segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

No Brasil, horror alheio é bobagem

Neste momento de horror, de choque, de consternação e de luto que o Brasil inteiro atravessa pelo incêndio que matou tanta gente na boate de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, chefes de estado se solidarizam, assim como nossos ministros, governadores, secretários, deputados, senadores... todas as autoridades se horrorizam e se manifestam através de notas de pesar e solidariedade.

Ao repórter de "O Globo", o coronel da Brigada Militar, Sergio Roberto de Abreu, afirma que o fato de “o plano de prevenção de combate a incêndio estar vencido desde o ano passado pode não ter sido determinante para a tragédia”. Segundo ele, faltava ainda a vistoria final, mas “a casa vinha de outro alvará e não teria problema, porque a fiscalização se dá em alguns equipamentos, extintores, iluminação de saída de emergência etc”. Já os demais especialistas dizem, aos quatro ventos, que o incêndio aconteceu principalmente por falhas no plano de emergência da boate e pela desobediência a regras básicas de planejamento de emergência e evacuação.
Se o extintor não funcionou, se não havia saídas de emergência, se dentro da boate tudo era preto e não havia luz... como é que só faltava uma vistoria final? Como é que não haveria problema?
Então o tenente-coronel dos Bombeiros do Rio lembra que uma tragédia como esta é exemplar para que a fiscalização seja intensificada e para que uma série de exigências seja revista.
Mas por que é que no Brasil é preciso que a catástrofe aconteça para que as leis sejam revistas? E olha, não sei se é caso de intensificar a fiscalização ou, simplesmente, de fiscalizar... 
Seria muito bom se as autoridades enlutadas e solidárias entendessem que a tragédia já aconteceu e se mobilizassem para mudar a realidade do país inteiro, onde, segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de São Paulo, Antônio Ramalho, mais de 90% das casas noturnas funcionam sem alvará e sem respeitar as normas de segurança.
Porque a nossa história, pontuada por tragédias inesquecíveis apenas para as famílias dos mortos, nos mostra que a impunidade e o nefasto “jeitinho brasileiro” só podem mesmo é repetir os fatos.  Nem é preciso buscar incêndios, desabamentos, inundações e acidentes nos quais tantas pessoas foram mortas pelo descaso, e muitas outras passaram o resto da vida torturadas pela falta de justiça.
Basta pensar que, na Região Serrana do Rio, as vítimas da chuva de janeiro de 2011 ainda sentem o cheiro dos cadáveres sob a lama que secou, ainda vivem em condições de risco, ainda sofrem de pânico a cada chuva que cai.
É triste, é uma vergonha dizer isso... mas, no Brasil, horror alheio é bobagem. Mais ainda às vésperas do Carnaval, mesma época, inclusive, da tragédia em Friburgo e Teresópolis.

17 comentários:

  1. Fernanda, é absolutamente verdadeiro o que afirmou em seu blog. À sensação de horror, de choque, de consternação e de luto, soma-se a de nojo.
    Nojo pelas promessas não cumpridas até hoje pelas mesmas autoridades que ora se manifestam.
    Nojo, também, pela covardia da maioria do povo deste país, que não protesta , não se manifesta ante as omissões do Poder Público em todos os níveis.
    Na região serrana morreram cerca de 950 pessoas em janeiro de 2011, sendo que muitas, como você disse, jazem até hoje sob a lama solidificada enquanto que milhares continuam sem suas casas ou com elas interditadas. Agora morrem 230 e...a vida continua.
    Na verdade, existem manifestações revoltadas com a situação, como a de seu blog, mas falta aquilo que é muito importante- o povo na rua protestando com veemência contra a inação das autoridades.
    O que consola é ver agora, como se viu também na região serrana, a solidariedade comovente de voluntários.

