem os nossos silêncios. Eles sabem, telepaticamente, parece, o que vai na nossa cabeça e no nosso coração, e nos respeitam amorosamente porque nos conhecem muito bem, mesmo que a gente nunca tenha se visto, nem feito confissões, nem contado a ladainha da nossa vida. Eles nos conhecem porque sempre estiveram por perto, sei lá como, sei lá de que maneira, só sei que, quando finalmente aparecem, em carne e osso, o tempo desaparece, perde totalmente seu valor. É que o tempo e as convenções sociais não são nada diante do que é verdadeiro e simples.
já tive a sorte de reencontrar vários irmãos da minha tribo original, e não me calei diante deles: tratei logo de dizer que os reconhecia, e de agradecer pelo reecontro que o Universo havia preparado. Incrivelmente, todos eles tiveram, em momentos cruciais da minha vida, um valor inestimável e funções muito bem desempenhadas de apoio e solidariedade. Sem eles, meu caminho teria sido de muitos espinhos.
E fico pensando, volta e meia, em todos aqueles que ainda hei de reencontrar por esta vida e pelas outras que virão. É uma saudade singular esta que sinto, de gente que eu ainda não "(re)conheci". E uma gratidão imensa aos que já chegaram, reconheceram e foram reconhecidos... porque vêm caminhando lado a lado comigo, através de um tempo tão longo, mas tão longo, que nem mesmo nós somos capazes de imaginar.
E ninguém imagina a surpresa que foi, quando por lá cheguei e, no meio da leitura, vi que a "Fernanda" era eu. Um susto, um presente, uma alegria... e não precisei ir à China, como o Alfredo, para pensar nos mistérios da amizade, que são muitos, e insondáveis.
Há anos venho matutando: o que é que acontece que a gente conhece uma pessoa desde que nasce, vive perto dela a vida inteira e a amizade não frutifica? Às vezes, nem o laço de sangue, inquebrável, é forte o bastante para dar conta deste recado, e o amor incondicional entre pais e filhos, ou entre irmãos, ou entre o que quer que seja, não se transforma, nunquinha da Silva, no querer-bem espontâneo e simples da amizade. Vá entender isso!
Misteriosamente, este tal "querer" entra no nosso coração quando a gente menos espera: é só encontrar alguém da nossa tribo, alguém que tenha, nas veias do espírito, o mesmo e primordial sangue que nos constituiu. São os irmãos de alma, aquelas pessoas que nos conquistam imediatamente porque falam a nossa língua e entendem os nossos silêncios. Eles sabem, telepaticamente, parece, o que vai na nossa cabeça e no nosso coração, e nos respeitam amorosamente porque nos conhecem muito bem, mesmo que a gente nunca tenha se visto, nem feito confissões, nem contado a ladainha da nossa vida. Eles nos conhecem porque sempre estiveram por perto, sei lá como, sei lá de que maneira, só sei que, quando finalmente aparecem, em carne e osso, o tempo desaparece, perde totalmente seu valor. É que o tempo e as convenções sociais não são nada diante do que é verdadeiro e simples.
já tive a sorte de reencontrar vários irmãos da minha tribo original, e não me calei diante deles: tratei logo de dizer que os reconhecia, e de agradecer pelo reecontro que o Universo havia preparado. Incrivelmente, todos eles tiveram, em momentos cruciais da minha vida, um valor inestimável e funções muito bem desempenhadas de apoio e solidariedade. Sem eles, meu caminho teria sido de muitos espinhos.
E fico pensando, volta e meia, em todos aqueles que ainda hei de reencontrar por esta vida e pelas outras que virão. É uma saudade singular esta que sinto, de gente que eu ainda não "(re)conheci". E uma gratidão imensa aos que já chegaram, reconheceram e foram reconhecidos... porque vêm caminhando lado a lado comigo, através de um tempo tão longo, mas tão longo, que nem mesmo nós somos capazes de imaginar.
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
Se a cigarra erra, a formiga prepara o castigo
Eu era bem pequena, devia estar pelos cinco anos, quando bati os olhos na ilustração daquela fábula. Foi num volume da inesquecível Coleção Fantasia que, pela primeira vez, identifiquei um indivíduo que achei fdp: o que, para mim, significa mesquinho, ávido por acumular e, finalmente, vingativo.
Lamento decepcionar alguns leitores __porque muita gente admira esta figura__ mas estou falando da Formiga que mandou a Cigarra morrer de fome e de frio em pleno inverno europeu. “Ah...” dirão alguns. “Mas a Cigarra cantou o verão inteiro!”. Como se este motivo justificasse a falta de generosidade da outra.
Como ainda não sabia ler, e dependia de alguém para me contar a história, muitas vezes tive que me contentar em apenas olhar as figuras, das quais me lembro até hoje em detalhes. Lembro do lenço vermelho de bolinhas brancas que a Formiga usava, e do seu indefectível avental... da cara sempre séria que ela tinha, típica de gente que só pensa em trabalho e leva a vida a sério demais... tão a sério que jamais se permitiria tirar um dia pra curtir o verão. Perdoar um erro? Ela não perdoa não, porque é perfeita demais e se dá o direito de exigir que os outros sejam iguais a ela.
E é claro que lembro da Cigarra! Do chapelão azul marinho, da viola na bolsa de tecido verde, dos sapatos aparentemente folgados nos pés (sim, deviam ser velhos, porque ela não ligava pra essas coisas). E lembro da ingênua alegria com que cantava, enquanto o verão ia passando... da inocência de quem ainda não aprendeu que a vida é linda mas também é dura... da fé inconsciente na generosidade do mundo.
E lembro do inverno. Da Formiga em sua casa com lareira e comida, dando lição de moral na Cigarra, que não passou da soleira, e, incrédula, ficou com os olhos marejados enquanto a outra lhe negava abrigo e soltava aquele veneno que a gente conhece:
-- Enquanto eu trabalhava, você cantava...
O resto da frase, que não estava no livro, era “e agora morra de fome e de frio!”.
Lamento que muita gente que leu esta história na infância, tenha crescido achando que a lei da Formiga está correta. O velho “olho por olho, dente por dente” que faz do ser humano um bicho desprezível. Ou será que a Formiga era juíza acima do bem e do mal, e tinha o direito e o dever de julgar os outros, condenando ao pior castigo __que é não receber ajuda de quem pode ajudar__ o indivíduo que não teve maturidade para entender que a vida é difícil?
Não teria sido melhor para todos __inclusive para os leitores__ se ela tivesse explicado à Cigarra que sim, na vida existe o erro e a conseqüência, mas existem também a generosidade, a amizade e as boas pessoas que, naqueles momentos em que estamos no fundo do poço, nos estendem a mão?
Se tivesse feito isso, quem sabe o mundo fosse um pouco melhor, porque as gerações que tiraram o pior ensinamento desta fábula talvez tivessem aprendido a ser menos egoístas e revanchistas. E talvez ela mesma, a Formiga, tivesse aprendido com a outra a curtir um pouco mais a vida; a ser mais leve e mais alegre; a dar menos valor ao “acumular”. De repente, tinha até aprendido a tocar violão...
Durante toda a minha vida, nunca me esqueci desta história nem das imagens que ela me deu, no livro e na imaginação. A cigarra de costas, indo embora tão triste, com a neve cobrindo parte do seu chapéu e da viola, guardada na bolsa de tecido verde.
Para quem não tem criatividade ou esperança, só há uma certeza: ela morreu sozinha, de frio e de fome.
Pois o meu amigo Luis foi quem me deu a notícia:
A Cigarra ganhou o Grammy!
É, meu caro... eu também levei um choque e custei a acreditar! Mas a
Cigarra encontrou quem a ajudasse, afinal nem só de Formigas é feito o mundo... ela aprendeu a importância do trabalho, mas nunca abdicou do seu sonho e do seu talento...
E a verdadeira moral da história é que a maravilha da vida é justamente que a vida dá voltas inacreditáveis... e a felicidade existe!
Qual instrumento você escolhe pra tocar a vida?
Lamento decepcionar alguns leitores __porque muita gente admira esta figura__ mas estou falando da Formiga que mandou a Cigarra morrer de fome e de frio em pleno inverno europeu. “Ah...” dirão alguns. “Mas a Cigarra cantou o verão inteiro!”. Como se este motivo justificasse a falta de generosidade da outra.
Como ainda não sabia ler, e dependia de alguém para me contar a história, muitas vezes tive que me contentar em apenas olhar as figuras, das quais me lembro até hoje em detalhes. Lembro do lenço vermelho de bolinhas brancas que a Formiga usava, e do seu indefectível avental... da cara sempre séria que ela tinha, típica de gente que só pensa em trabalho e leva a vida a sério demais... tão a sério que jamais se permitiria tirar um dia pra curtir o verão. Perdoar um erro? Ela não perdoa não, porque é perfeita demais e se dá o direito de exigir que os outros sejam iguais a ela.
E é claro que lembro da Cigarra! Do chapelão azul marinho, da viola na bolsa de tecido verde, dos sapatos aparentemente folgados nos pés (sim, deviam ser velhos, porque ela não ligava pra essas coisas). E lembro da ingênua alegria com que cantava, enquanto o verão ia passando... da inocência de quem ainda não aprendeu que a vida é linda mas também é dura... da fé inconsciente na generosidade do mundo.
E lembro do inverno. Da Formiga em sua casa com lareira e comida, dando lição de moral na Cigarra, que não passou da soleira, e, incrédula, ficou com os olhos marejados enquanto a outra lhe negava abrigo e soltava aquele veneno que a gente conhece:
-- Enquanto eu trabalhava, você cantava...
O resto da frase, que não estava no livro, era “e agora morra de fome e de frio!”.
Lamento que muita gente que leu esta história na infância, tenha crescido achando que a lei da Formiga está correta. O velho “olho por olho, dente por dente” que faz do ser humano um bicho desprezível. Ou será que a Formiga era juíza acima do bem e do mal, e tinha o direito e o dever de julgar os outros, condenando ao pior castigo __que é não receber ajuda de quem pode ajudar__ o indivíduo que não teve maturidade para entender que a vida é difícil?
Não teria sido melhor para todos __inclusive para os leitores__ se ela tivesse explicado à Cigarra que sim, na vida existe o erro e a conseqüência, mas existem também a generosidade, a amizade e as boas pessoas que, naqueles momentos em que estamos no fundo do poço, nos estendem a mão?
Se tivesse feito isso, quem sabe o mundo fosse um pouco melhor, porque as gerações que tiraram o pior ensinamento desta fábula talvez tivessem aprendido a ser menos egoístas e revanchistas. E talvez ela mesma, a Formiga, tivesse aprendido com a outra a curtir um pouco mais a vida; a ser mais leve e mais alegre; a dar menos valor ao “acumular”. De repente, tinha até aprendido a tocar violão...
Durante toda a minha vida, nunca me esqueci desta história nem das imagens que ela me deu, no livro e na imaginação. A cigarra de costas, indo embora tão triste, com a neve cobrindo parte do seu chapéu e da viola, guardada na bolsa de tecido verde.
Para quem não tem criatividade ou esperança, só há uma certeza: ela morreu sozinha, de frio e de fome.
Pois o meu amigo Luis foi quem me deu a notícia:
A Cigarra ganhou o Grammy!
É, meu caro... eu também levei um choque e custei a acreditar! Mas a
Cigarra encontrou quem a ajudasse, afinal nem só de Formigas é feito o mundo... ela aprendeu a importância do trabalho, mas nunca abdicou do seu sonho e do seu talento...
E a verdadeira moral da história é que a maravilha da vida é justamente que a vida dá voltas inacreditáveis... e a felicidade existe!
Qual instrumento você escolhe pra tocar a vida?
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
Pra ser feliz, mulher não precisa ser Maravilha nem Bombril
-- Sabe o que eu desejo pra você? Três filhos, porque dois é muito pouco; uma casa na praia, com varanda de ponta a ponta e uma boa empregada, pra que você não precise limpar tudo sozinha... e um marido que chegue todas as noites com uma garrafa de vinho debaixo do braço.
Eu tinha mais ou menos vinte anos quando minha mãe me disse estas palavras, e estava naquele momento da vida em que a gente é muito jovem e quer conquistar o mundo com a faculdade, o diploma, a força de vontade e o futuro incerto e cheio de surpresas... no qual a gente só enxerga oportunidades.
Outros vinte anos se passaram, eu não tive os filhos, não tenho a tal casa na praia nem a super empregada que ela sonhou pra mim. Passei a maior parte deste tempo correndo atrás dos tais “ganhos” que, dizem os mais experientes, as perdas nos presenteiam... quando a gente sabe (e está a fim de) brincar de “biscoitinho queimado”.
Alguém se lembra dessa brincadeira, o biscoitinho queimado? Lá em Minas era muito comum na Páscoa, quando os pais escondiam os ovos e, enquanto a criançada procurava pela casa inteira, eles iam sinalizando:
-- Tá frio! Agora tá esquentando... tá quente... tá fervendo!!! Achou!
Então, escolhi uma profissão que me ajudasse nessa minha busca pessoal, já que os jornalistas podem dar um jeito de entrevistar quem quiserem. E foi assim que me aproximei de muitas daquelas pessoas cujos livros eu lia, desde a adolescência, e admirava. Como minha primeira entrevistada, pra um jornal literário que já não existe mais, escolhi uma escritora feminista que eu adorava... e foi uma decepção, porque descobri que ela, na verdade, era rude e preconceituosa. Além de me tratar rispidamente e apontar todos os erros que eu cometia durante a entrevista, disse que, se sua filha quisesse ser uma simples dona de casa, ela teria um treco, acharia um absurdo e um desperdício!
Saí da casa dela sem saber onde estava aquela mulher incrível que eu lia nos livros, e que escrevia sobre a liberdade com a mesma paixão com que dissertava sobre o amor... o que teria havido com ela? Eu era novinha, mas apesar da minha juventude, questionei aquilo: quer dizer que a gente agora tem a obrigação de “usufruir” dos direitos a vestir o uniforme de executiva, trabalhar, botar dinheiro dentro de casa? E temos, obrigatoriamente, que ser “independentes”? Ser dona de casa virou coisa de gente “menor”? Optar por uma vida sem o “glamour” dos terninhos, das reuniões, da agenda lotada, do estresse, do salário e da falta de tempo pra mais nada é “desperdício”? Em nome de uma “carreira”, devemos mesmo deixar que as babás ou as creches criem nossos filhos, e que eles nos considerem um parente distante em vez daquela mãe presente com a qual todos nós, lá no fundo, sonhamos?
Talvez eu já tenha contado isso em algum post, mas uma vez, conversando com o escritor Fernando Sabino, ele disse que a única coisa que as mulheres tinham conquistado com a Revolução Feminista era o direito de ficar de pé no ônibus. Nós rimos, e eu rio disso até hoje, porque entendo o que ele quis dizer, e realmente acho que, de certa forma, tinha razão: por mais que os homens estejam se tornando “femininos”, participativos e eticétera e tal, as obrigações domésticas e relacionadas aos filhos ainda são, sim, das mulheres. Se o menino ficar doente e um dos dois tiver que faltar aquela reunião importantíssima no trabalho, não se engane: será a mãe.
Vou te dizer uma coisa: ganhar seu próprio dinheiro é sim, fundamental, e é maravilhoso. Ser dona do seu nariz, ser livre, ser autônoma. Mas olha, a verdade, mesmo, é que a autonomia está na cabeça e pouco tem a ver com tutu. Já vi mulheres duras e realmente livres e independentes; já vi as que ganharam muito dinheiro trabalhando e que piraram quando o marido partiu pra outra. A mulherada hoje em dia parece ter vergonha de bater um bolo, de fazer um café para o marido, de deixar que ele pague as contas da casa, e até de ser mulher em tempo integral, sem essa de bancar a Mulher Maravilha, que também é Bombril e tem mil e uma utilidades. Não pense que para ser respeitada por um marido (ou por quem quer que seja) você precisa ter dinheiro: você precisa, sim, é ter dignidade.
Outro dia ouvi de uma amiga, separada e rica:
-- Tá vendo, Fernanda? Tenho este tremendo apartamento, posso viajar pra onde quiser. Mas à noite, não tenho ninguém pra me fazer um cafuné.
Saber que casamento não é profissão e marido não é parente (minha mãe também me disse isso) e ter nossa própria vida, nossos sonhos, planos, projetos, profissão, dinheiro, autonomia... nada disso impede que a gente tenha, também, um prazer imenso em ser mulher dentro de casa e mulherzinha quando o marido chega. A mulher que tem vergonha de ser o que é e de desempenhar, feliz da vida, o seu papel, está condenada, lamento muito, a ser infeliz... porque amar é bom, namorar é ótimo e “cada um no seu quadrado” é uma verdadeira delícia! Esta foi a grande lição de felicidade que a minha mãe, sábia mulher, me ensinou, e que realmente vem sendo decisiva para minha plenitude e alegria. De tudo o que ela sonhou pra mim, conquistei o mais importante, e esta é a minha grande vitória como mulher.