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    1. Caro Paulo, é bom receber palavras suas! Pensei que você já não aparecesse mais por aqui. Sim, a solidariedade do povo emociona mesmo, e você tem razão ao queixar-se da falta de mobilização geral para protestar e mudar as coisas. Acho que é por isso que o Brasil ainda não estourou como potência mundial: não temos educação, não temos autoestima, disciplina, cidadania. E com tanta impunidade, deixamos também de ter esperança. Abraços e apareça mais!

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  2. Sou cético, quase niilista, quanto as promessas pós tragédia, feitas por políticos e autoridades de quaisquer escalões de nosso país. As tragédias recentes elencadas por você e a desfaçatez, cinismo e desonestidade com que foram tratadas,reforçam minha percepção e sentimento. Na Região Serrana, reforçando tua colocação, houve desvio de recursos financeiros e de produtos e alimentos doados. Prefeitos , brincando com os recusos que a legislação possibilita, brincaram de cassaçõo de mandato e retomada ao cargo, até as ultimas eleições. Enquanto isso, centenas de vítimas continuam vivendo(?) em escolas, abrigos e da solidariedade de familiares e amigos. Antropológica e pissicossocialmente, nossa casa representa proteção, acolhimento, segurança, paz e amor, e a própria identidade de seu(s) morador(es).. Alguma autoridade é capaz de um olhar dessa dimensão. Eles habitam em áreas e casas seguras e prá nossa infelicidade, são longevos. Um famoso Senador, após meio século de vida política, Czar de capitania hereditária mais miseravel, em todos os níveis, desse Brasil, anuncia com pompa e circunstâcia que deixará a vida política.
    Por isso e muito mais, lamento mais esse trágico episódio, fruto de descaso, ganância financeira e despreparo de todos os responsáveis envolvidos. Lamento ainda, não estar naquela cidade, para oferecer ajuda profissional e pessoal aos sobreviventes e familiares dos mortos. Que cada um deles tenha muita luz, amor e força , na vida que segue.

    ANTONIO CARLOS

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    1. São longevos sim, e deixam filhos e netos para seguir seu rastro na política e rezar de acordo com sua cartilha. O Czar da tal capitania mesmo é um exemplo. Quer vergonha maior que o cachê pago (e aceito) a Ivete Sangalo, enquanto a saúde está doente terminal? E fica por isso mesmo.
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    2. Ai de quem pensar que Ivetes com galo ou sem galo têm consciência.

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  3. O povo está anestesiado irremediavelmente pela televisão.

    SERGIO NATUREZA - BA

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  4. compl: no blog do Marcelo, expressei o desejo de que deveria haver uma LEI UNIVERSAL ou DIVINA, pela qual, ninguém morreria antes de sessenta anos, ecxeto naqueles casos, em que algumas pessoas já aportam no planeta, com limitações físicas e ou mentais que, apesar de todo desenvolvimento de todo os saberes da àrea de Saúde e correlatas, fazem-nos totalmente dependentes de cuidados do outro, pelo tempo em que permanecem no planeta.
    Inevitável prá quem tem filho, não imaginar que o mesmo podeia estar alí. Tenho um, único, jovem adulto- Advogado, que, como quse todos os jovens de sua idade(26 anos), frequenta regularmente, ambientes similares ao da recente tragédia.. Que ele possa viver minha morte, como deve ser, naturalmene, é o que mais desejo.

    ANTONIO CARLOS

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  5. Considero - além de tristíssimo- o mais deplorável e imperdoável é que o Deus Grana tem falado mais alto, (quase) sempre:"Em meio ao pânico, eles exigiam que os jovens pagassem suas comandas". A "lógica" perversa do mercado neoliberal que considera o cidadão somente como mero consumidor ou como um número a mais ou a menos... não deixa vislumbrar, por enquanto, dias melhores. Quem viver...
    Só de imaginar , solidaria e altruisticamente, que um filho ou parente nosso ou amigos pudessem estar naquele caos infernal (ninguém é melhor do que ninguém ou possui estrela na testa), dispensa maiores reflexões, né?
    Que os sobreviventes tenham sorte e que os familiares que enterraram ou cremaram seus entes queridos, encontrem algum conforto espiritual ou existencial, da forma que (se) conseguirem... amém que sim!