Este aqui eu entrevistei também, e ele sabe das coisas:
Eu tinha mais ou menos vinte anos quando minha mãe me disse estas palavras, e estava naquele momento da vida em que a gente é muito jovem e quer conquistar o mundo com a faculdade, o diploma, a força de vontade e o futuro incerto e cheio de surpresas... no qual a gente só enxerga oportunidades.
Outros vinte anos se passaram, eu não tive os filhos, não tenho a tal casa na praia nem a super empregada que ela sonhou pra mim. Passei a maior parte deste tempo correndo atrás dos tais “ganhos” que, dizem os mais experientes, as perdas nos presenteiam... quando a gente sabe (e está a fim de) brincar de “biscoitinho queimado”.
Alguém se lembra dessa brincadeira, o biscoitinho queimado? Lá em Minas era muito comum na Páscoa, quando os pais escondiam os ovos e, enquanto a criançada procurava pela casa inteira, eles iam sinalizando:
-- Tá frio! Agora tá esquentando... tá quente... tá fervendo!!! Achou!
Então, escolhi uma profissão que me ajudasse nessa minha busca pessoal, já que os jornalistas podem dar um jeito de entrevistar quem quiserem. E foi assim que me aproximei de muitas daquelas pessoas cujos livros eu lia, desde a adolescência, e admirava. Como minha primeira entrevistada, pra um jornal literário que já não existe mais, escolhi uma escritora feminista que eu adorava... e foi uma decepção, porque descobri que ela, na verdade, era rude e preconceituosa. Além de me tratar rispidamente e apontar todos os erros que eu cometia durante a entrevista, disse que, se sua filha quisesse ser uma simples dona de casa, ela teria um treco, acharia um absurdo e um desperdício!
Saí da casa dela sem saber onde estava aquela mulher incrível que eu lia nos livros, e que escrevia sobre a liberdade com a mesma paixão com que dissertava sobre o amor... o que teria havido com ela? Eu era novinha, mas apesar da minha juventude, questionei aquilo: quer dizer que a gente agora tem a obrigação de “usufruir” dos direitos a vestir o uniforme de executiva, trabalhar, botar dinheiro dentro de casa? E temos, obrigatoriamente, que ser “independentes”? Ser dona de casa virou coisa de gente “menor”? Optar por uma vida sem o “glamour” dos terninhos, das reuniões, da agenda lotada, do estresse, do salário e da falta de tempo pra mais nada é “desperdício”? Em nome de uma “carreira”, devemos mesmo deixar que as babás ou as creches criem nossos filhos, e que eles nos considerem um parente distante em vez daquela mãe presente com a qual todos nós, lá no fundo, sonhamos?
Talvez eu já tenha contado isso em algum post, mas uma vez, conversando com o escritor Fernando Sabino, ele disse que a única coisa que as mulheres tinham conquistado com a Revolução Feminista era o direito de ficar de pé no ônibus. Nós rimos, e eu rio disso até hoje, porque entendo o que ele quis dizer, e realmente acho que, de certa forma, tinha razão: por mais que os homens estejam se tornando “femininos”, participativos e eticétera e tal, as obrigações domésticas e relacionadas aos filhos ainda são, sim, das mulheres. Se o menino ficar doente e um dos dois tiver que faltar aquela reunião importantíssima no trabalho, não se engane: será a mãe.
Vou te dizer uma coisa: ganhar seu próprio dinheiro é sim, fundamental, e é maravilhoso. Ser dona do seu nariz, ser livre, ser autônoma. Mas olha, a verdade, mesmo, é que a autonomia está na cabeça e pouco tem a ver com tutu. Já vi mulheres duras e realmente livres e independentes; já vi as que ganharam muito dinheiro trabalhando e que piraram quando o marido partiu pra outra. A mulherada hoje em dia parece ter vergonha de bater um bolo, de fazer um café para o marido, de deixar que ele pague as contas da casa, e até de ser mulher em tempo integral, sem essa de bancar a Mulher Maravilha, que também é Bombril e tem mil e uma utilidades. Não pense que para ser respeitada por um marido (ou por quem quer que seja) você precisa ter dinheiro: você precisa, sim, é ter dignidade.
Outro dia ouvi de uma amiga, separada e rica:
-- Tá vendo, Fernanda? Tenho este tremendo apartamento, posso viajar pra onde quiser. Mas à noite, não tenho ninguém pra me fazer um cafuné.
Saber que casamento não é profissão e marido não é parente (minha mãe também me disse isso) e ter nossa própria vida, nossos sonhos, planos, projetos, profissão, dinheiro, autonomia... nada disso impede que a gente tenha, também, um prazer imenso em ser mulher dentro de casa e mulherzinha quando o marido chega. A mulher que tem vergonha de ser o que é e de desempenhar, feliz da vida, o seu papel, está condenada, lamento muito, a ser infeliz... porque amar é bom, namorar é ótimo e “cada um no seu quadrado” é uma verdadeira delícia! Esta foi a grande lição de felicidade que a minha mãe, sábia mulher, me ensinou, e que realmente vem sendo decisiva para minha plenitude e alegria. De tudo o que ela sonhou pra mim, conquistei o mais importante, e esta é a minha grande vitória como mulher.
Este aqui eu entrevistei também, e ele sabe das coisas:
domingo, 20 de novembro de 2011
Em queda livre, no espaço sideral
Sabe, a gente passa a vida sem entender nada do que realmente faz a diferença na “hora H”. A gente acorda cedo, tem que aprender a se “socializar” e a ser “aceito” (ai, que saco!), tem que entender os mistérios da Química, da Gramática e da Língua Estrangeira... tirar documentos... encontrar uma carreira e ser bem-sucedido (não só pra ganhar dinheiro, mas pra calar a boca dos idiotas que pensam que, se você não tem uma “carreira”, você não é nada...).
E tem que arranjar a vida afetiva, seja num namoro, num casamento, numa amizade colorida... ou aprender a ser feliz com a solidão dos casos ocasionais... e tem que fazer mágica e sacrifícios em nome da convivência com a família, os amigos e os agregados... e tem que entrar na fila para pagar as contas e não ficar com o nome sujo, e tem que encarar o ambiente selvagem do mercado de trabalho... e inventar coragem pra sair todos os dias de casa, porque a gente nunca sabe se volta...
E tem que cuidar da saúde, malhar o “corpinho”, vigiar o colesterol e as doenças hereditárias... e tem que ler o jornal, estar em dia com os últimos lançamentos literários... driblar o tédio... fingir que curte muito as festas de fim de ano, mesmo que fique triste nesta época... e atuar pra nós mesmos, porque encarar de frente as próprias infelicidades e frustrações é batalha para poucos... e fechar os olhos para as crises existenciais que sim, todos nós sofremos em algum momento da vida...
E eis que, de repente, a gente entende na carne e na alma que fez tudo direitinho, que foi responsável, que estudou, que não roubou o namorado de ninguém, que pagou as contas, que trabalhou, que ajudou quem pôde, que rezou todas as noites, que tomou banho, escovou os dentes e passou hidratante... que tomou os remedinhos na hora certa, correu na orla todos os dias dos últimos dez anos, comprou apartamento, guardou dinheiro no banco, fez plástica e viajou pela Europa inteira...
Mas alguma coisa falta.
Sabe, a gente passa a vida toda cumprindo com todas as obrigações, menos com o que realmente importa e faz a diferença na hora H... que é quando nos falta aquela coisa tão preciosa e essencial, na qual nos agarramos para não cair vertiginosamente no espaço sideral... a morte, o divórcio, a solidão, o desemprego, a doença... os verdadeiros desafios da existência acabam chegando para todos nós em algum momento, e então a gente descobre que a segurança é uma mentira contada por alguém que morria de medo de viver.
A gente faz tudo direitinho, mas se não encontrou uma boa academia para malhar o espírito e desenvolver os músculos da força interior... não somos nada, não temos nada, só as lágrimas pra chorar e aquela tristeza tão funda, tão funda... na qual jamais deixaremos de estar eternamente em queda.
E tem que arranjar a vida afetiva, seja num namoro, num casamento, numa amizade colorida... ou aprender a ser feliz com a solidão dos casos ocasionais... e tem que fazer mágica e sacrifícios em nome da convivência com a família, os amigos e os agregados... e tem que entrar na fila para pagar as contas e não ficar com o nome sujo, e tem que encarar o ambiente selvagem do mercado de trabalho... e inventar coragem pra sair todos os dias de casa, porque a gente nunca sabe se volta...