    Li no JB e reproduzo: "Rodolpho Kaizer compartilhou a fotografia postada na página do grupo no dia 10 de julho de 2012 e disse: "Cartaz da Banda que estava tocando na noite da tragédia, e o cidadão que soltou o sinalizador é esse que aparece ao lado do cartaz, se você tiver um pouquinho de sensibilidade espiritual, olhe ao redor da caveira tocando, cheio de pessoas em meio ao fogo, isso já estava mais que avisado que alguma coisa iria acontecer ", criticou. Esta foto de divulgação é impressionante, parece tragédia anunciada mesmo.

    Uma página contra Kiko Spohr, um dos sócios da Kiss, foi criada no último domingo, no Facebook. Na foto de capa, os dizeres em vermelho “Prisão Já”.

    Um usuário comentou na página: “A vida é um leque de surpresas. Não imaginamos o que pode vir a ocorrer em determinado momento. Podemos estar sorrindo as 2h29 minutos; apavorados as 2h30 minutos; apagados as 2h31 minutos e partindo deste mundo para outro, entristecendo familiares e deixando para trás objetivos ainda não realizados. (...) A vida é única, é incomparável e perdas são irreparáveis. Agradeça a Deus por você hoje estar vivo e reserve nem que seja um minuto de seu dia para orar. (...) Meus sinceros sentimentos aos familiares das vitimas da trágica tragédia. Que Deus os conforte! Obs.: Sei que a vida daqueles que ali partiram não tem preço, mas espero que os responsáveis pelo acontecimento sejam devidamente punidos. Vários sonhos, vários sorrisos, várias vidas ali foram destruídas. Que as leis de segurança pública não sejam falhas. Aplique-se e puna-se”, lamentou.
    Mais sorte, proteção e melhores dias
    Marcos Lúcio

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    1. Concordo: a vida é um mistério, e temos mesmo que agradecer a Deus todos os dias.

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    2. Justamente senhor Lúcio... Justamente! Não custa lembrar da figura demoníaca que pegou fogo na Marquês de Sapucaí. O que me altera os sentidos é a inércia do raciocínio. Tem coisas tão óbvias que chegam a fazer inveja no Deby&Loyde. Ora, soltar um foguete dentro de um boate é além da imaginação. Fica fácil demais pro coisa ruim.

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  6. O único luto de autoridades no Brasil, que eu saiba, é pela perda de uma falcatrua.

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  7. Os livros,... naquele tempo não tinha Internet. Os livros já me salvaram de poucas e boas. Por mais de uma vez recusei convites de amigos para ir aqui e ali por gostar de ler, mas o que vejo hoje é que a Internet, ao invés de prender alguém em casa, vai junto com a 'galera' em seus bolsos, nos celulares. Dante e Victor Hugo que procurem seus leitores em outra freguesia. A nostalgia pós guerra de Somerset Morgan - No Fio da Navalha, era para mim como viajar comodamente, sem mover uma perna. Um amigo certa vez me convidou para ir para Paquetá na sua lancha. Era um ótimo motor Mercury de 140 HP. Eu não fui desta vez. Os que foram, pegaram o pior mar que já aconteceu na Baia de Guanabara. Lembrem-se de uma tempestade que jogou até navio contra o caís no RJ. Pois é. Juro que fiquei em casa lendo e procurando cruzar informações, como faço até hoje, com muito mais recursos na Internet. Amo fazer isto. A Desgraça mora ao lado e a intuição, a moderação, a sensação pode nos salvar se dermos importância a ela e, não querermos viver a vida como quem nunca comeu melado. Sinto muitíssimo pelos jovens que pereceram e que a equanimidade seja o fator preponderante no julgamento dos responsáveis por isto. Existe e insisto nisso, uma responsabilidade que deve ser pessoal, ligada as pessoas que amamos. Pai e mãe precisam dela, dessa responsabilidade e ela funciona como um coração que bate na mão. Quando um filho vai pra rua se ‘divertir’, o coração da mãe sai do peito e vai pra mão. É o tal de “Coração na mão”.