E tem que cuidar da saúde, malhar o “corpinho”, vigiar o colesterol e as doenças hereditárias... e tem que ler o jornal, estar em dia com os últimos lançamentos literários... driblar o tédio... fingir que curte muito as festas de fim de ano, mesmo que fique triste nesta época... e atuar pra nós mesmos, porque encarar de frente as próprias infelicidades e frustrações é batalha para poucos... e fechar os olhos para as crises existenciais que sim, todos nós sofremos em algum momento da vida...
E eis que, de repente, a gente entende na carne e na alma que fez tudo direitinho, que foi responsável, que estudou, que não roubou o namorado de ninguém, que pagou as contas, que trabalhou, que ajudou quem pôde, que rezou todas as noites, que tomou banho, escovou os dentes e passou hidratante... que tomou os remedinhos na hora certa, correu na orla todos os dias dos últimos dez anos, comprou apartamento, guardou dinheiro no banco, fez plástica e viajou pela Europa inteira...
Mas alguma coisa falta.
Sabe, a gente passa a vida toda cumprindo com todas as obrigações, menos com o que realmente importa e faz a diferença na hora H... que é quando nos falta aquela coisa tão preciosa e essencial, na qual nos agarramos para não cair vertiginosamente no espaço sideral... a morte, o divórcio, a solidão, o desemprego, a doença... os verdadeiros desafios da existência acabam chegando para todos nós em algum momento, e então a gente descobre que a segurança é uma mentira contada por alguém que morria de medo de viver.
A gente faz tudo direitinho, mas se não encontrou uma boa academia para malhar o espírito e desenvolver os músculos da força interior... não somos nada, não temos nada, só as lágrimas pra chorar e aquela tristeza tão funda, tão funda... na qual jamais deixaremos de estar eternamente em queda.
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
Recuse o convite irresistível do erro
Se há um convite que, à maioria de nós, é quase irresistível, é o convite ao erro. E ele vem vestido de muitas maneiras, confundindo-nos; uma de suas armadilhas mais comuns é chegar na forma de um velho hábito, daqueles que já estão tão arraigados na gente, que nem mesmo percebemos seu domínio ou influência.
No entanto, a sorte de ter um coração e um cérebro acaba jogando luz sobre o quarto escuro da nossa consciência... mais dia, menos dia, uma voz começa a falar dentro da gente, pedindo por nossa libertação. É que, por mais automático que seja um hábito, nossa alma, que é essencialmente pura, deseja a mudança, anseia que nos livremos do comportamento viciado.
Mas vencer a força de um hábito exige muito de nós: mais que à força de vontade, temos que recorrer a todo o nosso potencial de observação, para que possamos cortar o mal pela raiz e adotar outro comportamento no exato instante em que aquela atitude mecânica começa a agir sobre nós. Porque não é você que possui o hábito: ele é que possui você.
O maravilhoso desta luta violenta que travamos dentro de nós mesmos, é que ela realmente pode ser vencida, mesmo que as raízes do hábito estejam pregadas aos nossos ossos... ou à nossa alma, aprisionando-nos. Já vi gente que deixou o álcool, o fumo, a fofoca, a crítica, o consumismo, a preguiça, o ressentimento, a gula e eticétera e tal... em nome da liberdade de viver outra vida e de ser outra pessoa.
Veja que beleza o poema “Autobiografia em Cinco Capítulos”, do tibetano Nyoshul Khenpo:
1) Ando pela rua
Há um buraco fundo na calçada
Eu caio
Estou perdido...sem esperança.
Não é culpa minha.
Leva uma eternidade para encontrar a saída.
2) Ando pela mesma rua.
Há um buraco fundo na calçada
Mas finjo não vê-lo.
Caio nele de novo.
Não posso acreditar que estou no mesmo lugar.
Mas não é culpa minha.
Ainda assim, levo um tempão para sair.
3) Ando pela mesma rua.
Há um buraco fundo na calçada
Vejo que ele ali está
Ainda assim caio... é um hábito.
Meus olhos se abrem
Sei onde estou
É minha culpa.
Saio imediatamente.
4) Ando pela mesma rua
Há um buraco fundo na calçada
Dou a volta.
5) Ando por outra rua.
A Mafalda, minha chapa argentina, entende bem do que estou falando...
No entanto, a sorte de ter um coração e um cérebro acaba jogando luz sobre o quarto escuro da nossa consciência... mais dia, menos dia, uma voz começa a falar dentro da gente, pedindo por nossa libertação. É que, por mais automático que seja um hábito, nossa alma, que é essencialmente pura, deseja a mudança, anseia que nos livremos do comportamento viciado.
Mas vencer a força de um hábito exige muito de nós: mais que à força de vontade, temos que recorrer a todo o nosso potencial de observação, para que possamos cortar o mal pela raiz e adotar outro comportamento no exato instante em que aquela atitude mecânica começa a agir sobre nós. Porque não é você que possui o hábito: ele é que possui você.
O maravilhoso desta luta violenta que travamos dentro de nós mesmos, é que ela realmente pode ser vencida, mesmo que as raízes do hábito estejam pregadas aos nossos ossos... ou à nossa alma, aprisionando-nos. Já vi gente que deixou o álcool, o fumo, a fofoca, a crítica, o consumismo, a preguiça, o ressentimento, a gula e eticétera e tal... em nome da liberdade de viver outra vida e de ser outra pessoa.
Veja que beleza o poema “Autobiografia em Cinco Capítulos”, do tibetano Nyoshul Khenpo:
1) Ando pela rua
Há um buraco fundo na calçada
Eu caio
Estou perdido...sem esperança.
Não é culpa minha.
Leva uma eternidade para encontrar a saída.
2) Ando pela mesma rua.
Há um buraco fundo na calçada
Mas finjo não vê-lo.
Caio nele de novo.
Não posso acreditar que estou no mesmo lugar.
Mas não é culpa minha.
Ainda assim, levo um tempão para sair.
3) Ando pela mesma rua.
Há um buraco fundo na calçada
Vejo que ele ali está
Ainda assim caio... é um hábito.
Meus olhos se abrem
Sei onde estou
É minha culpa.
Saio imediatamente.
4) Ando pela mesma rua
Há um buraco fundo na calçada
Dou a volta.
5) Ando por outra rua.
A Mafalda, minha chapa argentina, entende bem do que estou falando...
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
A vida sem propósito é uma causa perdida
Estava quase dormindo diante de mais um documentário televisivo sobre a Arca da Aliança, quando aqueles monges muito pobres, da Etiópia, entraram em cena. Magrinhos, humildemente vestidos, vivem em função de guardar um casebre onde, acreditam, repousam objetos que integravam a sala do Templo de Salomão, em Jerusalém, onde ficava a dita arca.
Não são muitos, e pelo que entendi, vivem em permanente rodízio de sentinelas, velhos rifles em punho, guardando o tesouro de sua fé.
O documentário seguiu e, mais adiante, conheci um templo, também na Etiópia, guardado por monges que jamais saem dos limites do prédio, porque ali dizem manter a própria Arca. A entrada é proibida até mesmo para o Papa, e ai de quem ousar teimar com eles...
E fiquei aqui pensando... imagine passar a vida assim, no claustro... sem conforto, sem liberdade pra nada, sem expectativas, planos ou sonhos, com um futuro feito de dias tão iguais...
Então entendi: é uma questão de propósito.
Quantas vezes já vi gente que tinha “tudo”: saúde, dinheiro, família, juventude, beleza, sucesso... e o último capítulo foi um suicídio. Outras histórias acabaram em tédio, amargura e solidão: sentimentos de quem deixou a vida passar lá fora, em vez de convidá-la a entrar em casa e ficar pra sempre. Em ambos os casos, talvez tenha faltado justamente o que sobra aos monges etíopes: um propósito de vida. Uma causa para abraçar. Uma verdade íntima, plena, uma batalha diária e individual.
E olha, não precisa ser nada sensacional, não, como ganhar o Nobel, matar o Golias ou remar contra a maré. Nem é preciso virar monge... seu propósito pode ser mais modesto, como simplesmente tornar-se uma pessoa melhor ou ser feliz com menos do que você imagina necessitar (ou merecer).
Há grandes propósitos na vida, que não raro nos passam desapercebidos porque a cultura narcisista em que vivemos vem tirando deles seu valor: o propósito de aprender; de desenvolver sua noção de respeito pelos outros e pelo planeta; de vivenciar sua espiritualidade; de amar melhor; de doar seu tempo; de ter um lar saudável; de cultivar a paz interior e o desapego; de ter filhos educados, de agir com integridade e de retribuir ao Criador ao menos um milésimo do que recebemos a todo instante.
Sem um propósito, a existência perde o sentido e tudo se resume à vaidade e ao egocentrismo. A insatisfação domina os sentidos e faz de nós robozinhos viciados em adrenalina e substâncias químicas.
Mas olha, um pouco de cuidado e atenção também é bom, porque reféns que somos da autocomiseração, muitas vezes fazemos da destruição de nós mesmos o nosso grande propósito, muito fácil de ser levado a cabo, aliás, mas tão difícil de aceitarmos quando já está consumado. Quanta gente já vi, amarga e arrependida por ter soltado as rédeas da própria existência, infeliz e frustrada por ter feito pouco caso de tudo o que tinha... e que acabou perdendo. E atente para o risco de acomodar-se ao vazio de um cotidiano sem propósitos, porque a preguiça também crava sobre nós as suas unhas, e pode parecer mais fácil relaxar. Mas a vida não aceita ingratidão...
Abra as gavetas da sua alma e passe em revista seus propósitos, dos mais antigos e esquecidos, lá atrás, àqueles que você mesmo ainda nem conhece. Cole-os nas janelas dos seus olhos e use o seu coração como a bússola que aponta para a felicidade. Agora ordene aos seus pés e à sua vontade que corram, depressa, para lá.
Com propósitos, a vida fica toda azul!!!!!!!!!
Mas pode ficar cor-de-rosa, se você preferir!
Não são muitos, e pelo que entendi, vivem em permanente rodízio de sentinelas, velhos rifles em punho, guardando o tesouro de sua fé.
O documentário seguiu e, mais adiante, conheci um templo, também na Etiópia, guardado por monges que jamais saem dos limites do prédio, porque ali dizem manter a própria Arca. A entrada é proibida até mesmo para o Papa, e ai de quem ousar teimar com eles...
E fiquei aqui pensando... imagine passar a vida assim, no claustro... sem conforto, sem liberdade pra nada, sem expectativas, planos ou sonhos, com um futuro feito de dias tão iguais...
Então entendi: é uma questão de propósito.
Quantas vezes já vi gente que tinha “tudo”: saúde, dinheiro, família, juventude, beleza, sucesso... e o último capítulo foi um suicídio. Outras histórias acabaram em tédio, amargura e solidão: sentimentos de quem deixou a vida passar lá fora, em vez de convidá-la a entrar em casa e ficar pra sempre. Em ambos os casos, talvez tenha faltado justamente o que sobra aos monges etíopes: um propósito de vida. Uma causa para abraçar. Uma verdade íntima, plena, uma batalha diária e individual.
E olha, não precisa ser nada sensacional, não, como ganhar o Nobel, matar o Golias ou remar contra a maré. Nem é preciso virar monge... seu propósito pode ser mais modesto, como simplesmente tornar-se uma pessoa melhor ou ser feliz com menos do que você imagina necessitar (ou merecer).
Há grandes propósitos na vida, que não raro nos passam desapercebidos porque a cultura narcisista em que vivemos vem tirando deles seu valor: o propósito de aprender; de desenvolver sua noção de respeito pelos outros e pelo planeta; de vivenciar sua espiritualidade; de amar melhor; de doar seu tempo; de ter um lar saudável; de cultivar a paz interior e o desapego; de ter filhos educados, de agir com integridade e de retribuir ao Criador ao menos um milésimo do que recebemos a todo instante.
Sem um propósito, a existência perde o sentido e tudo se resume à vaidade e ao egocentrismo. A insatisfação domina os sentidos e faz de nós robozinhos viciados em adrenalina e substâncias químicas.
Mas olha, um pouco de cuidado e atenção também é bom, porque reféns que somos da autocomiseração, muitas vezes fazemos da destruição de nós mesmos o nosso grande propósito, muito fácil de ser levado a cabo, aliás, mas tão difícil de aceitarmos quando já está consumado. Quanta gente já vi, amarga e arrependida por ter soltado as rédeas da própria existência, infeliz e frustrada por ter feito pouco caso de tudo o que tinha... e que acabou perdendo. E atente para o risco de acomodar-se ao vazio de um cotidiano sem propósitos, porque a preguiça também crava sobre nós as suas unhas, e pode parecer mais fácil relaxar. Mas a vida não aceita ingratidão...
Abra as gavetas da sua alma e passe em revista seus propósitos, dos mais antigos e esquecidos, lá atrás, àqueles que você mesmo ainda nem conhece. Cole-os nas janelas dos seus olhos e use o seu coração como a bússola que aponta para a felicidade. Agora ordene aos seus pés e à sua vontade que corram, depressa, para lá.
Com propósitos, a vida fica toda azul!!!!!!!!!
Mas pode ficar cor-de-rosa, se você preferir!
terça-feira, 8 de novembro de 2011
Sofrer antes da hora é coisa de zumbi
-- Não é nada!
O poder incrível destas três palavrinhas, ditas por uma mulher desconhecida, num quarto de hospital, é inimaginável para quem não passou duas semanas temendo a morte próxima e o martírio da doença incurável.
Foi o que aconteceu com minha amiga Cida, que ainda grogue da anestesia exigida por um exame doloroso, viu-se liberta de um futuro tantas vezes imaginado e tantas vezes sofrido: cerca de 15 dias de angústia e horror, de pesadelos apesar da insônia, de medo da morte, enfim.
Quem não tem medo da morte? Quem, por mais espiritualizado que seja, ao menos não lamenta ter que morrer?
-- Ninguém quer morrer – diz meu amigo Fúlvio, médico experiente das emergências cariocas, e que já viu poucas e boas em seus plantões.
Mas o que é o sofrimento por antecipação? De certa forma, um pouco de morte em vida. A Cida, personagem principal desta história, perdeu duas semanas de vida para o desespero... e por nada. No fim das contas, não havia doença nenhuma, para seu alívio e renascimento. Muito bem: ela ficou aliviada e renasceu, mas e os dias que perdeu para a tal doença? E as noites que não dormiu? E todos os momentos de alegria e paz que poderia ter desfrutado... e que foram só de angústia? Todo este tempo foi pelo ralo e não será restituído. Tudo por pavor de um futuro incerto.
Eu mesma já recebi um laudo errado de um laboratório muito famoso e passei seis dias condenada. Estava numa viagem de trabalho, em meio a gente que não conhecia, e tive que lidar com aquele medão de ter as veias transformadas em pasto de agulhas, de ter que dizer adeus ao marido que amava e à vida que ainda pedia pra ser vivida. Que tristeza, que luto, que dor!
Minha angústia chegou a um ponto tal que, quando me vi sobre as areias que margeiam o rio São Francisco, próximo do seu encontro com o mar, não agüentei o desperdício: a tarde era linda demais e minha dor de moribunda não me deixava enxergar mais nada!
Chamei Nossa Senhora num canto daquela paisagem e pedi-Lhe que conversasse lá com Jesus Cristo: minha causa estava entregue, e se tivesse que ser... fazer o quê? Cultivar a paz de espírito.
Depois, aceitei uma água de côco do guia de turismo e fiz ali mesmo, sob um coqueiro, a entrevista sobre o lugar. E foi uma entrevista inesquecível simplesmente porque, naquele momento, deixei de me “ pré-ocupar” com a possível doença mortal. Consegui a graça da libertação. A graça de me concentrar no momento que vivia, e que era maravilhoso. A graça de não viver um futuro incerto, como se fosse certíssimo.
Tentei levar a vida assim, a partir de então, estando mais presente no agora e deixando o futuro pra amanhã. Isso às vezes é dificílimo, mas faz toda a diferença na qualidade de vida porque o futuro realmente não existe, já que ainda não estamos lá.
Entendi que sofrer por antecipação é a pior das mortes, é a morte definitiva da alma, que faz de nós verdadeiros zumbis.
O guia e eu, refletidos nas areias douradas do São Francisco
O poder incrível destas três palavrinhas, ditas por uma mulher desconhecida, num quarto de hospital, é inimaginável para quem não passou duas semanas temendo a morte próxima e o martírio da doença incurável.