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    1. Quando eu e meus irmãos éramos jovens e saíamos à noite nos fins de semana, lembro que minha mãe ficava sentada no sofá da sala, rezando com o terço na mão, e só ia dormir quando todos já estávamos em casa. Tadinha...

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  8. Precisou morrer mais de 200 pessoas,para o País inteiro ser virado pelo avesso,para fazer valer as leis necessárias para o funcionamento das casas noturnas.E em poucos dias cai tudo no esquecimento novamente.
    Outro dia,eu lí em algum portal,que das tragédias da Região Serrana,e do Morro do Bumba,ainda existem centenas de pessoas morando nos abrigos das Prefeituras... Isso chama-se Brasil.

    Monica.

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  9. ESTES TEMPOS NÃO ESTÃO PRA NINHARIAS



    Foram necessários quase 250 mortos se pensarmos nos que ainda podem vir a falecer, (até ontem, 05-02-2013, precisamente, 238 óbitos) fora os feridos gravemente, para que começassem a fazer o que sempre deveria estar feito. Sábado à noite, inúmeras casas noturnas do Rio estavam fechadas por não oferecerem segurança para seus frequentadores. Porque isso, porquê sempre tem que ser com sangue que a roda da civilidade e justiça se move? Faço deste pequeno texto, um réquiem para meus irmãos tão jovens, vítimas do descaso do antropofágico empresariado brasileiro, que em nome de mais e mais grana, nunca leva em consideração a vida humana. É por demais lamentável que todas as conquistas sociais obtidas no decorrer da história tenham sempre sido lavadas com rios de sangue... Até quando permitiremos a existência de uma civilização tão vampiresca quanto a nossa? Até quando meu Deus? Como empreendedores abrem casas de diversão sem levarem em conta a segurança dos seres humanos que ali irão? Seria o mesmo que construir uma casa com as devidas aberturas para portas e janelas e não colocar portas e janelas para fechá-las, quando a casa está abarrotada de objetos roubáveis. É obvio que ninguém faz isso; porque ninguém quer ser roubado e disso não se descuida... mas, da vida humana, esquecem costumeiramente. Um amigo que na sua filosofia dita realista, mas que considero pessimista ao extremo, disse que tudo isso seria logo esquecido, que após o carnaval outras tragédias suplantariam o impacto desta, e a ele eu respondi que não, que decididamente não seria assim, realisticamente sei que as pessoas acordam e lutam pelos seus direitos mais básicos quando estes lhes faltam, e não seria diferente, principalmente com um acontecimento de expressão internacional como este. Atitudes começaram e continuarão a serem tomadas, e obviamente, os canalhas de plantão, ainda por algum tempo continuarão buscando estratégias para burlarem as leis, e a luta pela dignidade tem de ser tão forte quanto a persistência deles... é o exercício da vida e da democracia: atenção e vigia. O triste e desprezível é serem necessários 250 quando um já seria um escândalo. Porque uma vida é sempre um milagre, um vir a ser com tantas possibilidades, que acabar com uma vida é sempre arrancar um pedaço de Deus, emudecer-lhe uma de suas expressões. A gananciosa, desprezível, criminosa e monstruosa irresponsabilidade de todos que lidam com vidas humanas e não tomam as devidas precauções, para que tragédias como esta sejam verdadeiramente evitadas; elas só envergonham e entristecem a nossa já tão precária existência. No mínimo, nosso repúdio por tamanho descaso com a vida humana. E que jamais nos esqueçamos do provérbio que diz: “Quem não pune o lobo, sacrifica as ovelhas”.
    Theo Lima

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