Foi o que aconteceu com minha amiga Cida, que ainda grogue da anestesia exigida por um exame doloroso, viu-se liberta de um futuro tantas vezes imaginado e tantas vezes sofrido: cerca de 15 dias de angústia e horror, de pesadelos apesar da insônia, de medo da morte, enfim.
Quem não tem medo da morte? Quem, por mais espiritualizado que seja, ao menos não lamenta ter que morrer?
-- Ninguém quer morrer – diz meu amigo Fúlvio, médico experiente das emergências cariocas, e que já viu poucas e boas em seus plantões.
Mas o que é o sofrimento por antecipação? De certa forma, um pouco de morte em vida. A Cida, personagem principal desta história, perdeu duas semanas de vida para o desespero... e por nada. No fim das contas, não havia doença nenhuma, para seu alívio e renascimento. Muito bem: ela ficou aliviada e renasceu, mas e os dias que perdeu para a tal doença? E as noites que não dormiu? E todos os momentos de alegria e paz que poderia ter desfrutado... e que foram só de angústia? Todo este tempo foi pelo ralo e não será restituído. Tudo por pavor de um futuro incerto.
Eu mesma já recebi um laudo errado de um laboratório muito famoso e passei seis dias condenada. Estava numa viagem de trabalho, em meio a gente que não conhecia, e tive que lidar com aquele medão de ter as veias transformadas em pasto de agulhas, de ter que dizer adeus ao marido que amava e à vida que ainda pedia pra ser vivida. Que tristeza, que luto, que dor!
Minha angústia chegou a um ponto tal que, quando me vi sobre as areias que margeiam o rio São Francisco, próximo do seu encontro com o mar, não agüentei o desperdício: a tarde era linda demais e minha dor de moribunda não me deixava enxergar mais nada!
Chamei Nossa Senhora num canto daquela paisagem e pedi-Lhe que conversasse lá com Jesus Cristo: minha causa estava entregue, e se tivesse que ser... fazer o quê? Cultivar a paz de espírito.
Depois, aceitei uma água de côco do guia de turismo e fiz ali mesmo, sob um coqueiro, a entrevista sobre o lugar. E foi uma entrevista inesquecível simplesmente porque, naquele momento, deixei de me “ pré-ocupar” com a possível doença mortal. Consegui a graça da libertação. A graça de me concentrar no momento que vivia, e que era maravilhoso. A graça de não viver um futuro incerto, como se fosse certíssimo.
Tentei levar a vida assim, a partir de então, estando mais presente no agora e deixando o futuro pra amanhã. Isso às vezes é dificílimo, mas faz toda a diferença na qualidade de vida porque o futuro realmente não existe, já que ainda não estamos lá.
Entendi que sofrer por antecipação é a pior das mortes, é a morte definitiva da alma, que faz de nós verdadeiros zumbis.
O guia e eu, refletidos nas areias douradas do São Francisco
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
Zorba, o grego, e o efeito cascata
-- A pior coisa do mau-humor, é que ele é contagioso.
Acertou na mosca a minha amiga Yvonne, referindo-se à “maçã podre na caixa” que, no caso, era um dos nossos amigos ali presentes à situação: irritadinho, começou a contagiar o grupo todo numa tarde que deveria ser de confraternização.
Nunca mais me esqueci dessas palavras, e simplesmente pelo fato de que são mesmo verdadeiras. Dali em diante, tratei logo de ficar vigilante para não ser contaminada e estragar meu dia, e também para tentar não ser, eu mesma, a tal maçã podre: melhor levar só coisas boas onde quer que a gente vá.
Mas o outro lado da moeda também existe, bendito seja, e os bons sentimentos são tão epidêmicos quanto os ruins, já reparou? A própria Ciência comprova, através de testes (que vi no Discovery, claaaaaro) que o homem é mesmo um macaco de imitação que, inconscientemente, segue a tendência do momento, deixa-se levar, crê muito facilmente, vê o que imagina estar vendo e até mesmo sente o que pensa estar sentindo.
Bem... se o cérebro humano é uma máquina que responde automaticamente aos estímulos, e nem sempre pode ser dominado, nem tudo está perdido, porque a “vontade”, esta sim, o homem pode dominar. Então tudo é uma questão de decisão: atrás de quem (ou de quê) você se permitirá ir?
Lembre-se: seu poder de decisão está no ato de pensar.
Sim, existem os “gatilhos”, aquelas situações que, quando acontecem, detonam em nós, imediatamente, uma reação automática. Mas até mesmo contra isso podemos lutar, e se assim não fosse, o mundo estaria perdido e a civilização também. No entanto, nada é mais forte que a força de vontade. Nada é mais poderoso que a decisão tomada.
Antes de se deixar tomar por um estado de espírito, respire fundo. Conte até cinco enquanto avalia se este ímpeto é um chamado da vida ou do retrocesso. E, ao pensar, poderá decidir se entra mesmo nesta dança ou não.
Clique no link abaixo e entenda melhor o que estou dizendo:
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
Não deixe pra amanhã a felicidade que pode sentir hoje
"Pra comprar este apartamento, eu e meu marido passamos dez anos sem jantar fora, que dirá fazer uma viagem! Durante todo este tempo, não tive nem mesmo uma calcinha nova... foram anos de uma dureza absoluta!".
Minha amiga Simone encheu-se de orgulho ao dizer estas palavras, imaginando que eu fosse quase bater palmas diante de tanta obstinação. Lamentavelmente, pra ela, fiquei em silêncio. Na verdade, fiquei impressionada com os dez anos que eles jogaram fora, em nome de comprar um apartamento que, logo depois de pago, foi onde o marido dela adoeceu e acabou morrendo.
E eles não tiveram mais como jantar fora, viajar ou mesmo comprar uma calcinha nova. História triste.
Por estas e outras, tomo muito cuidado com os planos. Os de curto prazo são os ideais, estão logo ali adiante. E gosto daqueles que a gente bola pra médio prazo, também, porque estão à vista: é quase como se pudéssemos tocá-los, no caso de estender a mão. Possíveis.
Já os planos pra longo prazo, no meu entender, podem ser perigosos: estão distantes demais, e se o nosso senso de realidade falha, acabamos botando no mesmo saco os planos possíveis e os sonhos impossíveis... é que a longo prazo, vale quase tudo. Ou então, fazer como a Simone e o marido, e viver exclusivamente para realizar a "tarefa", alcançar a meta. E esquecer do resto.
É bom fazer planos, eles são uma bússola que aponta o caminho; são também um elixir da persistência, quando a vontade é jogar tudo pro alto. Mas eles não podem ser uma venda nos olhos da gente, cegando-nos diante da paisagem do caminho... não podem fazer de nós miseráveis afetivos ou financeiros, personagens de uma história pobre com final incerto, como se só tivéssemos uma função: chegar “lá”... e todo o resto, portanto, perdesse a importância, pudesse ser deixado para depois.
E se não houver “depois”?
Os prazeres e alegrias são, fique sabendo, verdadeiras dádivas que você recebe: aceite-as. Com responsabilidade e pé no chão, é perfeitamente possível comprar o apartamento e jantar com seu amor numa viagenzinha a dois. (E com uma calcinha nova na mala). È possível, também, passar no vestibular ou no concurso público sem abdicar de uma manhã de sol na praia, de um cinema pra refrescar as idéias, de um domingo em família pra aquecer o coração.
Tudo na vida pode ser um plano a curto, médio ou longo prazo. Menos sentir alegria.
sexta-feira, 28 de outubro de 2011
Rir é a grande dificuldade do mundo adulto
Por que será que uma simples risada é tão difícil para a maioria das pessoas? Ver graça nas coisas, rir de si mesmo, brincar?
Já reparou?
Eu, por gostar de rir, já fui considerada infantil por muita gente.
E percebi que, em algum momento da nossa existência, o riso torna-se pejorativo, como se ter bom humor fosse sinal de imaturidade, de não levar a vida a sério, de ser irresponsável. Deixar de rir e brincar é como um ritual de passagem para a vida adulta.
Mas desde quando que, para “levar a vida a sério”, a gente precisa ser sisudo, estampar um ar de preocupação no rosto, de preferência andar pela rua olhando para baixo, não perder tempo com coisa tão fútil como uma brincadeira?
Isso me lembra a educação ideal nos tempos da minha avó, quando gargalhar era coisa de gente vulgar, ser feliz em público era falta de educação, demonstrar afeto era quase pecado e – horror! – um arroubo de paixão era a passagem sem escalas para a casa do Cruz Credo!
Sei que diante da multidão de infelizes que há por aí, a alegria alheia arde nos olhos igualzinho a luz na retina da vampirada. O bom-humor ofende, é quase pornográfico, e chega aos ouvidos desse povo com o tom malévolo da ironia, como se fosse um deboche ao seu jeito amargo de vegetar.
Para eles, a alegria é uma afronta: como se estar feliz, hoje em dia, num mundo tão corrupto e mal, fosse displicência, egoísmo ou maluquice.
Pois olha... falta de educação é viver como se a vida fosse um eterno sermão de missa: a seriedade do começo ao fim. Ou um problema de física quântica. Ou um velório, onde tudo é só tristeza e saudade...
O caso é que as pessoas, no decorrer do tempo, se esquecem de rir e de brincar, e acabam acreditando que isso seja coisa da infância. Quando se dão conta, já não sabem mais como é, se esqueceram e precisam mesmo reaprender, fazer o caminho de volta às pequenas alegrias da vida, que são, no fim das contas, as mais importantes.
Se você faz uma brincadeira, elas não entendem e respondem com sua habitual seriedade adulta, e por quê? Uma piada pode virar tese de mestrado ou, na pior das hipóteses, de promotor de justiça. E por quê?
Porque as pessoas levam a vida a sério demais.
O máximo que conseguem é rir dos outros, fazer do próximo um bode expiatório e jogar sobre ele seu sarcasmo... e acreditam, em sua ignorância, que isso seja brincar. Crêem que esse riso, que é de escárnio, seja de alegria. Quando já nem sabem, quase, o que é a alegria.
Cuidado! Não se torne um deles... se tem andado sério demais, agarre-se à lembrança de quando era jovem de alma, e tinha um coração leve e cheio de esperança. De quando seu raciocínio era limpo de julgamentos e de certezas irredutíveis. De quando seu dia era aberto aos novos amigos e aos novos acontecimentos, e rir era tão natural quanto conversar. De quando a diversão era tão simples, que não precisava ser planejada.
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
Abra uma conta-corrente no Banco do Universo!
Em recente viagem ao exterior, comprei uma blusa numa loja de alto nível, onde eu e meu marido fomos bem tratados até demais por um séquito de vendedoras e gerentes. Imagine nossa surpresa quando, mais tarde, vi que havia sido enganada: dentro da sacola, a blusa pela qual eu havia pago estava completamente rasgada.... porque a equipe da loja decidiu entregar a peça com defeito para o primeiro turista que por ali passasse.
Não fiquei no prejuízo, claro. Voltei lá pra buscar o que era meu por direito. E tenho certeza que, em minha próxima visita àquele bairro cheio de lojas bacanas, esta boutique não existirá mais.
Não, eu não roguei nenhuma praga. Mas confio plenamente na Lei do Retorno, aquela que diz que tudo o que semeamos será colhido por nós. Sendo assim, não creio que o sucesso vá sorrir ao dito estabelecimento.
Costumo dizer aos amigos que abram uma conta-corrente no Banco do Universo. Sou cliente preferencial desta respeitável instituição há muitos anos, desde que descobri um livrinho interessante sobre o poder do pensamento: “Alegria e Triunfo”. Trata-se de um antigo volume sobre o assunto, talvez um dos primeiros lançados no Brasil.
O livro realmente tem histórias inacreditáveis e sua linguagem é já ultrapassada. Mas a mensagem essencial está ali, atemporal: nossa vida é movida pelos nossos pensamentos.
O que o livro não diz, mas eu digo, é o seguinte: existe uma relação direta entre a sua prosperidade e a maneira como você lida com o dinheiro, inclusive o que não lhe pertence. Impossível ser próspero sem ser honesto e generoso.
Aquele dinheiro que vem a mais no troco não é seu, e ao ficar com ele, você está roubando alguém. Não se iluda, de uma forma ou de outra, acabará pagando de volta, e com juros pelo mau comportamento. O funcionário que você explora, ao pagar mal, também é sua vítima, e terá que ser ressarcido. O trabalho pelo qual você é pago, mas que realiza só pra constar, é outra dívida assumida com o Universo, tanto quanto a ajuda que deixa de dar a alguém porque é um pão-duro que não gosta de gastar. O mesmo vale para a dificuldade de autogratificação: viver pobre e morrer rico, de modo que algum herdeiro apareça pra curtir um dinheiro que, pra você, só foi motivo de usura e atraso espiritual.
Observe a vida e verá que juntar dinheiro lesando os outros (ou a si mesmo) não traz benefício a ninguém. O ladrão sempre paga no final... se não é em espécie, é com aquela moeda tão valorizada, chamada felicidade.
Por outro lado, se você aceita o que é seu, e respeita também o fato de que nem tudo o que gostaria lhe pertence porque já tem dono, está em dia com o princípio essencial da honestidade. Ao ser correto, creia: estará depositando em sua conta no Banco do Universo, e muitas vezes o que é “merecimento” será realmente um milagre.
Quer ver só? Uma vez estive entre os vencedores de um concurso mundial de poesia na Itália, mas estava numa fase ruim de grana e não tinha como comprar o bilhete para ir à solenidade de premiação. Eu não queria ir só pelo prêmio em euros: queria mesmo era a experiência. Então fiz a reserva do bilhete, que deveria ser pago até a manhã do dia seguinte, e voltei pra casa. No caminho, entreguei a situação nas mãos de Deus e relaxei. Se fosse meu merecimento, alguma coisa aconteceria.
O telegrama chegou em casa antes de mim: já estava lá, me esperando, e avisava que meu advogado já tinha em mãos exatamente a quantia que eu precisava pra viajar, porque um antigo processo trabalhista estava começando a render frutos. Milagre? É assim mesmo que funciona o Banco do Universo. Sacou?
Não falta tutu pra quem tem conta no Banco do Universo!!!
Não falta tutu pra quem tem conta no Banco do Universo!!!
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
O quê, de fato, podemos controlar?
A Paula é aquele tipo de amiga com quem levo altos papos, muitos deles considerados “cabeça” por gente que não gosta de pensar.
Uma das nossas últimas conversas foi sobre a Catarina.
Não conheço a Cata muito bem, mas sei que trata-se de pessoa carinhosa e de natureza leal.
Não fosse ela um pouco temperamental, e dada a rompantes de personalidade que às vezes assustam ou contrariam as pessoas, a Paula não estaria sofrendo. E sofrendo aquela culpa tão típica dos amigos verdadeiros, que se sentem um pouco responsáveis pela felicidade do outro... como se ser amigo fosse também ser um pouco pai ou mãe.
Não acompanho a história de perto, mas parece que a Cata, às vezes, tem dificuldades de relacionamento. E embora seja um doce de pessoa, parece que é aquele tipo que, quando cisma com alguma coisa, não muda de idéia nem por um decreto. Por ser como é, acaba mal interpretada por muita gente, que a considera desagradável e, até mesmo, perigosa.
E a Paula, que gosta tanto dela, sofre. Sofre de chorar, e acabou recorrendo a ajuda profissional para tentar melhorar a situação.
Descobriu que, enquanto a Catarina tem lá as suas dificuldades, ela, por sua vez, necessita ter o controle da situação. Ou, como ela mesma disse, necessita ACREDITAR que tem o controle... porque, lá no fundo, o ser humano sabe que não controla nada nesse mundo: nem as ondas gigantes do mar, nem as placas tectônicas; nem a terra que desliza nas montanhas de Friburgo... nem o próprio coração batendo no peito, ou por quem ele acelera.
Minha amiga descobriu sozinha, e depois me contou, que só há uma coisa que podemos controlar: nós mesmos. E a melhor maneira de fazer isso, é cuidar de como REAGIMOS às atitudes alheias... porque, a partir do momento em que você se deixa levar pelo que quer que seja e não controla suas próprias atitudes, está deixando-se controlar por alguém.
A descoberta da Paula a está ajudando a compreender melhor a natureza da Catarina, e a ser mais feliz em sua amizade: menos culpa, menos necessidade de controle, menos possessividade, menos desejo de fazer a Catarina ser como ela, Paula, quer que seja.
E me ajudou a ver que, ao mesmo tempo em que não devo buscar o controle sobre quem eu amo, devo, por outro lado, tentar controlar a minha natureza: esta é uma boa maneira de exercitar o amor universal, pelos outros e por mim mesma.
Olha a foto da Cata!
Clica no filminho das minhas amigas, aí abaixo!
Uma das nossas últimas conversas foi sobre a Catarina.
Não conheço a Cata muito bem, mas sei que trata-se de pessoa carinhosa e de natureza leal.
Não fosse ela um pouco temperamental, e dada a rompantes de personalidade que às vezes assustam ou contrariam as pessoas, a Paula não estaria sofrendo. E sofrendo aquela culpa tão típica dos amigos verdadeiros, que se sentem um pouco responsáveis pela felicidade do outro... como se ser amigo fosse também ser um pouco pai ou mãe.
Não acompanho a história de perto, mas parece que a Cata, às vezes, tem dificuldades de relacionamento. E embora seja um doce de pessoa, parece que é aquele tipo que, quando cisma com alguma coisa, não muda de idéia nem por um decreto. Por ser como é, acaba mal interpretada por muita gente, que a considera desagradável e, até mesmo, perigosa.
E a Paula, que gosta tanto dela, sofre. Sofre de chorar, e acabou recorrendo a ajuda profissional para tentar melhorar a situação.
Descobriu que, enquanto a Catarina tem lá as suas dificuldades, ela, por sua vez, necessita ter o controle da situação. Ou, como ela mesma disse, necessita ACREDITAR que tem o controle... porque, lá no fundo, o ser humano sabe que não controla nada nesse mundo: nem as ondas gigantes do mar, nem as placas tectônicas; nem a terra que desliza nas montanhas de Friburgo... nem o próprio coração batendo no peito, ou por quem ele acelera.
Minha amiga descobriu sozinha, e depois me contou, que só há uma coisa que podemos controlar: nós mesmos. E a melhor maneira de fazer isso, é cuidar de como REAGIMOS às atitudes alheias... porque, a partir do momento em que você se deixa levar pelo que quer que seja e não controla suas próprias atitudes, está deixando-se controlar por alguém.
A descoberta da Paula a está ajudando a compreender melhor a natureza da Catarina, e a ser mais feliz em sua amizade: menos culpa, menos necessidade de controle, menos possessividade, menos desejo de fazer a Catarina ser como ela, Paula, quer que seja.
E me ajudou a ver que, ao mesmo tempo em que não devo buscar o controle sobre quem eu amo, devo, por outro lado, tentar controlar a minha natureza: esta é uma boa maneira de exercitar o amor universal, pelos outros e por mim mesma.
Clica no filminho das minhas amigas, aí abaixo!
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
Todos os cães merecem o céu (e um lar na Terra)
Meu marido já me avisou:
-- Se um cachorro entrar pela porta da sala, eu saio pela cozinha!
Minha vida teve lá suas cachorradas: quando nasci, o Hippie já estava lá em casa. Era um pastor-alemão que havia sido treinado pela Polícia Militar, e que sei lá por que cargas d´água, acabou virando amigo fidelíssimo do meu pai por muitos anos. Era uma fera "daquelas", mas com a gente, lá de casa, não cantava de galo. Muito menos de cachorro... era um doce de pastor!
Depois tivemos o Otávio, um dálmata. Pra tirar onda com os amigos do meu irmão, meu pai apelidou o bicho de "Sua Mãe" e, quando a rapaziada chegava, ele sempre provocava, dizendo as palavras bem depressa, de modo que o "no" desaparecesse da frase:
-- Ô menino! Você já deu banho no Sua Mãe hoje?
Então foi a vez do Pedro Emílio, um bace round daqueles beeeeeem compridos, com orelhas que arrastam no chão. O danado vivia fugindo pelo portão e tínhamos que caçá-lo na cidade, o que não era difícil, porque jamais havia existido um espécime daquele naquelas bandas de Minas Gerais. E a meninada da escola pública, quando nos via com cara de caçador e coleira em punho, delatava:
-- O salsicha foi por ali!
Por último, houve o Billy, um rusk siberiano da escola das antigas, de onde veio o Hippie: bravo na rua e carinhosérrimo dentro de casa. Isso, sem falar nos cachorros amigos, como o Mingau, um vira-latas peludo que conheci no Parque Ibirapuera, em São Paulo; a Tiffany, a foférrima cocker spaniel ruiva de uma prima; a Catarina (Cata, para os mais íntimos) que até já estrelou um post aqui no blog... e todos os labradores que já encontrei pelo caminho... e que tive ganas de esconder dentro da bolsa e trazer pra casa.
No entanto, como (ao menos por enquanto) ainda tenho impedimentos para isso, repasso aos amigos do blog a mensagem que recebi hoje. E quem sabe alguém se apaixona por estes órfãos aí abaixo e resolve fazer uma adoção?
-- Se um cachorro entrar pela porta da sala, eu saio pela cozinha!
Minha vida teve lá suas cachorradas: quando nasci, o Hippie já estava lá em casa. Era um pastor-alemão que havia sido treinado pela Polícia Militar, e que sei lá por que cargas d´água, acabou virando amigo fidelíssimo do meu pai por muitos anos. Era uma fera "daquelas", mas com a gente, lá de casa, não cantava de galo. Muito menos de cachorro... era um doce de pastor!
Depois tivemos o Otávio, um dálmata. Pra tirar onda com os amigos do meu irmão, meu pai apelidou o bicho de "Sua Mãe" e, quando a rapaziada chegava, ele sempre provocava, dizendo as palavras bem depressa, de modo que o "no" desaparecesse da frase:
-- Ô menino! Você já deu banho no Sua Mãe hoje?
Então foi a vez do Pedro Emílio, um bace round daqueles beeeeeem compridos, com orelhas que arrastam no chão. O danado vivia fugindo pelo portão e tínhamos que caçá-lo na cidade, o que não era difícil, porque jamais havia existido um espécime daquele naquelas bandas de Minas Gerais. E a meninada da escola pública, quando nos via com cara de caçador e coleira em punho, delatava:
-- O salsicha foi por ali!
Por último, houve o Billy, um rusk siberiano da escola das antigas, de onde veio o Hippie: bravo na rua e carinhosérrimo dentro de casa. Isso, sem falar nos cachorros amigos, como o Mingau, um vira-latas peludo que conheci no Parque Ibirapuera, em São Paulo; a Tiffany, a foférrima cocker spaniel ruiva de uma prima; a Catarina (Cata, para os mais íntimos) que até já estrelou um post aqui no blog... e todos os labradores que já encontrei pelo caminho... e que tive ganas de esconder dentro da bolsa e trazer pra casa.
No entanto, como (ao menos por enquanto) ainda tenho impedimentos para isso, repasso aos amigos do blog a mensagem que recebi hoje. E quem sabe alguém se apaixona por estes órfãos aí abaixo e resolve fazer uma adoção?
NOSSA MÃE FALECEU !!!!
Ela cuidava de nós com muito amor e carinho.
Não há ninguém da família que nos queira.
Há 9 meses aguardamos um lar, senão vamos p/ rua!
Ajude a gente!
Divulgue o nosso apelo.
Contato: elisaaa@uol.com.br
Para você, que gosta de cachorro, o link do desenho "Todos os cães merecem o céu".
Vamos falar de paixão?
Do que confesso
Falar de sexo é bom
com quem se quer deitar
Depois, queimar lençóis com o suor do corpo,
trotar na cama as patas invisíveis
do que há de mais humano em ser um par.
É bom falar, deixar-se ouvir;
amar sonoro que depois persiste
e encerra o sono na vigília dos calores.
Falo por mim:
tua palavra é um faquir...
e entre nós, o espaço, como cãimbra,
é quase dor, é quase mar de dissabores;
E de falar, e de ouvir, de desejar,
de ver no teto a silhueta desta fome,
sou quase tua, mesmo que me tome
a consciência de resvalar no erro
O que me abate é a força bruta do desterro:
ter na lembrança do nariz os teus odores...
guardar palavras no ouvido, vãos sabores,
e o colo aos saltos
a repetir teu nome.
(Fernanda Dannemann)
Falar de sexo é bom
com quem se quer deitar
Depois, queimar lençóis com o suor do corpo,
trotar na cama as patas invisíveis
do que há de mais humano em ser um par.
É bom falar, deixar-se ouvir;
amar sonoro que depois persiste
e encerra o sono na vigília dos calores.
Falo por mim:
tua palavra é um faquir...
e entre nós, o espaço, como cãimbra,
é quase dor, é quase mar de dissabores;
E de falar, e de ouvir, de desejar,
de ver no teto a silhueta desta fome,
sou quase tua, mesmo que me tome
a consciência de resvalar no erro
O que me abate é a força bruta do desterro:
ter na lembrança do nariz os teus odores...
guardar palavras no ouvido, vãos sabores,
e o colo aos saltos
a repetir teu nome.
(Fernanda Dannemann)
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